Pesquisar este blog

sábado, fevereiro 27, 2010






Uma vez, e nada mais.

Vive-se pelas emoções, morre-se por elas também, fadigado. Momentos repletos de intensidade que marcam uma vida, só por isso entende-se, que já valeu a vida. Como uma fotografia presa nas dobras de nosso coração,perdidas na alma.
Por mais fátuo que seja, um instante adentra em nós, torna-se eterno. E nunca se sabe quando isso ocorre, qual é química exata desta mistura. Na casualidade às vezes, inocente. Pega-se algumas carências, outras tantas frustrações, desejos contidos, bem e dois estranhos se fazem tão próximos como se a vida inteira fossem tão juntos, as vezes nem preciso dizer nada.Uma proximidade além dos cinco sentidos. Emoção a flor da pele, o suor da alma.
Aquele lugar parecia um deserto, embora fosse uma festa. Muita gente, muito barulho, mas isso não significava nada.É bom ficar observando, gosto disso, não é preciso dizer nada, é só ver. Não estava de predador, talvez de presa, ou nada.
Definitivamente não gosto de festas barulhentas. É preciso beber para tornar as coisas mais interessantes, meio bêbado, meio alegre as coisas funcionam melhor, mesmo as pessoas ficam mais belas, um brilho a mais? É possível. A dose de whisky começava a fazer efeito, o balcão torna-se mais aprazível, coisas de filme. Ao meu lado uma desconhecida. Longos cabelos negros, estava de costas, vestido preto justo no corpo, um bom corpo. Pensei comigo: perfeita demais, algo tem que estar errado.
Ela vira-se, percebo no rosto tinha uma cicatriz, na maçã direita. Uma faca possivelmente fez um estrago e tanto ali. Falava um português com sotaque espanhol, uma argentina possivelmente. Nada podia ser feito, a cicatriz enorme, deformara seu rosto, será que havia atingido a alma também ?
Disse a ela:
-Acredita no final do mundo em 2012?
-Como?
-Final do mundo, o dia em todos vão se fuder...
-É, acho que si.
-Eu acho,o dia que acabar o whisky,e as arvores da Amazônia, já era, acabou tudo.
-Vejo que és, destes que adoram a natureza, defensor do verde, é isso?
-Não.Não adoro nada, nem ninguém, nem Deus ou disco voador. Mas o whisky tábom.
Ela riu, ficamos conversando besteiras. Mas não muito. O silencio era mais presente. Nos isolamos da festa, não entramos em intimidades ao menos verbalmente. Próximos e distantes. Claro que aquilo me excitou, no final achei que aquela imensa cicatriz era um charme dentro do contexto todo. Cicatriz sensual, erótica,uma mulher vulcanica com um sorriso lindo.
Bebemos mais um pouco, a festa ficou para trás, ela me convida para ir embora. Talvez tivesse esperado demais por mim. O sotaque espanhol atiçava a mente. Queria ouvir ela dizer certas palavras com aquele sotaque espanhol, muito quente. Fomos para o apartamento dela. Achei tudo fácil demais, mas os dois meio altos, fluía tudo.Deixa acontecer.Ela poderia me matar, ja estava feliz.
Um pequeno apartamento, muito confortável, sentamos no sofá, mais whisky, ela sorria, cara de safada. Era que via pelo menos.Nos abraçamos, nos beijamos, as roupas foram caindo como folhas de outono. Calmamente. Não queria trepar, mas fazer amor, sentindo não só corpo,mas sua respiração.Fiquei sensível, não sei porque.Ela também, não trocamos mais nenhuma palavra, tudo em câmera lenta.Muito bom.
A madrugada avançou, adormecemos um no braço do outro. Como um casal, amantes pela eternidade a fora. Foi bom. Fomos acordando lentamente, carinhosamente, ficamos a fim , transamos novamente. Existia um halo de ternura no ar.Ficamos abraçados, como ela falava espanhol, comecei a cantar uma musica brega de Julio Iglesias, baixinho em seu ouvido. Ela riu primeiro baixinho, depois algumas lagrimas brotaram de seus olhos.
Eu cantava baixo: De tanto correr pela vida sem rumooooo, descobri que a vida se vive lo momentoooo;de tanto brincar com los sentimientos, hoje vivo e não sinto.
Meu espanhol era terrível, mas por algum motivo ambos ficamos tocados, chorei também. Talvez tocado pela sua emoção. Uma musiquinha boba, nossos cálices transbordaram.
Então me disse que aquela era a última noite no Brasil, voltaria para seu país, a Espanha. No silencio que ficou entendi tudo, entendemos tudo. Deitamos um pouco mais, como se quiséssemos que a noite não tivesse fim, que o porre não acabasse, que a sensação perdurasse mais, sempre, para sempre. Tolice nossa. Me sentia bem, sentia saudade de algo que não conseguia definir.Tenho isso as vezes,e não gosto muito de ficar buscando explicações.Fico farto de tantas explicações.
Vesti-me, ela me leva até a porta. E ficamos assim, sem nomes, sem endereços, sem email, sem telefones. Nada disso era importante, a riqueza de um momento é sua exclusividade, jamais repetiríamos aquilo, no entanto todo aquele amor estaria marcado a ferro e fogo em nossos corações.Eis a eternidade possível.

Luis Fabiano.
Paz e eternidade.

3 comentários:

Anônimo disse...

Lindo, intenso e profundo, como sempre digo,poderias escrever sempre assim,acho que mais pessoas olhariam o teu blog.Mas acho que não te interessas por isso, eu sei.

Ana.

Anônimo disse...

Fabiano, andas melancólico ou é impressão minha?
Teus textos nao são mais hilários, chegam a ser tristes, é uma fase ou mudastes de estilo?
Grace

Fabiano disse...

Os textos representam as vezes algum estado de espírito,doutras são exercícios de pensamento e as vezes coisas reais.Acho isso importante.Não gosto de ser o mesmo,gosto de mudanças, essa é a minha dinâmica.Sempre vou mudar o estilo.
Obrigado.