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sexta-feira, agosto 20, 2010


Eis tudo que vejo

Tento olhar para os fatos da vida com certa calma. Muito embora algo rosne dentro de minhas tripas. Uma calma simulada muitas vezes. Maquiagem de puro desespero. Penso: não queria que assim fosse .
Olho a face das pessoas, as que conheço, as estranhas e as outras. Semelhantes trágicos que todos carregamos em algum lugar. Limpos, bonitos, bem vestidos e andrajosos. Não julgo nada. Sou mais um leproso entre leprosos. Uma alma cansada, entre os pilares de nossa pseudo sociedade perfeita. Caminhamos todos juntos, tentando não enlouquecer. Apenas tentando.
Naquela esquina, vi a farsa que permeia as relações humanas. Olhei-a nos olhos. A mão que se esconde ferina em tapa oculto. Os dentes afiados como navalhas, escondidos prontos para rasgar. Reconheço que os justos também estão por ai. Mas onde estão ? Que não os vejo? Que ninguém os vê? Quem os vê?
E isso é o espelho de tudo. Da sociedade, das instituições, da autoridade, da ciência. E todo o resto que aplaude.
Então ele foi pra casa. Era exemplar pai de família. Sua amante ficou na esquina sorridente com a calcinha enfiada no rabo, o próximo encontro. Ele faz pompas de sua irrefutável moral.Um faz de conta de si mesmo. Sua esposa acredita, os filhos acreditam. Eu também.
Ela defende o criminoso. Sabe de sua verdade, seus motivos, sua crueldade, insanidade e oque for. Ele é preso, ele é estuprado, ele é tratado como lixo, ele é um animal que ficará pior. Ele guarda a raiva em si, um dia sairá. Nada tem a perder. Nem eu. E você?
A instituição faz de conta que funciona. As pessoas fazem de conta que é justa. E todos nós aceitamos porque também fazemos de conta que acreditamos.
O outro comete o mesmo crime. O dinheiro entope-lhe o rabo. Um melhor advogado, uma melhor estrutura, a justiça já não é a mesma. Nada de igualdade, vamos com calma Doutor... Quer um cafézinho? É possível abrandar a pena, o senhor é membro ilustre da sociedade? Então. Fique tranquilo, eu também sou.
Ela adoece. O hospital estrangulado, agonizando vomitando gente por todos os lados. Que dor forte, mas não é urgente aparentemente. O olhar rápido do atendente, não vê nada. Nem sangue, nem saliva, nem coração.
Tecla seu maldito computador. Que merda, o sistema parou? Vamos reiniciar tudo novamente. Espere um pouco ok? Na fila. Um pouco. Eu espero.
A ambulância grita, pedaços humanos destruídos, fragmentados. Horrível acidente. Tudo se perdeu. Ela ainda esta ali, mas agora já pode morrer, que Deus a receba nos portões do céu, por que a terra a dispensou, foda-se. A mim também.
Médicos saem pra fumar, cagar, mijar. Fumam. Mas não é estranho? Alguém que me diz que não fume, e fuma? Não fume você se filho da puta, me deixe em paz. Ninguém acredita nele e em ninguém. Tudo assim. Um faz de conta que a saúde é importante, mas não tanto assim. Talvez um dia seja. Porque nada é tão importante. Nem eu e nem você.
Chego em meu serviço. O chefe enlouquecido, com raiva do mundo, com raiva da vida, com raiva de Deus. Desconta em mim, e em todos. Teve uma ejaculação precoce a noite passada, uma broxada talvez, ou qualquer outra coisa assim, que importa o motivo. Precisa motivo? O amor por sua mulher acabou, ele finge que ama, ela finge que acredita. Alguém precisa levar a culpa disso. Todos levamos, esta dentro do salário.
Tem mais, sempre tem mais. Olho políticos bem vestidos, bonitos quase feitos de plástico. Sorriso pronto e eterno, com uma caneta na mão mais potente que um AR-15. Uma assinatura e tudo feito, limpo. Acabam as economias para saúde, emprego, segurança. Não é assim? Estamos pensando em vocês eleitores! Não conseguimos dormir, o estado é o pai. Um pai ausente que mata por subterfúgios, por omissão, pelo silencio. Mais um dos que fingem que as coisas funcionam. Não funcionam. A politica é a maneira de dizer que as coisas funcionam sem funcionarem. No fundo são todos iguais.
Ambulâncias que gritam, amante sorrindo na esquina, criminoso não arrependido, médicos fumantes, computadores de merda que travam, instituições falidas.
É preciso olhar com piedade para todos. Não sei como. Nada de ser bom samaritanismo. Mas é preciso entender a fragilidade do ser humano. Sua débil vontade. Lutamos para que as coisas deem certo. Mas no fundo sabemos que nem sempre é assim. O pênalti é cobrado pra fora. O soco pega no queixo,nocout. E precisamos dormir descansar.

Luis Fabiano.
Hoje,paz o caralho.

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