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sábado, fevereiro 14, 2009


“Entramos numa casa velha com cheiro de urina.Um bando de insone circulava pelo ambiente semi-escurecido, verdadeiros rebotalhos arrastando suas respectivas torpezas, misturados aos bacanas recendendo a perfume Frances . Um circo. Sentamo-nos numa mesa de canto.
-Que lugar é esse? - Indaguei de olho num corcunda sentado na mesa ao lado.
-A parada é a seguinte. Isso aqui é um lugar mágico, paisano! Devolveu Charles perspegando uma gargalhada. A mesa do corcunda achegou-se uma mulher com metado do rosto destruído. Para piorar a situação, caminha com a ajuda de uma muleta. Arriou-se na cadeira, pegando das garras do corcunda. Ele nos olhou com triunfo no olhar,autentica cintilação de campeão, orgulhoso de possuir aquela mulher.
Corri os olhos pelo amplo salão , me surpreendendo com o numero de aleijados ocupando as mesas. Deformidade de todo jeito e feitio, como se todos os monstros da cidade resolvessem fazer ponto naquele casarão de aspecto sórdido.Na extremidade do salão havia uma cortina que ia de parede a parede.Os bem-educados ocupavam um lugar especial,ás proximidades de uma cortina vinho.Sorriam e cochichavam entre si.
-Atras daquela cortina - observou Charles - tem um pequeno palco ...O teatrinho vai acontecer ali.
-Imagino que tipo de teatro, Charles.
-Não imagine nada, paisano.O que rola aqui vai além da sua pobre imaginação.
Nabo podre era o que se respirava naquela espelunca.Vagueava o olhar de monstro em monstro, me indagando que o inferno era aquilo.Um lugar pavoroso, pior que injeção letal na veia.Charles estava iluminado, um dervixe em estado de profunda transcendência, rompendo com o paradigma da dualidade, bem acima de qualquer tentativa de explicar o inexplicável.
-Estou chapado – gemeu ele quase as lágrimas.
Ao cabo de dez minutos a cortina correu, descortinando uma cama, sobre a qual havia um homem e uma mulher.Ambos paraplégicos.
-Deus! Que coisa deprimente - eu disse, retesando na cadeira.
-Deixa de ser vacilão, paisano! Você nunca viu uma trepada de aleijados?
Fiz que não.
-Vai ver hoje, paisano,uma foda angelical - ciciou Charles lambendo-se.
O casal se mexia como se fossem insetos.Dois escorpiões brancos disformes - ou seriam dois polvos aleijados? A mulher tomou a iniciativa.Abocanhou o cacete do cara, um negocio enorme e torto.O publico delirava.Quem tinha pés batia pés.Quem tinha mãos batia mãos. Os cegos imaginavam.Os surdos intuíam.Os bem sucedidos em estado de hipnose, deliciando-se ante aquela performance sexual, que os excitava mais que as luminosas vitrines dos shoppings.Apos incrível e sofrido malabarismo, o cara pode enfiar a língua na xoxota escancarada da mulher .Língua não...Uma cobra vermelha e gotejante, que entrava e saia da caverna da aleijada, a qual uivava revirando os olhos.
-Que trepada, paisano?! De cinema! Gritava Charles soqueando o meu ombro.
-Coisa deprimente! - eu berrei meio aos gritos de entusiasmo da platéia.
-Você é um hipócrita! Sentenciou Charles de olhos numa mulher sem nariz, que enterrava as mãos entre as pernas numa acintosa masturbação.
-Paisano?! Ela esta querendo coisa comigo! Não é uma tetéia?
-Tetéia o caralho! – respondi me erguendo.
-Vou me mandar Charles!Não tenho mais estomago para isso.
-Você não viu o melhor da festa.Tem um cara aí que enfia a perna torta nas xotas de irmãs siamesas!
-Não me interessa!- gritei me dirigindo a saída.Várias mãos tentaram me aprisionar,mas resoluto, fui em frente em direção a porta.
-Quem você pensa que é? – berrou uma velha sem os dois braços, acomodada numa cadeira de rodas.Olhei-a rapidamente , tentando chegar o mais rapidamente a saída.
-Você pode caminhar, correr,passear por ai...Mas não pode evitar sua alma aleijada! Gritou raivosamente.Por fim ganhei a rua disparando pela calçada aos tropeções.

Extraído da obra - VAMPIROS - Manoel Magalhães

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