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segunda-feira, julho 16, 2012




Densos vazios – Frio, o cárcere sem grades

O tempo estava pesado num horizonte escuro. Um grito louco anunciando uma tempestade, um espelho fantástico, de como as coisas iriam se proceder. Gostamos de respostas prontas... Fáceis... Logicas e certinhas. Não sei ser assim.


Faço questão plena de quebrar isso. Não me entrego a marasmo existencial, que termina por promover uma igualdade doentia... Como coisas que se repetem tornando-se nada, não, nada disso.


A tempestade queria me encarcerar em casa... Mas tenho de mim uma espécie de verme convulsivo... Quanto mais me prendem... Mais desejo fugir... E não seria agua, relâmpagos e trovões  que iriam fazer isso.
Sorri, pois acabei lembrando... Quem não carrega alguma tempestade dentro de si? Foda-se.


Entornei a garrafa de rum, pelo bico... Restos de esperança que se diluíam em mim. Sem rum, as duas e trinta e sete da manhã... Eu era uma criança órfã, perdida em um cemitério. Fui pra rua, a Pelotas como uma santa de pernas cruzadas, dormia . Nunca gostei de santas. Sempre preferi as putas. 


Entro no carro... procuro uma radio que toque alguma coisa... Não qualquer coisa. Quando se esta assim, você precisa de algo bom... Consegui achar um blues... Não sei quem tocava, mas parecia inspirado. Ligo o carro a saio devagar. A chuva começa forte... Lagrimas de Deus ou do demônio encharcando as ruas... Asfalto virando mar... Estou a vinte por hora... penso que sou um doente. 


O que há na rua Fabiano? Que merda tu estas procurando?
Não sei... Eu nunca sei.
Vou atrás dos mestres... Bares abertos, onde aqueles que são os expoentes da sociedade mantem a vida intensa... Sim, falo de ladrões, assassinos, prostitutas, traficantes ,proxenetas, viciados, tarados e os canalhas de toda sorte. Eu fazia meu caminho de Santiago as avessas... Mas acho que sai tarde demais pra uma quinta feira.


Os bares fechados, foram me oprimindo por dentro. Agressão sem reação. Portas lacradas nos dão a impressão de eternidade. Um pássaro livre, batendo asas a esmo, sem tem para onde ir? Pensei: então quem sabe uma buceta? Pensei em ligar para putas que conheço... Eram três e quinze da manhã... porra eu detesto que meu celular toque nestes horários... Estranhamente as palavras de Cristo me invadiram a mente: não façais aos outros, o que não quereis que vos façam...


Mas que porra é essa? Tratei de espantar tal pensamento... Temi ficar de joelhos e pedir a Deus algo... 
Chuva maldita chuva... Pensei: onde esta vida? Nenhuma festa, nenhuma orgia, o coração pesado. Como um feto afogado na chuva, eu desejava um abraço de alguém... Um carinho, afinal as vezes é bom.
Parei o carro... O motor quente... A única coisa viva além de mim, com um pouco de calor. Aquele momento seria um bom momento para ser abduzido... 


Onde estão os ETs filhos da puta? Porra, aproveitem a chance seus merdas... Levem-me pra puta que pariu, onde as xoxotas, cus e caralhos universais são guardados nas dobras do tempo e espaço.
ETs, porra nenhuma, esses caras devem ter mais o que fazer... Que sequestrar um bêbado com um Kadett sujo as 3:57 da manhã. Minha ânsia que algo acontecesse poderia me levar a coisas perigosas... A policia para ao meu lado, pede pra abrir o vidro:


-Boa noite senhor. O senhor está bem?


Olho pra ele... O silencio quebrado pela chuva, um olhar longo em olhos inquiridores... Que eu diria? A verdade?


-Tudo bem policial, tava apenas lendo uma mensagem no celular...
-Certo senhor... Procure não ficar muito tempo parado aqui... É perigoso...
-Já estou indo... Obrigado.
-Boa noite senhor.


Eles pareciam uma espécie de engrenagem funcionando eletronicamente... Achei que chegava daquilo. Não se podem ganhar todas, e nesta noite eu havia perdido muito, uma lagrima caiu, a chuva inundou, a poesia havia se tornando um rabisco... Apeguei-me as esperanças possíveis, alguém ao menos havia falado comigo aquela noite.


Luís Fabiano.

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