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terça-feira, março 22, 2011



Morte de Saturno


Não sou muito de me apegar ás pessoas. Prefiro os animais, são mais autênticos e alguns até possuem estilo e talento. Neste período de minha vida, meu primeiro casamente agonizava com força. Fazíamos o possível para tentar achar o entendimento, mas parecia que o entendimento não nos queria.

Nós não nos queríamos mais. As diferenças tornaram-se abissais. Ela exigia um outro Luís Fabiano, um cara que simplesmente eu não era, não sou e fatalmente não serei. Não digo não houvesse amor. Sim havia, mas que merda, você acha que apenas amor basta? Acho tais sonhos muito bonitinhos, mas a vida real não é assim. Nosso céu foi ruindo pouco a pouco, ela me exigia ideais que eu não fazia questão ter.

Queria que eu fosse bem sucedido, bem arrumado, que tudo fosse ordenado e quase um espelho de perfeição do marido perfeito. Eu sentia nojo disso, não queria que ela fosse uma mulher perfeita .

Ela me forçava muito. Não respeitava a pessoa de Luís Fabiano. Então vieram as promessas vazias: Nunca mais farei isso, não serei mais assim. Tudo resultava em nada.

Sempre tive muita disposição para destruir as coisas, não me importando com o dano que causava a mim mesmo ou aos outros. Nesta época eu sofria mais. Creio que nisso estou um pouco melhor. Deixo as coisas muito claras, então quem me conhece, sabe exatamente com quem esta lidando. Minha consciência fica limpa, e realmente me sinto um canalha sofisticado, com alguns fiapos de emoção e feliz as vezes.

Nos estertores da agonia, acordamos aquela manha, uma bruma de tristeza pairava no ar, interpenetrando nossas almas fraturadas. Levantei, mijei em silencio, sem bom dia ou mesmo um olhar errante.

Na cozinha tínhamos um pequeno aquário. Tínhamos um peixinho dourado. Eu gosto de peixinhos dourados, são simpáticos, nadam com graça e rapidamente se tornam companheiros. Com ele eu conversava muito, dava um pouco daquela porcaria que peixes de aquário comem, uma espécie de farelo fedorento. Dizia pra ele:

-Bom dia filho da puta, vai comendo esta merda ai...

Ele parecia entender e ficava feliz com a comida. Mesmo os animais vão ficando parecidos com o dono eu acho. Porem, notei que ele estava meio devagar. Nadava com preguiça. Dei um peteleco no aquário para acordá-lo, mas não, ele parecia apático.

Nisso da entrada minha esposa, fazendo o café. Agora havia um mau humor declarado, não tentei quebrar o silencio de pedra. Tomamos café como se bebêssemos ácido. Por fim disse espremido pela circunstancia:

-Acho que o peixe não está bem...

Ela olha para ele, não diz nada. Aquilo me enraiveceu, não dizer nada pra mim tudo bem, é aceitável, mas ao peixe, porra ao peixe:

-Tu não entendeu o que eu disse, não? O PEIXE não tá legal, parece doente...
-Aqui nesta casa, tudo está doente...porque o peixe iria escapar?Queres que eu faça o que ?

Minha vontade original era virar a mesa por cima dela, espatifar as xícaras e sair caminhando. Mas em nome não sei do que eu, apenas levantei ,dei tchau ao peixe.

O dia de trabalho foi problemático, tudo parecia jogar contra mim. Destes malditos dias que não se deve levantar da cama. Queria chegar em casa, tirar aquela maldita roupa e beber algo. E claro tornar a enfrentar meus problemas conjugais. Porra, será que a vida poderia me dar uma folga? Queria nadar em um mar encapelado, por alguns minutos apenas. Mas não, nada disso seu filho da puta, encapetado da porra.

Quando chego em casa, ela não havia chegado ainda. Haveria paz por algum tempo. Mas não, nada disso. Vou até a cozinha, encontro Saturno o peixe, morto flutuando no alto do aquário. Fico parado de fronte a vasilha com agua transparente onde ele estava. Deixo algumas lagrimas caírem ali dentro, como pequena chuva. Lamentos silenciosos de tantas coisas que perdi e fui perdendo. Não me sentia com forças pra continuar o que fosse, nem brigas, nem silêncios hostis.

Meu coração esta apertado como um nó. Fico parado ali, olhando e chorando não querendo me despedir, queria apenas ficar ali.

Ela chega em casa, me encontra na cozinha assim, olha o aquário morto. Hoje não há nada que possamos fazer, a não ser chorar por tudo.


Luís Fabiano.


Um comentário:

Dóris disse...

Amar...todo relacionamento é difícil se não se tem amor. Neste caso, não havia amor de nenhum dos dois, havia apenas uma ilusão.
O sentimento "amor" é complexo, mas apenas as pessoas que amam, que sentem amor, é que realmente são livres, e não destroem nada nem ninguém.

Abraço cheio de PAZ.