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segunda-feira, abril 11, 2011



Sem último gole ou última dança

Eis que mais uma estação da vida se termina
Gritos e estertores de agonia sinfônica
A nau das despedidas, singrando meus vales de dor e alento
Nunca fui bom disto
A última instancia, o ultimo degrau
O ultimo gole de cerveja
A gozada derradeira, na xoxota sequiosa, com minhas finais gotas de vida
Não, não gosto disso
Não me interessa a exaustão que se acaba
O querer sugar o ínfimo momento da vida a beira da morte
Como um vampiro que jamais bebe o último gole de sangue da presa
Quando a pessoa agoniza ainda com vida
Pois beber o último gole, é também beber da morte
Lembro-me dos últimos instantes de meu pai
Como uma múmia naquela UTI hedionda
Com feridos a bala e outros aspirantes a morte
Um sorriso repleto de vida e silencio
E quem sabe, com alguma esperança de viver
Algum céu ou inferno imaginário
Mas vida por um fio
Neguei-me a ver seu corpo morto lá
Vi-o quando parecia dormir no caixão
Nem um gole a mais
Lembro dela naquela esquina
Nas malas prontas a certeza de jamais voltar
Um breve sorriso
E converteu-se em vento, brisa
Estando em todos os lugares e em mim
Poderá ser minha fuga desesperada da verdade da mentira
O sonho se fazendo pesadelo
O Adão querendo permanecer no Éden eternamente
Como também pode ser minha sede pelo infinito
Minha essência repleta de vida, rosas em botão
Encantamento místico de um asceta
Vendo no grão de areia, paisagens das constelações
Realmente não sei o que sou
Agarro-me a isso como uma ancora
Quero ficar em paz
E que esta paz seja duradoura
Que minhas flores brotem
Meus não filhos vivam
e a beleza me dê mais um gole, apenas mais um...

Luís Fabiano.

Um comentário:

Dóris disse...

Morte e vida, um olá e um adeus...
Entre goles e sorrisos, entre flores e espinhos vive-se infinitamente um dia de cada vez.

Abraço de PAZ.