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segunda-feira, fevereiro 25, 2013


Dica de Filme: Os Intocáveis - 2012 (  Intouchables  )  

Porra, se você ficasse tetraplégico, assim, num piscar de olhos? E ai? Bem, você naturalmente iria precisar de alguém pra cuidar de ti... Ok ? Certo. Como esse alguém deveria ser? 

Alguém que te olhe com piedade? Alguém não queria se salvar dos próprios pecados... e receber um céu? É isso. Alguém que te trate normal, como gente... Sem frescuras ou clichês. É por aí.
Esta é a historia, que teria tudo pra ser uma chatice gloriosa, porem não, a historia de Philippe e Driss. Um paciente que não sabe viver e um cara que toma conta, que é maluco de pedra...vivo, muito vivo.

De uma proposta de emprego simples... Algo acontece... Uma amizade regada ao que a vida pode ter de melhor... A descoberta, o respeito e alguma sacanagem, porque não?

Confesso que achei que o filme iria ser uma merda... Mas não, o filme te pega, pega porque mexe com o teu lado “tetraplégico”... o que não faz tu ires em direção as coisas melhores da existência, as coisa que te chamam a paixão... 
Vai lá, vê o filme é bom pra caralho.
Curte o trailer ai abaixo:

Luís Fabiano.






Pérola do dia:

A mulher casada, silenciosa, submissa. A maioria dos homens sonham com uma mulher assim. Sonham com isso, mas não se atrevem a dizer em voz alta, porque os outros pensariam que são retrógrados e machistas. Mas é uma maravilha: uma mulher quente, sensual, complacente ,domesticada e masoquista ”.


                                                 Pedro Juan Gutierrez

       Áudio Poema      

Animais 

texto e voz -  Luís Fabiano.





domingo, fevereiro 24, 2013





O Retorno de Sebastian

Por vezes a vida é feita de detalhes. Acontecimentos grandiosos passam despercebidos, como um raio que cai por ai, que talvez faça diferença apenas para quem sucumbe a ele. Super-acontecimentos normalmente não em chamam a atenção, sou discreto, frio e quase insensível a muitas coisas.

Foi o jeito que aprendi a viver, gosto deste estilo e não nego que por muitas vezes, alguém faz o tigre sair de sua toca, alguém que instigue a fúria, garras e unhas e que torne possível a possibilidade de exercer o que é selvageria em mim... Gosto disto, e lamento por quem provoca isso. Muito embora isso esteja acontecendo em uma frequência bem menor. Talvez a idade, talvez. Ficar mais velho é ter peles caídas, cabelos brancos, olhos sem brilho, ficar broxa e claro esperar a morte.

Nestes dias que se passaram, trabalhei bem mais que o comum dos dias, num período de praticamente três turnos diários. Trabalho é trabalho, e por muitos momentos era levado a reflexões. Com a mente estamos livres, podemos estar onde quisermos... Na praia, vendo boas bundas, a lagoa tranquila, o sol... Foda-se a o mundo, isto é muito bom.
Mas me deixem regredir um pouco.

Na noite anterior desta sexta-feira que passou, eu tive um sonho louco: eu estava no Barro Duro ( uma praia primitiva local), era alta madrugada, a noite mergulhada em estrelas e não havia luar. Sentei-me a beira da lagoa e fiquei olhando o silencio, num misto de paz e temor... Temor por tudo, mas lembro que o futuro me deixou inquieto. ( somente em sonho me inquieto com o futuro, não creio em futuro algum, creio no agora). Então comecei a ouvir algo se mexendo na agua... Algo que parecia se aproximar lentamente, como se um peixe tivesse nadando sobre a agua ou... Da escuridão mais profunda alguém vinha... alguém?! Alguém caminhando sobre as aguas? Naturalmente como vocês eu também pensei: é Jesus? Não pode ser! Aquele cara barbudo vindo, se aproximou de mim, não disse uma única palavra apenas me olhou... Sorriu e seguiu seu caminho sobre as aguas... Acordei com o despertador me chamando ao trabalho. Esqueci-me desta besteira.

Meus sonhos nunca tem sentido algum, e prefiro que seja assim. Fui trabalhar e deixei isso pra trás. Era o que me faltava, insights religiosos agora? Prefiro a embriagues consciente ao devaneio místico, que fazem os anjos se apiedarem da humanidade e sua miséria...

O dia transcorreu modorrento, eu no piloto automático, em função de tantas atividades. Você sabe como é isso? Mandam você fazer... E você faz, como uma maquina eficiente, sem questionar, sem pensar, sem sequer estar presente, você liga a maquina e ela funciona bem como uma batedeira.

A noite chega, o período que mais gosto. Noite profunda, a noite parece que a vida é melhor, as coisas se tornam extremas ou mais terríveis ou serenas, o dia traz o meio terno de tudo. Não gosto de meio termo, gosto de tudo ou nada, vida ou morte, sobriedade plena ou embriagues eterna. Sentia-me tranquilo. Olhava a janela de minha sala, a rua parecia bela, como uma mulher pelada generosa, abrindo a xoxota e dizendo: vem amor, faz tudo o que tu quiseres, me come, me chupa e lambe... vem eu sou tua hoje e sempre...

Sorri sozinho em meio a tais pensamentos. Então alguém me interrompe, arrancando dos meus devaneios:

-Fabiano? O Fabiano... Tem um cara lá fora que quer falar contigo urgente...
-Diz pra ele entrar...
-Ele disse que não, prefere que tu vás lá... um tipo estranho viu...

Fiquei meio receoso. Que merda será essa? Sempre penso que pode ser um amante ciumento de alguma mulher que deu com a língua nos dentes... bem, nunca se sabe. Fui atender esperando um tiro.
Vou até a porta, quando abro, me deparo com uma surpresa, que sorria a todos os dentes:

-Sebastian? És tu?
-Fabiano... Tu sabes, o bom filho a casa torna... (rindo)

Sebastian é um grande amigo. Da ultima vez que falamos, ele anunciou que estava indo embora, para uma viagem longa, segundo ele, pelo mundo a fora. Não acreditei nele, em Sebastian tudo é muito impreciso. Ele deveria ser meu irmão. Porque a despedida dele, foi algo como: Até mais Fabiano, nos falamos em breve. Este breve agora se resumia a mais de um ano. Você sabe que é ficar sem um grande amigo?

-Cara por onde tu andaste? Que tu fizeste cara, e essa barba e cabelo comprido? Tais parecendo Jesus Cristo... Ou fundaste alguma religião nova?
-Estive na terra dele... Mas nem assim me convenci... Eu sou Sebastian... o explorador dos mundos...estou de volta, esta Pelotas continua a mesma coisa hein, que bom... Voltei para incendiar as noites e amordaçar os dias... Voltei porque tenho amigos aqui Fabiano, coisas raras que não se tem por aí... O mundo é uma selva quando se é estranho...
-Seja bem-vindo cara... Tu estas em casa... E eu estou trabalhando... Esta aparição assim não exatamente o teu estilo Sebastian... Mas...
-Salamaleico Fabiano...
-Que porra é essa cara? Virou muçulmano ou islâmico?
-Sou Multi-religioso... E multi-pecador também, sou rabo do demônio e asas de Rafael Arcanjo...
-Certo Sebastian, então me diz... Onde vamos beber hoje? Isso merece uma comemoração... afinal..
-Não, hoje não posso, preciso pagar uma divida de sangue... Mas estou de volta... Falando nisso, recebeste o meu recado ontem, não é??
-Ãh? Que recado? Ninguém me deu recado algum...
-Tu és de uma sensibilidade tosca hein Fabiano? A vida é sentida cara, é preciso perceber... O sonho, eu caminhando nas aguas, lembra?
Fiquei em silencio por um instante. Não entendi exatamente o que isso significava. Sebastian me abraça e diz:
-Farei contato... Me aguarde brother... E não fique olhando muito pra lagoa...
-OK Sebastian... vai em paz...
-Certamente brother...

Que merda, que isso significava?
Sebastian estava indo novamente? Voltaria? Não tem como saber, como milhares de coisas que não sabemos exatamente. A vida a morte, quando o infarto vai acontecer, quando tudo vai dar certo?
Voltei a trabalhar, mas falar com o ele me fez bem. Sebastian é sempre uma surpresa grata, e duvido muito que tenha se modificado, duvido que não me coloque mais em frias... Tornei a olhar noite pela janela a noite estava linda mesmo...

Luís Fabiano.




sábado, fevereiro 23, 2013

  *  POESIA FOTOGRÁFICA  *  







Navalhadas Curtas: Velho coxador


Por vezes lamento que o mundo não tenha acabo, conforme o calendário Maia. Os putos erraram a data, ou estavam apenas de caô? Não sei, e também, foda-se.

Eu estava na fila do caixa eletrônico, então um coroa chegou. Achei um pouco estranho, ele ficou muito perto de mim.
Tratei de ignorar o velho, as a cada passo quando fila avançava, ele colado atrás de mim, numa distancia não mais que três centímetros. Apenas olhei pra trás, extremamente mal encarado. Então finalmente chegou minha vez, e por incrível que pareça o velho colou atrás de mim a tal ponto que senti a barriga dele nas minhas costas então parti pra estranheza:

-O meu velho... Qual é? Tais querendo me comer aqui na fila, pô? E sem camisinha?
-Opa, opa... Que isso senhor... que isso... Nada disso... opa...
-Que isso umas porra meu... Pode dando três passos pra trás.. Vai velho...

Ele fez... Naturalmente as pessoas da fila ficaram me olhando, uma senhora desistiu de pegar grana... E o velho assustado ficou quieto.
Ok, peguei a grana e sai, na passada pelo velho disse:

-Escuta ai meu senhor... nada de coxar as pessoas na fila de novo hein...

O cara envergonhado, nem me olhou... Sai dando risada.
Malditos Maias, e seu calendário furado.

Luís Fabiano.





Inútil e irrequieto

Minha vizinha levanta
Lava a roupa que é apenas sua (pois vive só)
Varre a casa, que não esta suja
E providencia algo pra comer
Então vê a merda da televisão
Dorme
Depois recomeça tudo novamente
Inútil

Fiquei observando-a, e ela é apenas uma representação de milhões
Tudo uma tentativa de tapar lacunas
Enquanto se fabrica um pouco de merda
Este é o plano fantástico de Deus... Ual...
Ontem a observei dependurando no varal, umas calcinhas puídas e com um furo...
Normalmente ignoro isso...
Mas senti asco daquela peça, por ela, pela limpeza e a vassoura
Então a vizinha me cumprimentou de forma sofrida
Como se o mundo tivesse caído sobre sua cabeça
Tive vontade de dizer algo hostil pra ela...
Talvez um tapa para que acordasse... As vezes funciona

Uma flor rara crescendo em uma caverna escondida dos olhos mundo
Peixe dos abismos oceânicos que nadam solitários enquanto você dorme
Folhas secas levadas pelo vento a um destino também ignorado
Um cão latindo para rodas de um carro em movimento
As ondas vindas, uma após a outra, todos os dias, todas as horas e sempre...
Milhares de palavras escritas por dia e ninguém lerá nunca
Garrafas vazias se acumulado sobre a pia da cozinha
O gelo derretido no fundo de um copo
Um carrasco sem vitimas
Todos inúteis

E isso nos leva ao próximo passo...
Que você tem feito da sua vida, que valha a pena?
O quanto tem estado feliz?
E dentro disso, de vez em quando você se lembra dela...
Por vezes não teremos as respostas
E é importante não ter pressa para obtê-las
Mas continue perguntando, perguntando... Sempre
Para que o coração não se acomode
Para que músculos não adormeçam
E a alma não se converta em pedra.


Luís Fabiano.



quarta-feira, fevereiro 20, 2013

Pelotas Fantasma - IV



Praça Cipriano Barcelos – A Praça dos Enforcados

O Pelotas Fantasma viaja pela praça dos Enforcados, fazendo a poesia da vida, e lentamente  se encaminhando para aquilo que também é rascante também. Somos assim, a dose de mel com uma breve destilada de veneno, isso é viver.É a representação mítica disto.
Boa Viagem.
Luís Fabiano



O olhar deste anjo....é no minimo suspeito...






Os olhos de Charles Manson

Ele entoa uma cantiga com laminas manchadas
Quando frascos feitos de ideias se destilam a noite infinda
Quando a pagina é virada outra vez, e outra vez
Quando o cuspe sela o pacto
E o ato mais cruel, que ecoa num horizonte como um por do sol
Flores da agonia, em veias de opressão
O limite que raspando os abismos

Ela tão doce, com o seu maternal olhar
Embalando o amor, como uma vela aberta a espera do vento
Caracóis sobrevivendo agarrando-se ao que podem
E nos exortamos, quando a palavra se afoga em nossa alma quase vulgar...
O medo...
A dor...
A merda...
O horror...
O amanha...
O ontem...
Somos frágeis como formigas, esculpidas em egos de catedral
Desconhecidos errantes, a procura de alguma paz
E todos terão uma solução...
Como a promessa da semente...

Mason tem o que a todos ausenta
A convicção sem fronteiras, o míssil certeiro pairando no deserto, como um beija-flor
A fé inabalável, como uma passarela de navalhas
Um rinoceronte em fúria, ardendo chamas
Como os teus piores silêncios, feitos de pura solidão
Quando o chão parece se abrir...
E nem Deus ou diabo parecem ligar...

Vi nos olhos de Manson, o que falta aos de bem...
Uma razão tão profunda, como as raízes da sequoia
Uma raiva tão visceral, como um milagre de um santo
Como a paz de um meditante, nos sonhos de uma quietude quase inumana
E por um instante...
Um piscar de olhos, me percebi do tamanho que sou
A engrenagem sistêmica de um caos delicado
A crueldade fiel, de esperanças simples
O sorriso fabricado para quem não ligamos

Luís Fabiano

terça-feira, fevereiro 19, 2013

Pelotas Tatuada




Rua José do Patrocinio N-42 ( antiga cervejaria)


segunda-feira, fevereiro 18, 2013

O Rabo de Ludmila, Sangue e três corpos



O Rabo de Ludmila, Sangue e três corpos
Então eu havia me recuperado um pouco. Sou assim, vivo assim intensamente. Minhas gozadas me levam a um delírio apocalíptico fantástico, não sei o que real ou não, quase desmaio, as vezes desmaio mesmo depois da gozada.

Levanto depois de um tempo, tenho sede alcóolica, vou até a janela do AP Ludmila. Gosto de olhar pela janela daquele oitavo andar, uma chuva se aproxima num céu chumbo. Gosto de céu chumbo. Encosto a cabeça no vidro fico olhando. Me sinto o mais macho de todos os tempos, como se tivesse culhões de ouro, um touro reprodutor gozando acido sulfúrico, o estuprador jamais pego gargalhando na escuridão.
Ludmila geme baixinho na cama:

-Fabiano... Vem me abraçar... Meu cu ta doendo... Mas eu te quero aqui pertinho...
-OK... Lu a chuva tá se aproximando...gosto de ver o céu assim... Tu não?
-Eu prefiro o sol... Céu limpo e claro... Tu beijas o meu cuzinho depois?
-Sim, claro, sim farei mais que isso... e muito mais... Tenho sede...
-Bebe o que tu quiseres Fabiano, o AP e a minha alma são teus...

Ela vira de bunda e abre a mesma, expondo um olhinho inchado. Porra, como eu gosto deste jeito dela... Sem freios ou limites, sem censura, não se preocupa com os limites do certo ou errado. Ludmila vive como uma cachoeira de fogo ,que jamais para de jorrar. Enfrenta os problemas de uma maneira única, enfrenta como se não houvesse problemas. Passa por cima deles, como um trem esmagando um pardal.

Já a vi passar por situações complicadas, ela consegue manter o bom humor, e aquele sorriso de menina, apesar dos seus trinta e cinco anos. Temos um caso sem caso, que torna tudo perfeito.
Fiquei ali, massageando o cuzinho dela devagarinho... entre beijos e uma lambida para aliviar qualquer dor. Então subitamente escuto o som de sirenes na rua, uma, duas, três...

Puta que pariu, que houve? Volto até a janela e lá estão duas viaturas da policia e a Samu. Digo para Lud:

-Acho que deu alguma merda no teu prédio... policia e Samu... Vou me informar o que houve... Guenta ai...
-Estas louco Fabiano... Não tem mete nisso não, não é problema nosso...
-Eu to ligado... Nunca é... mas não sei quero lá saber... Sabe-se lá...
-Então vai... E leva a chave amor...

Coloco uma bermuda e uma regata e saio. A coisa aconteceu três andares abaixo, eu sigo o som das dores. Os vizinhos estão assustados... Dizem no corredor que foi tiro, outros dizem que a mulher chegou mais cedo em casa e pegou uma cena imoral... então matou...

Mas que merda, sempre temos uns conceitos prontos para julgar os outros... imoral, pecado, certo, errado... Que você sabe a respeito disso? Você saberá disso quando a dor se tornar tão opressiva, então o empurrando  com um trator... acabamos não tendo grandes opções. Não há nada de errado com o mundo, é apenas nós que não sabemos compreende-lo, e por pior que seja é natural.

Eu chego a cena do crime. Não era algo bonito de se ver. Você já sentiu cheiro de sangue ainda quente? O cheiro se tornando mais forte a ponto que o paladar começa a salivar com gosto de sangue fresco também.
Isso me fez lembrar dos cadáveres que eu trabalhava quando era mais jovem. Um auxiliar de patologista, aquele cheiro forte inescapável, éter e podridão. Pensar nisso é quase nos tornar uns nada.

Os policiais não deixam passar, estão agitados, parecem gostar da ação, uma espécie de chacais felizes em seu trabalho, dizem que é cena do crime com o rosto muito sério.
Devo estar ficando muito bizarro mesmo... Pois queria saber o que tinha acontecido. Então escuto uma vizinha dizendo entre lagrimas e ranho com uma língua venenosa:

-Eu sabia que um dia isso ia acontecer... Ele se arriscava demais... E aquela mulher não tinha uma cara boa... Ela batia nele como se ele fosse um frango... e agora isso... Até da justiça dos homens ela escapou... A covarde... se matou e tudo vai ficar por isso mesmo...que Deus me perdoe...
Não resisto:

-Mas senhora, porque ela o matou?
-Eles meu filho. O marido tinha um caso com um homem negro... muito forte, eles vinham pra aí... E faziam um escândalo daqueles... tu nem imaginas meu filho... Um horror, todos sabiam... Então hoje ela chegou mais cedo e não perdeu tempo... Matou os dois e se matou depois...

Tanta violência... Puta merda... por que? Orgulho manchado de sangue, dignidade desferida projetada em páginas que saltam... De boca em boca, raspando a dor, removendo a tinta... Não deixando nada a nós os supostos melhores sociais?

Ainda tinha o gosto de sangue na boca. A policia tira um dos cadáveres... Coberto... mas o sangue estava muito visível. Deus tenha pena daquelas almas, que morrem por causa de amor.

Algumas pessoas choravam, parecia ser os parentes. Bem, é melhor deixa-los agora. Resolvi subir pelas escadas, bem devagar... Ir me afastando daquilo lentamente... Como um nevoeiro que fica pra trás, a pintura ganhando traços... mais suaves de luz.
Chego ao AP de Ludmila.

Ela esta ainda deitada na mesma posição. Digo pra ela o que aconteceu, ela fica atordoada, num lamento silencioso daquelas coisas que não podemos evitar... porra nada é pior que, o não poder evitar.
Abraçamos-nos, ela me pergunta a seco:

-Tu vais me matar algum dia?
-Não Lu, eu já tive inimigos, que me fizeram coisas terríveis... E nunca matei nenhum deles... Estou calejado... Podes fazer o que quiser, eu não te mato jamais...
Eu tinha alguma certeza disso.

-Esse é o teu amor por mim? Um amor que não mata nada?
-Logico... não mato.
-Eu poderia fuder com a tua vida... Te dar um filho louco, me viciar em crack, viver chapada, bêbada, trepar com todos a minha volta... Que ainda sim tu não??
-Não, eu não... Você pretende fazer isso? Já diz agora...
-Não Fabiano... Eu sou a única mulher que tu não precisas te preocupar com nada, eu sempre vou estar pronta e limpa pra ti, eu vou te querer sempre, ainda que não apareças por um ano, tu podes ter todas as que tu quiseres e mereces isso... Eu vou estar te esperando amor, tu podes fazer tudo aquilo que quiser... Pois meu amor vai além... Tu podes até esquecer meus sentimentos... Tu Fabiano... podes fazer qualquer coisa comigo!

Fiquei em silencio ouvindo aquilo como uma estatua. Era uma declaração capaz de arrancar o reboco das paredes... Ludmila me olhava fixamente e parecia ter uma certeza rara. Então nos beijamos, e começamos tudo novamente. Ela para de me beijar e diz:

-Gosto de sangue na boca?
-Não tem como participar da vida e não se sujar ou limpar-se um pouco...

Tinha vontade de não sair dali, ficar aninhado em tecidos de verdade... Uma verdade que não sabemos dimensionar e ainda sim temos sede.
É preciso cavar um pouco mais a nossa alma.

Luís Fabiano.






Navalhadas Curtas: O clichê dos clichês

Normalmente não abro espaços a clichês. A pena digital se nega ao obvio, prefere o sórdido o escatológico, a larva em vez da borboleta.
Tenho uma vizinha de um prédio em frente, que todos os dias, por volta das vinte e três e trinta e nove, vai para o quarto de janelas abertas e se despe

Quando ela fez a primeira vez me escondi pra ver... na segunda e terceira também... Mas depois, bem não fazia sentido... As repetições dos vícios os tornam coisas normais.

Ela é uma mulher madura, muito morena, com uma boa pelagem na xoxota... E o corpo esta bom. Mas por que faz isso?
Então passei a encara-la... Durante as punhetas que batia, nestes momentos que a olhava e as vezes me excitava. Mas ela me ignora completamente.

Ela já me viu, mas continua a fazer a mesma coisa. As vezes vem do banho, apenas de toalha e chegando ao quarto tira a toalha... E passa creme e loções pelo corpo. E ver isso é tão bom.

Então desenvolvemos uma relação a distancia. Nunca nos falamos e nem falaremos, ela se despe pra mim, e torna-se um mito intocado pelas mãos de todo pecado... O destino platônico de beleza nua, com um espirito de espuma e amor.

Por vezes isso é muito melhor que todas as moléculas.
O idílio de fantasias sem carne. Que importam nomes, cores, problemas, jeitos e consequências... Se nesse plano de silêncios estamos imersos... E desejos se tornam tranquilas ondas, que jamais ferem a ninguém... A ninguém mesmo.


Luís Fabiano.

   Momento Boa Música   

* Un Vestido y un Amor -  Mercedes Sosa e Luciano Pereyra *




domingo, fevereiro 17, 2013








Navalhadas Curtas: Lágrimas no quinto andar

Normalmente não me importo com dores alheias. Todos sofrem, já sofreram ou sofrerão, é a lei natural de viver, então tranquilo.
Abro a porta do apartamento, para pegar o elevador. Na porta do mesmo, uma moça tentava engolir o choro, com os olhos marejados, uma represa da alma. Aquilo me invadiu.

Pensei comigo: Oh Deus...por quê?
Não gosto de ver mulheres chorando, é estranho, porque eu já causei muitas lagrimas as mulheres, impossível... Pelo menos a mais de cem delas. Então aquela dor eu já conhecia, estávamos apenas no corredor, perguntei quase sem querer:

-Posso ajudar em alguma coisa?

Ela explodiu em um choro convulsivo, daqueles que fazem o ar faltar. O elevador chegou. Abri a porta pra ela, entramos. A dor dela encheu o pequeno elevador num mar de sufoco, então ela diz:

-Não... É meu namorado, terminou o nosso relacionamento agora... Uma relação de cinco anos... Assim sem mais e nem menos...
-Lamento... O que posso dizer é: chora tudo que tu podes... E depois é dar a volta por cima.

Me senti um livro de autoajuda falando esta merda, mas que fazer? Não queria que ela sofresse, na verdade que ninguém sofresse.
Chegamos ao térreo, o cara não abriu o portão pra ela... Eu abri. Antes de nos despedirmos:

-Obrigada, pela tua atenção... Como é teu nome?
-Fabiano... Vai ficar bem?
-Sim, vou pra casa tentar colocar a cabeça em ordem.
-OK... sorte.
-Tchau.

Fiquei pensando, em quantas vezes causei lagrimas por aí... Fiquei tentando capturar uma ponta de arrependimento, mas não, devo estar calejado demais.


Luís Fabiano.


sábado, fevereiro 16, 2013





O porto seguro das aflições

Um entra inquieto, tem medo
Outro esta angustiado, não sabe o que fazer de sua vida agora...
Uma mulher no canto esta infeliz, não tem o homem que queria
Se pensarmos bem, nunca temos exatamente o que queremos... Sempre falta algo...
O bar não estava em seus melhores dias
E eu até não tinha problema algum
Mas vendo a fumaça desgraça bailando ali
Fui tocado... Como um gás toxico sufocando lentamente

Então uma bicha louca, entra aos prantos
Dizendo que sua vida é uma merda...
Eu sorri e disse: benvinda ao clube filha...
Então depois de mais um gole de rum
A solução veio, simples como um peido matinal de Fernando Pessoa
É preciso aprender a abrir mão

Quase imediatamente abri mão de todos eles
Uma gaivota não voará se ficar apegada a enseada
Uma cigarra não cantara se apenas ficar voando
Você precisa abrir mão de tudo que te perturba
Jogar carga ao mar, para que o navio voe por sobre as tumultuadas ondas num céu de chumbo
Então sorri para eles todos
E disse palavras soltas, como um pastor bêbado, mastigando os Salmos

Se a dor te aflige livre-se dela
Se o chefe é um chato, trate-o como a um ninguém
Não se importe com todas as ofensas, elas não são nada, apenas vapor de merda ao vento
Quando você quiser fazer o melhor, nada surtir efeito, abandone
Se desinteresse por todas as coisas que não fazem bem
Não deixe outra voz reverberar dentro de ti... Em orgulho, vaidade e egoísmo
Nada disso
Mesmo o amor... se não for bom e tranquilo...
Jogue-o na estrada e fique em paz, não lute por nada ou ninguém

Possivelmente você achará isto fraco... Frágil e talvez covarde...
Mas faça a tentativa...
Seja sua própria morfina rasgando o espirito
Não sei se você conseguirá... É preciso se treinar o desinteresse
Possivelmente pelos outros você não conseguirá... Mas por si é com você
Lembrei-me de uma cólica renal que tive a muito
A dor era tão insuportável que em um dado momento não lutei mais contra ela
Fiquei deitado apenas sentindo... Só eu abandonei

O bar ficou em um silencio
Como uma casa abandonada em chamas
E todos ficamos em paz... Uma paz do vazio
Navio sem ancora...
O perfume do vendo... E um carinho sem felpas.


Luís Fabiano.


FIO DA NAVALHA - VÍDEO


 Entrevista com Sabará da E.S. General Telles 





quinta-feira, fevereiro 14, 2013





Navalhadas Curtas: Despudorada

É indiscutível, férias é bom pra caralho. Minhas idas a praia nas manhas e tardes rendem. Ontem rendeu mais. Cheguei cedo a praia a tarde... eram por volta de 13:51.A praia estava praticamente vazia. Um paraíso é por vezes a ausência de todos.

Então ela chegou. Abancou-se a mais ou menos dez metros de mim. Tirou a canga... Acendeu um cigarro, abriu a cadeira... e sentou. Ficou ali admirando a lagoa, eu admirando ela. Não era nada demais, era a coisa de parecer indiferente... fazia tudo maquinalmente, como se sua alma tivesse sido roubada.

Um biquíni bem pequeno, daqueles que esgoelam o cu. Mas ela não parecia satisfeita. Então do nada, ela tira a parte superior do biquíni, expondo seios algo caídos e muito bicudos, bicos muito escuros. Belos no meu entender... Fiquei olhando meio surpreso pra aquela situação.
Ela me olhou como se eu fosse uma árvore. Pegou na sacola outra parte superior do biquíni, de cor diferente e colocou lentamente,normalmente. Estava em casa, então me encara:

-Nunca viu uma mulher se trocar, não?
-Varias...
-Porque então ficou me olhando desse jeito... credo... Todos uns tarados mesmo...
-Porque todos os homens e algumas mulheres, gostam de ver peitos de forma gratuita... valeu.
-A tá... ok acabou o show... mais só pagando cinquenta pila...

Ficou nisso. Ela acendeu outro cigarro... E tudo ainda parecia vazio, como a fumaça, ela não estava nem aí... estava cagando pra lagoa... Eu achei tudo muito estranho, nem de pau duro fiquei, dei uma olhada na carteira... também não tinha cinquenta pila...mas 25 será...

Luís Fabiano.

quarta-feira, fevereiro 13, 2013





As Mulheres Reais

Estou na praia agora
E elas desfilam de lá pra cá, bom...
Parecem tranquilas demais e felizes
Expondo seus corpos horríveis
Sempre existe um filho da puta pra dizer:
Gorda demais... magra demais, tetas de menos...

Fico me perguntando onde estão aquelas mulheres perfeitas que vejo na tevê?
Porque elas não estão em lugar algum?
Estão onde os olhos não alcançam?
Onde a morte não existe...
São Monalisas de photoshop
A pele repleta de efeitos...
E a alma  engarrafada longe daqui

Nunca tive tanas duvidas ao mesmo tempo...
Qual é a beleza real e única? E qual não é fabricada? E qual a que fica?
Porque é tão simples te enganar...
É tão sóbrio iludir...
Vendo estas mulheres, da praia, das festas e da rua...
Eu me sinto roubado, como um filme ruim...
E imagino que as mulheres também sintam isso também...

No fundo é a expectativa rasgada
No fundo não os olhos...
Não são os peitos
A bunda, o cabelo
As pernas ou mesmo xoxota...
Nada disso importa...

São os gritos de nossa própria fealdade
Querendo fugir como uma ferida sem cura
Não sou tão belo quanto queria...
Sou a saudade de uma pétala nova
A paixão pegando fogo no peito.

Ainda estou olhando elas na praia enquanto escrevo
A culpa não é delas...
Não é minha...
E também não é tua.


Luís Fabiano.

  Pelotas Tatuada  



Av.Dr Augusto de Assumpção n-8359 ( praia do laranjal)



terça-feira, fevereiro 12, 2013

* Fio da Navalha - Vídeo


Teaser - Entrevista com Sabará da General Telles 









Navalhadas Curtas: Rose x Jussara  round 01

O meu celular toca as duas e quinze da manhã. É Rose... Uma puta, amiga entre outras coisas. Ela cometeu uma única cagada na vida: se apaixonou por mim. Foda comigo, trepe comigo, me bata, me use, me cornei, me esculhambe... Mas tente evitar o amor.
Ela parece meio desesperada no telefone:

-Fabiano...a Jussara existe? Aquilo que eu li no Fio da Navalha... Aquilo é verdade?
-Rose... vai te fude... São duas da manha...
-Fabiano... responde porra...pelo amor de Deus...responde agora...
 Acho que as pessoas deveriam ler outras coisas... melhores eu acho.
-Que vou dizer Rose? Eu não tenho muita imaginação... então...
-Eu odeio a Jussara... Se eu pegar ela... Cara eu passo é uma navalha na cara dela...

Pensei: putz, ela é mais fio da navalha que imagina...

-Certo Rose... Agora vamos dormir ok...
-Eu vou achar o tal bar do Rei das Bucetas... e vou cortar a vagabunda inteira...
-Tudo bem Rose... Boa sorte, acho que outras pessoas vão gostar disso... Jussara não é exatamente popular... (comecei a rir).

Ouvi apenas uma explosão do telefone, ela bateu, jogou sei lá... Mas eu tinha um sono pra tirar.

Luís Fabiano.