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sexta-feira, agosto 27, 2010


Cada um, com sua própria cruz

O sonho estava ótimo. Uma cachoeira que descia abundante sobre o vale. Eu me banhava em suas aguas caudalosas. Até aí tudo bem. Então a verdade quando acordei, estava mijado. Mais que uma criança de colo até o pescoço e sem fraldas.
Daniela que estava ao meu lado. Dormia pesado e bêbada. Nosso costume. Só foi dar-se conta aos quarenta e cinco do segundo tempo. Tomou um bom e cheiroso banho de mijo. A bem da verdade não fiquei chateado pelo xixi. Estas coisas a agua resolvem facilmente. Mas o sonho, aquela cachoeira dourada, o sol a pino, eu me sentindo purificado. Por fim a miserável realidade. Dei-me conta que é exatamente assim.
Irremediavelmente abro os olhos, digo:
-Puta merda...puta merda...que merda...
Neste meio tempo Daniela acordou. Foi como se tivesse tomado um choque na bunda, salta da cama pingando o dourado perfume. Sua expressão era profundamente transtornada. Com as mãos na cintura, e uma camisola transparente sexy. Ainda olhei detalhes.
-Que merda Fabiano, tu mijou tudo, olha isso aí...puta que pariu...
-Cerveja demais e poucas idas ao banheiro, desculpe.
-Desculpe? Levanta daí, que horror. Olha o cheiro. Um homem velho se mijando como bebê, tu não acha que já passou da idade ? Vais usar fraldas também ?
-Calma Dani. Foi a primeira vez que isso aconteceu. Eu levo isso pra lavanderia e tudo certo. Que tanto problema?
-É a primeira vez e última. Esse é o teu problema Fabiano, nada é problema pra ti, nada...tudo tu acha normal tá tudo bem, deixe assim...és assim o tempo todo. O mundo pode tá se caindo e apenas dizes, tudo bem...tudo bem...
Senti que caminhava em túnel de merda escorredia. O mijo começava a gelar minha alma. E aquela discussão iria longe demais. Eu estava deitado e ficando sem paciência. Ela louca, e ambos molhados. Éramos irmãos. Começava a entender o significado da gota d’água que transborda o copo. Certamente um copo de mijo.
Fui levantando devagar ao som das marteladas de Dani. Não sei estou perdendo o sentido, mas não sentia nojo . Alias que eu me lembre não sinto nojo de nada, destas coisas palpáveis. Meu nojo é subjetivo. Sinto nojo das torpes intenções humanas. Da mão oculta que bate, e se esconde.
A verdade porem é que Dani bebia tanto quanto eu. E agora tentava moralizar a situação. A hipocrisia dela me causava asco. Se tivesse sido o contrário, eu beberia até a última gota do xixi dela, com todo prazer, rindo. Besteira.
Fui pro banheiro, tirei a camiseta, a única peça que estava. Ela reclamava dos lençóis, do travesseiro, do colchão, tudo molhado. Eu queria rir mas era impossível. Seria colocar gasolina no incêndio. Afinal de contas eu já tinha mijado em outras camas.
-Olha isso, tu tá mijando tudo onde tu caminhas, cara que merda cara, olha isso...
Sonhos perdidos. Dani e eu estávamos em final de carreira. Algumas noite e ambos morremos. Ela me suportava na casa dela. Achou que eu era um homem perfeito por uns dias. Sempre acham isso. Esquecem completamente que minha educação e gentileza, procedem mais de meu desprezo, que de supostas qualidades que tenha.
Por fim Dani dispara:
-Chega, pra mim chega. Tu me desculpa, mas acho que deve pegar tuas roupinhas e ir embora agora.
-Tudo bem.
Já esperava isso. O sonho sempre é algo mais brilhante e colorido. A realidade mesmo rica é sempre miserável e pobre, perde para imaginação. Fico com a miséria, ela é turva, grosseira e muitas vezes deturpada. Mas eventualmente algo ali brilha, algo nos encanta, algo nos faz ver estrelas por um segundo. É por isso que vivo, para tentar ver estrelas.

Luís Fabiano.
A paz brilha um instante e satisfaz tudo.

Um comentário:

Dóris disse...

Um xixi que merecia apenas boas risadas. A falta de compreenção sempre acaba transtornando a maioria das pessoas, fazendo com que percam a possibilidade de um bom aprendizado.
A PAZ está sempre brilhando, muitos não a precebem ou não se satisfazem com ela.