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segunda-feira, junho 28, 2010


Navalhadas curtas : Perro muerto...

A algum tempo atrás, voltava para casa. Uma das vezes que morei na praia. Se for contar todas as vezes, passarão de três. Na época tinha um carro muito ruim, vermelho e soviético.
Tudo era terrível nele, eu também não tinha carteira, bebia dirigindo, os documentos do carro estavam atrasados mais de cinco anos. O carro foi herança de meu pai. Dirigir assim era normal pra mim. Curiosamente nunca fui atacado. É preciso ter sorte na vida. Eu tinha ou tive.
Naquela sexta feira, retornava ao lar. Tinha certeza que ela iria reclamar do meu horário avançado, sempre reclamava, duas horas da manhã. Sabia o texto de cor. Ela faria um longo discurso, talvez jogasse algo em mim.
Mulheres sempre fazem isso, falam, falam, falam. Ao final cansam, então vêm ás pazes. Não digo que não tenham atitude, comigo é sempre assim. Uma vez, uma quis me matar, chegou a pegar uma faca, fiquei esperando o golpe certeiro nas bolas, mas algo aconteceu, e ela não deu o golpe, guardou novamente a faca na gaveta. Achei estranho, mas estava no lucro, as bolas ficaram no lugar. Isso acontece e é normal.
Tudo que um homem precisa ter, é paciência e aguardar a tempestade passar, mesmo estando errado. Sempre fica tudo bem. A isso chamam amor.
Pensava isso naquela estrada do Laranjal, escura. Em um dado momento fui sintonizar o radio, estava a cinco quadras de casa. Então só ouvi o estouro na frente do carro: puta merda, atropelei algo!
Parei o carro, para tentar entender o que estava acontecendo. Pela porrada, achei que tinha sido um homem, uma criança um lobisomem qualquer coisa...que merda. Desci do carro e fui ver.
Atrás do carro, um cão retorcia-se entre sangue e ossos expostos e um uivo interminável. Me senti aliviado quase feliz. A roda passara bem no meio. Que bom que não era uma pessoa. Fui olhar a frente do carro, amassou um pouco a grade e o para-lamas, mas o Lada é um carro muito forte, um russo lutador de vale tudo.
O cão foi baixando, o som do daquele uivo virando um chorinho e em alguns segundos já era.
Não me senti feliz de ter feito aquilo, mas a felicidade ás vezes é este instante em que você percebe que a merda poderia ter sido bem pior. Se existe um céu para cães, aquele estava lá. Olhei bem para ele, sarnoso muito magro a vida tinha sido uma merda pra ele.Isso alivia a consciência.
Respirei fui, liguei o lada e fui embora. Agora consegui sintonizar o radio melhor.

Luís Fabiano.
A paz é um instante, de algo que você percebe que não é merda completa.

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