Pesquisar este blog

segunda-feira, agosto 15, 2011

Pérola do Dia:


“ Agua quentinha no lombo é muito bom, diz um sapo tomando uma boa mijada."

Anônimo Ignorado.

domingo, agosto 14, 2011




Pai entre esparadrapos


Calma... agora calma. Destas palavras eu lembro de dizer.

Respiro profundamente, respiração aspirando vida, aspirando anseios, um breve olhar olhando a abóboda celeste, singrando olhares para o infindo... não sei como dizer melhor, mas no meu silencio brilha uma navalha riscando um córrego. Beleza dolorida, uma paz parida das entranhas, com todas as implicações do parto... o medo... a esperança... o choro. Passou.

Ela não estava nada bem, seu semblante apagado de quatro aninhos, uma cantiga de ninar que não entoava, e eu ali uma pena errante ao vento. Ela estava doente, destas doenças misteriosas que os médicos não sabem dizer de primeira. Não gosto destes mistérios que atingem crianças em cheio. Lembro que não ver seu sorriso foi uma das coisas mais infelizes que vi em minha vida.

A mãe de Lis, um posso de preocupações, naquele instante eu estava ali, fiz o que pude, tudo que queria era ver aquele sorriso novamente. Confesso que não entendia muito bem a minha posição, um pai de empréstimo, eu não era marido ou o pai, mas aquela convivência de brincadeiras, a mãe, Lis e eu, entraram em mim como traumas outros que carrego, por estes milagres da emoção, as pontes que estendem a outra margem, nos tornamos informalmente uma família.

Na outra ponta da ponte, entre as nevoas da memória estava a falta de meu próprio pai. Aquela noite que levei Lis ao hospital, um hospital que gemia alto em uma noite sem fim, onde todas duvidas cravavam meu cérebro e a incerteza de traze-la para casa sã e salva.

E mais uma vez a memória brincando de esconde-esconde com minhas emoções. Naquele mesmo hospital anos antes, numa noite semelhante aquela eu levava meu pai... e não o veria mais com vida. Se eu encontrasse Deus aquela mesma noite, eu certamente iria nega-lo todas as vezes e faria o pior. Enquanto minhas esperanças escapavam por debaixo da porta.

Neste interim, o pai biológico de Lis, surge, um vulcão em erupção em meio a turba dos doentes. Eu estava ao lado de Lis e de sua mãe. Segurava-lhe as pequenas mãos, talvez como preces silenciosas para que tudo terminasse bem... Deus...por favor Deus...me leve, me fira, me mate mas não ela, deixa eu ver o seu sorriso novamente. Meu coração batia fora de mim.
Minhas lagrimas caiam suaves e quietas.

Nestor o pai, chegou me empurrando, me derrubando da cadeira. Tinhamos um problema, ele era um pai ausente com crises de consciência, a filha o rejeitava, a mulher o rejeitava e eu era uma pedra em meio a isso, um culpado por eleição. Não esbocei reação alguma. Realmente não importava as diferenças agora. Entendi-o quando o vi dizendo:

-Minha filha, minha filhinha...minhas filha...minha...

Achei que era demais ali. Eu não podia brigar com a biologia, quando me questionaram se Lis era minha filha, queria dizer que sim...mas Nestor saiu na frente e disse que era o pai. A mãe de Lis não tinha forças pra brigar naquela hora por nada.
Quando o atendente do plantão mandou eu me retirar, pois apenas um familiar poderia ficar com a menina.

Sai a frente do hospital, a noite densa de um céu carregado, desenhava no firmamento o meu estado de espirito. E Nestor volta a carga:

-Ela é minha filha, ouviu bem ? Minha filha.
-Tudo bem - foi só que eu consegui dizer.

Fui embora para minha casa, e a noite foi difícil. O sono fugia de mim, meu coração batia descompassado. Dormi pesado.

Pela manha, muito cedo o telefone toca. A memória novamente apresentado sua faceta pior, a tortura oprimindo o pensamento, esmagando-me contra minha vontade. Naquele domingo de agosto naquele horário eu recebia a noticia que deveria ir ao hospital pois meu pai, havia partido.

Agora só faltava... atendi o telefone, a voz de fina de Lis me atingiu direto no coração... e num fluxo incontrolável meus olhos se inundaram, a opressão saia de mim, o pássaro ganhando alturas batendo suas asas o mais forte possível. Ela diz:

-Papai, vem me buscar...
-Claro que vou, já to indo...

A mãe de Liz pega o telefone e diz que tudo estava bem, que ela estava liberada pelo medico. Fui pega-las. Quando estava entrando no hospital, minhas esperanças se renovaram, o dia brilhava e mesmo aquele cheiro hospitalar característico não me incomodou.

Minha memoria o peixe espada espetando minha alma, fluxo e refluxo de alegrias e dores, lembrei da ultima vez que vi meu pai em vida. Que brinquei com ele na UTI, entre tubos diversos de suporte a vida, com a possibilidade que ele tinha naquele momento, ele sorriu. Essa foi a imagem que fiquei dele.

Sou interrompido, por um grito: papai... papai... era Lis querendo ir para meu colo. E apesar do seus quatro anos, ela abraçou forte meu pescoço e dentro de mim, tudo o que podia fazer, olhando para o céu daquela manha, era agradecer.

Sabem, ás vezes tudo funciona mesmo. A musica toca até o fim, as notas casam e o silencio que fica, acaricia a alma. Eu me senti acariciado, minhas esperanças arderam como uma floresta em chamas.



Luís Fabiano.

sábado, agosto 13, 2011



Atalhos da Emoção


Joana cheira
Márcia fuma
Valéria bebe muito
Roberta chora depressiva
Jane se queixa demais
As observo de longe

Crianças que brincam com objetos pesados
Enquanto me jogam coisas
Facas, garrafas, cacos de vidro e cusparadas catarrentas
Desvio daqui e dali
As vezes acertam
Bingo... premio...

Depois
Abrem a gaveta das dores e depois as pernas
Uma relação de ódio e fragmentos do céu
Acho que em algum momento me acertarão fatalmente
Enquanto tomo o meu rum com olhos semicerrados
Tudo bem sem ressentimentos
Quero apenas viver
Tentar bater minhas frágeis asas de cera
Tecido voando ao vento desprendido

Sem poeira ante meus olhos
Fumaça desfeita de grilhões
Um pouco de rum, sim
Queixumes que se apagam em uma noite serena de estrelas tristes
Enquanto lá
Objetos desafiam a gravidade
Eu desafiando a vida
Não temo as dobras da morte
Meu jeito de viver
Balanço louco das insanidades carinhosas
Uma dose de cada vez
Servidas na lentidão da existência
Ao passo do coração
Entre os silêncios de seu pulsar...


Luís Fabiano.

sexta-feira, agosto 12, 2011

Pra fechar a Semana
Mister Catra - Adultério...




Decifrando engrimassos de grandeza


Minha estima pelos miseráveis de alma é sem precedentes, tão comparável a minha admiração dos templos vazios, ou com ecos de fiéis tentando caçar um norte sempre em fuga de suas vidas.

É Deus a galope, sempre estando e não estando, ora aqui, ora ali. As preces como flechas certeiras tentando acerta-lo no ventre divino, e que sua benção caia como sangue sobre nossos diminutos desejos, desejos de uma ignorância infantil, daqueles que não sabem porque existem, mas se for possível ser dar bem, tudo certo, ai esse patriarca de quatro letras existe e tem face. Quando acaba mal, e Ele desaparece entre as nuvens de algodão, num trono alado indiferente a seus filhos, que se fodam vocês e suas malditas lagrimas, no meu céu não há tempestades, uma primavera eterna com uma luz do sol que jamais fere os olhos.

Talvez minha estima advenha de minha mesquinha alma, o não querer ficar só neste mundo, o condenado por tantos erros, os quais jamais me arrependo. Lampejos de minha alma que as vezes brilha, numa noite sedenta de luz.

Gosto de tais contrariedades, sinto-me vivo, como um feto inquieto no ventre de sua mãe, um potencial de esperanças, o mundo que se descortina. Tento nascer a cada dia, mato um Fabiano por dia, para que este nasça um pouco mais ou um pouco menos filho da puta!

O que ontem ferrou a minha existência, hoje não existe mais, o que foi bom deixou rastros melecados na memoria, deixou uma trilha de formigas, abrindo espaços por dentro da relva interna, guardando no celeiro do coração.
Tenha isso dentro de si, boas lembranças para o inverno da vida, para não sucumbir quando os botes incertos do destino nos assaltarem, e você vive e viverá.

Nada é perdoável como se imagina. Mas nada é perdido também, o que a natureza faz conosco o tempo todo, é tentar compensar-se, naturalmente quanto mais obtusa for uma mente e mais estreito um coração, tal compensação ganha ares perfeitamente previsíveis de dor, de lagrimas sem fim. Um diamante bruto sofrendo golpes do buril, para que ganhe refinamento e brilho esperado do lapidador.

Essa não é a verdade absoluta, mas é parte dela, somos os tramites do bem e do mal, tateando cegamente no afã de encontrar-se.

Eis minha predileção pelos miseráveis, meus irmãos, não aqueles profundamente “despertos”, que enxergam apenas o bem como uma flecha cega, fanáticos presos a um bem extremo e doentio. Materializaram o bem, o transformaram em um negocio e nas suas veias não circula mais sangue. Mas um protoplasma de ideias prontas, uma estatua acabada que responde com um ventríloquo.

Não há esforço, apenas um apanhado de ideias, a mente mais que solitária, com resoluções prontas, é o que todos desejam não é? Algo que trabalhe por nós, que faça o esforço brutal por nós, que nos veja por dentro e a porra toda da vida que foda-se...

Negamo-nos a ver completamente desnudos. Quem corajosamente enfrenta as próprias verdades internas? Quem vai querer defrontar-se com sua miséria? Quem vai tirar as luvas das ideias preconcebidas, e tocar as podridões negligentes de sua individualidade? Mergulhar nas sombras densas e desconhecidas de si mesmo? Ou será mais fácil, colocar Deus na jogada? E culpa-lo quando tudo der errado?

Lembro-me quando fui mais filho da puta em minha vida, com pessoas que me eram caras, mulheres, amigos, parentes e conhecidos, aconteceu. Quando fui negligente e ignorei a dor alheia, o fiz com plena consciência uma consciência em prece de verdade.

E por estar tão consciente, mas tão consciente, então não existem arrependimentos, alias nenhum. Se essa é minha miséria e negligencia, que o seja. Não a ostento como orgulho, mas é apenas uma verdade, uma verdade no colar das perolas existenciais, verdade que salva e enterra, pois é assim com tudo.

Ainda não sei o que sou, nem sei se quero saber um dia, apenas vivo sereno o hoje, tento ser um rio escorrendo entre montanhas, com noites de luar a minha margem, com sonhos de mar, com sonhos de oceano, e de quando em vez um afluente ajunta-se a mim, peixes que migram de um para outro, não sei se chego ao oceano, mas isso é a vida, a certa incerteza, mas aqui, neste exato instante, tá tudo bom e creio que por isso já basta.



Gotas de esperança, a paz no dorso fantástico de um cometa, riscando nossa vida.


Luís Fabiano.



quinta-feira, agosto 11, 2011


A benção da merda


A impossibilidade de espantar-nos com o mundo, nos conduz a uma espécie de morte informal, uma calcificação emocional, a rocha removida à duras penas, da fria e brutal indiferença galgada dia após dias. Esforço de morte, o feto gigante auto asfixiando-se, para chegar desfalecido a porta da vagina.

Bradar aos ventos do norte a vida, é a ironia das ironias. Tento escapar disso, o enclausurado observando através das grades, as estrelas fulgurantes e doces, a luz baça e fantástica transpassando a alma, erguendo ânimos, a mão que se estende através das grades, com quem diz: dá-me uma estrela pra mim, uma estrela em minhas mãos, luz, por favor, luz...

Fiquei assim estático por um breve instante, movido pelo pensamento errante, por emoções sutis, mas com dentes afiados que me cravavam por dentro. O saco de lixo pendia em minhas mãos, papeis cagados, absorventes e restos de tudo que nosso corpo expele, nossos dejetos porque a alma não faz isso também?

O cheiro trazia o encantamento das furnas de merda, bueiros entupidos o cheiro de todos os cheiros péssimos, misturado aquilo, um frio tão intenso quanto o arrependimento, e aquele cara no latão do lixo? Que fazia ali?

Assustei-me com ele. Mesmo sendo vinte e três horas e três minutos. Eu ia levar o lixo da casa e atravessaria a rua depois, para comprar o liquido precioso, cerveja, uma sede desértica me invadia. Quando joguei o lixo para dentro do latão (estes latões em forma de casa que estão espalhados pela cidade) o morador lá de dentro vocifera:

-Não coloca lixo na minha casa cara, sai daqui é meu lar...

O ser humano ás vezes me surpreende. É raro, muito raro. Talvez estes humanos que expostos a intempéries to tempo, meus supostos irmãos, sem tem onde pousar a cabeça tranquilamente, transformando lixo em aprisco, em busca de fragmentos de paz:

-Opa, desculpe ai cara... É que aí é o lixo então eu...
-Não, hoje é a minha casa... e não joga lixo nela...se não...

Não tenho o perfil assustado de um coelho frágil, mas também não tem o perfil de brigar, alias acho uma estupidez mórbida. Sinto-me mais feliz e tranquilo sendo um bom saco de pancadas. Aprendi isso a duras penas, quando certa vez a muito, soltei minha disposição sombria para a porrada... não gostei do que fiz ou do que senti. O adversário no chão, sangrando feito um porco, meus olhos congestos de sangue, uma respiração animal, a raiva sem precedentes e uma profunda disposição de matar o inimigo... eu o mataria se não tivessem me segurado, o mataria com raiva e prazer, por um motivo besta qualquer, pelo orgulho incandescido, fazendo brilhar chamas em uma noite de azar e mulheres perdidas.

Quando voltei a mim, disse a mim mesmo que não gostaria mais de sentir isso. Talvez minha crueldade tenha refinando-se, talvez tenha me tornando pior, na densa frieza de emoções que não se revoltam ou afligem, que não se sente ofendido, que não se sente derrotado, de um orgulho que se dilui como um sorvete ao sol. Gosto mais deste Fabiano, um cara enfurnado em seu mundo, vivendo o melhor que a vida pode oferecer, sem fazer escolhas de nada, guiado por mãos invisíveis e feliz. Um rio que se conduz sozinho.

Aquele mendigo da lixeira lembrava-me, há muito tempo. A disposição malévola e inocente. Olhei para ele com a minha frieza viciada, sorri o sorriso dos idiotas e coloquei o lixo no chão. Ele sentiu-se mais confiante imaginando meu medo, entrou para dentro latão novamente.

Deixei o lixo ali do lado de fora, um saquinho com minha merda, meus restos de comida, o nariz assoado dezenas de vezes.
Voltei meu trajeto, fui buscar o elixir que unifica os homens, com certeza não era o amor, mas os benditos vícios. Pelo vicio se conhece um homem, suas virtudes falam apenas de seus sonhos e devaneios, os vícios das suas realidades.

Comprei a cerveja, decidi comprar uma a mais. Lembrei-me das merdas que Jesus disse: quem te bater a uma face, oferece a outra também? Sorri pra mim mesmo, que porra é essa? Eu deveria dar era uma garrafada nele.

Já um desafio suportar o outro humano ele sendo razoável, imaginemos perdoar-lhe todos os pecados? É amor demais, amor em jorros, amor universal, amor impossível... impossível senti-lo, logo perda de tempo.

Tornei a atravessar a rua, e o latão estava fechando novamente, bati na “porta”e o mendigo mal humorado disse: tem gente filho da puta...

Disse eu:

-Abre essa porra, é um amigo teu... e trouxe um presente.

Como uma criança cheia de vontades, vi que se remexeu dentro do latão e em dois segundos abria a borda para ver quem era. Estendi-lhe a garrafa de cerveja sorrido, ele a pega:

-Amigo, amigo... que bom que você veio... quer entrar ?
-Não amigo, to apenas de passagem pra deixar o presente ai... na próxima vez eu entro

Pensei comigo, se entrava para dentro do latão... mas aquela merda fedia pra caralho, achei melhor não.

-Mas que bom amigo, obrigado...obrigado...
-Não há de que. Dorme em paz...hoje.

E fui me afastando lentamente, meu coração estava tranquilo. Quando estava quase chegando ao portão do prédio, ele grita de lá, um grito feliz de satisfação:

-O senhor mandou um anjo... o senhor é um anjo...

E desapareceu dentro do latão. Fiquei parado um instante, pensando: eu não sou anjo, acho que tenho mais haver com Outro, mas as vezes as coisas funcionam, e em algum lugar dentro ou fora de nós brilha... acho que senti algo brilhar.


Luís Fabiano.

quarta-feira, agosto 10, 2011



Navalhadas Curtas: Estranhos amáveis – conhecidos avessos


Intervalo ao vento de pipa. Caminhando pelo calçadão no afã de não encontrar ninguém. Tem dias que não quero falar. Mas acontecimentos berrantes sondam vontades tímidas e a coisa muda.
Uma mulher desconhecida me chama, ela vinha com mais duas senhoras distintas:

-Sérgio, Sergio vem aqui por favor...

Custo a entender que era comigo, ou que não era comigo, mas eu fui. Então a desconhecida me abraça, ainda me apresenta para as duas senhoras sorridentes, que comprimento com educação, a desconhecida segue e cospe decidida:

-O Sérgio, é uma grande pessoa por isso sempre o chamo para abraça-lo...

As duas senhoras sorriem e concordam felizes, numa felicidade estupida. Naquele instante desisti do Fabiano, tornei-me Sérgio... porra, o cara que é melhor que eu...
Agradecia a todas, tal deferência e dei adeus.
Andei como se fosse um Sérgio e pensei: Esse tal de Sérgio é um cara bacana.



Luís Fabiano.
Pérola do dia:

“ Lésbica é mulher de bom gosto, porque mulher que gosta de mulher tem bom gosto, homem é feio, homem fede, e não tem curvas...”

Mister Catra


Coração de Puta

Ela é uma e todas
Mares de inquietação
Culpa e medo
Os sentimentos em ebulição, o sopro de satã
A dona de casa de pernas costuradas
Casadas que não trepam ou fazem amor
Vendo o príncipe desmontar-se cotidianamente
Pedaço a pedaço aqui e ali

Enquanto seu coração
Tenta transformar tudo em amor lindo
Lindo, inocente repleto de anseios fantásticos
Sublimidade manchada de ausências e faltas
A fuga da essência
Enquanto a vagina fica tão úmida quando seus olhos

Calando no silencio ruidoso
Nas vozes dos filhos que pedem atenção
Nas tetas ficando murchas
Os olhos perdendo o brilho
A fera sendo domesticada e apagando-se
Tempo filho da puta de dentes afiados
A buceta secando em areia
Deserto assoviando a solidão das solidões
Corpo que não acende mais nas notas mais altas
A puta desaparecendo lentamente em vida
Comida por dentro
Vermes pútridos em embate
Engolida por tudo

A mulher também vai sucumbindo
Nas lembranças rascantes
Sombras balançantes ao vento
Saudades reais
E sonhos desfeitos
A freira nervosa com o coração em chamas
A que se entrega a essência de seu prazer
Solitária que seja
Dedos que dançam molhados
Entre o desejo e o céu azul
Ou inferno

A vontade de mandar tudo a merda
Gozar como uma cadela no cio
A vagabunda celestial quer
A cortesã do diabo sussurra
Aquela que você quer que morra
Enquanto a vida passa raivosa
Ela é uma todas
E eu vejo o teu coração
Sei a puta que és.

Luís Fabiano.

terça-feira, agosto 09, 2011

Poesia Fotográfica...





Clausura das emoções

Elas me querem apaixonado
Mas eu não creio nestas merdas
Acho meio patológico
Ansiedade, câncer e gangrena
Quando menos se espera
Amputam algo de você
Partes do coração ou culhões
As vezes mais

Então vem a próxima
Começa tudo novamente
Sorrisos e beijos
A primeira trepada e nada sublime acontece
Não sei por que faço isso...
É meu jeito de viver
Como fazer embaixadas
A eterna punheta solitária
Partida que nunca acontece
Promessas do vazio
Muitas vidas em uma vida

Gosto que seja assim
Gosto dos desertos a noite
Gosto das estrelas distantes
De pernas cruzadas
Calcinha brancas enfiadas na bunda
E bundas cheias de promessa
Mas as lagrimas são fatais
Cacos de vida que não se encontram

As vezes a alma atrapalha tudo
O óbvio acaricia a forma
E o coração só deseja aprisco
Sou a caverna escura
Goteiras de cristal
Choro do silencio
Emoção sem asas
Beijos que o vento leva pra longe
Carinhos que se esfumaçam
Sou o sólido vaporoso
E o abraço do espírito.

Luís Fabiano.

segunda-feira, agosto 08, 2011

Pérola dia:


“ Hoje chamam ignorância de evolução, burrice de revolução e estupidez de gênio forte, ou eu estou muito anacrônico, ou realmente a vida esta se transformando em uma merda mesmo.”


Luís Fabiano.

Dica de Filme:  A Suprema Felicidade

Será que existe?
Não importa, mas importa o que você a busque quando sai de casa. O filme é uma sensibilidade pois evoca as vivencias de todos nós, crescer, buscar encontra-se, as primeiras experiências frustrantes.

A doença e as carinhosas lembranças que nos propõe que a coisa mais importante é sentir que a vida vale a pena ser vivida. O filme de Jabor, após dezessete anos sem filmar é belíssimo, sem a ironia do jornalista, mas com apreciação da vida que anda junto a nós.
Deixo uma frase do Marco Nanini, protagonista: Nada na vida é só bom...

Luís Fabiano




Punhetas Pra Maria

Oh Deus
Abrir os olhos pela manha novamente
Sentir-me vivo pela ressaca de cada dia
Enquanto o estomago embrulha
A vida é uma fantástica merda
Bom ainda estar por aqui

A cama vazia e ambulâncias gemendo na rua
Uma vida toda lá fora
Eu aqui tentando controlar o vomito
Sentindo uma ereção matinal maravilhosa
Busquei inspiração
Pernas maravilhosas da minha vizinha
As dentaturas no copo de Marina
Uma bunda desconhecida e sem cabeça
Nada funcionou muito

Oh Deus me ajude...
Peguei no pau e como um brilho repentino
Ela surgiu na minha mente
E sorria com candura
Nem pernas, bundas ou tetas
Apenas Maria
Aquilo me animou muito
Sacodi a ferramenta com vontade
Mergulhando nas caricias de Maria Santa
Santíssima Maria nua perfeita brilhando com asas de algodão
Emocionei-me
Gozei como um bezerro nos lençóis imundos
Enquanto as ultimas gotas de minha prece subiam ao céu
Afogando anjos fanhos

Languido abandonei-me a outro sono flácido
O maldito dia precisaria esperar mais alguns minutos pra começar
É como eu sempre digo:
comece o dia uma oração.

Luís Fabiano



Carinhosa destruição


Gosto que minha consciência seja um campo de batalhas. Creio que a de todos é. Por vezes não tomo partido para lado algum, nem bem ou mal. Alias, pra mim tais posições são extremamente relativas.

Certa vez me disseram que devemos fazer ao outro o que gostaríamos que os outro nos fizessem. Isso seria amor sem escalas. Bonito. Tudo bem, eu gostaria que outros fizessem comigo exatamente o que faço com os outros... uns bons tapas, gritos selváticos e descontrole prazeroso e um pouco de violência... eu gosto disso. Isso pra mim é o bem, mas raramente alguém se habilita assim.

De um modo geral, todos anseiam por coisas sensatas, certinhas, bonitinhas e porque não dizer fiapos de perfeição a qual tentam espelhar suas vidas. Sempre achei isso uma merda. Jamais quis minha vida perfeita, tenho apreciação pelo caos, sua disforme maneira de conduzir-nos adiante.

Assim sendo não entendendo o bem como bem, ou mal como mal, entendendo como intercambiantes, facetas da natureza a qual bebemos um pouco aqui e ali, sem que tenhamos muita consciência disso. Sombras subconscientes, nossa cegueira.

Dias atrás me chamaram de perverso e destruidor de emoções. Fiquei olhando para o semblante dela, tentei buscar em mim a perversidade maior, tentei mergulhar em minhas sombras e beijar meus fantasmas, mas nada, apenas ecos de um pássaro voando na escuridão.


Não me sentia perverso. Sorri pra ela e disparei:

- Quando as aguas invadem as casas das pessoas, no laranjal , quando enchentes destroem tudo a nossa volta, quando a merda entra a rodo em nossa vida, isso é perverso? Isso é mal? Isso é errado?

Isso não é nada. Isso apenas é a voz da natureza fazendo sua parte, levando-nos, nos agredindo com uma indiferença pacifica, nem bom e nem mal. As vezes sinto-me assim, não ajo com segundas intenções, sou minha natureza inquieta, um besouro sonhando com estrelas do infinito e doutras, rolando minha bola de bosta daqui para lá, feliz.

Trocamos aquele olhar silencioso, por alguns minutos, um silencio feito de cobranças, de dor, de frustração, abandono e asco. Eu era uma enchente maldita, que havia levado seus moveis para lama, ou simplesmente ela fosse também culpada por suas necessidades. Uma fome de amor, sexo, carinho, compreensão e uma imaginação que a eternidade nos presenteia.

Sorry baby, eternidade é a porra do nada. Não há eternidade humana. Por isso se vive a profundidade de tudo, levado ao extremo de tudo, porque o que fica são as marcas densas em nossa alma. Sejam as enchentes, ou os anjos ejaculando em conjunto sobre nossa existência. Não há sublimidade, não há amor Divino ou mesmo ira Divina. Tudo é em nós, céu e inferno e tenha a certeza absoluta, quando tudo esta uma merda em tua vida, não existe natureza, enchentes, lama ou qualquer outra coisa, a culpa é totalmente tua.

Então fique tranquilo, não lute com nada fora de ti, mergulha na batalha tua consciência, escolhe um lado para o qual lutar. Bem ou mal. E ao escolher seja o melhor que possas ou pior que conseguires. Pois a vida não perdoa os indiferentes, todos desejam estar sobre o muro da consciência, nem tão isso e nem tão aquilo. Os nadas de porra nenhuma.

A porta eu estava, não tinha vontade de dizer nada pra ela, por saber que jamais entenderia, quando estamos no calor de emoções, nos tornamos idiotas, dementes e imbecis. Para depois como mais imbecis ainda, nos arrependermos, pedir perdão ao diabo ou a Deus entre lagrimas ranhentas, crianças que nunca sabem o estão fazendo.

Acho que ela entendeu, ficou em silencio e bateu a porta, um carinho esperado, a reação da enchente. A ignorância é nossa maior chaga. Fui até a praça e tinha um bom cigarro mentolado. Sentei-me e sentia-me bem, uma consciência de destruição em paz, acho que minhas aguas estavam retornando serenamente a origem, precisamos disso as vezes, voltar a nós mesmo.

Luís Fabiano.


sábado, agosto 06, 2011

Momento Boa Musica

Omara Portuondo – Mil Congojas




Ela, queixo de Pugilista...

Não sei por que faço isso
Exponho minhas vísceras na mesa do almoço
Não sou muito sensível
Pouco senso de todas as coisas
Títere minhas sombras
Cordas de uma luz errante
Minha verdade fere muito, dilacera e geme
Silencio de navalha

Magalhães sorriu dentro da barba, diz:
-Essa mulher tem queixo de boxer...
Segurei meu queixo afirmativamente
Sei de minha canalhice suprema
O filho da puta alado
Quando as portas se abrem
E corações ecoam como supernovas
Retalhos de paixão, carinho e amor...

A expus ao meu esgoto mais fétido
Ela aguenta firme
Merda, vomito, porra e o que for
Não vai a nocaute
Beijo seus olhos
Afago seus seios
Deixo meu coração
Minha nau de desejos
Asteroides riscando a noite
Alegria e paz

Bato o mais forte que posso todo dia
Mais um round
Suor, sangue e esperma
Muhammad Ali, Mike Tyson, Rock Marciano
Suas almas enfiadas entre seus pentelhos
Base de todo lutador
Aguentar incansavelmente porradas
A vida soca forte
Muitos vão a lona
Mas se você aguentar até o fim
Foda-se o resultado...
Você já venceu.

Luís Fabiano.

quinta-feira, agosto 04, 2011


Copo pela metade

A paixão a muito se foi
Fiapos ficaram para trás
Uma corda que se rebenta
Força além da força
Sinto-me bem
No meu brutal entender
Sadio talvez
Olho a vida com uma fina camada de frieza
Uma maturidade dolorida
Sem verniz
Apenas a crua beleza em chamas
Mensagens cálidas
Feitas de orvalho e lagrimas
Das coisas falam em silencio
Sussurros da alma
Na ordinária existência de modorra
Lagrimas falam
Pétalas de flores ao vento
Uma casa em chamas
Feridas que sangram
Aquela bunda carinhosa sorrindo pra mim
Minha indiferença a tudo também fala
Bom que assim seja
Gosto da distancia que as pessoas ficam
Montanhas inatingíveis
Entre medos e desconhecidos
Sinto-me bem
Apenas não quero que a poesia se vá
Que minhas dores me abandonem
Que me perca em meus labirintos
Na solidão medonha de não ver-me
Narciso vomitando o humano
Sem reflexos
Ou estrelas
Ou a fina camada de frieza e amor
Não me abandono mais
Sou a ancora de mim mesmo

Luís Fabiano

quarta-feira, agosto 03, 2011

Momento Mestre

Nelson Rodrigues – A vida como ela é
- Episódio: Mártir em casa e na rua -





Bueiros da Verdade

Algumas bebidas depois
O quadro havia se alterado
Soro da verdade teve efeito
Vodca, whisky, cerveja e vinho...
E como uma caixa de merda encantada
Ela se abriu
Um mar de inseguranças adormecidas à sombra
Aflorou como uma hemorroida fresca
Gostei daquilo
Creio estou ficando bizarro
Penso: As únicas pessoas sinceras do planeta são os bêbados
Relaxei enquanto ela queixava-se dos defeitos do seu corpo
Segui bebendo
Quando terminou estava em lágrimas idiotas
Um nojo
Eu disse: relaxe baby, o corpo pouco significa o espirito é que conta
Não gosto de espiritos frágeis
Feitos de cristal e tetas duras como pedra
E o coração?
Você é bonita baby, o segredo é o andar, você precisa saber andar melhor...
Tem mulheres que andam com estilo
É a porra do espirito elevado as esferas celestiais
Ela apostava tudo na beleza, tudo...
E andava como um camelo naquele salto
Ali estava sua derrota
Tanta sinceridade explicita era pior que expor sua xoxota em publico
Afinal
Ninguém fala dos tamanhos dos toletes de merda que caga, não é?
Então ela começa com a historia de amor
Amor isso e amor aquilo
Que sabemos de amor?
Que não esteja entre as sujeiras de nosso umbigo?
Aquilo me deu náuseas
Tudo terminou comigo vomitando na mesa de centro.

Luís Fabiano.

terça-feira, agosto 02, 2011


Navalhadas Curtas: Safada feliz


As vezes dá certo. Ela me olhou nos olhos, e houve um pouco de sinceridade no ar, de qualquer forma parecia um sonho ou pesadelo promissor, disse:

-Tudo o que eu quero contigo Fabiano, é sexo, por favor não misture nada a mais a isso ok ? Apenas prazer feliz, bom e leve.

Olhei para o céu, e acho que Deus estava lá naquele dia eu disse:

-Perfeito baby, isso foi lindo.

Por quanto tempo ela conseguiria manter aquele pensamento translúcido...



Luís Fabiano.
Poesia Fotográfica


segunda-feira, agosto 01, 2011

Áudio Poema

Extraído da Obra: O Silencio dos Amantes
Autora - Lya Luft

Voz Luís Fabiano




Afagos do Caos

A desordem uma vez mais me acaricia com mãos de veludo, então tenho a certeza plena de estar em paz, de estar vivo e mais presente que nunca, nestes pequenos detalhes em que a vida escapa sempre.

Grãos de poeira me conduzem ao descanso, seu aspecto abandonado a superfície das minhas poucas coisas, se acumulando, dia após dia, esperanças espaciais levadas pelo vento, é a vida, o que os medíocres chamam de sujeira. Gosto dela.

Quando cheguei em casa aquela noite, tais coisas foram consolos meteóricos. Minha cama desarrumada de dias, algumas latas de cerveja formando barricadas aqui e ali, a trincheira dos prazeres sensórios, resquícios e restos, que fui consumindo dia a dia. Como um felino, o animal, os cheiros de mim mesmo, espalhados em meu mundo não me deixam esquecer o que sou.

Não foi a bebida que me deixou assim. Foi ver um pouco do mundo, ainda que o mundo esteja em um boteco, em tampos de mesa engordurados e sebentos, copos meio cheios e meio vazios, e pessoas, puta merda tantas pessoas e nenhuma. Neste dia em questão, não queria falar com ninguém, queria tirar a própria merda de meu rabo e comer sozinho, tirando e comendo, tirando e comendo, entre um tolete e outro, goles de cerveja ajudam.
É preciso fazer estes encontros de vez em quando.

Ouvir a voz da inescapável solidão. Isso não precisa ser desagradável, mesmo porque não tem como fugir. Somos pontes erguidas em direção aos outros, guindastes de vontade balançando errantes entre tantos quereres. Fazemos tudo o possível para não pensar nela. O amor cria vínculos, o ódio também, os filhos vínculos quase eternos, pais, mães, irmãos e alguns amigos. As pontes estendidas a vácuo, ao infinito, pontes que nunca se tocam.

Cruzamos as pontes de vez em quando, porem, a noite quando deitamos, adentramos o templo de nosso coração, o que ali fica e existe é apenas você, você e você. As pontes estão abertas, mas nada mistura-se a nossa essência. Nada, por mais refinado ou funesto. Ficamos imersos em nossa atmosfera eterna, pesando em nós valores e dores, beijos e lagrimas.

O tampo do boteco não fala, mas a essência do amor é a satisfação única do que sai de nossas entranhas desapegadamente, sem volta e sem porque voltar. Pássaros ganhando o céu, buscando destinos, somos a gaiolas abertas e a satisfação está no que vai livre... dei um gole na cerveja, enquanto lésbicas trocavam caricias discretas na mesa da frente, enquanto lembrava das dezenas de mulheres que tive, de tantas que passaram em branco sem que eu lhes desse nada e sem nada eu recebesse delas, a não ser algum prazer recreativo, na rua carros com som muito alto, para nada escutar.

Ergui o copo no ar, brindando a todas e naquele instante, que importavam o que havia sentido no passado. Sentia-me mergulhado e sorridente e tudo estava em ordem.

Pensei, hoje eu voltaria ao quarto minúsculo, pedaço de universo em caos, o berço de minha alegria, deitaria naqueles lençóis amassados e com cheiro de porra, suor, e cerveja derramada, acrescentaria uma lata a mais nas trincheiras de cerveja, gosto assim, sentir meus próprios aromas, gosto da minha sujeira carinhosa, sobre tudo esta noite, em que minha solitude me visitou, sinto-me feliz e não entendo bem de onde advém isso, tudo que sei é que é bom.

Esta noite não estragarei nada com xoxotas ensandecidas, putas baratas e doidonas caídas em desespero de todo dia. Hoje não beijarei tetas caídas, embora ame, hoje desejo que todas sintam paz, que deem um “time” em tudo. E se deixem envolver por amor a qualquer coisa simples. Nosso lixo sempre vai estar ali sempre, as vezes é preciso um tempo.

Essa noite tudo foi diferente, sentia-me um pequeno demônio frágil, querendo mamar nas tetas de Maria e adormecer, queria que todos estivessem bem... todos.


Luís Fabiano