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domingo, agosto 08, 2010


Pai, rum e aborto.

Não tenho o perfil de lamentações. Não funciono assim. Tenho uma capacidade de matar emoções, de uma forma quase instantânea. Num piscar de olhos paro de sentir, como se nunca tivesse sentido. Isso geralmente confunde as pessoas. Por ser assim, escutei todo tipo de ladainha ruminante. Não faço drama com nada. Como barata, me acostumei. Afinal não posso esperar que as pessoas entendam tudo.
Todos carregamos nossas loucuras. Ou somos carregados por elas as vezes. Não explicarei isso, não posso fazer nada, para ser entendido. Não tenho interesse nisso. Escolha a versão de Fabiano que mais gostar, e tudo certo.
Quando acordei hoje, estava com uma dor de cabeça. Ressaca do rum. Depois de outras bebidas de ontem, o rum foi a pá de cal. Fui dormir como um bebê. Um bebê sem pai. Era preciso levantar. Uma guerra silenciosa. O apartamento abandonado a sí mesmo, sugeria paz. Fui na cozinha, tomei agua, e olhei através da janela. Um pai, ajeitava as roupas de seu filho, pedaço de gente.
Fiquei nostálgico. Fui pego de surpresa por lembranças encarceradas e saudades. Os dias frios de agosto não fáceis. Fiquei olhando a cena em silencio. Lembrei do tempo de meu pai vivo-morto. O tempo por mais longo que seja, é curto. Sempre é curto. Engoli navalhas. O amei muito. Não tenho costume de ter saudade nada. Resolvo isso com um movimento de pensar.Me permiti deixar levar. Não creio que ele estaria orgulhoso de mim.
Alguém que não tem planos na vida, que não espera nada, que não deseja absolutamente nada. Que ás vezes duvida de Deus. Que vive cada dia, sem nenhum propósito.
Meu prazer é poder acordar pela manha, pra mim já bom. Lembro que ele apenas tinha uma preocupação: que eu fosse melhor que ele. Um propósito muito difícil, era absolutamente original.
No episódio de minha primeira separação, me ajudou a carregar as roupas e livros, as únicas coisas que levei. Deixei pra trás, casa, carro e outras coisa. Deixo sempre uma trilha de coisas para trás. Ele bate no meu ombro, diz: As coisas se compram com trabalho, a paz de espirito não é bem assim.
Eu estava em lágrimas naquele dia. Só chorei na primeira separação. Chorei porque ainda existia tolice em mim, o suficiente. Hoje a tolice já esta mais equilibrada. A cabeça latejava, procurei um remédio, não tinha. É preciso matar no peito todas as dores.
O domingo não seria bom. Achei melhor dar um basta naquele pensamento. Guardo preciosidades em mim, protejo bem. Mas ás vezes olho para não me esquecer. É importante cultivar em si bons momentos. Eles podem te salvar.
Volto ao quarto. Sentia-me sufocado por mim mesmo. Por um momento, passam idiotices na mente. Levar flores no cemitério? Não. Mas lá no cemitério, também esta aquele foi meu filho. Que por uma destas fatalidades da existência, não conseguiu chegar a este mundo vivo. Lembro dele morto, era preciso olhar. Dei o nome a ele de Raul, tinha meu nome no final. Agosto, Agosto. Se tudo tivesse dado certo, estaria com dez ou onze anos. Tudo isso já? Teria sido eu um bom pai? Teria orgulho? Repetira este filme da vida? Não sei. Como tudo em minha vida segue um caos, as coisas iriam se construindo, a medida que fossem acontecendo. Tentaria ser melhor. Mais responsável pelos meus sentimentos. Ao menos iria pensar em alguém as vezes.
Eu lembro que até aquele dia, não tinha sentido a dimensão paternal. Não tinha conseguido sentir-me pai. Mas por alguns minutos senti.
Não quero destilar o pior. Deixei o rio transbordar, a melhor maneira de santificar e livrar-se de nossas dores. A cabeça era um chumbo. Respirei profundamente, fui vestindo minha armadura. A velha e boa armadura. A katana me acena, pego-a na mão. Tiro até a metade da bainha. Não posso tira-la toda, pois quando sai totalmente, é preciso corta algo, matar algo.Mas hoje não.
O brilho intenso da lamina reflete meu olhar. Me sinto melhor, e vou abandonando os pensamentos densos. Assumindo a mim mesmo, o pior e o melhor em um trago.
Agora vou para o banho, a cabeça é um dilema. Um remédio e estarei novo. A noite tem mais rum ou vinho, isso é certo. Guardo a espada, me sinto confortável de armadura.

Luís Fabiano.
A paz as vezes é um estilhaço de lembranças.

Um comentário:

Dóris disse...

Sentimentos e emoções adormecidos...deixar fluir. O tempo é o melhor remédio.

" O pior cárcere não é o que aprisiona o corpo,
Mas o que asfixia a mente e algema a emoção".

Fique em PAZ e na PAZ.