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segunda-feira, agosto 01, 2011



Afagos do Caos

A desordem uma vez mais me acaricia com mãos de veludo, então tenho a certeza plena de estar em paz, de estar vivo e mais presente que nunca, nestes pequenos detalhes em que a vida escapa sempre.

Grãos de poeira me conduzem ao descanso, seu aspecto abandonado a superfície das minhas poucas coisas, se acumulando, dia após dia, esperanças espaciais levadas pelo vento, é a vida, o que os medíocres chamam de sujeira. Gosto dela.

Quando cheguei em casa aquela noite, tais coisas foram consolos meteóricos. Minha cama desarrumada de dias, algumas latas de cerveja formando barricadas aqui e ali, a trincheira dos prazeres sensórios, resquícios e restos, que fui consumindo dia a dia. Como um felino, o animal, os cheiros de mim mesmo, espalhados em meu mundo não me deixam esquecer o que sou.

Não foi a bebida que me deixou assim. Foi ver um pouco do mundo, ainda que o mundo esteja em um boteco, em tampos de mesa engordurados e sebentos, copos meio cheios e meio vazios, e pessoas, puta merda tantas pessoas e nenhuma. Neste dia em questão, não queria falar com ninguém, queria tirar a própria merda de meu rabo e comer sozinho, tirando e comendo, tirando e comendo, entre um tolete e outro, goles de cerveja ajudam.
É preciso fazer estes encontros de vez em quando.

Ouvir a voz da inescapável solidão. Isso não precisa ser desagradável, mesmo porque não tem como fugir. Somos pontes erguidas em direção aos outros, guindastes de vontade balançando errantes entre tantos quereres. Fazemos tudo o possível para não pensar nela. O amor cria vínculos, o ódio também, os filhos vínculos quase eternos, pais, mães, irmãos e alguns amigos. As pontes estendidas a vácuo, ao infinito, pontes que nunca se tocam.

Cruzamos as pontes de vez em quando, porem, a noite quando deitamos, adentramos o templo de nosso coração, o que ali fica e existe é apenas você, você e você. As pontes estão abertas, mas nada mistura-se a nossa essência. Nada, por mais refinado ou funesto. Ficamos imersos em nossa atmosfera eterna, pesando em nós valores e dores, beijos e lagrimas.

O tampo do boteco não fala, mas a essência do amor é a satisfação única do que sai de nossas entranhas desapegadamente, sem volta e sem porque voltar. Pássaros ganhando o céu, buscando destinos, somos a gaiolas abertas e a satisfação está no que vai livre... dei um gole na cerveja, enquanto lésbicas trocavam caricias discretas na mesa da frente, enquanto lembrava das dezenas de mulheres que tive, de tantas que passaram em branco sem que eu lhes desse nada e sem nada eu recebesse delas, a não ser algum prazer recreativo, na rua carros com som muito alto, para nada escutar.

Ergui o copo no ar, brindando a todas e naquele instante, que importavam o que havia sentido no passado. Sentia-me mergulhado e sorridente e tudo estava em ordem.

Pensei, hoje eu voltaria ao quarto minúsculo, pedaço de universo em caos, o berço de minha alegria, deitaria naqueles lençóis amassados e com cheiro de porra, suor, e cerveja derramada, acrescentaria uma lata a mais nas trincheiras de cerveja, gosto assim, sentir meus próprios aromas, gosto da minha sujeira carinhosa, sobre tudo esta noite, em que minha solitude me visitou, sinto-me feliz e não entendo bem de onde advém isso, tudo que sei é que é bom.

Esta noite não estragarei nada com xoxotas ensandecidas, putas baratas e doidonas caídas em desespero de todo dia. Hoje não beijarei tetas caídas, embora ame, hoje desejo que todas sintam paz, que deem um “time” em tudo. E se deixem envolver por amor a qualquer coisa simples. Nosso lixo sempre vai estar ali sempre, as vezes é preciso um tempo.

Essa noite tudo foi diferente, sentia-me um pequeno demônio frágil, querendo mamar nas tetas de Maria e adormecer, queria que todos estivessem bem... todos.


Luís Fabiano

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