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quarta-feira, agosto 25, 2010


Nem melhor, nem pior.

Quando olhei nos seus olhos, entendi em um segundo o que suas palavras não conseguiam expressar. E aí você não sabe exatamente o que é o melhor ou tão pouco o pior. Pensei que tudo resumia-se a ser certo ou errado.
Conheci Matilda e percebi que tudo nela, tinha um cheiro de artificialismo. A verdade tem cheiro característico. Nem sempre é bom. As vezes é um peido azedo, doutras cheiro de mar e salino. Lembro que ela detestava o próprio corpo gordo. Eram reclamações e mais reclamações. Uma ladainha interminável.
Dei atenção nos primeiros momentos. Depois aquilo tornou-se uma mesa de centro. Sabemos que tá ali, mas não tem a menor importância. Creio que foi aí que os dentes dela começaram a aparecer . Fui dando-me conta que era uma autentica filha da puta. Ou talvez ela fosse apenas tão egoísta como eu. O que nos tornava iguais. Gosto dos filhos da puta.
A verdade que Matilda não era bonita. Mas eu nunca fui muito bom nisso. Beleza estética. Olho tudo com outros olhos. Além do mais, ela não iria passar de uma namorada. Tive, tenho e terei muitas mulheres. Ela queria subir de posto. Queria noivado e toda a porra. Queria amor eterno, casamento e dividir a merda toda. Não tenho mais disposição para isso. Aprendi a olhar para tudo e todos, como tivessem cem anos. Em cem anos nada é o que é e nem tem tanta importância assim.
Não suportei a cotidiana irritação e cobrança dela. Um belo dia tivemos uma conversa frontal como uma guerra anunciada:
-Quando nós vamos casar Fabiano?
-Nunca.
-Como assim? Porque ?Que isso?
-Eu não pretendo casar, nem contigo e nem com ninguém. Não creio mais em nada disso, meus sonhos emocionais estão mortos.

Alí lágrimas demais, amargura e pura decepção. Ela me deu uma porrada na cara por iludi-la. Nunca prometo nada, por isso fico livre. Não consegui ficar bravo com ela. Chorava copiosamente, transformando a maquiagem em uma pintura. Era uma Monalisa borrada. Os olhos negros, manchados, por fim me expulsou porta fora. Me deixei levar fácil. Não sentia-me culpado. Achei que aquilo era o fim. Mais um fim.
Comigo o fim nunca é exatamente o fim. Sempre existem rebarbas, arremates. Todos geralmente cansativos e regados a mais lágrimas. As trepadas descontroladas, os gritos, novos xingamentos e por fim uma briga final. Todas seguiram este padrão. Sou bom de criar padrões. No final sempre se comportam da mesma maneira. Então mais ódio. Eu as deformo pelos meus defeitos.
Nunca mais vi Matilda. Nosso ultimo encontro, trepamos e depois ela imaginou que uma trepada dava direitos as diretrizes deu meu coração. Isso não existe. Não tenho nem coração e nem tão pouco diretrizes. Vivo o que surge e neste interim é impossível controlar-me.
Depois que saímos do motel a deixei em casa, ela dispara:
-Então amanha nos vemos? Poderíamos almoçar juntos, como antes...
Ela queria o passado. Fazíamos muito isso. Passado deve estar sempre bem enterrado. Apenas respondi:
-Não iremos almoçar. Não como fazíamos antes. Nada é como era antes. Um dia agente torna a sair novamente se tu quiser. E nada mais.
-Mais que merda Fabiano...tu és um merda. Tu não leva nada a sério. Ninguém pode confiar em ti.
-Ei calma, tudo isso por um foda? Confiança?
Ela desce do carro, e da maior porrada com a porta. A porta ficou inteira. E esse foi nosso fim. Uma viagem dramática repleta de chateações. Isso é uma marca de minhas relações. Depois em alguns casos mais graves, vêm as depressões, alguma doença somática e em alguns casos a loucura. Acho que sou uma espécie de veneno.
Matilda ainda estava gordinha naquele dia. Vestia-se bem e usava um perfume chamado Anais-Anais. Creio que o perfume era uma ironia. Ela não gostava de sexo anal. Fresca demais. Certamente que não iriamos casar. Não tinha nada suficiente. Nem amor, nem cumplicidade, nem mesmo dividimos os peidos um com o outro. Tinha vergonha de mijar na minha frente. Tais coisas são sempre a ponta de iceberg.
Hoje a reencontrei. Sem duvida ela não é mais mesma. Pelo tom de nossa conversa ainda continua sendo uma filha da puta. Apenas uma filha da puta doente. Mas essencialmente ainda é a mesma. Eu fazia minha caminhada poética. Quando vi aquela mulher seca, arrastando-se como um caracol sem brilho. A reconheci pelo rosto. Ainda veste-se bem. Porem não tem mais graça.
-Oi Matilda...tudo bom ?
-Oi Fabiano, tudo bem, vamos indo..né...
Pela resposta, precisava dizer mais alguma coisa? Me preparei para ouvir, o que mais as pessoas sabem fazer. Contar suas tragédias. Ninguém conta nada bom. Todos são enfáticos, viscerais ao colocar suas merdas na vitrine existencial. Lambuzam-se de merda, esfregam nos transeuntes, um autêntico show de misérias.
-Que houve Matilda?
-Tô doente.
-Bom, isso dependendo do que for pode se lutar e ficar bom.
-Esse é o inicio do problema, tenho uma doença desconhecida. Me deixa fraca, sem energia e por vezes dá dores em todos os ossos. Fiz diversos exames e nada. Tudo é um mistério. Vários exames que fiz deram que estou normal. Olha pra mim? To normal? Tem gente pensando que estou inventando, que estou louca...louca...tu acha que estou louca ?? Hein?
Não deveria mas acabei rindo. Todos os loucos dizem que são normais.
-Não Matilda, porem agora estas com o corpo que sempre quisesse ter não é mesmo ? Lembra? Tu dizias que queria ficar bem magrinha...
Começa a chorar como uma criança. Acho que arranquei a casca de uma ferida. Faço isso sem querer ás vezes. Cada vez que tento ser Poliana é um autentico desastre.Por isso passei a me abster de ser gentil ou mesmo educado. Passo um bom verniz em mim, todos acreditam no que veem, e isso basta. A vida segue feliz.
Achei melhor ir embora. Uma educação limpa como papel higiênico no rolo. Disse:
-Desculpe Maltida. Não foi minha intenção provocar nada.
-Tu sempre dizes isso ( fungando o nariz)...é impressionante ..
-Matilda, não dê uma de coveiro as avessas.
-Idiota.
Não iria discutir mais nada. Desta vez sem adeus. Tardes poéticas convertem-se em tarde de inferno em um piscar de olhos. O sol morria lentamente, Monalisa anoréxica, chorava como uma tempestade sem fim, merdas nas esquinas, todos passando batidos e correndo. Nem beleza, nem luar. Porque sempre tem que ser assim? Deixei-a para trás, mas já estava todo vomitado.

Luis Fabiano.
Cave um pouco em você mesmo, e encontrará merda fresca.

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