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quarta-feira, setembro 15, 2010


Quem amaria Marlene?

Ela olhava meu pau mole e não conseguia conter-se. Ria histericamente. A situação deveria causar-me constrangimento, raiva ou uma destas previsíveis reações tão humanas. Na verdade não senti nada disso.
Sempre que meu pau não sobe é um mal sinal. Não existe vida, condições químicas. Como se ele fosse um Nostradamus de meu destino. Ela seguia rindo, dizendo coisas caóticas. É claro que o sexo aquela noite estava cancelado. Essa foi a primeira e ultima vez que sai com Marlene.
Ela fazia o perfil de uma mulher grande. Melhor, muito grande. Tinha aquela gordura gelatinosa que balança como se fosse uma onda. Isso nunca foi empecilho as minhas empreitadas de amor. Mas aquela noite não tinha como dar certo. Bebida demais, problemas demais, gordura demais. Tanta saturação que até meu membro me abandonou.
A história de Marlene em minha vida, foi uma das coisas mais toscas que se possa imaginar. Ela trabalhava em um clinica, era auxiliar de procedimentos. Os braços grandes, e mãos pequenas.
Conheci a na padaria que frequentávamos. Na hora do lanche. A mesma merda que liga os seres humanos desconhecidos, que todo dia se veem. Éramos estranhos, e dias depois, passamos a nos cumprimentar, e depois pra cama. Nunca foi tão fácil e prevísivel.
Ela fazia parte daquele time de mulheres que estava sozinha e ficaria sozinha. Depois de uma separação, cujo o ex-marido a trocou por uma outra, mais gostosa, mais jovem e mais esperta. Depois disso, teve pequenos casos. Muito poucos, pois ela também não era o perfil de mulher desejável. Mas Fabiano existe. Creio ser este o ponto que mais me agrada. Alguém indesejável. Os refugos estéticos, que a vida dá a descarga. Meu manjar. E a alma? Afinal quem fode com a alma ?
Ela tinha uma boca larga e vermelha. Aquelas bocas que temos a impressão que devorariam um ser humano em uma bocada. O cabelo curto e negro, com olhos verdes apagados.
Na noite em questão, havíamos ido em barzinho na avenida Bento. Tinha uma musica horrível de cara um baixinho, que pensava que tocava muito. Ninguém olhava pra ele. Arrastava uma MPB, e teve ousadia de cantar Chico Buarque. Como diz uma amiga minha: ” Chico Buarque pode tudo.” O cara cantava a Roda. Eu com vontade que uma Roda passasse por cima dele. Era isso e Marlene só falando merda. Que assuntos! Falava de novelas, seriados e vizinhos que jogavam coisas em seu quintal. Isso foi tudo que ela falou.
-Que tipo de coisas Marlene?
-Há, todo tipo, estes dias jogaram fraldas sujas, cagadas, resto de comida...
Comecei a rir. Quem teria uma idéia tão genial de jogar fraldas no quintal dos outros?
-Como gostam de você hein Marlene?
-É inveja. Eu sei que é inveja, eles me chamam de macumbeira, eu nunca gostei deles. Nem eles de mim, mas nunca fiz nada pra eles, sou santa...
A cara dela não convencia a ninguém. Mas fingi que acreditei, até fiquei compadecido de sua magnânima bondade.
-Mas que historia é essa de macumbeira?
-Ficaste com medo né?
-Não. Me sinto tranquilo, eu já conversei com o Diabo e estou em dia com ele...e também já transei com uma mãe de santo então tudo bem.
Riu histericamente. E tomava cerveja.
-Capaz, tu conheces o rabudo?
-É, agora tô querendo conhecer a rabuda...( disse isso apontando com o copo, para a bunda astronômica dela.)
Diga-se de passagem, que aquela bunda, faria um cavalo puro sangue reprodutor sentir-se broxa. A cerveja terminava, ela um pouco alta, me convida diretamente.
-Então, vamos?
Gostei da iniciativa. Raramente as mulheres tem iniciativa. Paguei á gelada e fomos para o motel mais barato. Então voltamos a cena inicial, meu pau mole. O riso da vagabunda. Por fim, ele conteve-se e começou o consolo:
-Fabiano, isso as vezes acontece...não da bola...não esquenta...bla, bla, bla...
-Não estou esquentando. Isso na verdade não é nada bom.
-Calma não é pra tanto drama...
-Você não entende, nada bom mesmo. Você não entende nada.
-Que tu estas falando então?
-Quando isso ocorre, é sinal que não existe nada, realmente nada Marlene. Nada. Nem amor, nem química, nem tesão, nem vontade de gozar, nada Marlene, é como se eu estivesse na presença de nada.
-Tais dizendo que sou nada?
-É. Talvez menos.
Senti em mim que havia ligado o piloto automático do filho da puta. Agora poderia fazer qualquer coisa. A anaconda que enrola-se no coração. Ela agora não ria mais. Ficou séria. E queria saber mais sobre o nada. Mas como meu membro, eu também fiquei indiferente . A voz dela soava longe como um eco vazio, uma brisa sepulcral. Pensei em evocar seu marido, e a gostosa que ele estava. Mas não estava nem afim de falar. Embora ela dissesse que não doía mais. Ela falava muito disso ainda. Ali ainda havia dor.
-Vamos embora, tu é broxa mesmo...
-Ok baby, pense o que você quiser.
-Onde tu vais me deixar?
-No ponto de ônibus, hoje chega de gentilezas, estou cansado de tudo.
-Bem que se vê que és fraco mesmo.
-Não diga isso baby. Não seja cruel comigo, por hora estou incapaz.
-Por hora e para sempre infeliz...
-Eu entendo o teu ex. Ele teve boas razões de fazer o que fez.
Ia dizer outras coisas, mas fui devagar. Ela ficou furiosa, andava pelada pelo quarto me xingando, juntando as roupas, eu deitado na cama, pelado olhando para o teto. Pensando onde eu iria tomar a cerveja, depois de livrar-me daquele saco de lixo ?
Sorri pra mim mesmo. Não havia filosofia que salvasse aquela situação, quando algo é assim, precisa-se dar um foda-se.
Vesti-me com a maior paciência do mundo. Saímos do motel, e deixei na Osório ás duas da manhã. No dia seguinte ela não falou comigo na padaria:
-Por favor, um cacetinho.

Luis Fabiano.

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