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quinta-feira, junho 16, 2011

Navalhadas Curtas: Vascão duas faces


As vezes detesto pensar, que a realidade seja tão mórbida, cheia de buracos de agulha, uma espécie de estátua, que de longe tem uma aparência esplendida. Mas examinada detidamente, com um pouco mais de cuidado, converte-se em algo comum.

Somos seres adaptáveis, hoje comemos merda e reclamamos, amanha reclamamos menos, e no próximo dia, já pedimos por conta própria a nossa porção de merda fresca...

Assim é um grande amigo de bar, o Vascão. Gosto dele, mas ele fica uma pessoa melhor quando não esta no seu normal. Talvez tenha dupla personalidade, eu gosto mais da outra, uma personalidade que se droga, que bebe, fuma e as vezes perde o controle.

O outro Vascão, o certinho, cretino, é insuportável, chato, de alguma forma controlador e preconceituoso. Não sei qual dos dois é o verdadeiro, o maluco chapado ou o são. Mas eu já fiz minha escolha, inclusive incentivo ele a beber e drogar-se, isso o torna palatável a mim e a nossa roda de filósofos de boteco, abraçados a putas oportunistas sorridentes.

Possivelmente Vascão tenha problemas psicológicos, quiçá psiquiátricos. Como a normalidade de todas as coisas que são tantas vezes doentias, e aceitamos bovinamente. A patologia de Vascão o torna humano, verdadeiro e com alma.

Antes a doença que guinda a humanidade, que a normalidade escravizante e árida.

Luís Fabiano

Pérola do dia :

“ A sedução deve ter uma pitada de ousadia, um pouco de perversão, tipo: agora amor mija na minha cara... me bate etc... se tudo for amorzinho, vira tédio.”

Luís Fabiano.

quarta-feira, junho 15, 2011

Momento Mestre

Nelson Rodrigues – A Esbofetada

Um final digno...curtam.


Pontes suspensas do destino


Difícil começar uma narrativa que tem por pano de fundo, malabares com cacos de vidro. Minhas mãos desnudas, jogando-os para cima e pegando firmemente, enquanto os cortes vão se sucedendo, o sangue misturando-se ao show, você se deleita, em risos, pipoca. Sempre entendi assim a vida, a felicidade de um, é sempre a ruina de outro, ainda que este outro seja totalmente desconhecido. Neste aspecto não há nada que possamos fazer. Tudo tem um preço, e muitas vezes estamos dispostos a pagar.

Mesmo que objetivamente consciente não pensemos assim, o último pensamento é: eu estou bem, portanto foda-se o mundo. Você escova os dentes, verdadeiros ou falsos e vai dormir feliz.

Naqueles dias eu poderia dizer que estava bem, foi no período do meu primeiro casamento. Meu coração ainda pulsava, uma inocência feita de estupidez e ignorância, a respeito do mundo que me cercava. Creio, nada ser pior que isso. Alimentava ilusões medíocres de felicidade eterna, que os ventos da existência não devastassem, as tenras plantas de meus sonhos.

Eu não podia esperar muito mesmo, quando decidi casar aos dezenove anos, desconhecendo quase tudo a minha volta, mesclando desejos e tesão com emoções, confundi-los e chamar de qualquer coisa, que o coração quisesse sentir. Uma dose de amor hormonal...

Não posso reclamar, foi um bom casamento. Como a maioria das mulheres que tive e tenho, a minha esposa fazia tudo pra mim. Era um dossel de agradinhos, e por alguns meses fomos relativamente felizes.

A vida fluía como uma bola, rolando daqui para lá, sem que nada de mais significativo acontecesse. Gostaria de deixar exposto, que gostava muito de minha ex-esposa. Mas este gostar era feito daquilo que desconhecia de mim mesmo, da maneira como penso a vida, um sentimento sem as cauterizações das dores, que vim a sentir depois. Sem as dores estarem devidamente cauterizadas, é impossível sentir algo purificado, as emoções serão uma mescla das dores, das necessidades e dos medos.

Então a vida começou a manifestar suas fissuras. Nesta época Joana era muito religiosa. Isso não me incomodava, apenas não gostava de discursos moralistas que eventualmente fazia. Sempre entendi que o ser humano precisa ser ético, moralista, aí pra mim começam os defeitos. Uns rezam, outros bebem, outros se drogam, outros meditam, cada faz aquilo que precisa, e não creio que o Divino prefira uns que outros.

No templo que Joana frequentava, fez amizade com uma mulher chamada Mara. Uma amizade relativamente promissora e sem segundas intenções. Mara era educada e gentil ao extremo. Dava-nos carona para voltar para os arrabaldes da cidade, onde construíramos o ninho de amor. Era bom, não precisavamos pegar dois ônibus demorados. Aquele hábito terminou por estreitar nossas convivências.

Mara passou a frequentar nossa casa e nos a dela. Mara uma mulher solteira, morava só, usava um cabelo curto e muito preto, seios fartos e era ligeiramente gordinha, uma pele muito branca como a neve, um olhar constantemente maternal, formava um conjunto que lhe dava mais ares angelicais, que uma mulher simplesmente, num sorriso tímido.

Eu acreditava que tudo era assim tão simples. Essa intimidade toda, fez que Mara passasse a saber também dos problemas que eu e Joana tínhamos. Joana foi se revelando uma mulher extremamente insegura, ao longo dos meses que se passaram. Passou a exercer um controle profundo sobre mim. Em primeiro momento achei de certa forma um charme. Um charme ser cativo, um charme ser controlado, um charme de cachorro castrado, charme feito de preocupações descabidas, um charme beirando a insanidade.

Por fim, o charme converteu-se em garrote asfixiando-me. Não podia dar um passo sem que ela soubesse. Sentia-me morrendo em vida. Se me atrasasse três minutos precisava explicar minunciosamente o que havia acontecido...

Passei a me sentir mal. Deixe-me arrastar por isso, minha saúde passou a ser precária, meu coração estava constantemente apertado, e hemorroidas expostas, estava somatizando tudo, uma vez que nesta época, eu era absolutamente vegetariano.

Mara assistia tudo isso em off. E até aquele momento nossa melhor amiga, não disse nem um ai. Era uma múmia egípcia, uma motorista mumificada, mas percebia-se que ela ficava incomodada pelas perguntas de Joana.

Isso quer dizer, hoje percebo isso, na época estava atribulado demais, tentando fazer Joana se acalmar, e esquecer as besteiras. Ela falava tanto que tinha vontade de dar uma porrada. Não existia a lei Maria da Penha, perdi a oportunidade. Talvez tivesse salvado o casamento e Joana aprendesse a ser mais ela. Infelizmente, bem mais tarde vim a aprender, mulheres que sabem apanhar em certas circunstancias, se tornam mais seguras. Mas isso é outro assunto, que narrarei com mais dedicação plena.

Então como uma novela mexicana, as coisas tomaram inesperado caminho. Um dia o telefone do hospital que trabalhava, toca e era pra mim. Para minha surpresa, era Mara. A estranheza realmente me tocou. Eu era totalmente imbecil:

-Fabiano?
-Olá Mara, tudo bom?
-Sim querido, tu podes falar comigo?
-Claro, diga o que houve?
-Não, não, por aqui não, precisava que fosse pessoalmente...
-Sim eu saio as dezoito horas...
-Então assim, eu te pego aí e te dou uma carona, que tal?
-Tá ótimo.

Desliguei o telefone com uma pulga atrás da orelha. Relaxei Mara era da confiança plena de Joana. Quando deram dezoito horas, Mara já me esperava. Entrei no carro, nos cumprimentamos e ela me abraçou ternamente. Um bom abraço. Ela foi guiando lentamente, então disse gostaria de parar para dizer-me algo. Aquele dia seu decote dela era prodigioso, tetas maravilhosas.

Encostou o carro foi direta, e foi como uma incisão sem anestesia:

-Fabiano, eu não quero me intrometer, acho que tu e a Joana devem resolver seus problemas. Mas eu gosto de ti, e estou com um projeto que quero levar a frente.
-Projeto?
-É Fabiano, eu quero ser mãe, eu sempre quis ser mãe. Eu conheci muitos homens, mas infelizmente eu nunca confiei em ninguém, e também não queria que fosse qualquer homem.
-Legal Mara, ser mãe é o projeto de qualquer mulher...
-Sim Fabiano, mas eu queria que tu fosses o pai...

Engasguei-me com a noticia, enquanto ela ria gostosamente. Nestes momentos da vida, em que todas as coisas pesam, é aonde o coração vai para balança, e o que prevalece torna-se a tendência premente. Depois de tossir, olhei para Mara, e ela agora não parecia mais aquela mulher tão tímida, tão angelical, agora ela havia transformando-se na minha frente, uma metamorfose, creio que eu também me metamorfoseei.

-Mara eu não sei muito que dizer, eu te acho uma mulher bonita, poderias escolher um homem qualquer, eu não sou nada de especial...
-Não sei Fabiano, é que meu coração te escolheu... como se explica isso. Tu não precisas te preocupar, eu não quero nada de ti, apenas que tu me fertilizes, Joana jamais saberá de nada. Será um segredo nosso.
-Não sei Mara...
-Tu não sentes desejo por mim, não farias isso por mim ?
-Sim...

Quando Mara me deixou na esquina de casa, eu tinha dentro de mim algo diferente. Cheguei no horário, e Joana não reclamou de nada. O pensamento de transar com Mara, começou a martelar minha cabeça, naquela noite fiz amor com a Joana pensando em Mara, Mara, Mara. Foi onde comecei a me adulterar. Meus pensamentos se bifurcavam, estranhamente sentia-me confortável com isso. As noites Joana reclamava de tudo, de mim, meus atrasos, querendo saber detalhes de tudo que fazia, e tal mórbida preocupação foi me afastando dela, ela já começara a me perder, e não percebera nada. Uma serpente pronta para o bote, oculta na folhagem.

Os detalhes sórdidos que sucederam os acontecimentos foram quase previsíveis. Mara e eu fizemos um pacto silencioso. Mara comportava-se como uma atriz na frente de Joana, continuava atenciosa, angelical. Eu pensava comigo mesmo: as mulheres tem sexto sentido, porem parece que ele para de funcionar, quando de trata de melhores amigas...

Tal situação alterou minha personalidade. Minha proximidade com Mara, catapultou o lado mais denso de mim mesmo, que até então desconhecia ou não queria conhecer. Passei a não me importar mais com Joana, com suas reclamações, sua cobrança visceral, com isso, meu estado de saúde melhorou, me despreocupei completamente, sentia-me forte e muito bem. Uma canalhice terapêutica, melhor que alopatia ou homeopatia.

Passei a transar com Mara, uma vez por semana quando fazíamos a programação. A primeira vez foi estranho e difícil, a frieza de uma fertilização em vitro. Mara era maravilhosa, subia pra cima de mim, abria o máximo as pernas, e ficava com toda a porra dentro de si quando eu gozava, então tirava delicadamente. Deitava-se costas, erguendo a pélvis para manter o mais tempo possível o esperma dentro de si. Parecia uma ginasta, eu achava muito engraçado tudo aquilo.

Mas um mês depois, ela me apresenta o exame dando positivo. Então paramos de transar. Porem algo ficou no ar. Os sussurros da proibidos de Eva e Adão, os desejos palpitando em nossas entranhas e um filho meu. Envolvemo-nos fatalmente.

Joana era toda desespero, meus horário cada vez mais irregulares, minhas desculpas esfarrapadas, e uma espécie de indiferença crônica. Nesta época fui aprendendo a ouvir as coisas ditas de forma grosseira, sem alterar minha consciência, minha circulação sanguinea permanecia a mesma, como se não me importasse. A filosofia do saco de pancadas veio daí.

A barriga de Mara crescia lindamente, meu olhar para ela era um carinho supremo, eu sentia felicidade de ter algo meu crescendo nas entranhas de Mara. Mesmo que isso fosse fruto de algo tão cheio de contrapontos. Tais contradições também passaram a pontuar minha vida. Mas estranhamente eu me sentia muito em paz.

Um dia cheguei em casa muito tarde, Joana fez um escândalo, queria saber detalhes de tudo, por onde eu andava, que fazia, que se eu não contasse, então que poderia sair porta a fora... ela não iria me querer mais. Olhei para ela nos olhos, eu era uma anaconda devorando um passarinho:

-Tudo bem, estou indo.
-Isso, vai mesmo ,chega disso, tu achas que podes agir assim? Fazer o que tu queres, tu és um homem casado...viu casado...
-Não sou mais casado, eu era.
-É eras mesmo...

Essa foi a primeira discussão de muitas depois. Isso é algo que jamais compreendi no comportamento feminino, sempre tem o que dizer depois, querem conversar mais depois, tentar rebocar uma parede em ruinas... acho insuportável isso. Todas as minhas ex tiveram exatamente este comportamento, quando sai porta a fora e jamais voltei. Não me orgulho disso, mas e apenas um fato verdadeiro.

Meu filho crescia dentro de Mara, e mesmo sem saber como isso iria se dar depois que nascesse, Mara gostou que estivesse me separando de Joana. E de certa forma eu passei a viver como um pai futuro.

Aquilo era talvez a coisa mais significativa que tinha feito em minha vida. Vivia uma felicidade futura, beijava Mara, beijava sua barriga grande e branca de sete meses. Minha vida tinha virado de ponta cabeça, e eu estava realmente curtindo.

Nas proximidades do nascimento do meu filho, Mara teve uma complicação irreversível e foi levada as pressas para o hospital. Quando cheguei lá, o medico se aproximou com aquele olhar que diz tudo e me comunicou, que infelizmente o bebê veio a falecer por problemas de oxigenação. O céu ficara escuro em mim, sentia-me sem vida, um impacto tão forte na minha cabeça, o coração ficou apertado que não conseguia chorar, precisava chorar agora, berrar...mas um silencio feito de uma dor lancinante.

Quando sentei-me no banco de espera do hospital, tudo parecia meio borrado, a luzes tortuosas, os corredores retorcidos. Fiz um esforço para encontrar frieza suficiente para manter a mente tranquila aparentemente, ainda que a minha volta tudo ardesse em chamas. Puta que pariu, onde estariam os anjos? Deus Tirou férias? Sentia-me roubado, um roubo que não poderia ser ressarcido.

Quando Mara foi para o quarto e pude entrar, sua mãe me olhava com repreensão, Mara era só lagrimas. Eu queria abraça-la, queria que de alguma forma pudesse tirar aquela dor de dentro dela, sentia-me impotente, que poderia fazer? Mas que merda... isso tinha que acontecer?

Mara depois deste acontecimento, jamais tornou a recuperar-se psicologicamente. Ela era espirita, e acreditava que o que havia se passado, era uma questão karmica. Pela maneira como ela escolheu o destino, então havia revoltado as leis da vida. No meu entender, pior que não saber da existência de karma, é ter um conhecimento obtuso sobre o karma. Mara neste sentido era obtusa. Quem acha que karma é igual, a toma-la e da cá, prova que desconhece karma.

Nossa relação se desfez, ela não queria mais aproximar-se de mim, achava que eu devia volta para Joana, Joana achava que eu deveria voltar. Acabou que eu não fiz nada, nem Joana, nem Mara, nem filho.

Era preciso aceitar o que a vida propunha, não poderia fazer Mara mudar, forçosamente sua decisão. Talvez a melhor coisa fosse ficar só, uma espécie de purificação dos sentidos, enfronhei-me ao trabalho, torcendo que a rotina mórbida me trouxesse a normalidade de tudo, de alguma forma funcionou, mas eu agora estava completamente diferente, eu era um outro Fabiano.


Luís Fabiano.


segunda-feira, junho 13, 2011



Asas de mim

O que tu amas
Também te engole
Homeopaticamente
Bêbado a bebida
Drogado a droga
Musica, o agudo silencio
Os passos suaves
Dados dia após dia para o fim
Amando a vida e sendo lentamente
Devorado por ela
Dê-me asas oh Deus
Enquanto meu coração bate
Enquanto o sangue quente
Ferve no caldeirão da vida
Enquanto meu rosto é acariciado
Quebra a fome que ama
Para que ela não devore a si mergulhada em nada
Abro minhas asas de algodão
Rasgando minhas costas
Voar
Deixa-me voltar ao teu regaço
Brincar com teu sorriso
Beber de tua baba
Respirar de teu amor
Seja ele o que for
Bato minhas asas de nevoa
Enquanto uma estrela sorri


 Luís Fabiano.

 

Poesia Fotográfica

Poesia Fotográfica




O mijo das almas

Dizem que os malucos se atraem mutuamente. Ao largo de minha vivência apagada de fenômenos dantescos, uma vida plena, mas sem os achaques de vida plena, meu coração palpita serenamente enquanto deixo-me escrever ao sabor da existência.

E talvez essa seja a minha verdadeira loucura, movido pelos ventos do norte, do sul, leste e oeste, uma pipa sem linha, corrente ou paradouro certo, tentando ganhar alturas quem sabe pairar serenamente no silencio um dia...

Uma espécie de entrega sem rumo, um caracol no jardim, se arrastando estupidamente feliz, deixando sua meleca para trás, resquícios da suave força, doce trilha que beira quase a inocência, a inocência de um demônio aprendiz.

Eu lembro bem como aconteceu, caiu numa terça feira desta vez, a cidade respirava um ar de romance fajuto (dia dos namorados), com flores e presentes. Eu assolado por uma solidão, uma solidão que cavava frestas em minhas entranhas, levava-me uma excitação fenomenal em todos os sentidos. Embora as punhetas matinais sejam boas e suaves (até hoje), acordar devagar colocar a mão no ferro quente, fazer aquele movimento lento, expondo o batom para fora, o cachorro excitado sem cadela, despertando entre as remelas da manha, que alegria suprema. Mas nem sempre é assim.

Precisava sair, fazer um serviço, por mera casualidade do destino, tinha que atender uma psiquiatra, não necessariamente ela, mas o computador dela. Uma cliente antiga, com uma aparência de general, e insights de simpatia mais rápida que um piscar de olhos, roupas caras e masculinas demais em um corpo sem curvas.

Era uma mulher que jamais me atraiu, não havia algo primitivamente feminino nela, tudo era certo ao extremo, e tais posições me causam asco, não por amar o caos, mas por desprezar a falsa ordem. As canetas na mesma posição, a arrumação das cadeiras, tudo aquilo transparecia uma aparente segurança, ancoras para ter certeza que tudo dará certo no final, a vida sendo transformada em uma ordem plena.

Aquela plastia toda para passar credibilidade... talvez ela esteja certa. Eu não julgo absolutamente nada, cada um que lamba suas próprias genitálias. Pra mim que vivo de improviso, ela parecia mais uma folha de outono entre tantas folhas. Nossas conversas não passavam do básico, gosto assim, detesto fingir simpatia ou tentar agradar, não faço força alguma para isso. Embora goste de aprender, não queria falar da minha infância para ela, ou contar como me mijei depois algumas bebedeiras por ai, e acordei aos risos, um riso molhado e quentinho de inverno. Também não queria saber de sua vida, embora lésbicas ou machorrinhas sejam bem interessantes...

Neste dia ela esperava uma paciente, eu tentava dar um jeito naquele computador arcaico, que se comparava a as pirâmides do Egito, certamente Imohtep havia usado aquela merda. Já sentindo um pouco de raiva, porque ela poderia melhorar aquela maquina jogando-a pela janela.

Estranhamente, aquela lata velha ela mantinha, anacronicamente. Nisso chega a cliente. Uma linda mulher, alta longos cabelos negros, olhos claros vestindo um vestido que era uma nota musical em seu corpo. Encantadora beleza... o rosto não tinha a nitidez de um dia de verão, no brilho dos olhos, uma dor qualquer entoava sua cantilena maldita, uma soprano desafinada fazendo escalas. Mas era linda e talvez apenas isso... existem coisas que se bastam a si mesmas, corpos que são mais lindos que as almas, nosso coração debate-se como um golfinho ferido, sangrando tentando entender, o porquê, somos atraídos como os insetos pela luz.

Eu as vezes tentava entender isso, o tempo foi me fazendo não querer entender exatamente, como se movem os sentimentos, os bons e os mesquinhos, fico com os finais, o que prevalece ? A verdade é o que prevalece.

Arabela era tão bela quanto seu nome. A doutora tal a cumprimenta, e antes de entrarem para consulta Arabela vai ao banheiro, depois entra para sua consulta. Eu fico ali lutando com um dinossauro, enquanto elas conversavam na outra sala, a procura das curas da alma. Arabela era um contraponto daquela doutora sargento, o perfume dela ficou no ar. O dinossauro demorava e devorava a minha paciência. Fui ao banheiro também, dar uma mijadinha de Rei. Pensava em Arabela, uma daquelas mulheres inatingíveis, que Deus separa com vidro blindado, e talvez assim seja, pois ás vezes a proximidade com o sonho tangível, o deforma e a beleza se desvanece, um castelo de areia a beira da praia entre as ondas da realidade.

Quando estava terminando de urinar, o instinto maldito urrou, olhei para o cesto de lixo vi o papel, recém-usado para secar a vagina suculentamente imaginaria de Arabela.

Como se houvesse encontrando um diamante liquido, molhado, brilhante com cheiro e frescor de xixi. Peguei o papel com carinho como se tivesse tocando a face de Arabela, a rosa meio amassada emitia um aroma suave, quase ácido, desdobrei-o lentamente, o pergaminho da biblioteca da Babilônia, queria ler Arabela.

Por um momento qualquer pensei comigo, que espécie de loucura estava fazendo, mas como um bom advogado de mim mesmo, lembrei que estava em um consultório de psiquiatria, e de alguma forma isso me consolou na breve insanidade deliciosamente calculada.

No interior do papel havia um único pelo de sua intimidade, um pelo negro e comprido, a safadinha era peluda deduzi... senti-me intimo dela, um encontro etéreo de nossas intimidades a vapor balsamizante do mijo.

Naquele banheiro impecável de limpeza absurda, tive um breve caso de amor com Arabela. Eu era o contraponto de tudo aquilo, foda-se a doutora general e seu consultório pronto para um desfile militar. Gozei com um cavalo selvagem e feliz, nas paredes, no chão por tudo... amor estranho amor.

Depositei a folha no cesto de lixo, e limpei meu desatino calmamente, voltando a minha ordinária normalidade. Sai do banheiro, o dinossauro ainda brigava com o tempo, mas eu estava em paz, Arabela confessava-se na porta atrás de mim, a musa doente, depressiva não brilhava como em meus sonhos, ardia em dor real a procura de consolo. Eis por que amo mais o que penso, que as pessoas de carne e osso.

Estranho como ás vezes o consolo vem de formas misteriosas, meu lamento solitário encontrou a paz ali, e talvez nem a doutora, o dinossauro ou Arabela saibam disso, como uma prece solitária que ninguém vê, as bênçãos da tranquilidade que as vezes caem sobre nós, louco ou não, sentia-me em paz, sentia-me um namorado presenteado.




Luís Fabiano.

domingo, junho 12, 2011

Pérola do dia :

“ No dia dos namorados, as xoxotas choram de amor e dor, lágrimas feitas de gonorreia aos pingos, e outros olhos ocultos que não choram, o resto é melhor nem questionar...”

Luís Fabiano.

sexta-feira, junho 10, 2011



Navalhadas Curtas: Sabor a mi


Detesto sonhar, me cansa muito e acordo exausto como em uma batalha. Mas infelizmente não se controla exatamente os sonhos, essas porras do subconsciente insistem em colocar as maguinhas de fora quando menos esperamos.

Sentia-me asfixiado, o ar não entrava e nada saia, como se mãos invisíveis estivessem apertando minha garganta. Acordei sobressaltado, tentando respirar e sobreviver, sonho filho da puta, como pode o ser humano jogar contra si mesmo?

Não conseguia respirar porque estava congestionado, puxei o mais forte que pude a respiração e então uma grande bola de catarro grosso veio para boca, respirei aliviado. Porem agora tinha outro problema: levantar da cama quente pra cuspir aquela merda? Engolir? Então ? 

Olhei para um lado procurando qualquer papel que fizesse a guisa de escarradeira, e achei, cuspi nele sem analisar o conteúdo, quando dobrei que me dei conta que era uma nota de dez reais... tarde demais.

Não tenho nojo de nada, dobrei a coitada e deixei sobre a minha mesa, segui dormindo, depois eu vejo como faço, uma coisa é certa, a nota não vai fora...


Luís Fabiano.

quinta-feira, junho 09, 2011

Momento mestre - Nelson Rodrigues
Episódio: Dama do Lotação...


Pérola do dia :

“ Definitivamente, é assim que se vive: aos pedacinhos, empatando cada pedacinho, cada hora, cada dia ,cada etapa, empatando as pessoas daqui e dali dentro da gente. E assim se arma a vida, como um quebra cabeça.”



Pedro Juan Gutierrez

Bebendo destiladas emoções

Eis o bartender que se aproxima
Um novo bar
Outro balcão
Novos olhos valsando errantes no espaço
As velhas bebidas de sempre
Ancestrais da humanidade
Acendo um charuto para ver o demônio na fumaça
-Boa noite senhor, o que deseja?
-Uma passagem para o inferno, tem ?
-Seja benvindo senhor
Era um autentico bartender
-Uma dose dupla de algo forte capaz de aniquilar o coração
Serviu meu bom e velho rum
Fiquei ali pendendo na ponte
Abandonado aos meus pensamentos
O bar, a noite, a fumaça isso é filosofia da mais pura
Num insight poderosamente bêbado
Percebi que as bebidas mais poderosas, as emoções
Esqueça a boa e velha cachaça e o whisky
As pessoas são viciadas tragicamente em suas próprias emoções
Uma dança macabra daquilo que se é
Daquilo que se idealiza perfeitamente
E de tudo que te frustra
Asqueroso coquetel
Ela é traída e seu coração sentiu sede de vingança
Foi bebendo uma dose imoderada de perda de limites
Quando não suportou mais se deu a primeiro vagabundo que achou
Ele foi bebendo uma dose de amor que começou suave
Então bebeu mais e mais, infelizmente
A ponto de afogar-se
No meu entender deveria ter ser afogado
Detesto beberrões frustrados e escandalosos
Gritam, vomitam e se cagam
Não gosto de drogados que não sabem se drogar
Não me interesso em sentir o limite final de tudo
Porque o final é previsível como uma mosca na lâmpada
Quem não sabe sentir, lidar e vivenciar as emoções
Não é digno daquilo que sente
É preciso saber como sentir a vida
Beber a dose certa de veneno para não sucumbir
Sorri sozinho no balcão engordurado
O bartender fazia agora seu show com garrafas
Alegria e palmas das garrafas dançantes no ar
Aquele bartender era o Deus-Diabo
Brincando o que serviria a nossa alma...

Luís Fabiano.

quarta-feira, junho 08, 2011


Flagrante Deleite

A porta se abriu de-repente
Um vento poderoso a tormenta das inconformidades
O arrastamento inenarrável e violento
Carcomendo a nossa ablução final
Rita me pegou completamente nu
Nos braços de sua irmã mais bonita
Trouxe consigo umas testemunhas
Para que minha canalhice fosse verídica
E sua humilhação plena como um vomito de cachorro
Quando abri os olhos
Todos nos olhavam
Eu estava com uma ereção feroz
Todos viram
Não sei o que me acontece
Em tais situações de inescapável verdade meu sangue gela
Fico completamente insensível ao ambiente
Minha amante quando viu os olhos de fogo da irmã sobre ela
Cobriu-se com o lençol como pode
Foi um silencio tão profundo
As moscas cantavam operas, os passos das formigas insuportavelmente pesados
As teias de aranha emitiam som das arpas aladas
Então o rugir da tempestade
Gritos, escândalo, lágrimas e ranho que acompanha toda dor
Eu não poderia consolar ninguém com aquela ereção priápica
Tudo que tinha que fazer era um saco de treinar socos
O que Rita esperava?
Nosso casamento já havia se sepultado no mar das indiferenças
Havíamos nos tornado irmãos sem sexo, o amor uma palavra modorrenta mofada
Agora aquele show sem cachê
Estávamos na casa de minha amante-cunhada sentia-me bem
Tive vontade de transar enquanto me maldiziam e praguejavam
Minha amante estava apavorada demais
O amor das pessoas é carregado de culpas
Um beija flor com uma bigorna no pescoço
Alguém me disse pra me cobrir
Não quis
Já que estavam sedentos de verdade
Teriam que ver minha piroca dura e ensebada
Com o cheiro da maravilhosa vagina da minha cunhada
O queijo francês mijado e esporrado
Aquela foi uma boa noite
Algumas coisas voaram sobre mim acertando meu rosto
Sentia-me orgulhoso
Aquilo havia se tornado uma peça teatral
Como toda a putaria da vida real repleta de fissuras
Meu rosto sangrava um pouco
Minha amante chorava sem parar
Rita chorava sem parar
O sogro apenas gritava e apontava dedos
Minha sogra tinha vergonha
Mas acho que vi seu olhar biltre de raspão sobre meu membro
Gostaria de dizer que isso terminou bem
Como podem deduzir não
Minha mulher oficial não me quis mais
Minha amante-cunhada não teve culhões para seguir nosso amor
Minhas roupas uma chuva do quarto andar
O saco de pancadas é sempre o único vencedor
Hoje diante do espelho sujo
Olhos nos meus olhos
Vejo aquele brilho vivo
Porra, viver vale a pena.

Luís Fabiano.


terça-feira, junho 07, 2011

Pérola do dia:


“Quando a dor desaparece a vida parece formidável, mesmo sem dinheiro, amigos ou grandes ambições. O simples respirar ritmado, caminhar sem um espasmo ou pontada súbita, basta.”



Henry Miller.


Futilidade em Dólar


Reconheço minha brutal e primitiva maneira de ser. Um grande porco roncando, rastejante na lavagem e barro, uma felicidade asquerosa e plena, com intensões de beber a vida inteiramente de um gole único. Essa é minha felicidade, estender meu chiqueiro aos quatro ventos do mundo, no afã que a vida converta-se em uma lavagem suculenta. Lambuzar-me de existência, a exaustão até que minha alma vomite amor.

Tentava explicar isso ao um conhecido, o João, um cara para quem a grana nunca foi problema. Creio que depois que João ler isso, entre para o seleto rol dos ex-amigos. Tenho ex de quase tudo, isso me é um orgulho, dúzias de ex-mulheres, uma ex-noiva, dezenas de ex-amigos.

Nada tenho contra o dinheiro. Mas creio que com muito dinheiro, faz que se perca o contato próximo da vida, os cheiros passam a serem outros, o chiqueiro hostil já não mais nos satisfaz os brutais instintos. Uma sofisticação a guisa de evolução. E vamos trocando a proximidade pelo artificialismo, a distancia. Isso lhe disse, para sua profunda indignação, falava da sua viagem a Itália e França. As pessoas se ofendem facilmente, existe uma sensibilidade hedionda em tudo e pouca disposição para entender a verdade.

Nossa conversa desviou-se para então os puteiros em Porto Alegre. Naturalmente os luxuosos puteiros da capital. Sorri quando ele se ofereceu a pagar-me tudo, iriamos nos divertir e eu não precisava esquentar a cabeça com nada:

-João, para com isso cara, tu acha que aquelas mulheres são verdade?
-Cara, só modelos, capa de revista cara, cinema e tal, é amor a primeira vista... pra mim
-Sei, me diz João, tu te fazes de idiota ou realmente tu és?
-Não sei, julgue você... mas acho que otário és tu, não querer ir de graça naquele lugar dos deuses...
-Gosto de gente de verdade... de putas baratas, que tem filhos pra cuidar, viciadas em alguma coisa. Aquelas mulheres são plástico cara, não tem alma, ótimas para se ver de longe, pois algumas pessoas são bem melhores assim, e é melhor que assim sejam, a proximidade delas nos catapulta ao nada, a perda de tempo...
-Elas até dizem que te amam cara... é só pagar...
-João elas tem um cronometro nas tetas e um caixa eletrônico na xoxota...
-Que isso Fabiano, crise moral? Tu queres casar com elas? Foda-se cara, eu vou pagar tudo... relaxa vamos lá...xoxota é xoxota em qualquer lugar do mundo...
-Desisto João, essa grana toda entupiu teu cérebro, essa historia de cagar notas se cem, te fez muito mal...

Fez um gesto significativo, pegando um charuto de uma caixa a sua frente. É um cara legal, mas suas provocações são infantis, pegou uma nota de cem que estava na carteira, e acendeu-a com um isqueiro, então com nota pegando fogo na minha frente, acendeu um charuto Monte Cristo, cubano o melhor. A nota se consumiu no cinzeiro. Gostei daquilo, era um bom show, mas uma nota daquelas, que não faria falta alguma pra ele, já pra mim...

João sorria com seus dentes clareados, esperava que eu tivesse uma reação qualquer. Nada disso me impressiona. Voltamos ao assunto:

-Então não queres ir...
-Não João, tu sabes que tipo eu gosto, aquelas vadias desse puteiro ai, são caras demais, limpas demais, sem um pelo no corpo, perfeitas fisicamente demais e tanta perfeição me broxa. A vida cara, tem cheiro forte de suor, tem pelos na vagina, tem aroma de urina recente, tem preocupações e sobretudo cara, algo que a grana não compra, a paixão, a vida real tem paixão, entrega plena feita se suor, tesão e gritos desesperados. É isso, a droga humana mais cara é a emoção verdadeira a mais viciante delas...
-Tô ligado, acho que tu tá ficando velho cara...
-É talvez, mas me dê uma gorda, peluda guinchando como uma porca no cio, e eu acordo como numa manha de verão, e o brilho da cabeça de meu membro, concorrera com os raios solares...

Rimos como dois idiotas:

-Fabiano, tu não vais escrever isso né?
-Claro que não.


Luís Fabiano.
POESIA FOTOGRÁFICA...


segunda-feira, junho 06, 2011


Navalhadas Curtas: Próxima viagem


Caminhar a sombra do inverno que se achega, nos meus breves intervalos, é como ser lançando por estilingue gigante, a noite vem sussurrando mistérios bons e maus. Na esquina um jovem raquítico acorda no chão entre trapos, frio, fome e fodido.

Fico olhando-o de longe despertar, naquela esquina disposta a todos os ventos. Mais um personagem maldito, dançando a macabra dança das misérias, todas elas. Então nosso protagonista, se põe a catar ansiosamente alguma coisa nos bolso furados. Por fim acha o pequeno cachimbo.

Aquela pequena pedra valia mais um diamante, deposita-a com carinho amoroso no interior do cachimbo e acende, uma inalada profunda e o mundo deixou de ser um lugar tão horrível. Oh... Deus...tu existes, minha preces foram atendidas...

O rosto do rapaz transfigura-se, um olhar perdido como um místico ante o universo, o lunático sendo recebido nas portas do inferno, com as bênçãos do diabo. Eu e os transeuntes estatuas indiferentes, estávamos no limbo.

Lembrei que chegaria em casa mais tarde, tomaria um vinho, talvez um banho quente e de certa forma ficaria em paz.
Porra, estar em paz com tudo isso é muito bom, não é?


Luís Fabiano.
Dica de Filme: Biutiful - 2010


Filme intenso, tenso evocando nossa profunda cretinice tão humana, em paralelo com nossos anseios angélicos de redenção. Não uma redenção pra Deus ou Diabo, mas para nós mesmos. Javier Bardem protagoniza, a dor de viver, a angustia de morrer e segura-se no fiapo tênue de esperanças rotas, somos tantas vezes assim.
Suas melhores intenções são asfixiadas, mas nem tudo é terror entre o amor e o perdão.

Um filme de Alejandro Gonzalez-Inarritu, o mesmo diretor de Amores Brutos, Babel e 21 gramas. Uma atuação estupenda de Javier Bardem, é isso, não percam este filme, é muito bom.

Luís Fabiano.






Adestrando amorosas cadelas

Acho que sou um sujeito de sorte
Das poucas vezes que tive um cão
Eles gostaram de mim
Considerando que é muito difícil gostar de mim
Sou a um tempo uma tempestade silenciosa
Cavalgando num dorso nu de um maremoto desenfreado
E o que hoje muito significa
Amanha não sei
O febril instante de verdade é fugaz
Eternidades não existem
Mas ainda sim elas vêm
Latindo baixinho
Gemendo em seu cio eterno
Mostrando seus sexos babantes ante a minha face
Mas como qualquer cachorro
Eventualmente ficam chatas
E é preciso dar uma porrada, talvez duas
Elas saem fazendo gritos de um cão atropelado
Você já atropelou um?
Eu já
Foi acidental
O cão movido pela minha estupidez
Terminou por mover a sua vacilante inteligência
Acabou sendo estraçalhado pelas rodas do chevette
Mas tenho a certeza absoluta
Como é natural aos cães
Se pudesse montar o cão atropelado novamente
E fizesse-lhe um carinho na cabeça, ele latiria feliz o desgraçado
Dando mostras de sua ausência de personalidade
E talvez me suscitasse de atropela-lo novamente
Os felinos são diferentes
Eles guardam rancor, estão mais próximos do humano


Então ela veio de quatro
Latia baixinho com seus cabelos longos ante meu enfado corrosivo
Agarrou meu pau
Uma borracha languida sem alma
O introduziu na boca maquinalmente esperando que acordasse
Mas eu me sentia cansado demais
Bêbado demais
E ela não passava de uma cadela fustigante as três da manha
Com suas caricias excessivamente meladas
Asquerosamente artificial
Uma cadela teimosa
Dei-lhe uma porrada
Ela sai gemendo
Deita-se ao meu lado chorando baixinho
Perguntando por que faço isso?
Porque gosto de fazê-la sofrer?
Não gosto de nada
Sofrimento é opcional
Todo entendimento custa caro
O preço da verdade é pago a duras penas de dor
Com cântaros de lagrimas
Então a maldita vem novamente
Lambendo minha mão suavemente
Conduzindo-a lentamente a sua vulva encharcada
O nascedouro da baba de anjos punheteiros
Como estava bom aquilo
Parecia uma caixa de lesmas quentes grudentas e amorosas
Gosto disso
Pequenos shows de amor e sexo
Adoro cadelas legitimas

Luís Fabiano.

sábado, junho 04, 2011



Partículas dançantes da verdade


O maldita realidade, tenho muitos momentos em minha vida que não sei exatamente o que é real. Também nunca me preocupei com isso. Uma vez que namorei uma psiquiatra, e ela sorridente disse que eu era um caso perdido de loucura crônica incurável, nem com medicamentos. Não sei se acreditei nela, mas estranhamente isso me fez um carinho no ego. Se afinal sou louco então tá tudo bem. Acabei dispensando-a por sua obsessiva preocupação com a verdade.

Depois que nos separamos, ela casou-se com um psicólogo, acho que fez certo, curiosamente ela me mandou o convite de casamento, tive vontade de ir, mas achei melhor não, entendi a jogada dela, queria empatar o jogo. Que merda estamos sempre tentando empatar o jogo, porque neste caso ganhar completamente, também significa perder...

Seja como for, creio que nunca entendi a realidade como tudo mundo. Nunca senti as coisas da maneira como todos dizem sentir. Talvez eu esteja constantemente com uma armadura existencial, hoje ela se tornou confortável. Nem drama, nem ódio, nem amor, nem medo ou coragem. Deixo tudo isso entregue ao “roteirista” fantasma, enquanto permaneço impermeável como um pato no rio.

Por vezes tenho a impressão que estou em filme solitário, não tenho roteiro, nunca sei a próxima cena. Não foram poucas vezes que me confundi com personagens que vi na grande tela.

A semelhança projetada era tão intensa, que sofro de uma indefinição se o personagem sou eu, ou ele é apenas um personagem. Eles me vestem ou eu os visto?

Talvez Renata a psiquiatra tenha razão afinal. Um dia disse que me daria uns remédios para me trazer para realidade. Mandei-a se fuder. Que ela sabia da realidade? Julgamos essa merda de realidade pelo estreito senso comum de tudo. Estabelecemos que devemos ser assim e qualquer coisa diferente, não é vista com bons olhos...isso é a realidade?

Errado companheiro.

Em física quântica, a nossa realidade é tão rígida como uma espoja molhada, a verdade seja ela qual for é completamente permeada de furos, um queijo suíço que elegemos de acordo com os valores que desenvolvemos ao longo da existência. E assim sendo, tornamos nossa vida, uma realidade excludente. Se isso é a minha verdade, logo não existe a outra possibilidade de verdade. Isso se dá aos valores também.

Tornamos verdade aquilo que conseguimos ver com a mente, nos esquecendo completamente que aquela é apenas uma única realidade, e o restante? Você gosta das estrelas? São lindas a noite, brilham intensamente românticas. Agora a realidade delas: a maioria delas nem existe mais... apenas um brilho fantasmagórico viajando que nos encanta. A verdade é uma merda. Você gosta da lua?

Agora a verdade, na lua não tem absolutamente nada, alias, ela nem tem brilho próprio ela pega emprestada a luz do sol e reflete em sua terra cinza e árida, feita de nada e uma falsa luz. Isso é a realidade.

E você já se fez a pergunta, aquilo que você mais gosta e ama, será que você esta vendo a realidade disto também? Ou você prefere eleger uma apreciação agradável, que torna tudo mais simples e porque não dizer convivivel?

Você fala a “realidade” daquilo que pensa a respeito dele, para o seu chefe? É claro que não, porque se não você fica sem emprego. Você fala a verdade sempre, exatamente da maneira que você sente as coisas para as pessoas? Logicamente que não, você mente ou omite. Porque é mais fácil.
A realidade tem um preço alto demais, que raríssimas pessoas estão a fim de pagar.

Então você descobre que seu amor, por exemplo não passa de um amor por você mesmo, ou seja, se a pessoa faz as tuas vontades você a ama, mas a partir do momento que não faz mais ou toma outros caminhos, o amor evapora, existia amor antes? Claro que não, existe uma conveniência, uma troca de favores, essa é a realidade.

Converso com muita gente. E sempre pergunto as mulheres, se elas gostam dos filhos da mesma maneira, identicamente...a resposta é unanime, é claro que não. A mãe gosta mais de um filho que de outro, essa é a realidade simples, por quê ? Por questões de afinidade, não tem nenhuma maldade nisso. Ou seja, aquilo que elegemos como valor vibrando em nossa mente e coração. Mas estranhamente, elas me dizem que deviam gostar de forma igual, eu apenas sorrio, é o ideal empurrando a realidade para o abismo.

Não há nada errado, não haverá punições eternas esperando você, apenas o natural defrontamento com aquilo que elegemos como o melhor para nossa vida. Assim começamos a pensar, que talvez se soubéssemos o tempo todo a “ realidade” total das coisas a vida seria impossível conviver. Os mistérios faleceriam, e a vida seria um deserto como a lua, sem o menor sentido ou graça. Muitos querem que a vida seja assim. Eu não. Prefiro meu filme, é melhor, mais interessante e tem mais conteúdo que muitas pessoas que conheço.

Acho que não estou preocupado com isso, alias neste exato momento sinto uma ronqueira na barriga, creio que a realidade tá ronronando problemas, acho que vou deixar o texto por aqui mesmo, se não corro o risco da realidade me deixar completamente cagado, então eu não digo...a realidade...


Luís Fabiano.