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terça-feira, janeiro 17, 2012


Navalhadas Curtas: Eternos Cristais da Inutilidade


Existem alguns copos de cristal esquecidos aqui em casa. Minha mãe quando casou os ganhou. Bonitos, decorados a antiga, enfileirados e inúteis. Alguns deles jamais tiveram em suas bordas “sagradas” uma boca. Nem de bêbado... nem de puta...ou batom, copos virgens de porra nenhuma.Irritantes.

A maior das inutilidades da existência. Algo criado que jamais será usado. Olho para eles todos os dias, e não nego que em alguns momentos tive vontade de... dar-lhes alguma utilidade. Ainda que seja espatifado contra a parede. Já viram como um cristal se quebra?

Minha poética de vida, é uma serpente convulsando sobre as brasas. A beleza viva no instante mais importante da vida, que é o agora. As inutilidades de minha existencia, fui espalhando por ai... pensamentos inúteis...emoções inúteis ... coisas atravancadas que ficaram guardadas para que um dia...nos utilizemos?É? Não.

O que tenho, o que sou e o que vivo, é aproveitado agora... até sumo final, gozo com as estrelas, amanheço com a vida, adormeço com a morte, amo e desprezo com a mesma intensidade, não amanha, hoje.
Acho que amanha aqueles copos filhos da puta... não escaparão.

Luís Fabiano.

segunda-feira, janeiro 16, 2012



Necrotério do amor

O carrinho sangrento
Deslisa macio no azulejo branco como a neve
Esperanças solvidas, e o banquete estava servido
Vermes famintos a deriva
Quando o feio é tão horrível
Ele se torna poético e doce
O sorriso de Bukowski ao amanhecer sem raiva

Eu um débil permeado de inocência
Não tanto as vezes
Vendo aqueles corpos deformados sem alma
Escafandros de um por do sol recendendo a podridão
Irrelevante como desconhecidos morrendo de fome
Quando alguma mulher valia a pena
A morte começava a ser bacana
Ao menos comigo

Então ela surgiu com um pano branco
Segurando a mandíbula
Um único buraco meio do peito
Enfermeiros contraditórios
Fechando a boca e vazio o coração
O coração roubado entre seios magníficos
Ainda duros
Alguém lhe ferrou o corpo
Porque quis capturar sua alma sem sucesso

É assim...
Quando desejamos capturar alguém o perdemos totalmente
A ancora de segurança, rebentando os elos da corrente
Se perdendo pra sempre no vasto mar
Suas unhas em vermelho cintilante
E a necropsia começou
Tão viva e tão morta
Era a Monalisa do desterro
Um leve traço de sorriso irônico post-mortem
A estátua plasmando vida
Despertando meu encanto no seu encanto final
Fiquei olhando de longe
Enquanto o silencio se tornava uma nevoa entre nós
Ela era uma peça de arte
Eu tentava permanecer vivo.

 
Luís Fabiano.
Dica de Filme: Lua de Fel (Bitter Moon – 1992)


Uma historia inocente, com requintes de destruição. Uma bela mulher, um canalha inveterado vidas que se cruzam no trágico comum. Extraordinário Polanski, coloca na tela suas taras e suas aspirações ao céu, lembra alguma coisa?

O filme vai nos asfixiando lentamente conduzindo-nos a verdades que raramente estamos dispostos a olhar... a sentir...entender... será que nossas vidas comuns nos satisfazem mesmo, ou tomamos um caminho mais fácil... mais cômodo? Não sei. Veja você mesmo e claro, se não gostar do que achar...não é problema meu.

Luís Fabiano.





Batismo Dourado

Gosto das linhas mestras
Emulando perfeição vagabunda
Pilares apontando para o céu gris
Filamentos da serenidade cavalgante nos afagando
E você pelada na cama
Despertando como um amanhecer sem fim

Hálito noturno e farelos da foda de ontem
Cheiros fortes do suor, da porra e peidos matinais
O meu céu lindo, meu arco-íris, a beleza como um polvo
Agarrando-nos a alma, no véu das indiferenças tantas
Gosto assim... a beleza indiferente
A vitória régia surgindo sozinha onde ninguém pode ver
A roseira segregando espinhos e flores

Então nos caçamos
Presa e predador, vampiro e vitima
Amor e ódio, polos divergentes, antagônicos e complementares
Ela sorriu com sorriem os demônios... as sereias ...os fantasmas
E o traço de sua feição culminou no meu querer
Dizendo silenciosamente onde iriamos parar... mas que porra...
Onde iriamos?

Sorri como um anjo de dentes cariados
Ela apontou a xoxota com pelos dourados no meu rosto
E abriu seu sorriso vertical
As vigas mestras do templo mantinham-se firmes
Meu pau desafiando colunas gregas
La fora ambulâncias clamavam vida e morte
E Deus parecia indiferente

Ela riu como uma louca apontando sua arma pra minha cabeça
E mijou como mijam as cachoeiras num amanhecer orvalhado
Bebi, engoli e a amei como um cavalo louco
Beijamos-nos em meio ao fétido odor
Como a vida que se esvai quando a morte chega
E as lembranças perfumadas de uma vida
Pairam acima do abandono
O templo tremeu
Mas sou assim... estou pronto para começar novamente.


Luís Fabiano.

domingo, janeiro 15, 2012

Pérola do dia :


“ Eu não faço comentários. Me custou quase a vida inteira aprender a ver alguns trechos coerentes no meio do caos”.

Pedro Juan Gutiérrez

sexta-feira, janeiro 13, 2012


Navalhadas Curtas: Pureza Vil


O detestável pode ser meigo. Roberta, uma amiga nem tão amiga, era um tipo destas feministas pós-modernas.Tão solitária quanto... Esse tipo tem uma raiva confessa de mim... da minha vida...das minhas diversas mulheres, dessa devassidão consentida pela consciência.

Porem Roberta não falava. Seus olhos falavam. E como um canalha contumaz que sou, sorrio como sorriem os bons canalhas. Tenho orgulho. Alguém de princípios extremos é um prato cheio a provocação, não é mesmo? Foi o que fiz:

-Rô... que tal fazeres parte delas?
-Hã?
-É, te junta a nós... somos uma família informal, estranha... mas o amor existe, o respeito existe...
-Tu representas a coisa que mais abomino...
-Não me transforme em demônio por favor, eu não mereço...a honraria...
-Tu ainda vais cair do cavalo Fabiano...
-É todos caem um dia... é normal, mas um coisa eu digo Rô... cairei com meu pau erguido, como um grito do Ipiranga eterno da não aceitação...

Ela se levanta e sai, na porta vira-se e diz:

-Fabiano... ou tu és muito bom...ou elas são muito burras...
-Não limita as coisas assim...é triste...tu não queres que elas fiquem como você né?


Luís Fabiano.
Poesia Fotográfica...



quinta-feira, janeiro 12, 2012

* Navalhas do Som *

Gahuer Carrasco - Asturias



Pérola do dia :


“ É preciso estar preparado para ser fodido pela vida... pois a natureza profunda de tudo, não tem compromisso algum com nossos valores padronizados”.

Luís Fabiano.


Perfeita para sonhos * Doce verdade Suja

Ela eclodiu com um verme da primavera
A fada pairando em imprecisas nuvens
Rosto anguloso um sorriso de boemia
Cabelos alinhados
O olhar languido entremeado de desejo e paz
Tetas atômicas de Hiroshima
Tetas de sêmen e leite
Pelo negro nas axilas

A voz melíflua dos demônios e os deuses do amanha
Uma força embebida em pura emoção
A xoxota alada do encanto aureolado
Molhando-me... me grudando... me engolindo
A fenda das promessas malditas
Como braços de uma mãe embalando a nascente

Entre um trago e outro
Isso parecia fantástico
As sombras fantasmagóricas que dobram as esquinas
a pedra errante que te acerta
então tudo se desfez
entre peidos, mijo e hálito matinal
destruindo maravilhosamente o ideal completo do nada
Ruína da salvação

Olho para o horizonte e agradeço
Por não estar cativo e por os sonhos dilacerantes
Permanecerem onde estão
Nas dobras escusas da mente
Transfixados em nossas emoções utópicas
E por um instante a vida pareceu maravilhosa
A grandeza mística
De olhos que brilham longe do carcomido
Ancoras agarrando-se ao céu
Então fizemos de novo
E eu enfiei bem fundo como se quisesse
Gozar em seu espírito.

Luís Fabiano.

quarta-feira, janeiro 11, 2012

A impagável entrevista com Rogério Skylab
 * No Agora é Tarde *







Tentando não ser pior.

Existiram momentos em que minha brutalidade descansou. Em que vivi uma vida mais tranquila ensebado nas particularidades de uma normalidade idealizada e pratica. Mas eu gostava, era uma vida diferente, a casca do padrão adormecendo um verme nas dobras uterinas da vida.

Mas o comum, com todos os seus encantos me causa tédio, depois de um certo tempo. Pode existir merda maior? Hoje fujo do tédio como o diabo da cruz. Os massacrantes dentes que com sua mandíbula ferina... vai fulminando os bons momentos... transformando-os em coisas simples e sem graça do dia a dia. Poderia achar uma magia em meio a isso... mas não quero.

Neste período eu queria isso. Ficar afogado em tédio. Contentava-me até mesmo com um papai e mamãe bem sem graça. Agarrava-me a isso, a ancora da felicidade... feita de emoção e convivência. Neste sentindo sempre fui uma barata... altamente adaptável. Então me envolvi com alguém que tinha filhos. Não foram poucas vezes... fui pai emprestado diversas vezes, mas por uma fatalidade da vida... algo sempre marca mais.

Adorava meu paraíso de modorra. Trabalho... casa... trepadinha com a mulher a noite... dormir abraçado as vezes... acordar pela manha trepar novamente... antes do café e ir trabalhar, dar beijo de tchau para a criança.

Uma boa vida. Mas a menina se apegou a mim como não se apegou ao pai legitimo. E acho que isso me tornou ao menos naquele momento, uma pessoa melhor. Talvez tenha feito meu salto quântico, acho que primeira vez na vida... senti algo puro. Eu queria apenas que ela fosse feliz, que seu sorriso sempre apontasse para as nossas manhas tranquilas, quando ela fingia dormir e me olhava escondida... e debochava do meu ronco... e tentava puxar meu cabelo inexistente. Então as gargalhadas eu fingia ser um urso... um leão... sou bom de imitações sabem... faço excelentes animais, e alguns poucos humanos.

Então o verme maldito eclodiu do ovo, uma inquietação afiada. E começou a carcomer a minha relação com a minha mulher. Começamos a viver o tédio. E mesmo que eu mentisse pra mim que não me incomodava... aquilo me destruía lentamente.

Já não mais existiam o brilho nos olhos, não mais sorrisos espontâneos, eu comecei a broxar sem tesão literalmente e isso sempre é um sinal, e ambos percebemos que não estávamos bem. Diga-se de passagem... eu teria a opção de aceitar isso, que as relações são assim mesmo, casamentos são assim, eles se transformam em uma boa amizade com o tempo... acompanhando ou não sexo... companheirismo, mas o empuxo inicial, a paixão declina é fatal. É isso.

Uma nova faceta do amor. Sempre tive dificuldade de aceitar essa faceta. Talvez um dia eu me abrace ao tédio e o chame de amor como a maioria faz, mas até lá... eu sigo disparando. Não me venham com colocações de “maturidade emocional”... explicações baratas para quem tem como ponto de apreciação da vida, aquilo que é estático. Cada cachorro que lamba sua caceta... alguém disse.

Encurralados ao termo... fizemos o que era melhor. A mulher sempre tem resistências ao término neste casos. Mesmo eu sendo um imprestável, sempre encontrei pessoas que queriam manter o tédio e chamar isso de felicidade eternamente. Comigo isso não é possível.

Foi então que a merda veio a rodo. Não tenho como esquecer os olhos da pequena me fitando. Havia um véu de lagrimas ali... não me importo com lagrimas de adultos... mas crianças me causam uma culpa dilacerante. E com seus seis aninhos... eu expliquei a ela o que estava acontecendo. Porque minhas malas estavam na porta... e falei dos laços que nos unem, como teias luminosas de aranha brilhando em um amanhecer:

-Sabe... eu preciso ir... as vezes precisamos ir, mesmo que pareça algo ruim... triste... mas é uma verdade... é o melhor.
-Tu não precisa ir - disse a pequena.
-Eu vou, mas uma coisa eu digo... nossos corações estarão emaranhados como as teias de uma pequena aranha... quando sentir saudade vamos nos falar... e nossas teias serão luminosas... a saudade é uma armadilha... que não podemos deixar que nos pegue...tá...
-Tu gosta de mim né?
-Eu te amo muito... e de uma forma ou de outra eu estarei próximo... ninguém ira romper nossas teias luminosas.

Ela me abraça forte, com uma lagrima silenciosa... e mais uma vez eu me sentia um demônio... que arderia num inferno eterno em minhas vísceras...senti náuseas.

Quando ganhei a rua, a mãe dela veio atrás de mim. Não havia hostilidade desta vez... como mentir , fingir... emular uma felicidade que não existe? Ela me olha nos olhos, esse é um daqueles momentos que você sabe o que esta certo... mas este certo é dilacerando... e tem dentes de aço que cravam em seu coração.

Quando subi no carro, minhas certezas oscilavam em um terremoto da alma.
Mas é neste momento que se precisa agarrar-se a certezas, endurecer as tripas e seguir em frente. Não sei quantas vezes isso me ocorreu. Uma coisa eu sei... sempre quis acertar, porem os erros me perseguem... creio ser isso a minha vida... uma busca eterna, as vezes não se sabe exatamente de que... mas segue-se em frente. Eu ainda espero a resposta.

Luís Fabiano.

segunda-feira, janeiro 09, 2012

Áudio Poema

Poema e voz - Luís Fabiano

Afogando o Melhor...


Filetes de sangue


Não sei que homem me tornei. Um estranho tentando viver o melhor... mas o melhor é uma interpretação mais ou menos razoável. Não sei se perdi a fé... ou encontrei a verdade... ou construí um mundo doloroso, feito das rascantes vivencias.

Lembro de mim inocente... lembro de minhas rezas... lembro da fragilidade de tudo isso... lembro-me das vezes que tentei pegar a mão de Deus... e apenas o vento me abraçou.

Hoje as coisas são um pouco diferentes. Minhas emoções se tornaram dardos no alvo... minha verdade batizada de rum e minha fé as lágrimas nos olhos de alguém.
Não tento mais pegar a mão de Deus... pego a mão dos que estão próximos a mim...o etéreo converteu-se em chumbo...e o chumbo hoje tenta criar asas.

Luís Fabiano.

sábado, janeiro 07, 2012

* Navalhas do Video *






Cuidado com o que você deseja

Aquela vagabunda de outrora, havia se precipitado violentamente. Mais uma vez estava eu envolvido em uma tremenda confusão. Falar a verdade é vicio terrível, nem sempre estamos dispostos a entender... nem sempre queremos ver... queremos antes que a vida se molde ao ideal... um ideal torto, deformado e acéfalo... as linhas deformadas por nossas peias mais brutais.

Nossos melhores sentimentos são cativos de nosso pior... o nosso pior desejar ter asas para jogar-se do abismo... mas esboroa-se ao solo. O humano é filho das melhores e piores emoções, um feto oscilante... sempre querendo o melhor... sem saber muito o que é...

Lídia era bonita... linda... uma morena talhada para o pecado, seios grandes... bicos suculentos... um triangulo de pentelhos na xoxota. A xoxota era a perfeição... grande por fora e pequena por dentro, sempre tive em mente que elas devem ser assim.

Praticava a mais antiga das profissões. Fui seu cliente... depois nos tornamos amigos... amantes... e quase chegamos ao abismo do casamento. A sua profissão não me afetava, considero normal.

Quando se aprende que sexo é sexo... e as emoções que emolduram a vida são intransferíveis. Essa fronteira fica nítida nos empurrando para uma verdade... uma verdade não muito bonita porem pura... como uma droga refinada. Ela abria as pernas dia após dia, para homens... mulheres... travestis, para mim era apenas uma gaveta de caixa registradora... escancarando a vagina... e a fechando com o dinheiro do cliente. Acabou o negocio.

Porem o visco que traçamos nos nossos melhores quereres, por vezes perturba tudo. Não sou o tipo ciumento... que me lembre jamais senti ciúmes por qualquer mulher que tive. Poderia ser talvez excesso de segurança... algumas entendem como falta de amor... falta de atenção... carinho... respeito... porque entendem assim?

Porque estamos acostumados com a emoção acompanhando nossas doenças... a falta da doença nos suscita doença, estamos acostumados com preço alto daquilo que damos e esperamos receber das coisas... da saúde fugindo da doença... da harmonia tingindo-se de fragmentos refletindo no espelho de um ideal inalcançável!
Somos assim... corrompemos tudo a nossa a volta, porque nossas doenças falam mais alto.

Enquanto Lídia era apenas puta... uma alma puta e voava leve como uma garça... pairando acima de toda a merda existencial... ainda que mergulhada nela.
Gostava de ouvir seus casos eróticos, seus contos sensuais escritos na verdade do corpo. As vezes depois disso transávamos embriagados de historias. O cheiro dela... misturado ao dos clientes... bons cheiros... cheiros de suor azedo... as vezes perfumes quando era uma mulher... sua boca com gosto e cheiro de outra xoxota, uma suruba etérea.

Mas o tempo foi cravando suas garras viscerais na jugular das emoções. O tempo aprofunda tudo... doenças...e saúde... tempestades...e inquietações, e por uma força quase incontrolável desejamos mudar tudo. Sair dos trilhos...voltar a eles saudoso... se for o caso.

Numa sexta feira treze, ela acordou e me disse:

-Fabiano... cansei de ser puta... não quero mais, chega!

Eu estava bocejando.

-Ok baby, tranquilo... se você acha...
-Não acho não... tenho certeza...quero ser mulher direita... pessoa direita...
-Pra mim tu nunca foste uma pessoa não direita... és uma mulher fantástica...
-Sou puta...entende...putaaaaa....

Senti um arrepio no espinha. Transformações radicais são coisas complexas... ou se tem certeza do que se sente e não se volta... ou você é um demente sonhador, fala estas merdas... sem sentir exatamente assim... você quer sentir... mas nada existe.

Não sabia qual era a de Lídia. Relaxei meu pensamento. Se saísse da prostituição... tudo bem... se não saísse, tudo bem.
Eu não pretendia mudar nada. Sou assim. Só mudo quando sinto uma convicção interna, a razão de não carregar nenhum arrependimento em minha vida. Tanto de minhas canalhices que não foram poucas... como também de algumas coisas boas que fiz. Deito e durmo, nada existe, sou bem desapegado.

A partir daquele dia Lídia passou a ser outra mulher. Passou a se comportar como uma convertida hedionda. Desenvolveu um alto grau de julgamento quanto as pessoas, dizendo coisas:

-Como as pessoas podem fazer isso? Como podem ser prostitutas? É inadmissível isso.

Olhava para ela como um monstro sendo gestado nas entranhas do demônio. Não gostava da nova versão de Lidia moralista. Parecia estupida demais... mas a doença estava presente enrodilhada em seu coração... coisa transmissível.

Então ela passou a tentar me controlar. Tinha muito tempo pra isso... tentava achar emprego aqui em Pelotas. Mas nada era fácil. Sabemos que não é fácil mesmo. Eu trabalhava... chegava a hora que achava que devia chegar, fazia o que achava que devia fazer... nossa vida foi se transformando um inferno de brigas cotidianas. O melhor invadindo nossas vidas. Sentia saudades da puta.

-Onde o senhor estava seu Luís Fabiano?
-Como é?
-Bar... com vagabundas... né ?
-Tinha algumas... mas nada interessante, relaxe tudo bem...
-Tu falas isso com essa calma? Eu sou tua esposa... tu me deves respeito...e muito respeito.

Tentei não me irritar. Mas sabia que havia começado uma luta... que deste ringue só se saia nocauteado. Que fosse ela, foda-se. Fiquei em silencio. Mas a doença instalada berrava. Senti-me nestes dramas baratos da novela das oito.

-Lídia... onde está puta que eu conheci? Uma mulher segura... forte...estável...? Cadê ela?
-Fabiano eu sou uma mulher direita agora, viu...
-Direita? Você ficou foi louca... Lídia... eu tenho saudade da puta... por favor volte a ser puta...
-Aquela mulher não existe mais... e tu deverias me ajudar a ser melhor... que merda de amor é esse que tu me empurra para o fundo? Isso que queres de mim?
-Lídia estamos em um beco. Eu não preciso de Madalena arrependida... me controlando... alias não preciso de ninguém... absolutamente ninguém me controlando.
-Tu queres meu pior... tu não presta mesmo como me disseram... sai da daqui cara...

Meu coração batia com alguma tranquilidade. Não tenho ímpetos de violência, nem gosto... ao menos não com mulheres... fui ate a cozinha e peguei um saco de lixo grande e preto. E fui colocando minhas coisas ali... sem dizer mais nada mais.
Mais uma vez isso pensei.
Ela começou a gritar palavrões... me elogiando. Mas fui rápido. Quando ganhei a rua...e a porta se batia atrás de mim num estrépito que ecoava, pensei: como é difícil querer o melhor... saber que é o melhor... a porra da vida tem um maldito preço pra tudo... nada é gratuito. Acho que eu estava errado... eu pagava o preço de minha leveza.



Luís Fabiano.



Morbidez engarrafada

Gosto de longos tragos de rum
Como gosto de bundas grandes dançando sobre mim
De putas aladas com saltos agulha
Como dentes ocultos da noite
Pisoteando no meu pau duro para a eternidade...
Isso é fantástico, o clamor surdo nas dobras da vida...
Enquanto adoramos a beleza do nosso jeito
Seja ela de plástico, vidro ou carne...

Talvez como um péssimo vinho engarrafado
Estou ficando pior, eu sei... com muito orgulho...
Vaso da indiferença expostos a céu aberto
Uma crueldade rastejante em eventualmente em mim
E a frieza congelada de um tempo sem tempo
Não me choco com absolutamente nada
E detesto todos que tentam fazer isso

Foi então que olhei a agua estagnada do esgoto
Ela refletia também o luar... e as estrelas...
Como qualquer agua pura... como qualquer um...
Degustava meu charuto e acalentava o pior...
Gosto disso... me deixa alerta... forte... e com a consciência em paz
O esgoto das estrelas
A merda do luar
Os vapores dos meus sonhos
Tudo se misturando a alma

A beleza possível da verdade enfiada no impensável
Como nós equilibristas sem asas
O terrível gestando o novo
Seja como for
Aquilo me deu um pouco tranquilidade
As esperanças que brotaram do concreto
A morte preenchendo-se de vida.

Luís Fabiano.



Verborragia

Amo o silêncio de laminas que descansam
De unhas e dentes congelados
De um olhar dardejante incerto
Riscos do desejo e do ódio
Brilho dos olhos de um bêbado final 

Mas Sara não era nada disso
Era pior
Falava demais
Insuportavelmente vomitando, cagando e mijando pela boca
Seus dramas... sua loucura... suas carências eternas e a sua solidão
Emendava uma merda na outra
O tricô dos infernos
Queixas e mais queixas...
A inutilidade sem musica

Eu ficava em silêncio olhando o nada
Ausência harmônica sibilando estrelas
Serpente enrodilhada sem atacar
A ouvia até meus culhões estourarem
Talvez em nome de suas tetas... suas pernas ou da bunda...
Mas não da alma...

Ela seguia falando de tudo
Eu distante e indiferente
A procura de pontes que se fazem
Os liames do espirito
Magnetos da natureza
Quando os desejos se encontram
Quando abrimos mão um pouco de nós

Não tomaria seu vômito ou beberia de sua urina
Mas já fiz isso... por outras...
Mas não por Sara...
Por fim ela cansa, me cansa... e migra para meu silencio
Mas agora não há mais tempo...
Nada pior quando não há mais tempo.

Luís Fabiano.


Poesia Fotográfica...



sexta-feira, janeiro 06, 2012

Trecho solto...


“ O pagamento à parte, era emocionalmente importante para Cassidy, fazer esse tipo de trabalho(motorista de onibus). Manter os olhos na estrada e a cabeça no volante... era uma cerca de proteção mantendo-o longe de catástrofes internas e externas...”

A Garota de Cassidy - David Goodis

quarta-feira, janeiro 04, 2012

Pérola do dia:


Quando se toma excessivo cuidado, seja ao que for, a quem for... esse cuidado torna-se algo muito perigoso”.

Luís Fabiano.

terça-feira, janeiro 03, 2012

* Navalhas do Som *

Elza Soares - Se Eu Quiser Falar com Deus...

tocante ao extremo.




Bunda do Céu... olhos de abismo

Era uma autentica Raimunda
Nem mesmo tentei procurar-lhe a alma
Talvez nem mesmo valesse a pena
Mas a bunda era um apelo de bênçãos do céu
Ficamos em silencio
Como quem não deseja quebrar a onda oculta
Deslizei em um querer voraz e platônico
A meditação do Dalai Lama...

Nem voz ou musica
Nem um papo... nada entre restos
Então cometi o fatal erro
Olhei nos seus olhos vazados... seu rosto em desalinho
O pior escrito numa madrugada sem estrelas
A verdade temível de um espelho translucido trincado
Uma pedra que estilhaça a vidraça
E sua voz dizendo agressões
O coração nauseabundo...

Por um instante desejei que estivesse morta
Quem daria falta daquele evangelho de magoas?
A onda quebrada não brilha mais
A ideia corrompida retorcendo-se em uma jaula
A beleza calcinando nas asas de anjos enferrujados

Creio que isso foi imperdoável
O que a fealdade bruta
Roubou da minha impressão pura
E mesmo sem nada termos
As sementes caíram no esquecimento
Não mais canção
Apenas olhos vazados derrapando no abismo

Luís Fabiano.

segunda-feira, janeiro 02, 2012

Trecho Solto...

“...estou sempre reaparecendo em cena no momento errado. Faço que estou passando por acaso na frente da casa e ah! Que surpresa ,é Haymé e seu filho! Ela me conta que cada peito produz de dois a três litros de leite por dia e que dói quando o menino chupa, e que Yonismi esta sempre chupando.
Me conta em detalhes toda a historia do parto e que dentro de uns dias via completar trinta e seis anos e que já se sente velha para ter um bebe. O menino esta inquieto, chora um pouquinho. Ela desabotoa a blusa, tira um peito pra fora e da para ele mamar .Eu olho gulosamente.

-Você ficou muito bonita depois do parto.
-Isso é coisa sua...meu marido não disse nada disso.
-Eu devia ter trazido umas flores e não vir de mãos vazias.
-Tá... táááá...não me complique a vida. Ja estou começando a ficar molhada e pulo em cima de você e te taco umas mordidas.
-Uhmmmmmmm, que gostoso.
-Este menino podia ser seu, bandido.
-Ainda gosta de mim?
-Vou gostar sempre...você sabe.
-Quando a gente se vê?
-Semana que vem. Mamãe pode ficar cuidando do bebê umas horas.

Fiquei olhando para ela em silencio. Ela me diz:

-Não olhe a assim, papi. Já estou molhadinha até na coxa.

-Ai caralho. Olhe como eu estou...

Mostro a ela por cima da calça. O material esta inchado e pulsando. Ufa. Tá Mudamos de assunto..."


Extraído da obra:
Pedro Juan Gutiérrez -  O Insaciável Homem-Aranha


Cidade Morta

Apagam-se telhados do horizonte
Desmaia a escuridão sobre o véu da quietude
Minha voz ecoando no abandono
Declina o falso brilho incessante
Das ruas entupidas do ontem
O selvático deserto do hoje

O silencio das ruas me perturbou
Com uma doença que nos apegamos
A bengala que nos ajuda a andar
Por um milagre espontâneo pássaros cantavam
E eu perguntei onde estariam todos?
E me senti feliz porque a raça humana fora exterminada
Com um cristal dançando a beira do abismo

Então desci do quinto andar...
Dos quintos dos infernos...
O quinto céu...
Como um papa não redimido
Tive vontade de beijar o chão úmido e sujo
Latas de cerveja vazia empurradas pelo vento
O hino residual dos desgraçados sem brilho

Carros raros passavam
Como um espasmo sem continuação
Um corpo a beira da morte
A agonia final... isso é lindo
Sentei-me no banco de cimento
E observei o milagre

Onde estariam todos?
Foram engolidos por uma xoxota universal?
Isso parecia maravilhoso... a pausa de uma sinfonia insana
Porem...
Espero que não dure muito.

 
Luís Fabiano.

domingo, janeiro 01, 2012

Video Navalhadas- Prostuição em Cuba

Video Navalhadas...

O filme esta meio em inglês e meio em espanhol, mas profundamente entendível.Uma Cuba prostituta... um estilo de vida incorporado a cultura como um meio de vida...normal.




Nem carne de porco...
Nem lentilha...
Nem champanhe...
Nem abraços...
Nem feliz ano novo...
Esse ilustre desconhecido... entrou o ano esperando um ônibus...( parada frente onde moro)
Acho que o ano deste cara vai ser uma passagem...

Luís Fabiano.


Farpas da Espuma

Tudo sempre esteve calmo
Mesmo quando a tempestade entrava pela porta
Arrasando tudo
Brigas que não se vencem jamais
Felpas aceitáveis do destino

Fiquei na minha
Da maneira que sou sempre
Uma certa frieza mórbida diante do pior
Um jorro quase vil de indiferença
Um jeito pratico de acomodar emoções inquietas
Amarrando tentáculos voejantes
E fomes perigosas
Coisas que ferem

Isso a irritava mais
Para mim o parque de diversões aberto
Então ouvia tudo de pior que ela tinha
Um grande saco de treinar boxe
Aguentava boas pancadas
Por fim ela caia exausta
E aquele silencio longe estava de ser paz
Mas era uma sinfonia muda no deserto ao luar
A mosca pousada no pudim

Os escombros estavam vivos
Seus pedaços vinham parar no meu colo
Afagando os restos de mim
E como teias que se unem
Uníamos-nos na escuridão
No abandono de nosso pior
E por algum instante
Tudo valia a pena
Creio ser isso a salvação

Luís Fabiano.