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domingo, janeiro 31, 2010



Entre doenças e prazeres.

Já tive um numero incontável de sogros e sogras. Salvo uma única exceção preconceituosa, todos gostavam de mim, me achavam um bom camarada.Bom o suficiente para suas filhas. Não era perfeito, mas educado e gentil, isso pinta um quadro agradável a visão de qualquer um. Assim todos se enganam.
Eu namorava Márcia á muito tempo, era uma boa pessoa, era aquele namoro que se tem certeza que não vai para lugar algum.Ela nunca teve muita atitude.Sem problemas.
Tudo ia normal, até que o meu sogro fez um exame, descobriu um vasto câncer de estomago. Naquela noticia caiu como uma bomba atômica na vida daquela família. Embora as pessoas digam que câncer tem cura, pode-se resolver, a grande verdade que morre muita gente ainda com câncer, sem cura e agonizando com morfina.
É preciso aceitar, a morte é tão natural quanta nascer.
Os dias que se seguiram, ele foi internado com urgência, era preciso fazer uma delicada cirurgia, que iria extirpar-lhe grande parte do estomago. Lembro bem da sua feição, do alto dos seus setenta anos, estava muito assustado,percebia-se pelo seu olhar que temia a morte, quem não teme? Eu tenho outros medos, medo de ficar impossibilitado e dar trabalho aos outros, quando morrer quer ser desligado da tomada,apagar rápido, imediatamente, sem floreios.
A primeira cirurgia transcorreu tranquilamente, gigantesco corte no estomago, impressionante. Ele acordou da anestesia naquele dia, muitas dores, mas as drogas deram jeito nisso.
Lembro que Márcia chorava muito, juntamente como sua mãe e irmã. Mas ele sobreviveu a primeira intervenção.O medico vinha visitá-lo sempre, mas a família estava profundamente irritada, o “doutor”,explicava tudo que estava acontecendo, usando um vocabulário técnico demais, ele falava muito bem, mas impossível de ser entendido. Percebi que gostava disso, a vaidade é sempre grande.
Alguns dias depois informou infelizmente que uma alça do intestino havia ficado dobrada, obstruída, era preciso fazer nova cirurgia. Tudo de novo.
O drama se abateu definitivamente. Ele estava muito fraco, não podia alimentar-se para cicatrizar o intestino, recebia comida na veia. Nem água, nada.Foram mais de quinze dias assim.
No dia da segunda cirurgia, ao sair do quarto, fiquei abraçado a Márcia. Não entendo a reação das pessoas as vezes. A porta do quarto fechou, ficamos a sós. Começou a me beijar repleta de tesão. Eu sou sensível naturalmente. Mas achei um pouco estranho, o pai dela morre não morre, ela querendo trepar? Oquei!
Não me fiz de rogado. É uma boa fantasia trepar no hospital. Entre doentes e doenças e mortos, algo tem vida. Enfiei a mão nos vastos peitos dela, outra na bunda, o sangue me subiu, o pau subiu. A grutinha do amor não estava molhada, isso não é bom. E no meio deste frenesi meio estranho e descontrolado, ela começa a chorar convulsivamente. Eu estava acelerado, desabotoando a minha calça,quando vi suas lágrimas, parei. Fiquei observando, para entender qual a direção o trem iria tomar...
Ela me abraça, lágrimas abundantes, ficamos calados, abraço cheio de significados silenciosos, medo, dor e ansiedade. Não era preciso dizer nada. Não são todas as lagrimas que me comovem. Mas tudo era tão grande e especial naquele instante.
Horas se passaram, em silencio. Por fim o pai dela volta ao quarto, muitos soros, equipamentos pendurados nele, respirava superficialmente. Mas o medico, com voz de locutor, disse que a intervenção fora um sucesso.
A família estava aliviada. Ele ficou quarenta e cinco dias no hospital, teve um ótimo tratamento, plano de saúde nestas horas faz diferença tremenda.Uma noite fiquei com ele, controlando o soro e conversando.Falamos sobre a vida, sobre a morte também, ele só me dizia que queria deixar aquele local o mais rápido possível e de preferência andando. Rimos, disse que a ele que era preciso deixar isso bem claro. Foram bons momentos em meio dias difíceis.
Agora analisando mais friamente, eu era mais jovem e acho que era uma pessoa melhor.Achava que tais ações valiam a pena, que a vida vale muito a pena.Hoje certamente eu iria titubear em ser tão gentil.Mudei muito.
Não sei, eu reajo conforme as coisas me ocorrem, em mim os sentimentos sempre são uma caixa de surpresa, a única coisa imprevisível que existe para mim, sou eu mesmo.

Paz saudável.
Luis Fabiano.

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