Pesquisar este blog

segunda-feira, abril 18, 2011

Poesia Fotográfica




Adoradores de Dinossauros

Ontem me perdi em mim mesmo, eventualmente deixo que tal situação aconteça numa tentativa de pensamento intuitivo que aspira algo. Ás vezes se realiza, e consigo entender com alguma serenidade o que se passa em minha vida, na vida do cosmos e dos meus próximos, tão próximos como abismos sem fundo.

Não queiramos auscultar os vãos profundos de um único humano, encontraremos mistérios indecifráveis e neste aspecto creio, que o outro ás vezes seja surpreendente. Não acho ninguém surpreendente, não os tempos atuais, a possibilidade de uma desdita ou do afago da vida são naturalmente esperadas, um pendulo existencial e não há com que se surpreende com isso. Não é nisto que reside a surpresa da vida, mas sim no seu elã interno e solitário. Detido nas dobras sombrias das noites que passam, dos dias lépidos que iluminam e que fazem acordar em nós alguma coisa, esse algo que anima nervos, que arrebata o coração e transporta a mente.

Via um filme ontem, e pensava nisso, o filme cheio de efeitos especiais de um aclamado diretor hollywoodiano, porem com um roteiro barato, com uma historia vã cujo desfecho era apenas um simples encontro de amor, daqueles impossíveis amores que o roteiro torna realidade e que a vida torna modorrento.

Perdi-me entre os personagens também, passei a odiá-los como filhos malditos de uma merda de roteiro, uma merda de atuação de uma mega superprodução de merda. Que este cara tinha na cabeça afinal? Já briguei com muita gente, mas com os filmes era a primeira vez.

Então relaxei, minhas doenças psíquicas talvez estejam se agravando, fui tateando pensamentos numa tentativa de fazer luz, creio isso ser importante, é preciso saber fazer luz meridiana em nossa vida. Somos portadores dos archotes e das sombras. Fui em direção ao tempo que se vive, viajando para o passado de um tempo sem tempo ainda, onde andávamos a busca de fogo, onde era preciso caçar para alimentar-se, onde o sexo era um estupro consentido na perpetuação da espécie humana. Vi dinossauros famintos tremendo o chão com suas pegadas enormes.

Que filme chato.

Voltei a mim nos estertores do filme, uma breve cochilada no enfadonho filme. As coisas se tornaram mais claras eu acho. Eu era o dinossauro dos tempos passados. E, portanto não posso achar maravilhas nos tempos que hoje surgem, enquanto minha mente observa outros dinossauros pregressos. É o significado pungente que fala, minha mente tenta abrir-se ao novo sempre, porem como um sinete encarcerado em meu coração ou um irremediável dinossauro ferido sem consolo.

Então quer dizer, que o maldito filme, é cheio de significados para os tempos de hoje, são novos dinossauros sendo caçados, com novos valores e pensamentos do amanha, sua verdade é apenas isso, nem melhor ou pior que os velhos dinossauros enfadonhos.

Nada esta pior, as coisas estão como estão por sua natureza própria. Não façamos comparações baratas dos gênios que se foram enterrados como dinossauros podres. Como peixes, estamos fisgados ao tempo que vai nos arrancando da vida, num parto as avessas, arrastando nossos pensamentos e emoções, agarrando-se as pequenas certezas e aos supostos valores adquiridos, nossos pés firmados em uma terra que não oscila, que não desmoronará, imaginamos. A inexorável certeza de estar certo, e disso raramente estamos dispostos a abrir mão. Pensamos no tempo e no suor derramado para tudo converter-se em nada?

O filme estava nos créditos, com uma musica muito agradável que sugeria paz, uma tentativa de abrandar os dinossauros, sorri pra mim mesmo. Tudo parecia tão limpinho e certinho demais, como é da minha natureza querer movimentar as coisas, quando tudo parece tão parado, baixei minhas calças e fiquei acariciando meu aquietado membro, dizendo impropérios para ele. Pelo filme precisava xingar algo ou alguém. Como um morto ele nada fez, guardei-o e achei melhor ir dormir, estas madrugadas com pensamentos demais, bebidas de menos e filmes vagabundos, servem apenas para elevar minha convicção que realmente a vida pode ser uma merda.


Luís Fabiano.

domingo, abril 17, 2011


Pérola do dia:


“ Não vejo problemas com os vícios humanos. Beba, fume ou reze etc... Apenas seja um bom viciadinho. Não torre os culhões alheios com seus problemas, segure sua onda e tente ser feliz ou então viaje para o inferno solitariamente.”


Luís Fabiano.

sábado, abril 16, 2011

Momento Boa Música
Elis Regina - Me deixas Louca
Essa  foi sua última apresentação para TV



Navalhadas Curtas: Grana 01 X Deus 0


Tive uma esposa muito fervorosa nos tratos da fé, usava muito a palavra Deus para quase tudo, sempre rezando a Ele, pedindo a Ele agradecendo a ele. Isso não me incomodava, afinal, uns fé demais e outros fé de menos. Mas no meu entender, muito Deus na boca das pessoas, não é boa coisa não, soa atravessado e autoafirmação barata.

Isso veio a se comprovar no dia tivemos uma pequena festa na casa dela, onde havia uns quantos ninguéns, inclusive eu, e então tivemos a presença de uma pequena celebridade na área esportiva.

Isso passaria batido se minha amada esposa, não se metamorfoseasse na frente de todos que lá estavam, inclusive deixando a pequena celebridade constrangida.

Agarrou-se a pessoa, tirou fotos de todas as poses possíveis, oferecia aquilo de melhor que tinha, uma atenção exclusiva a celebridade, ignorando o restante apagado dos ninguéns. Naqueles momentos, não pronunciou Deus uma única vez. Em silencio estava, e em silencio permaneci enquanto ela fazia o show de gentilezas excessivas. Parecia uma pequena cadelinha no cio, a volta do cão endinheirado. Não fiquei com ciúmes, pois não é meu perfil, mantive minha indiferença natural de sempre.

A celebridade quase não falava, talvez não houvesse o que dizer. Então a festa foi encaminhando-se para o final, e a celebridade foi embora junto com outros. Então como por milagre, Deus voltou para boca dela, o mesmo Deus de sempre, cansado, repetido que ajuda, que se pede e agradece.

Quando nos deitamos no leito, talvez um pouco antes de tentar dar uma trepada de final de semana, cai na asneira de perguntar:

-Porque você tratou daquela maneira a celebridade??
Uma pergunta que lhe pareceu soar desagradável, havia um pouco de acidez no olhar da resposta:
-Por que, era uma pessoa importante, tem muito respeito e uma posição elevada na sociedade, dinheiro né Fabiano...

Não consegui redarguir nada, Deus brilha menos que o dinheiro afinal. Virei para o outro lado, dei boa noite.


Luís Fabiano.

sexta-feira, abril 15, 2011



Escrevendo com a alma

O resultado de escrever com a alma é um voo no vazio. Chego a essa conclusão quando, solitário, folheando um jornal qualquer, estou à privada em estado privado, exercitando a mais humana das humanas necessidades.

Com a vergonha encapsulada entre quatro paredes, espécie de dervixe em estado de repouso, posso pensar no assunto lenta e sossegadamente, entregue a consoladores flatos.

Dentre tantas conclusões, escrever com a alma significa arrancar a pele, chegar à alma em completa nudez, encarando os desafios da escrita, que são muitos, absolutamente sofridos. Ainda adolescente descobri que chegar à eficiência desejada o jeito seria deixar os paraquedas de lado e mergulhar no vazio, independente do que viesse a acontecer.

Inúmeras ocasiões fui de cara ao chão, como continuo indo, pois a procura do novo e do instigante é uma batalha sem fim. Uma das maiores descobertas foi concluir que o escritor é um suicida, o qual, frustrado por não haver chegado à alma, mata-se... Abstratamente, claro, afogando a frustração na bebida, nas drogas, ou nos braços de uma vagabunda qualquer cujos peitos sejam consoladores.

Tem uns que se matam mesmo, achando ser a forma mais rápida de chegar à alma.

Quando alguém me procura demonstrando desejos de escrever, respondo com enfado ser preferível fazer qualquer outra coisa, como escalar o Everest, por exemplo. Na certa ele chegará ao pico mais de uma vez, e como escritor, provavelmente, chegará à alma uma, duas vezes... Ou nunca.

O candidato à literatura me olha desconfiado, achando que estou mentindo.

- Sabe quantas vezes cheguei à minha alma? - pergunto ao infeliz.
- Quantas?
- Nenhuma. E se você me deixar em paz talvez eu chegue daqui a cinco minutos.
- É tão difícil assim?
- É mais fácil lamber o cotovelo.

O escrivão vai-se embora, deixando-me com a sensação de que, realmente, jamais chegarei à minha alma. Mas eis que, de repente, algo inusitado acontece. Um raio luminoso risca o negrume e o milagre ocorre. É por isso que temos de estar no lugar certo na hora certa. Caso contrário a sessão filosófica na privada não deu em nada.

Manoel Magalhães é escritor e jornalista

quinta-feira, abril 14, 2011

Roseli D´arc



Roseli D´arc

Quando a vi naquela magreza mórbida, presumi que nada estava bem, uma nota musical desarmônica em meio aquela sinfonia ilusoriamente risonha. Pincei em meu pensamento, o tempo em que suas carnes eram mais cheias, e não havia muita beleza ao menos, havia uma vida que se expandia, um sorriso feliz, e claro, muitas fodas que sua profissão assim entende.

Ainda lembro-me dela com aqueles shorts em meio as suas fartas carnes, aquela bunda era uma ode ao sexo, um grito selvático de desejos, ainda que peidasse em minha cara, como já havia acontecido uma vez acidentalmente.

Senti-me agraciado para ser verdadeiro, nem incenso, perfume caros ou cheiros artificiais exóticos, sim o peido, o cheiro da vida interna, talvez soe triste a colocação, mas esse é nosso aroma interior, também fedemos por dentro sem artimanhas.

Nossa tentativa tateante, é arrancar de nossa própria carniça o elã, néctar, o suco divino, que não está nas batidas de nosso coração, ou nas entranhas de nossa mente, mas nos ecos destes, entre um hiato e outro brilha em silencio a vida.

Roseli não me reconheceu, e acho que não reconhece mais nada, nem a si mesma. Não a via mais como mulher, eram peles e ossos animados por olhos apagados como velas gastas, numa noite que não acaba. O sorriso havia desaparecido, dando lugar a uma tristeza funda, a derrota, a desdita o auto aprisionamento viciante de qualquer coisa. Não precisei muito tempo para constatar o que estava acontecendo.

Na Praça Coronel Pedro Osório, sentada naquele banco escondido em meio aos verdes do pau Brasil, ela sacou a pedra, a qual ela construiu seu castelo de ruinas, fiquei parado de longe, enquanto fazia o ritual, fumando a pedra. Não sinto pena, raiva ou teço comentários que julgam a situação, do alto de um púlpito imaginário e elegante, mar de facilidades ideais que com a vida não coaduna, mas que alisam nosso soterrado ego.

Entendi que por momentos, nos tomamos decisões em nossa vida, porem em outros, somos por ela levados, como um mar que adentra a terra, levando consigo tudo que encontra pela frente. Ora somos o mar, ora as vítimas dele, vítimas que vislumbram fragmentos de si, porem incapazes de domar a fera, a tempestade de emoções desencontradas, todas em busca de fim único, tornarem-se realizadas, inteiras, pungentes e coesas.

Muitas vezes para isso enveredamos por descaminhos, beijando espinhos, chutando pedras e machucando tudo a nossa volta. Muito me revoltei, ao entender isso assim, porem mais tarde, percebi que é um caminho meu e todos nós, uma inescapável trama que pode ou não nos levar a compreensão. Queria ter certezas que as coisas funcionariam como um relógio futuro, mas tudo é muito vaporoso, a neblina da verdade é assim.

Roseli agora parecia distante, com olhos semicerrados de um yogue maldito, mergulhado em si buscando o universo, o nirvana ou apenas afastando-se dali e daqui, deste denso mundo, que de uma maneira ou outra nos machuca e leva-nos a ferir. Fiquei ali um pouco, me deixei levar, oscilando entre um do passado distante, dos sorrisos francos de Roseli, a um presente duro de amarguras e fuga. Sabemos o quanto isso pode ser difícil, e em meu pensar, desejei que ela morresse suavemente, mas não no sentido hediondo da morte, mas que talvez alcançasse o paraíso, Eva, Madalena, Joana D`arc, Roseli e porque não?

A grandeza de cada um está no que pode oferecer, uns do seu nada oferecem integralmente, são infinitamente melhores, que aqueles que tendo tudo, oferecem migalhas que sobram.

A noite caiu naquela Praça Coronel, transeuntes surdos, mudos e cegos, Roseli em torpor, e assim a deixei, fui tentar encontrar meu pedaço de serenidade em outro canto, enquanto as buzinas dos carros impacientes tocam, passos apressados ferem a rua, a calçada rachada e suja, cães abandonados a si mesmos, e uma ultima olhada em Roseli.

Luís Fabiano.

quarta-feira, abril 13, 2011

Dica de Filme: Janis Joplin - The Way She Was

Colossal resgate histórico musical desta cantora extrema, de emoções a flor da pele. O filme é cru e visceral, sem alegorias ou maquiagens, Janis não precisa disso. Apenas sua voz, sua angustia e alegria. Canta rasgando a garganta, dilacerando a alma e batendo o salto no chão, afã de passar tudo que é, Janis Joplin.
O filme é arrebatador para quem gosta de cantoras poderosas, quando terminei de ver, fiquei em silencio quase religioso, também estava arrebatado. Embarque nesta viagem.


Luís Fabiano.

Pérola do dia:

" A esterilidade da abundância, de campos em flor, uma gestação que aguarda o momento de vir ao mundo. Esterilidade da opulência e preenchimento, possivelmente a pior das esterilidades.”


Luís Fabiano.

Rebentos que afundam

Sempre fui homem de muitas mulheres, e por uma infeliz ou feliz imposição do destino, do caos, de Deus ou de minha vida dissoluta, também me tornei pai de muitos filhos abortados espontaneamente.

Controle sobre mim mesmo, nunca foi um dos melhores dons. Muitas vezes deixei-me arremessar, em relações fadadas ao fracasso total, fazia isso não movido por esperanças de felicidade suprema, amor realizado e alguma beleza natural que escapava, não nada disso. A maior parte das vezes, era simplesmente para ver a beleza de um navio afundando em alto mar. Ser engolido pelo poder do oceano, o tempo corrosivo tornando-nos melhores e ao mesmo tempo terríveis, a vida trepando com a própria vida.

Por fim tudo acabava em silencio mortal, o navio desaparecia como se nunca tivesse existido, e sempre terminou assim. Quando isso se tornou uma dinâmica em minha vida, naturalmente precisei aprender a endurecer por dentro, a trocar meu sangue por mercúrio liquido, minhas veias por dutos metálicos e meu coração ser revestido por uma liga de titânio. Não poderia sofrer indefinidamente pela vida a fora, fracassando sempre e sendo engolido pelos fracassos. Se assim fosse, certamente eu também engrossaria a fila dos terapeutas, salvadores de cosia nenhuma, com sua boca em formado de caixa eletrônico.

Quando Simone, uma de minhas amantes, sorriu aquele sorriso misterioso das mulheres quando escondem algo, percebi pelo cheiro que tudo estava errado. Meu cinismo sempre foi velado, minha ironia disfarçada para aqueles que amo, e meu olhar agudo punhal. Simone era a quinta amante na época, embora ela soubesse de tudo, queria tornar-se minha mulher, queria brincar de casinha. Queria que eu voltasse sempre do trabalho cansado, com algum problema na cabeça, que lhe falasse a respeito do meu dia, não bebesse nada e depois ao final de tudo isso, que deitássemos de concha e dormíssemos abraçados em um dossel de felicidade ideal. É claro que eu ria desta situação, deste sonho infantil. Por muitos motivos, tinha muito claro que Simone não era uma mulher esperta, nem dada leituras profundas ou a pensamentos volitantes, porem tinha um espirito vasto, pronto a entender, aceitar sua condição em minha vida, além do mais tinha uma boca milagrosa. Chupava meu cansado membro e ainda que tivesse destruído por cansaço, ela o fazia erguer para o céu, apontando para as estrelas. Depois disso montava nele e fazia tudo com muita calma. Simone era uma fudedora nata, depois de me ordenhar ferozmente e gozar também, calava-se e deitava ao meu lado. Muitas vezes desejei que minha vida fosse apenas isso, quando se fode assim, quase tudo a nossa volta parece se resolver sozinho, tenho esta impressão.

Quando cheguei do trabalho na sua casa, estava com aquele ar misterioso, me abraçou forte e com ternura, eu imediatamente pensei: puta que pariu, me fodi, antevendo o que viria:

-Fabiano, meu amor, meu lindo, meu gostosinho, fomos presenteados...
-Como?
-Parabéns amor, tu vais ser papai.

Aquilo me gelou a alma, causou-me uma espécie de horror, uma ojeriza dantesca, um enjoo e quase tive
vontade de vomitar sobre Simone. Lembro-me que fiquei paralisado, imaginando cenas posteriores, com Simone enorme, falando sem parar aquelas merdas que ela falava sempre, e por fim parindo um pequeno Fabiano. Senti-me jogado no inferno. Simone ria, achando que eu havia adorado a noticia, quando dentro de mim eu começava a revoltar-me, a sentir nojo que aquela puta tivesse engravidado, mesmo tomando comprimidos. Simone seria a última mulher do mundo com quem eu teria um filho, talvez nem com a última mulher do mundo. Ainda bem que a humanidade não depende de mim pra nada, estaríamos fadados ao aniquilamento.

Abracei-a com um pouco de ódio em meu peito, desejei que a vaca morresse, mas tudo ficou em silencio. Como toda e qualquer noticia nova, é preciso deixar que ela decante dentro de nós, que bata no fundo e a poeira se desfaça, ficando somente a realidade e nada mais.

A partir daquele dia fiquei mais calado, mesmo com uma tormenta em mim, ainda conseguia trepar com ela, talvez eu quisesse que meu membro converter-se em uma lança aguda... Naturalmente Simone notou minha distancia, isso foi começando a afundar de vez nosso navio carcomido:

-Porque tu não estas feliz com nosso bebê? Porque desde que te disse tu parece distante vivendo em outros pensamentos, tu não queria o filho? É isso? Diz pra mim...

Eu sabia que aquelas malditas perguntas iriam desencadear mais uma visita ao inferno. Mas por algum motivo me contive com falsa nobreza, não iria usar palavras ferinas para machuca-la, talvez aquele filho fizesse bem a todos nós? Não sei, mas não queria machuca-la agora, e nem traumatizar o meu rebento, respondia as perguntas evasivamente e a abracei, o abraço silencia duvidas e medos, acho que fiz certo mesmo sem a mínima vontade disso.

Relutante aceitei minha nova condição de pai, com quem aceita uma bastonada com braços e pernas amarrados. Aquela situação fez abrir um outro Fabiano, um que queria mesmo revoltado, o bem, que talvez se tornasse um pai bom. Num piscar de olhos, ela estava com três meses, e eu estava mais tranquilo na minha condição, agora foda-se Fabiano, relaxei. Estava no meu trabalho quando meu telefone toca, Simone do outro lado da linha as lágrimas:

-Ele morreu, ele morreu
-Quem Simone, quem morreu?
-O nosso filho morreu... tive um sangramento forte e ele se foi...morreu...

A notícia ao mesmo tempo em que me castigava, também abria invisíveis os grilhões, sentia minhas asas de abrirem para além da jaula, num misto de felicidade e dor. Fiquei triste com a notícia, mas para os homens três meses, a criança ainda não é nada, não dá tempo sequer de converter-se em pai.

-Onde estas Simone?
-Tô no hospital, daqui a pouco vou pra casa, comigo tá tudo bem.
-Então te vejo em casa hoje, pode ser?
-Sim pode.

Ela sabia perfeitamente que não era o dia dela, teria que ir casa de outra amante, mas aceitou minha mudança de planos com felicidade. Ao final do dia quando cheguei a sua casa, abracei com força e sinceramente, ela era toda dor. Aquele filho para uma mulher de trinta e seis anos era algo mais que esperado, um depósito de sua esperança, não em relação mim, mas a si mesmo, como mulher talvez, naquele instante mesmo com minhas asas abertas, contrapondo tudo que anteriormente havia pensado, desejei que nada disso tivesse acontecido, quis que a criança estivesse ali dentro dela, acalentada por uma paz que nem em sonho posso-lhe dar, quis depositar dentro dela novamente, aquele pequeno ovo fecundo que sonhava em tornar-se gente, talvez agarrar minha mão e jogar bola, esse era meu sentimento, a dor profunda e necessidade imensa de novamente renascer de mim mesmo, me reinventar.

Simone eu ficamos juntos um bom tempo, mas nosso navio apresentava ferrugem demasiada, tornar-se pesado demais para flutuar, e foi desaparecendo silenciosamente, sentia-me em paz agora, salvo por um Fabiano que existiu um dia, repleto de emoções suaves e pronto a tornar-se pai.


Luís Fabiano.

Irremediável paz que galopa adiante.

terça-feira, abril 12, 2011


Encantadores vícios

Ela fica linda quando lhe falta o ar
Em orgasmo múltiplo calado
Engasgada com uma tosse esperançosa
Entoava um cântico macabro
Evocando desconforto e medo
Pigarro, catarro, mofo e alguma alma
Depois sorria feliz como que salva das garras pontiagudas da morte
Não, não, não sou viciada não diz
Então ritualmente abria a carteira e pegava outro
Já fui de ficar aborrecido com espetáculos decadentes
Hoje até gosto se são originais
Vi todo tipo de gente enfiando o nariz no pós mágicos
Cravando agulhas nas veias
Tentando transpassar a alma
Então, depois delirar
Nos sonhos de amor e pesadelos hediondos fétidos de nossa pior parte
Não me importo tudo está bem
Pois não brigo com a fragilidade alheia
Nem com as festivas disposições anárquicas do espirito.
Eu bebia minha cerveja, a cicuta lenta que abençoa os malditos levando-me
A um suave torpor,
Dimensão verdadeira do tempo deste tempo desgarrado
Imperdoável, lacerando nosso rosto e chicotando a exaustão nossas entranhas.
Quando por fim, ela recuperou a brandura perene de sempre
Com voz doce, olhar transbordante de lágrimas forçadas
Sorriu serena
Pouco importava agora o seu pulmão envenenado
Sua expressão de enfado insalubre de si mesma
Ela retornara, tão intensa
E não me interessa nada mais
O isqueiro ilumina breve chama
Em câmara lenta a fumaça entra xamã
Creio não haver nada melhor
Voltamos ao ponto de inicial
A névoa que estava entre nós se dissipa
Ficamos em paz aspirando o sumo um do outro
Entre beijos de cicuta
E vapor de nebulosa das supernovas nascendo.

Luís Fabiano.


Bruxas, tetas e dança

Não sou uma pessoa muito acessível, e tenho orgulho que seja assim. De alguma forma me mantem fora de encrencas Já fui mais inspirado a gostar de encrencas. De pessoas encrencas, de confusões densas e bebidas fortes em demasia, ao um ponto de desnorteio.

Hoje mantenho minha distancia, ainda que sorria com alguma elegância. As vezes as pessoas só precisam disso, um sorriso social, venha ele de onde vier, afinal quem se importa com entranhas?

Mesmo sendo algo antissocial, dias atrás me convidaram para uma reunião inusitada, que se iniciaria nos arrabaldes da cidade, e depois iria para o Cemitério a meia noite. Pensei comigo: que espécie de gente idiota faz isso? Puta que pariu, não deixam nem os mortos quietos? Quem havia me convidado era o meu amigo Boneco. O chamamos assim por causa de sua expressão facial, faz trejeitos e fica parado como um boneco de cera:

-Vamos lá Fabiano, vai ser divertido, tem umas vagabundas que pensam que são bruxas e feiticeiras, se vestem de preto, se beijam na boca com outras, eu já fui a reunião, é um ritual satânico sensacional...

Acho que as vezes a mente de Boneco é realmente de será endurecida, seu papo furado era de uma futilidade monumental:

-Boneco, cemitério a meia noite?
-É cara, elas ficam malucas, tiram a roupa, bebem um liquido vermelho que parece sangue e esperam o Demônio chegar... bem na ultima vez que estive lá, ele não chegou...há,há,há...sabe como é...
-É o fim do mundo mesmo, essa gente tem que morrer em 2012, junto com o resto que não conheço. Mas tudo bem vamos lá ver isso.

Fomos no carro de Boneco. Fui parar em um galpão nos arredores do porto. Lá já tinha algumas pessoas de preto, três viadinhos, quatro sapatas e o restante parecia não saber muito bem o que fazia lá, e eu também.

No fundo, o que me animava naquilo, era ver o que ia dar, eu queria ver a putaria escancarada mesmo, não me interessa demônio ou Deus, eles joguem como quiserem, meu negocio era a diversão.

As pessoas conversavam sobre ritual, magia da idade média, wicca, talismãs, signos cabalísticos. Falavam aquela merda como se fosse uma vitrine maldita, a novela das oito tentando virar a vida real, ignorando completamente a essência real desta mesma vida real. No fundo aquilo era o espelho da humanidade, pensando em domínios, em mostrar algum poder e tentando mexer com as sombras inconcebíveis. Não mexa com sombras inconcebíveis, pois elas costumam voltar-se contra seus invocadores.

Um forte cheiro de incenso barato evolava-se do local, e também um perfume daquelas mulheres, lembrava daquelas putas baratas, que apenas lavam a xoxota depois do cliente satisfeito, e colocam aquele perfume horroroso para disfarçar a porra derramada.

Boneco parecia enturmado, foi beijado pelos viadinhos e sapatas que apontavam pra mim rindo, ninguém falava comigo. Acho que estava no lucro do silencio. Não gostei da coisa que envolvia tudo aquilo, aquela escuridão, aquele cheiro e uma sensação de vazio. Talvez esse fosse o demônio, o vazio aquela situação funesta e minha vontade de ir embora.

Então uma sineta toca, uma mulher vestida de preto e muito gostosa diz que é a hora, que é preciso dar as mãos, pois ele virá! E o cemitério? Pensei eu, ele não vem no cemitério? Parece que não, o Demônio havia mudado de planos:

-Agora filhos de Satã, façamos a dança entoando o mantra das trevas. Somente os iniciados podem fazer isso.

Ela disse isso olhando para mim e outras três pessoas que estavam lá, indicando onde deveríamos ficar, um canto, apenas assistindo. Gostosa aquela bruxa mestre. Fiquei sentado ali, enquanto eles giram como malucos de mãos dadas, entoando uma cantiga estranha. Pensei comigo: puta merda, tudo isso pra ver putinhas se beijarem, para que o demônio de uma piscadela de olho, e para que viadinhos deem o rabo?! É caro demais pra mim.

No centro da roda a feiticeira mestre, bebia algo vermelho e viscoso, e tirava a parte de cima da roupa, ficando com lindos seios a mostra. Bom, agora sim. Ela foi seguida por todos os outros, que fizeram mesma coisa. A bebida maldita foi passando de mão e em mão, e aquilo realmente parecia sangue. Não iria beber aquilo nem a pau, saudade do meu rum.

Então ficaram em silencio de-repente, parados e ofegantes. A mestra diz:

-Que tenha inicio a festa, ele já está aqui.

Então começou uma orgia do caralho. Todos tiraram a roupa, se beijavam, se chupavam e ninguém parecia mais ter sexo algum, homens transavam com as sapatas, que transavam com outras mulheres que por sua vez comiam os viadinhos.

Não me impressionei com aquilo. Decididamente, andando pela noite de Pelotas, já vi coisa bem mais macabra, e sem precisar de pretexto algum. Não sei o que me deu, meu tesão se foi como uma locomotiva cansada, nem sequer me masturbei vendo aquilo. Sentia-me exausto e com vontade de ir dormir.

Havia aquele maldito vazio em mim, um vazio que gritava a plenos pulmões instigando minha fuga, por vezes tenho isso. Não esperava nada daquela situação. Talvez eu esteja mudando, minha pouca fé nos homens vem desaparecendo, a cada vez que encontro a emulação de uma aspiração.

Não me sobraram muitas verdades aquela noite, acho que o melhor que fiz, foi realmente me recolher. Meu sono foi perturbado por pesadelos e não amanheci de pau duro.

Luís Fabiano.

segunda-feira, abril 11, 2011



Sem último gole ou última dança

Eis que mais uma estação da vida se termina
Gritos e estertores de agonia sinfônica
A nau das despedidas, singrando meus vales de dor e alento
Nunca fui bom disto
A última instancia, o ultimo degrau
O ultimo gole de cerveja
A gozada derradeira, na xoxota sequiosa, com minhas finais gotas de vida
Não, não gosto disso
Não me interessa a exaustão que se acaba
O querer sugar o ínfimo momento da vida a beira da morte
Como um vampiro que jamais bebe o último gole de sangue da presa
Quando a pessoa agoniza ainda com vida
Pois beber o último gole, é também beber da morte
Lembro-me dos últimos instantes de meu pai
Como uma múmia naquela UTI hedionda
Com feridos a bala e outros aspirantes a morte
Um sorriso repleto de vida e silencio
E quem sabe, com alguma esperança de viver
Algum céu ou inferno imaginário
Mas vida por um fio
Neguei-me a ver seu corpo morto lá
Vi-o quando parecia dormir no caixão
Nem um gole a mais
Lembro dela naquela esquina
Nas malas prontas a certeza de jamais voltar
Um breve sorriso
E converteu-se em vento, brisa
Estando em todos os lugares e em mim
Poderá ser minha fuga desesperada da verdade da mentira
O sonho se fazendo pesadelo
O Adão querendo permanecer no Éden eternamente
Como também pode ser minha sede pelo infinito
Minha essência repleta de vida, rosas em botão
Encantamento místico de um asceta
Vendo no grão de areia, paisagens das constelações
Realmente não sei o que sou
Agarro-me a isso como uma ancora
Quero ficar em paz
E que esta paz seja duradoura
Que minhas flores brotem
Meus não filhos vivam
e a beleza me dê mais um gole, apenas mais um...

Luís Fabiano.

domingo, abril 10, 2011

Poesia Fotográfica


Navalhadas Curtas: Quinto dos infernos


A vizinha do quinto andar, não é necessariamente a pessoa mais amável que conheço. Tem um humor flutuante, como plumas de merda infláveis ao livre. Normalmente eu ignoro isso, quando ela deseja cumprimentar, eu a cumprimento e quando mantem um silêncio sepulcral e ofensivo, a deixo entregue a si mesma. Afinal, todos temos dias sombrios.

Porem, nem todos os dias esse sentimento humanista me anima. Por vezes entregue também as minhas próprias merdas, mergulhado em minhas insanidades, desconheço completamente a fragilidade humana, tão humana que nos irmana, e desejo realmente que todos se fodam, em uma orgia cósmica e doentia, o apocalipse em minha janela, e eu tomando chimarrão tranquilo.

Hoje, a maldita vizinha não cumprimentou, e ainda fez uma cara de asco, quando me viu indo sua direção. Não foi um bom dia para ela fazer isso. Quando ela fez a tal cara asquerosa,não titubeei, comecei a latir pra ela. Lati como se fosse um pitbull, um pastor alemão, o vira lata do inferno. Não deu outra, ela saiu correndo, como se fugisse de um cão verdadeiro, entrou em sua toca e bateu à porta forte fechado todas as fechaduras possíveis, e claro trancando o próprio cú, para que dali nada escapasse.

Quando finalmente entrei no meu apartamento, ri muito, ri como um idiota vingado. Bem agora, preciso procurar uma ração, essa ação toda me deu muita fome.




Luís Fabiano.

sábado, abril 09, 2011

Pérola do Dia




“ Para mim, a mulher perfeita fisicamente, é gorda auto-aceita. A que sente bem em meio as suas graxas abundantes, conduzindo-nos a um escorregador de prazer.”

Luís Fabiano

sexta-feira, abril 08, 2011

Ze Ramalho - Wigwam - Para Dylam

Momento Boa Música 

Pérola do dia:

“ Um homem escreve para destilar o veneno que acumulou devido á sua maneira falsa de vida. Está tentando recapturar sua inocência, e no entanto tudo que consegue fazer, é inocular no mundo o vírus de sua desilusão.”

 
Henry Miller




07-Abril-2011

Amanhece mais um dia fatal
Modorra inegável de nossas fragilidades
Expostas como feridas frescas conectadas
Parecemos nos importar com o que fede, chora e dói
Mas não
Aviões seguem pousando em segurança
Como a aceitação bovina também
Fingimos comoção momentânea com tudo
Como um flash fotográfico que captura o nada
Tentando raspar o fundo de nossas almas
Soterrar-se para ter um pouco paz
Enquanto adiante eles seguem morrendo
Como as vagas do oceano
Sem que lhes notemos a ausência
Sem que notemos quase nada
Nossa vista torna-se turva
Embaçada pelo selvático disfarçado
Quero entender e preciso entender
Porem existe uma lacuna impreenchível
De minhas misérias
Uma fome que não sacia
Uma sede desértica esgotando oásis
Pouco importa agora
Se morrem mais ou menos, morrem
Se balas perfuram notas musicais
Rompendo o doce encontro da harmonia
Gostaria de ter mais braços
De mais abraços para esta ânsia infinita de serenidade coletiva
Desejaria transformar-me em um disforme monstro
De tantos corações, tantas mãos e um manancial de lágrimas
Mas sei da impossibilidade enclausurada de mim
Não será por esta trilha densa
Mas pelo insondável alado querer humano
Que se inicia em um tempo sem tempo
As palavras escasseiam
Como abelhas sem favo ou mel
A sinfonia das agonias encena uma vez mais
Até quando, hein?

Luís Fabiano.

quinta-feira, abril 07, 2011



O abraço da serpente

Não considero adultério um crime, creio este não ser o verdadeiro problema. Lamento aquele que adultera-se, corrompe-se e abre espaços para as densas trevas em si, em nome de virtudes que não tem, tentando agarrar Deus pelos pés. Um proclamador inflado de verborreia sibilante, que ao final reduz-se a mesquinhos interesses reais.

Então seja franco em sua canalhice, seja o dia cinzento, turvo como rios pútridos, prontos a envenenar, mas não pinte-se com auréolas sagradas, aí entendo que está o real crime, a questão não são os outros, e sim você. Não seja dos que cagam e limpam a bunda com papel perfumado.

Originalidade nos tempos que vivemos é algo caro e raro demais, ninguém esta disposto a pagar, a expor-se, a ser uma paisagem terrível a luz do dia. Tudo é feito as escondidas, tuneis de minhoca singrando fendas, esburacando a alma até que ela vase toda a extinção, não há mais alma, gesto, gosto ou forma.

Sorri meu sorriso mais idiota, quando ela me disse embebida de inocência, frescura e sonho:
-Fabiano, puxa vida, tu poderias não ser canalha comigo? Tu precisas ser assim sempre?

Ela pedia para profanar o templo, pedia para que eu quebrasse minha santidade as avessas, e virasse diante dela uma ilusão aprazível aos olhos, um carinho gratuito da mão divina, a mentira escarrada do foço afável de uma alma maquiada e maquinada. Foi com um pouco de raiva que recebi este pedido, naturalmente despertou em mim desejos vingativos, desejei espanca-la um pouco, fazer-lhe tortura anal e afoga-la em porra:

-Não, creio que não posso fazer isso. E digo mais Gioconda, ainda que tu fosses a Buceta das Galáxias eu não faria isso. Não tem nada ou ninguém que me demova daquilo que sou, o canalha sofisticado é como uma puta de alma, que faz o que gosta com ou sem pagamento, a puta verdadeira, a “Madre” invertida do inferno, rogando pragas e esperando o pior acontecer, esse sou eu.

Do outro lado da linha Gioconda se cala. Creio não ser exatamente isso que tinha em mente, receber como resposta. Esse é um dos nossos maiores problemas, a expectativa do dia seguinte, da benção misericordiosa da vida nos presenteando gratuitamente. As vezes acontece, mas eu não estava disposto a fazer isso acontecer. As vezes abro exceções, porem apenas porque é preciso ser dinâmico em relação a vida. Pensamentos que não se cansam, vibrando com vontade, numa tentativa funesta de alcançar o universo, o átomo de Deus:

-Puxa, obrigado pela tua sinceridade Fabiano, credo as vezes acho que tu não és humano.
-Sou humano sim, mijo, cago, vomito e sangro como qualquer um, essa é uma das minhas pouquíssimas certezas.

A sua voz pesada dela, dizia em silêncios pausados o que lhe revoltava no interior. Não sinto prazer em causar desprazer, tristeza ou mesmo asco. É apenas a condição natural de ser Fabiano. Não há orgulho nisso, sei de minha abissal insignificância, é ótimo ter tal consciência que se é nada. Houve um tempo que me preocupava significativamente, ser essa luz apagada em minha vida, este vão de mistérios densos sem significado. O tempo pai de todos, foi enterrando lentamente, e com alguma filosofia consegue-se driblar quase tudo.

Mergulhei em mim, como quem salta em um poço de merda, fui nadando entre os toletes grossos, afim de encontrar algo, a viagem de Santiago de minha vida, a noite escura da alma, a procura.

Então você percebe que, o premio para tal busca é o buscar, e é preciso encontrar satisfação nisso, se isso acontece, a magia aconteceu. O coelho saiu da cartola, os fétidos toletes deixam de ser o que são.

Gioconda não aguentava a mim, meu jeito, meu cheiro de merda fresca, suor e um pouco de urina. A conversa seguiu para além, queria saber de minhas outras tantas mulheres, queria saber o critério de minhas escolhas, o que faziam, como trepavam comigo, se praticavam yoga sexual e outras tantas molduras que a existência empresta.

Ela procura sua posição, queria saber o seu grau de importância pra mim, como se faz para medir a emoção? Ou medir as lágrimas que caem ao solo durante uma vida? Se medirá também a intensidade de uma única lágrima também?

O outro lado também é verdadeiro, pode-se medir as gotas de porra que deixei espalhadas nas bucetas da cidade de Pelotas? É melhor não.

O papo estava maravilhoso, a verdade é uma sinuosa mordida de serpente, inegável, existem aqueles que gostam outros não. Gioconda ao final de nossa difícil conversa, sorria fazia promessas de ser minha puta alada, a amante feliz enfiada em minha alma.

Isso foi como uma espécie de amanhecer, um amanhecer de silêncios gotejando orvalhos de beleza, bebendo prazeres lentos e acariciando cabelos em um beijo interminável. Creio não haver preço para isso, esta paz é a nota musical perfeita atingindo a alma.


Luís Fabiano.