Pesquisar este blog

quarta-feira, agosto 04, 2010


Carta Bomba.

Nunca recebo nenhuma correspondência relevante. Tudo resume-se a contas, cobranças e propagandas fúteis. Um verdadeiro lixo. Mas hoje havia uma carta endereçada a mim, do Acre? Que porra é essa? Fiquei surpreso, as pessoas ainda escrevem cartas? No Acre não tem email ?
A vida hoje é eletrônica, pessoas virtuais, tele presença, sexo digital amor eletrônico e todas estas merdas tecnológicas, que nos iludem a respeito de nossa própria evolução.
Quando olhei o nome do emissário, não sei o que senti. Uma mulher do meu passado. Um frio percorreu a espinha. Lembrei das noites tórridas que tive com ela. Noites de sexo insano e nenhuma prevenção.
Tivemos varias idas e vindas. Namoramos, casamos, separamos, namoramos, ela tornou-se minha amante e por fim, separamos definitivamente. Enfim um cenário completo drama. Tudo isso acompanhado de toda a ladainha emocional. Brigas, álcool e depressão. Não me deprimo. Ela gostava de beber, gosto de mulheres que bebem. Ficávamos muito loucos, dispostos a tudo. Beth era uma “égua”. Negra clara, alta, coxas grossas com pelinhos, cabelos curtos, sorriso largo e tetas mais duras que chumbo flutuante.
Ficamos neste jogo uns oito meses, depois ela foi embora da cidade em função do seu trabalho. Ela tinha alguma grana, estava disposta a me bancar como dizia, rindo e irônica. Eu achava engraçado, estava tudo bem, não tenho orgulho nenhum.
Não tenho alma de cafetão, mas quem não gosta de mordomias? Ela me buscava no serviço, me levava. Trepávamos muito, até na escada do prédio. Dizia que me amava. Quando você ouve isso tantas vezes isso, é como se a campainha estivesse travada. Bom, sei apenas que ela era ciumenta, controladora e direta. E eu pervertido. Sempre gostei de bundas, pequenas, grandes, moles, esticadas, velhas, magras, gordas, sujas, limpas, peidantes. Realmente não tenho preconceitos. Um dia olhava descaradamente para uma bela bunda loira, Beth viu. Digamos que aquilo foi a gota de transbordou o copo. Ela já estava saturada e eu também, então tudo certo. Brigamos por uma bunda bonita.
Ela me bateu no rosto, foi embora, nunca mais nos falamos, fim de jogo. E agora aquela carta que mais parecia um documento impresso. Será que sou pai e não sabia? Talvez a cópia de uma certidão de nascimento? Beth gostava que eu gozasse bem no fundo, dizia o tempo todo. Então:
-Vou ser mãe de um filho teu! Vai, seu merda, goza no fundo...bem no fundo me enche de porra...
Doces memórias. Era obediente. Fazia e não me preocupava com que ia dar. Nunca me preocupo. A vida é as vezes um ato errante. Ou não me preocupava, até aquela carta. Isso já fazia alguns anos, ela foi embora com raiva de mim. Poderia ser uma vingança macabra. Abri a carta ansioso. Minha decepção. Não era nada disso. Uma carta longa digitada no computador. Eis algumas partes:

“Oi Fabiano, tudo bom ?
A vida é estranha , mas tenho me lembrado muito de ti, não sei se pela distancia por causa da minha solidão por aqui. Não gosto daqui. To aqui a trabalho, não adianta, não fecho com as pessoas aqui, sou uma estranha total.”
“Acabo ficando com as memórias boas de tudo que se passou. E mesmo tu não prestando, tens um lado agrada a alma de uma mulher, mas acho que tu já sabes isso. És um canalha carinhoso.”
“Ninguém é perfeito. Sinto saudade da tua voz, teu olhar sacana e de coisas malucas que dizes quando estas bêbado.”
“Mesmo com o episodio final que terminou por nos separar, não consigo sentir raiva de ti. Como tu consegues isso? Ás pessoas brigam contigo, dizem coisas terríveis, mas passa a raiva some...”

Não era o que imaginei. Alias nunca a vida é o que eu imagino. Sou um completo idiota. A carta tinha outras coisas, mas nada filhos perdidos ou bastardinhos. Se ela tivesse tido um filho, o bastardinho certamente viria com uma peixeira em punho, dar fim em mim.
Dobrei a carta e tornei a guarda-la no envelope. Não me fez bem ler aquilo. Por que entrei neste clima de paternidade, assim repentinamente? Deve ser o maldito mês de agosto. Um mês repleto de datas significativas.
Este mês tem dia dos pais, também é o mês que meu pai faria aniversário e também o mês que ele morreu. Me entristeci um pouco.
Fiquei parado no portão do prédio. Senti-me distante, fiquei olhando o céu cinza e frio, um silencio em mim que urrava e despedaçava minhas entranhas. A saudade por vezes é sufocante.

Luís Fabiano.

Um comentário:

Dóris disse...

Nossa sorte que somente algumas vezes a saudade é sufocante...se fosse sempre, nem saudade sintiriá-mos, ela nos mataria. Pois saudades todos nós sentimos.
" Se algum dia sentires saudades, é porque foste feliz".

Abraço repleto de PAZ