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terça-feira, dezembro 15, 2009



Bagulho.

Somente os bêbados são sinceros. Uma sinceridade involuntária, quando vão dar-se conta, já falaram a merda. Tarde demais companheiro.
Aquela noite estava quente demais, pedia umas cervejas na beira da calçada, uma mesa úmida de metal, meia dúzia de seres infelizes, contando suas fétidas tragédias.
As vezes cansa, ninguém conta uma noticia boa? É só merda, lagrimas e solidão sem fim. Por isso a bebida, alivia dores, torna as pessoas simpáticas, da felicidade momentânea.
O Fabio já tinha se passado um pouco. Solteirão convicto, trinta e cinco anos. De repente, vira pra mim e larga a pérola:
-Tchê, eu nunca tive uma mulher linda em toda a minha vida...glup...nunquinha, era tudo baranga...não consigo entender, porra só mulher feia ? Não dá, o Criador deve tá de sacanagem comigo. Chega disso...Chega.
Era impossível não rir da desgraça. Pedi outra cerveja, aquilo começava a ficar interessante. O pior que ele tinha razão, segui falando:
-Pô, uma era magra demais, os ossos chegavam a machucar, outra era gorda demais, trepar com ela era um exercício aeróbico, quando gozava do alto de seus centro e trinta quilos, parecia que o mundo vinha abaixo,peidava, berrava, até a cama ela quebrou. Horrível.
Parou um pouco vasculhando a memória e seguiu – tinha aquela com o cabelo que mais parecia uma vassoura de piaçava, horrorosa da porra. Tive uma ajeitadinha, cara, mas quando ela abria a boca, parecia que tinham cagado na boca dela, bafo era um curtume.
Eu seguia rindo, concordava, era a verdadeira desgraça.
Mas que ele esperava também?
Alguma diva da televisão, bela se apaixonando por um pé rapado, pobre e bêbado ? Desculpe a ausência de romantismo, mas não dá, não acontece assim. A bela e a fera é uma historia infantil não é mesmo?
No final ninguém fica bonitinho. Nada disso, tempo vai nos deixando sulcos, marcas. E se você não se espiritualizou, melhorou um pouco as emoções e o pensamento, tenho noticias terríveis pra você.
O futuro só promete o que no presente é feito.
Fabio deu uma talagada na cerveja, retomou seu confuso raciocínio:
-Ééeee, quanto eu tinha uns quinze anos, a primeira namorada, essa valeu a pena. Viviane a menina mais linda da rua, cara ela gostou de mim...acho até que era uma ilusão minha.Ela nem deve ter existido de verdade.
Eu tava calado, decidi remexer o poço da bosta toda:
-Fabio, e amor?Tu não amou estas infelizes todas?
Soluçou, ficou calado, não sei tava pensando ou sentindo alguma coisa, por fim abre a boca:
-Amor não. Amor dói no peito cara, dói demais. Não gosto de falar disso, é aquela maldita flecha do cupido filho da puta, fica no peito, já era. Eu amei todas, mas uma eu amei mais. Sempre tem uma que é mais né? As outras são pra preencher vazios,uma transa...soluçou. Não quero falar nela, é a flecha cara, a flecha.
Aquele papo alucinou Fabio, dores mal resolvidas, é isso. Sempre voltam a tona. Eu e minhas malditas perguntas, clima pesou, Fabio agora chorava, bebum, parecia uma criança desmamada.
Fui me levantando, remexi a merda e o cheiro estava forte. Fabio me segura e diz:
-Fica ai, vamos tomar outra, tem outras feiosas pra te contar...vamos rir.
Não dá pra mim Fabio. Beleza é algo pessoal, irrelevante na maior parte dos casos, conquista, amor ,intimidade é coisa rara.
Alem do mais, Fabio, tu também não é nenhum príncipe encantado né ?
Ele riu, eu ri.É tudo que se pode fazer as vezes.

É preciso olhos para ver algumas coisas.
Luis Fabiano.

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