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segunda-feira, outubro 17, 2011



Cinzas, e brasas natimortas diluídas


Gosto dos amanheceres cinzentos... Uma espécie de cinzeiro, o qual Deus deposita seus restos fumarentos, para que a parca humanidade, tenha momentos maravilhosos, daquilo que considera vida. Dias sem esperança, onde o sol faz sua dança macabra de esconde-esconde. Há quem não goste.

Quem entende um pouco da vida, sabe isso que tem nada haver. Pouco importa se o sol esta vivo ou morto. Pouco importa que todos os ventos soprem contra nós, e que tudo seja um imenso mingau de merda, que vamos comendo lentamente... Que importa isso?

Pois em nossa mediocridade, imaginamos as disposições inversas. Nascedouro de nossas angustias e felicidades. O maldito projetar, uma espécie de luz que tentamos incendiar com nossas vontades provisórias, catapultando tudo para o ponto mais alto, tão alto que se torna impossível alcança-lo.

Concluímos que a vida é uma merda. Mas não. Não é o maldito sol ausente que faz diferença. Não é a lua acesa todas as noites, beijando sombras e desfigurando formas em largadas transformações. Não é a porta que bate, cerrando nossas castas intenções ao fúnebre carcomido. Nem tão pouco o amor, que rasgando nosso peito, em egoísmo hediondo, sugerindo sofrimento, castração e a espera do ideal. Nada mais tolo que o ideal. Projetar o ideal é plastificar a existência, em um espelho refletindo nossa própria imagem. Quando tudo tornar-se perfeito, vira uma merda engomada, quando tudo encontra o pináculo, começa a morrer, pois a vida é esta fuga... A fuga para não vida. Mas isso se passa em silencio, enquanto manipulamos os cordéis de nossa existência.

Sempre existe um drama. Mesmo que não tenhamos consciência dele nitidamente. Sempre um verme que se mexe em nosso peito, balançando as fibras do coração. Coração, ótimo se tudo se resumisse apenas ao órgão... Mas ele é uma ponte com artérias etéreas, para alma... mescla-se sangue e siderais emoções, mesclam-se lagrimas e infarto, mesclam-se saudade e ódio entre as sístoles e diástoles do infinito.

Então ela abriu os olhos, e a primeira coisa que fez, foi maldizer o dia. Não tinha planos de dormir com ela, mas acabei adormecendo pelos excessos. Muito sexo, muita bebida, muito tempo sobrando e uma vontade inédita de querer saber onde aquilo me levaria. Sou um navegado ciente do inferno. Eu ainda estava dormindo fingidamente, ela abre a janela repentinamente. Luz cinza nos olhos:

-Puta que pariu – digo eu em formato de bom dia...
-É Fabiano, amanheceu... hora de ir andando...


Comecei a rir. Mau humor matinal, TPM e uma broxada minha as três da manha, boa causa. Andréia havia mastigado a relação sem relação, se encarregando de tornar tudo pior. Tem gente que tem esse talento, saber piorar as coisas com pressão. Mas eu sou o pior. A cada dia chego à conclusão que não tenho nada a perder... eu não perco, porque já perdi.

Isso me torna pior, o calejado modorrento levando porradas incansavelmente, encontrando mulheres malditas e algumas insuportáveis angelicais. Mas normalmente, são como eu. Tem boas intenções, querem manter as boas intenções as vezes:

-Tudo bem Andréia... já to indo...

Tenho um gosto azedo na boa, e no cavanhaque o cheiro fresco da xoxota olorosa de Andréia. Gosto do cheiro dormindo de xoxota, por isso as vezes evito o banho depois da uma boa foda.
Então Andreia, que naquele instante vestia seu pior personagem, vem até mim e dispara:

-Fabiano, olha bem a minha bunda, e me diz, eu tenho celulite?

Eu sou da antiga. Não me importa se ela tem celulite, é manca, falta dentes ou não toma banho. Ela vira de bunda pra mim. Aproximo meus olhos o mais perto possível, mexo em bunda gelatinosa e algo flácida. Aquele era um bom momento para mentir. Aperto sua bunda ate formar umas crateras lunares, com buracos e estrias. Já estava brincando com aquilo. Era quase como brincar com coco. E respondo:

-Tem, um monte...
-Sério?
-É, você tem uns vinte buracos... mas tudo bem...não preocupe-se com isso...
-Como não me preocupar com isso?
-Não brigue, por favor, não pense em perfeição pela manha... isso é uma merda, a natureza sempre vence...
-Porque tu disseste que eu tenho celulite? Que merda Fabiano... tu és um insensível sempre assim... que merda...

Começo a rir, tenho vontade de mijar. Vou até o banheiro, mas pela manha não tenho boa pontaria. Mijo o chão, a parede, o box e alguma coisa caiu no vaso. Andreia gritava no quarto, que iria se atrasar, que era horrorosa, que sua bunda era uma merda.... Parei encostado na porta olhando ela andando de lado para o outro, parecia uma minhoca em um frigideira quente...

Junto minhas roupas e vou indo:

-Andréia – digo eu.
-Que foi?
-Nada não, esquece, até um dia.

Silencio.
Abri a porta e sai. O dia cinza parecia bom. Meu coração batia tranquilo, leve um sereno acariciando as agruras , um afago denso permeando a indiferença da vida, curvando felpas cinzeladas da existência. Respiro fundo, a paz vinha de algum lugar, eu não tinha feito nada para merecê-la. Mas as vezes é isso que se precisa fazer, desligar de tudo, e apenas deixar que o sol apareça quando quiser.




Luís Fabiano.

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