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sexta-feira, maio 18, 2012



Rei das Bucetas – Saudade é a poesia do amor

Cai a noite feroz, como olhos que se fecham e não adormecem. Respiração, o vento frio varrendo ruas, carregando sonhos para os cantos escuros, para dentro dos becos e casas. Gosto de olhar a noite cair, talvez porque minhas sombras não fiquem mais tão solitárias. Da janela do quinto andar, um crivo black mentolado, rum a granel e uma pedra de gelo boiando... ruas ficando vazias, quase uma da manhã...
Rum comigo sempre é uma incógnita. Fico excitado ou anestesiado, cara o coroa...tambor da roleta russa...
Olho em direção ao Bairro Navegantes... como um botão que liga o sopro do demônio, não penso duas vezes. Pego o carro e vou em direção lentamente a Boteco em que o Rei das Bucetas é o patrão.
As ruas ficando ruins, buracos e poeira da terra, o cheiro de esgoto fresco no ar... essas coisas tão importantes ,que são capazes de mudar tudo, é o traço fundo na memória... o passo final, que leva a mudarmos tudo em nós... cheiro de vida ainda que podre...gente se misturando ao esgoto, a merda, a vida, cheiro visceral estuprando o olfato chegando na alma...
O bar estava lindo como um anjo do mal, sorrindo com dentes cariados. Cheio, transbordante... um pagode de mesa tocado, risadas, mulheres, cachaça e coca-cola... porra a vida pode ser melhor?
Estacionei o carro, algumas poucas pessoas que conheço me cumprimentaram... e ao fundo sentado a esquerda na contramão de Deus, estava ele, impecável vestido de branco, chapéu branco como um Exu em paz... sorrindo com todos os dentes. Ele segura a ponta do chapéu me cumprimentando e apontando um lugar vago em sua mesa plástica...
-Então Rei das Bucetas... solitário hoje... que milagre majestade...
-Nada de solitário meu caro... meus amores andam dentro de mim... onde não existe distancia
-Boa saída... boa mesmo, vais comer elas ai, por dentro de ti?
-Puta que pariu Fabiano... que sensibilidade ... porra... as coisas são mais profundas que um pau e uma buceta, já te disse... a relação, o tesão começam na saudade, a lembrança, as marcas na pele... da ultima trepada, o silencio que antecede tudo... tudo isso é amor... sem amor a foda é seca...
-Tudo bem Rei... hoje estamos filosóficos demais... eu to bêbado, e as coisas não precisam de muito sentido não... foda-se.
Algumas poucas mulheres requebravam a bunda ao som do pagode. Coisa boa de ver isso, gosto de bunda grande... e elas possuíam dotes maravilhosos... dentro de uma minissaia curta, por vezes uma subia um pouquinho, mostrando a ponta da calcinha branca mais ou menos limpa...
O cheiro da orgia...  do suor de um dia de trabalho, do mijo e outras secreções vaginais, dardejam minha cabeça, num misto de fantasia bêbada, alcoólica e desejos de vapor...
Rei das Bucetas ria... uma risada irônica. Tomo um bom gole de cachaça pura... tudo parece tão tortuoso... o bar fica em câmera lenta. Telma surge do nada, sentando no colo do Rei, sorria um sorriso de puta feliz...
O Rei me olha:
-Percebe o que eu digo? Pergunta pra Telma, quando foi que ela me viu a ultima vez?
Telma responde sozinha:
-Fazem duas semanas... ai amor... que saudade de ti... do pau gostoso, da tua pegada, da tua boca fazendo tudo aquilo em mim...ai mon amour...
Gostava da disposição de Telma. Falava como uma puta de honra, gosto de mulheres que falam as coisas... na lata. Eles não se demoraram muito e desapareceram. Foram matar a saudade...
Veio outro copo liso de cachaça. Rum e cachaça, haviam me anestesiado de vez. Os batuques do pagode pareciam longínquos como um sonho... as bundas pareciam flácidas de gelatina, minha vida uma artéria entupida, tudo tão lento louco...  quanto tempo havia passado? Não sei.
Me arrastei até o carro, entrei... deixei a musica do radio tocando baixinho... adormeci no carro.
A madrugada avançou como uma lesma no oleo, virou dia... acordo, olho para o bar fechado as seis da manhã... as janelas do carro abertas abertas... o chiado no radio... a cabeça doía muito... pensei que havia me mijado, já aconteceu algumas vezes... mas não, apenas estava suado.
Fui pra casa... o papo da noite estava nebuloso em minha mente, hiatos de nada. Puta merda, acho que se tivesse ficado em casa, batido uma boa punhetinha matinal...
Precisava urgente de uns três tilenol...

Luís Fabiano


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