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sexta-feira, maio 13, 2011


Parte 2

Em casa, a esposa e uma ficção

Era início da noite quando ganhamos a rua, com o coração inflamado de desejos e planos arquitetados na intimidade de uma foda, todo e qualquer paralelo entre o dinheiro e o prazer, é uma espécie de ato sexual consumado, onde o amor é comprado facilmente, e mesmo que nossa visão não perceba alguém em algum lugar do mundo, estará sendo currado lentamente.

Uma curra feita de fome, desespero, medo, culpa e um ódio voraz de Deus, que dispôs as cartas desta forma, deixando-nos livres para embaralha-las.

Tínhamos que nos despedir por hora, eu precisa voltar ao meu asfixiante lar, onde uma esposa com uma TPM constante em relação mim, a vida, e aos meus muitos e intoleráveis defeitos, insistia em manter aquela casa, muito embora a felicidade não estivesse presente.

Não sou um cara de decisão, muitas vezes em minha vida, deixei que a vida tomasse as decisões que quisesse, como um rio que corre margeando a terra, ora lento e barroso e em outro instante, rápido e cristalino levando tudo no seu caminho. Gosto desta decisão de ser o rio, fico entregue a ele, talvez como um ato de fé, e por saber em minha intimidade, que tudo caminha para onde tem que ir, onde quer que se esteja. As boas intenções humanas inspiram beleza, e as más equilibram o jogo.

Por sorte, o azedume dela não me contagiava. Cheguei em casa, com o cheiro de Elisa em meu cavanhaque, minhas mãos, pau e alma. Dei boa noite a Marisa, ela apenas rosnou alguma coisa, enquanto cortava uma carne para uns bifes, sorri o sorriso dos filhos da puta, cuspi feliz:

-Hum, bifes hoje meu amor? Já estou com fome...
-É...
-Que houve Marisa, alguma profecia de Nostradamus se realizou?
-Não Fabiano, apenas as de sempre, tu chegando a esta hora... com esse cheiro...

A conversa tomou um atalho inesperado para mim, porem era preciso estar atento, ela estava com uma faca enorme na mão, e com aquele espirito, não hesitaria em decepar meu pau e come-lo com batatas dorê.

Contudo isso, não deixei de reparar na sua bunda, naquela saia de trabalho. Toda a saia me da vontade de erguer:

-Relaxe Marisa, não faça drama, nossa historia já tem uma data, e tempo é benção ou maldição...
-É, talvez tenha vencido a validade?
-Não disse isso...
-Tem coisas que não se precisa dizer Fabiano... nada, nada, nada...
-Como você pretende terminar essa conversa hoje?

O maldito rio, dava um revolteio, levando o lixo para todos os lados, não era mais um rio, mas sim um esgoto. Eu o expectador ensandecido, flutuando entre as tristezas humanas, a raiva e insatisfações, não iria decidir nada, gosto de levar as emoções a extremos, tanto do melhor como do pior, onde não haja espaço para o meio termo, ame ou odeie, goze comigo ou vomite na minha cara, seja como for estarei feliz.

Houve um silencio longo demais, uma navalha rasgando a neblina num anoitecer sem fim, por fim Marisa arrota:

-Nada, esquece Fabiano... nada deixa assim...
-Certo meu amor, fique tranquila, vou tomar banho e volto para ti... estas gostosa nesta saia...

Não disse nada, mas fez um ar de agrado contido. Era quarta feira, e Marisa tinha essa mania estudada, de trepar no meio da semana, quase como um programa de computador pronto para reagir na quarta, a bomba relógio pronta para explodir.

As vezes me irritava isso, como um ritual sagrado, ela fazia toda a cena, com uma camisola linda e sem calcinha, ficava leve como uma pluma, queria ouvir palavras de amor, queria parecer um casal normal e feliz, enquanto eu, queria dizer coisas mais pornográficas, queria que uivasse como uma cadela no cio, queria que ela fosse Elisa por um instante.

Porem estranhamente, eu fazia o seu jogo. Depois do jantar, ela parecia mais tranquila, talvez cansada demais pra brigar, queria que tudo fosse normal. Bebi umas cervejas, e o ar agora parecia suavizado, Marisa um pouco bêbada, era uma pessoa melhor, logicamente não quero crucifica-la, eu bem sei o canalha que sou, ela tinha dificuldades de aceitar isso, e nosso antanho, parecia um cavalo pronto a ser sacrificado, mas eu não faria isso. Deixaria que as coisas apodrecessem até implodirem em um esgoto, carreando a alma para o inferno, eu estava preparado para isso.

Quando deitamos, ela estava a principio distante, mas leve, uma leveza que me excita, pensei comigo: se tirassem a alma dela, e deixassem apenas o corpo, ainda assim seria uma boa transa.

Aproximei-me e toque aquela camisola, leve de seda vermelha, gosto como as roupas intimas das mulheres tocam o corpo, como se houvesse um vento entre a pele e o tecido, como se moldam ao corpo, como o acariciam com mãos tênues quase vaporosas.

Em primeiro instante Marisa parecia arredia, virou de bunda pra mim, ficou muda. Deixei minhas mãos passeando por cima daquela camisola, depois nas pernas, ela não reagia, mas conheço esse jogo feito de falsas indiferenças, em que corpo arde em quietude, que berra silenciosamente enquanto a flor fica molhada, orvalhada fica entumecida.

Quando minhas mãos acharam a xoxota, ela babava, isso provocou meu delírio, ela permanecia morta de lado, fui entrando lentamente para dentro dela, ela respirou tranquila, fiquei por um momento parado ali, um filhote aquietado, sentindo o pulsar da vagina.

Por fim ela se entrega, sedosa, respirando forte e me empurrando para dentro de si. Puxa vida, ela realmente tinha um corpo delirante, ou talvez fossem meus desejos mais brutais entoando a cantiga primitiva, onde se mesclam egoísmo, tesão e a indiferença que depois vira como sempre.

Gozamos, e voltamos ao normal. Confesso que esse sexo não foi o melhor que fiz em minha vida, mas era uma conjunção de coisas, ela estava ali fácil, ela queria e eu também, então realmente o amor não tem nada haver com isso. O amor era um quadro pendurado na parede, uma pintura que não entendíamos bem, e que fomos rasurando até vazar a tela.

Adormeci pensando em Elisa, onde estaria aquela vagabunda que pensava em se tornar oportunista? Que estaria planejando, quando colocaria seu plano em ação? Certamente ela conseguira, porque se movia como uma serpente, que o corpo vibrava como violino ao sabor do dinheiro.

Olho para o lado, Marisa ronca como se fosse um javali hediondo entregue a pesadelos, onde andaria a alma dela desprendida do corpo? Naqueles roncos poderosos, realmente o fim era fatal, mais dia ou menos dia, como uma casca de ferida, que arrancamos na esperança de ver a nova pele, quando eu seria arrancado?

Fiquei inquieto, mas decidi abstrair de tudo e tentar dormir um pouco, não seria o sono dos justos, mas o sono dos filhos da puta, uma classe muito crescente em nossa sociedade, vida irremediável.



Luís Fabiano.

Continua...

Pérola do dia

“O homem normal precisa ter três mulheres: uma em casa, uma na rua e outra na cabeça".

Rogério Perez

quarta-feira, maio 11, 2011




Esquecendo a mim em ti.

Esqueço os primeiros beijos
Como canções que se repetem cansadas
Transformando o belo
Em óbvio oxidado
Esqueço na esperança de amar novamente
Como se a saudade fosse um resgate
Que não se pode tocar com as mãos nuas
Teu cheiro que desaparece das minhas entranhas
Criando um vazio eterno
Feito de ânsia, sonho e loucura
A ser preenchido por mim
E dezenas de outras que vem e vão
Como um pêndulo louco
Transando com o tempo
E acariciando os pentelhos da morte
Mas por ora esqueço
Em silêncio
Como as nuvens se desvanecem
Depois e brincarem nas formas
Que nossos olhos desejam ver
Veste-se o desejo
Nas dobras do pensamento
Injeta-se uma alma ali
E ela se esgueira pelos labirintos do vento
Presa de si mesma
Acariciando tenras e aprisionantes lembranças
Por isso esqueço
Para que meu coração se renove
E respire no ciclo da vida...
Uma vez mais.

Luís Fabiano.
Poesia Fotográfica


Pérola do dia:

“ É maravilhoso trepar com a mulher da gente, enquanto ela dorme como um cavalo morto.”

Henry Miller.

terça-feira, maio 10, 2011


Parte - 1


Acordes do Dinheiro - A Excitação de Elisa

O velho golpe do baú, é uma prática mais antiga que nossos ancestrais primatas, tenho pra mim, que isso se encontra escrito em nosso DNA como uma virtude natural. Já colocação de aspecto de uma moral deficitária, passa por um crivo de distorções, o qual a cultura e outros derivados menores, terminam por formar ou deformar.

A bem da verdade, quando a oportunidade aparece, salvo raras exceções, as pessoas aproveitam, se aproveitam entre sorrisos fáceis de uma pseudo-esperteza. Mas a natureza é assim, o engodo faz parte dessa mesma natureza, como uma proteção sobrevivência, o disfarce, o aparentar ser maior do que se é, o emular ser peçonhento sem ser. Não há crime nisso.

Elisa foi uma de minhas amantes aprendizes. Na época foi uma relação sem maremotos, havia pobreza sobrando, uma miséria abundante e uma disposição profunda para trepar. Talvez para compensar as tragédias de nossas vidas. Eu contava com trinta anos e ela com vinte e dois, lindos cabelos cacheados, uma morena de estatura alta, lábios carnudos, pernas lindas e olhos de criança abandonada. A família dela era uma merda, pai e mãe que não ligavam para nada a não ser seus vícios. Elisa se virava como podia fazendo bicos, fazendo limpeza aqui e ali, e seus momentos de alivio e descanso, era em meus braços, muito embora eu ache que isso seja contraditório, não costumo ser alivio a ninguém, funciono egoisticamente como um catalizador de dores. Mais parecido a um vicio que se tem, e embora nos faça de escravo, não desejamos nos afastar, por muitos motivos, porque é um prazer sofrido.

Um dia conversamos sobre o futuro, a falta de um futuro, uma conversa feita de imaginação pois eu não creio em futuro, ela aos vinte e dois anos conseguia sonhar, ou era desespero em busca de uma vida melhor.

Uma ladainha que Elisa repetia sempre depois de fazermos amor, confesso que trepar era bom, ela gostava das coisas lentas exatamente como eu, devagar, eu escorregava para dentro dela, enquanto ela gemia baixinho, apertando minha mandioca entre suas coxas lindas, puta que pariu, a vida poderia ser isso apenas, queria prolongar aqueles momentos, como se estivesse em uma estadia no céu. Por fim gozamos, e nossas personalidades voltavam ao normal, na flacidez de meu membro, a dura realidade entrava novamente em cena, a vida ordinária, cotidiana quase imbecilizante, Elisa voltava a carga:

- Fabiano, preciso sair dessa, não posso viver sem saber se amanha vou conseguir algo pra comer, vestir ou conseguir estar bem... preciso de dinheiro urgente...
-Quem não precisa Elisa? Eu não tenho grana, meu salario é limitado, haja visto a espelunca que nos estamos agora, usando para transar, olha que merda esse lugar?

Naquela época eu alugava um quartinho na subida da Tirantes entre Barão de Santa Tecla e Osório, um preço bom para duas horas de amor e sem banheiro, nos limpávamos com papel, e as vezes eu limpava no lençol mesmo, era o jeito, e saiamos fedendo a sexo pela rua. Bons tempos.

-Eu sei Fabiano, mas tem haver um jeito, uma saída.


Então como uma intuição soprada pelas sombras da vida, algo brilhou em minha mente, e vomitei:

-Elisa, tu já pensou em arrumar um velho com muita grana? É... casar com ele em nome do amor e tentar viver a vida quase normal.

Impressionante como uma ideia pode encontrar ressonância. Os escrúpulos tiram férias as vezes, e a vida pode distorcer-se, como um galho calcinado ao fogo infernal. Os olhos de Elisa brilharam com desejo e disposição.

-Mas claro, como não pensei nisso... como? Isso mesmo, é melhor que ser puta de velho, eu serei uma puta da terceira idade, a amante de vovôs broxas e amarei-os para sempre... embora para sempre, quando se tem setenta anos, dura bem pouco... né?

Ambos sorrimos de satisfação, aquilo era o principio da solução. Trepamos uma vez mais embalado pela ideia, ela me sugou com tanta vontade, que cheguei a uma triste conclusão com relação aquela mulher. O maior afrodisíaco da vida, não é a beleza ou ervas especiais, nada disso, o afrodisíaco feminino é dinheiro, é subconsciente, mas verdadeiro. Não me refiro a cédulas mortas de cem reais. Mas o que elas traduzem ancestralmente, uma caverna mais confortável, uma carroça em melhores condições, a impressão do tacape será de uma rigidez inquebrantável, a beleza que jamais será obnubilada e claro, a fatal segurança de todos estes aspectos transpassam.

A vida parecia estar resolvida, e ainda demos um toque de crueldade natural e indispensável segundo Elisa, para que tudo desce certo:

-Fabiano, tu vais ser sempre o meu amante né? Tu vais seguir me comendo né? E até pode sobrar algo pra ti, eu só farei isso se estiveres comigo nessa...

Nesta época eu ainda estava fazendo um vestibular para ser canalha profissional, confesso que a colocação dela me deixou pensando, não sabia se queria entrar naquilo de corpo e alma. Imediatamente me pus a imaginar: e se algo desce errado? Não conhecemos as reações das pessoas até expô-las a provas graves, se num ataque de fúria o vovô a atacasse, e ela num arroubo de defesa o matasse com a bengala? Se ambição de Elisa crescesse tanto, a ponto de querer mata-lo para ficar com tudo? Envenenando-o e eu seria o culpado? Ela não se havia dobrado rapidamente aquela ideia de tornar-se puta? Seria isso um sinal de uma vilã de filme barato?

Voltei a mim, Elisa ainda sugava minha jeba como um aspirador de pó incansável, entre uma palavra e outra, uma verdadeira atriz pornô, dizia obscenidades inspiradoras.
Nosso tempo como uma ampulheta maldita estava se esgotando, a velha cafetina dona dos quartinhos, batera na porta e disse:

-Faltam cinco minutos...

Já estávamos finalizando a obra, e ela engoliu ate a ultima gota, uma moça gulosa. Limpamos-nos como já narrei, e paguei a velha cafetina. Diga-se se passagem, aquela velha tinha o padrão de cafetina de segunda, peles flácidas dos braços grandes tetas murchas e um buço que mais parecia um bigode de Chaplin, uma má vontade contagiosa e agressiva, não sorria jamais. Embora aqueles olhos de doninha brilhassem sorrateiramente quando a carteira se abria.

Quando saímos a rua, Elisa estava diferente. Existem realmente ideias capazes de nos transformar, nos catapultar para as estrelas ou arrastar para os densos porões infernais, mas uma ideia fria, precisa ressonar na intimidade da alma para isso ocorra. Como se tangesse acordes especiais, arrancando do marasmo vivencial, é a alma amigos, aquela coisa rara que torna a vida algo mais que a vivencia e modorra, faz o pau subir os sete degraus para o paraíso, e anima o coração a bater, o sangue ferver nas veias, os olhos cintilarem como super novas, é a vida mostrando sua verdadeira face, a paixão de abrir os olhos e encarar o inimigo frente a frente na certeza da vitória.


Final da Parte 1

Segue...

Luís Fabiano

segunda-feira, maio 09, 2011

Áudio Trecho
Extraído da obra Trilogia Suja de Havana
Autor: Pedro Gutierrez
Voz: Luís Fabiano.



Bundas estelares e indiferença rasteira


Por vezes tudo que um homem precisa é, simplesmente uma boa bunda. Nada de afagos carinhosos, esperanças acendidas e palavras prontas, repletas devaneios: amo você, seremos felizes pra sempre, tudo dará certo, eu sei o que você sente... terrível é a sensação de agonia que a sonoridade destas palavras propõe, uma maldita canção silenciosa que vai se desgastando paulatinamente. No meu entender, não precisa haver nem sequer amor, apenas confiança, uma estrita e total entrega a confiança.

O resto é remediável, mas confiança não. A certeza absoluta que aquela pessoa a sua frente não irá te dar uma facada em algum momento da vida? Uma bunda e confiança, creio que isso seja o céu.

Não me prometa nada, não me diga nada a mais. Apenas esteja ali, quando toda a merda cair por sobre nós, quando os malditos ratos pularem para fora do navio, apenas esteja ali e me abrace.

Tais pensamentos me acalentavam, embalado por um grande copo de rum e um jazz melancólico, aquele que rouba as esperanças e ascende o lampejo de beleza na vida. Uma improvisação, enquanto minha solidão dançava com outras solidões daquele bar, sentindo me entorpecer lentamente. A vida ia se tornando um sonho nebuloso.

Isso foi até o pesadelo começar. Uma maluca, completamente desgovernada entra no Blue Bird, estava furiosa porque sua namorada estava lá, ficando com uma outra, gritos, empurrões e alguns tapas depois, a coisa tornou a acalmar, como um maremoto que deixa estragos. Aquela vagabunda havia me roubado algo que não tem preço, minha tranquilidade.

O maldito ciúme, coroe a alma lentamente, numa tentativa de nos dar um certificado de propriedade alheia. Nunca consegui entender isso, porque em minha vida nunca senti ciúmes, talvez nunca tenha amado o suficiente pra isso, ou porque simplesmente considero isso algo muito mesquinho em um mar de inseguranças. Tenho outas mesquinharias piores, mas essa não.

Onde esta estaria minha bunda, muda e encantada desta noite?
Não se pode ganhar todas, eu deveria ficar com meu rum e com o Black Verde (cigarros). Levantei para dar uma boa mijada, chego a porta do banheiro, duas machorrinhas, se beijavam freneticamente com muito desejo, quem não gosta de ver mulheres se beijando? A vontade é entrar ali no meio e fazer a festa com elas. Mas não, peço licença, e elas continuavam se beijando. Minha mandioca começava a dar sinais que estava gostando daquilo, por fim, me olham e ficam mal humoradas as cadelas.

O rum havia entrando cem quilômetros por hora, mijei o vaso todo, a vida não é fácil, mas eu não mijo sentado. Pensei comigo, olhado para meu membro: creio que esta noite amigo, será conosco mesmo, mas jamais ficaremos em zero a zero, fique tranquilo. Guardei o bicho e voltei pra minha mesa.

Quando todas as esperanças haviam batido em retirada, ela entrou puxando uma perna, com mais duas amigas, felizes e sorridentes, putinhas que vieram espiar o inferno e talvez dançar com algum vampiro?

O mundo é feito de plástico e vidro, as pessoas veem pessoas falsas pela televisão, sorriem em close e não tem cheiro de nada, parecem prontas e sem improviso. Então em algum momento sentimos sede de vida, uma vida real, que cheire como a vida, vivo movido por isso. Não me interessa a vida de plástico, quero o cheiro que vem da alma, ainda que feda, que o cheiro asfixie os anjos do céu, em uma maré de brutais aromas. É a vida batendo nos ossos de nosso esqueleto.

Não preciso dizer que a moça que puxava uma perna, me chamou atenção de cara. Uma simpatia carinhosa por um defeito a luz do dia. Gosto de defeitos físicos. Por vezes demoro muito para descobrir os defeitos alheios, mas eles finalmente se rendem em manhãs inesperadas.

No meu entender, ela era toda rara, uma ruiva de cabelos pelos ombros, seios fartos, uma barriguinha simpática das mulheres verdadeiramente gostosas, e aquela perna mais curta e fina e a outra maior e normal.

Meu filhodaputometro foi ligado no máximo. Elas se sentam próximo a minha mesa e ficam alegres, esperando que algo aconteça enquanto conversam asneiras, mas em noites de sábado as vinte e três e quarenta e nove, nada costuma acontecer. Fiquei olhando para a ruiva, fazendo um sorriso falso, misto de sedutor barato e andarilho em um deserto a procura de um oásis. A ruiva era meu oásis. Quando finalmente ela me notou, sorriu aquele sorriso das safadas. Olhei para o céu, creio que Deus estava acordado aquela hora.

Ficamos naquele cortejo silencioso, então fui até o balcão, quando virei de volta a minha mesa, a cumprimentei gentilmente, ali tudo ficou claro. Ela gostou, eu me sentei em minha mesa novamente, sorri e depois mostrei a ela o lugar vago. Ela veio depois de um tempo, incentivada pelas amigas.

Sentou-se com sua cerveja barata, e eu continuava no rum. Clarissa era interessante, um tipo de mulher vaporosa, que teme se congelar, que teme a vida, que teme chutar com a esquerda. A conversa flui bem, nada profundo, não estou disposto a filosofias aquela hora, gostaria de ser mais direto possível, mas infelizmente é preciso fazer a dança do acasalamento, coisas da natureza, aquele folclore todo, você conta umas mentiras, a faz sorrir, fala das coisas que gosta, inventa um assunto besta qualquer, quando tudo poderia simplesmente se resumir: vamos para algum lugar mais intimo, você abre as pernas pra mim e o mundo é nosso.

Mas não, as mulheres querem sedução, ainda que seja barata, mas querem. Em um dado momento, não resisti aquele papo furado e atraquei interrompendo-a:

-Clara meu amor, tenho uma ideia, que tal sairmos daqui, pudemos pular esta parte e nos deitar sem roupa por ai... você vai gostar...

Uma palavra como essa, não permite meio termo. Clara sorriu amarelo e foi muito educada, polida demais:

-Não, acho que não, porque nunca faço isso de primeira com alguém que não conheço... e além do mais nós já estamos indo embora... então desculpe.

Toda aquela polidez me era ultrajante, ela sentia vontade de dizer outras coisas, mas foi comedida, limpa como a bunda de um gato. E como vapor, ela se esfumou, deixando apenas na mesa um e-mail e um telefone:

-Fala comigo amanha ou outro dia... tá?
-Ok, boa noite.

Era uma da manha, os vampiros faziam a festa, uma humanidade naquele bar agora cheio. Pago minha conta para a atendente ou o atendente nunca sei, ele/ela é um enigma, que com uma voz grave e sorriso irônico vaticina:

-Não te desse hein Fabiano, hoje não tem jogo, tu és um otário mesmo...
-Vá se fuder porra, quando eu chegar em casa, dou uma boa cuspida na mão e sacudo bem a mandioca até ela cuspir leite... há, há, há...
-Vai à merda Fabiano...
-Já vou...

Ganho a rua o inferno dentro e fora de mim, uma avenida Bento Gonçalves grita musicas de todos os gostos, pessoas andando de um lado para o outro, gente bonita, gente feia, todos ali, eu não sei o que desejam da vida, mas eu sabia, queria minha cama e apagar como uma morte provisória, onde haveria silêncios, ausência e talvez alguma paz, afinal não é isso que todos queremos?

Luís Fabiano.

domingo, maio 08, 2011


Mãe na zona, também é mãe.


Por uma destas sequencias errantes da vida, vamos nos deparando com todo o tipo de gente em nossa caminhada. Gente de boa vida e gente de má vida, muito embora tais conceitos sejam bastante suspeitos, como as pessoas em questão.

Não sou juiz de nada, mas o que me chama atenção sempre é o que move o ser humano, as pressões e apreensões que fazem a nobreza de uma atitude, ou a tornam densa e sombria. Consequências não dizem quase nada, é a ponta do iceberg.

Tive um amigo chamado Marcio, dentro de nossa convivência eu sabia que ele havia enveredado por descaminhos da vida, não sei se foi escolha. Com dezessete anos, ele só falava em drogas, armas e roubo. Isso nunca me assustou, os outros amigos tinham medo de Márcio, porque ele os intimidava sempre. Seu olhar ferino e um sorriso constantemente sarcástico.

Tenho pra mim, que quem sai aos seus nunca degenera. Marcio saiu a sua família, um fruto complicado de uma arvore distorcida, de valores estranhos um pai completamente desconhecido, uma mãe prostituta e viciada em drogas. A mãe dele sorria faltando alguns dentes, sempre que ele tentava falar sobre seu pai, desconversava dizendo:

-Márcio, tu tens vários pais, entrou tanta gente em mim, que tu és uma mistura de todas as porras deles, tu és uma mistura...

Aquilo irritava profundamente Márcio. Por muitas noites conversamos sobre isso e outras tantas coisas, sempre gostei de conversar, Márcio era mais interessante que meus apagados amigos, cuja vida era perfeitinha, que falavam de estudo, namoradinhas e roupas de marca. Minha vida nunca foi isso, talvez por algum momento eu tenha tentado acompanhar, mas era como uma pele que não me pertencia, que eu tentava vestir. Sentia-me asqueroso bancando o que não era.

Com o tempo os vizinhos me olhavam também com olhar atravessado, afinal eu andava com Marcio e logo eu deveria ser igual a ele. Realmente não me importei, creio que foi quando comecei o meu distanciamento das pessoas, pois os outros estão sempre dispostos a julgarem aparências. Tudo que se vê aparência, e infelizmente outros detalhes de personalidade são esquecidos, porque isso não aparece em primeira mão. O que alguém que vive e pensa assim pode me acrescentar? Fodam-se.

Infelizmente minha canalhice é ancestral, lembro que quando Marcio me disse que sua mãe era prostituta, o primeiro pensamento que tive foi: porra, será que mãe do Marcio daria pra mim? Naturalmente, Marcio nunca ficou sabendo desta fantasia, e mesmo quando passeia frequentar a casa dele e olhei para sua mãe, faltando dentes, grandes tetas, um cabelo em desalinho e aquele cheiro forte, cheiro de todos os cheiros, um ranço, porra ressecada e um pouquinho de merda. Sem duvidas um cheiro marcante.

A noite na casa de Marcio havia um movimento constante, todos os pedreiros, auxiliar de obra, bêbados dos botequins dos arredores da vila passavam lá, davam uma graninha pequena para dona Marilanda, ela fazia uma chupetinha famosa, com Márcio ou não estando em casa.

Marcio odiava aqueles homens, que ela chamava de seus pais. Ver tudo aquilo de perto naquela idade pra mim, era algo que marcaria minha existência, no sentido de entender um pouco da vida real onde o dinheiro não existe, onde tudo é um desafio de valores onde a merda entra a rodo. Quando me deitava a noite na minha cama confortável, minha vida certinha, minhas roupas limpas e alguma organização de vida. Tudo aquilo na vida de Marcio não poderia sugerir um final feliz, coisa de filme, a vida real não é bem assim.

Em um dia conversamos. e o papo rolou para o aspecto sexual, quem já havíamos pegado ou tentado comer, e como foi a primeira vez e esses assuntos, então vem a bomba de Márcio:

-Minha primeira vez, foi a minha mãe.

Confesso que nunca tinha pensado nisso, ou nesta possiblidade. Perguntei curioso, como tinha sido isso?

-Lá em casa não tem muito espaço, dormimos eu e mamãe juntos, na madrugada eu estava de pau duro, bem ai tu sabes como é... encaixei na mãe e ela não falou nada, seguiu dormindo, fiz uns movimentos e foi bom, e tudo terminou rápido. Fui muito bom, uma coisa eu digo, minha mãe tem a maior xoxota do mundo.

Fiquei rindo e debochei de Márcio:

-Que nada cara, tu é tem pau pequeno...

Mudamos de assunto, mas aquilo ficou na minha cabeça. Puta merda, Marcio comeu a própria mãe? Ele era mais foda que Édipo, pois este ultimo nem sabia que era própria mãe, e como o Marcio tinha aversão pelo pai. Tenho impressão que Freud atingiria um orgasmo com esse caso.

Mas a vida da voltas, eles viviam uma vida insana, a loucura que nunca tentou se organizar, misérias que se somavam, abismos sedentos de obscuridades. Eu via isso de longe, e sentia meus dentes crescerem como até hoje, quando frequento bares de segunda, que me dão historias sórdidas da alma humana em desalinho, algumas poucas felicidades, e o contentamento, que são os restos capaz de nos lançar na estratosfera. Nunca fui fiel a nada, mas creio que a isso tenho sido.

Um dia Marcio apareceu lá em casa apavorado, olhos esbugalhados, respiração ofegante:

-Que foi cara... que houve....?
-Cara, acho que matei minha mãe, ela caiu apagada... cara eu vou fugir...eles vão me matar...
-Calma Márcio, calma como aconteceu?
-Eu cheguei em casa, ela estava com um cara lá, não tinha nada pra comer, nada, cara hoje é domingo... e ela de papinho pelada com aquele cara. Fiz um bate boca, o cara foi embora muito irritado, ela veio pra cima de mim, não sei o que meu, eu me irritei dei uns empurrões nela, ela veio brigando mais, me deu um tapa , um tapa cara, nem pensei duas vezes, dei um soco na cabeça dela, ela caiu e bateu com a cabeça na mesa e apagou ali mesmo...ela tá morta cara...

Na época me apavorei, e não sabia o que dizer pra ele. Ele vendo meu silencio foi embora correndo. Que merda, será que isso foi assim mesmo? O primeiro assassinato de Márcio. Porem, não foi assim, dona Marilanda caiu de mal jeito e apagou porque bateu a cabeça, desmaiou, nada demais. Mas fiquei sabendo disso muito mais tarde.
Puta que pariu, que presente de dia das mães.


Luís Fabiano.


sexta-feira, maio 06, 2011

Momento Boa Música
Madredeus – O mar e o O sonho
Duas lindas canções curtam serenamente



Deixas sem rima

Deixa-me deitar em teus braços
Como deita o sol no horizonte agonizante
Declina o véu e deixa-me ver desnudados
Teus segredos inconfessáveis
Tuas sombras dançantes
Tuas vozes em sumidouro
Calando em mim
Na paz vaporosa
Onda e orvalho abraçados
Em nossas relvas selvagens
Entre o bruto e o diáfano
De sonhos cansados
Minha vida entregue em tua vida
Porem minha
 sempre minha
Cativos sem grilhões
Da verdade que sorvemos lentamente 
O néctar mijado por anjos
A baba de Deus
Em beijos e carinhos de uma alma fugitiva
Entorpecente de nossas emoções
Viciosas nossas paixões
A vida pulsando em nossa excitação
Dilacerando formas e padrões
Destruindo paredes
Voando ao encontro
Errantes sem ânsia
Tão humanos
Mediocremente humanos
Tentando tornar a vida real
Mesmo que ela se esfacele adiante
Ali estamos nós
Criando nossos castelos
E sorrindo e chorando quando as ondas os desfazem
Milagrosamente
Essa é a magia
O brilho estelar que pisca nas noites de nossas vidas
Por um breve instante que seja
Somos felizes.

Luís Fabiano.

Navalhadas Curtas: Adão e Adão expulsos do paraíso


Entendo que todos carregam sua cota de naturais infelicidades, tal qual o Cristo errante, caminhando com sua cruz daqui para lá, alguns gostam e são sorridentes enquanto o madeiro lhe transfixa a alma. Outros fazem um show de exageros com uma pequena cruz feita de papelão, fazem o clichê da dor, a pose existencial o qual estamos mais anexados que a essências transcendentes que vem da alma.

Estava na casa de Alberto e Anry, clientes que eventualmente atendo, formam bom casal e por vezes até me parecem realmente felizes. Porem nem sempre, neste dia em questão, eu estava acertando o computador deles, enquanto uma discussão acontecia, uma discussão ciumenta, e como os conheço há algum tempo, não me pouparam de suas colocações, diz Anry:

-Não pensa não Alberto, eu vi os olhares que tu fez para o cara lá da loja... gostastes dele?
-Olha, você louco Anry, nem se pode olhar para o lado que tu pensas que tem alguma coisa acontecendo... tu ta ficando mulher demais...

Naturalmente eu não contive meu riso, eles perceberam e seguiram a discussão:

-Mulher demais nada, apenas já te conheço bem... tu fica bem saidinho quando gosta de alguma coisa...
-Não é assim, e para agora com esse assunto, não me cansa a cabeça...

Eu que estava quieto até ali, então Anry me pergunta, querendo me incluir na discussão oportunista:

-Tu não achas, que quem olha quer Fabiano?
-Não acho, acho que tu tá muito mulher mesmo, insegurança cara? Qual é, a insegurança esta no DNA da mulher, quase tudo é insegurança, uma certeza feita de incertezas... para com isso.
-Viu, eu disse - falou Alberto triunfante.
-Você se juntaram para me fazer parecer ridículo...

Sorri e disse:

-Anry, não seja tão viado porra, da um abraço em Alberto e esqueçam essa merda, vocês estão a dez anos juntos, além do mais, olhar não tem importância alguma, quando essencialmente estão juntos, não é?

Eles se olharam e sorriram.
Terminei de mexer no computador e fui embora pensando, o ser humano é foda, e ciúmes não tem gênero, como eu disse antes, são sempre os mesmos problemas e não interessa o gosto pessoal de cada um, todos carregamos alguma cruz por aí, seja o bicho que for.

Luís Fabiano.

quinta-feira, maio 05, 2011

Caixa


Caro e inesperado leitor, hoje em minhas perambulações pelo atribulado centro de nossa cidade, como um caixeiro pagante de contas, dei-me conta fatalmente, como que engolido por uma serpente imensa, que envelhecer é uma verdadeira merda!

Não me refiro ao aspecto mais sórdido, que a aparência declina em uma ascensão as avessas, onde tudo é atraído para a terra lentamente, das bochechas aos culhões e por fim, nós de corpo e as vezes de alma também.

Essa é a lei Dele, que não admite negociações, assim sendo, fica difícil um breve dialogo, entre um tossir encarrado e outro. E mesmo que ELE não me escute, eu afirmo com todas as letras, que algo deu errado na Criação.

Se não fosse pelas bundas que desfilam para lá e para cá nas lotéricas, este dia seria impossível de acreditar. A fila berrante, os idosos vagarosos e minha falta completa de paciência. Não me desculpo jamais, penso odiosamente que se um dia chegar a terceira ou quarta idade, e tiver um comportamento tão lerdo assim, talvez eu faça outra escolha...estou pensando.

Então a moça do caixa diz:

-Senhor deu 55 reais...
-Há? 25 reais...sei...é?
-Não senhor...não...é 55 reais...
-A tá, é 35 reais...entendi...

Agora a mulher do caixa aos berros, creio que seria melhor um megafone...

-Não, senhor...é 55 reais...55...55...- fazia com os dedinhos...

Parece que ele entendeu afinal. Pagou foi embora com sua bengala, depois veio uma senhora, mais idosa ainda que o homem, mais surda ainda que ele. Naquele instante, comecei a entender como nascem os instintos homicidas, como eles são gerados alimentados ,e por fim concretizados para estarrecimento ,e prazer das massas ululantes de sangue e terror.

Mas me mantive firme, ela berrou, reclamou do pagamento alto demais, disse que estava errado, a moça do caixa havia errado as contas.

E eu ali atrás no final da fila, tentando sublimar a vida e a raiva, tentando achar uma bunda paradisíaca, capaz de me elevar aos santos e fazer voltar minha fé Nele. Confesso que pensei em mim no futuro, e imediatamente me senti um velho caquético, reclamando das coisas, surdo e louco.

Será assim?
As favas com toda a filosofia sublime, a buscar uma esterilizada explicação para tudo, uma justificativa polida com o próprio rabo, entremeados de mantras ou preces.

Era inescapável, lembrei de minhas próprias genitálias, os pelos brancos de meu saco, puta merda, isso já é um inicio dizem... até toquei em minhas bolas para ver se não estavam muito caídas...é estão um pouco.

Que explicação vou dar quando minha coluna, pernas e outras partes do meu corpo não funcionarem bem ?Ou então, uma loucura esquizofrênica que surja com a esclerose? Onde bundas não terão sentido algum, e que o ápice de minha felicidade suprema, será conseguir não me mijar nas calças? E a glória será conseguir ter uma ereção por ano?

Não, acho que não quero isso. Não quero ver o final de meu próprio filme, sinceramente não existe esperança alguma, daqui para frente em nossa vida em termos de planetários, a coisa não irá melhorar espetacularmente, em um milagre.

Entrei em um delírio, e as coisas da rua falavam a mim, uma loira falsa de cabelo pintado com raízes negras, o flanelinha na rua se comportando como guarda de transito, o olhar atravessado das pessoas, uma maluca sem dentes que passou por mim, e o calçadão se me tornou asfixiante, tanta gente e todos com tantos sonhos e a infinita possibilidade de muitos não se realizarem.

Fugi da rua com um cão acossado, não queria ver mais ninguém e nem pensar nos desdobramentos que a vida pode nos surpreender. Eu queria descansar um pouco que fosse...

Próximo...
Era eu, felizmente chegou a minha vez, a caixa sorriu um bom dia pronto e sem vida, puta que pariu, azar, infelizmente precisamos uns dos outros as vezes.

Luís Fabiano.
Pérola do dia:

“Não importa o veículo que transporte, desde que transporte o amor.”

Magalhães.

quarta-feira, maio 04, 2011



Ancorado nas Nuvens

Venha devagar dama de ferro
Não pise nos meus culhões
Como quem esmaga meu coração
Seja doce e delicada como a neblina matinal
A poça d’água refletindo o céu
Hoje não quero tua sinfonia de horrores
Nem dores marchando em coro
Quero beijos suaves
E a maior chupada deste planeta
Não me deixe só
Não hoje, quando o mundo me fere
Quando silêncios rilham os dentes
Quando os sussurros me inoculam veneno
E minhas asas permanecem encolhidas
Se der...
Quero ficar agarrado a ti
Como minha ancora e catapulta
Arremessando-me em profundidades eternas
E mergulhando em universos internos
Carinhosamente agarrado as estrelas
Furiosamente aquietado em ti
Por hoje apenas baby
Deixa-me sonhar um pouco
Com nuvens de algodão
E campos de centeio refletindo a vida
Ainda que seja por um segundo
Esqueçamos as merdas da vida
E calemos em comunhão
Sinto sede de teus beijos
Fome de teus abraços
Ternura demasiada do que és
Por um momento quase não me sinto eu
Mas uma maré que sobe e desce a procura de paz
Nem sempre a encontra
Mas tudo termina bem
Ainda que sejas
Apenas uma ideia ao sabor do vento

Luís Fabiano.

Navalhadas Curtas: Cheirinho molhado...


Infelizmente a muito tempo atrás, fui completamente vegetariano. Uma bonita e insossa dieta, porem algo em mim reverberava entre uma alface e outra, entre um brócolis e outro. Minha barriga fazia sons catastróficos, e eu dentro de minha ignorância natural, não dava atenção.

Um dia, eu estava saindo do trabalho, para encontrar-me com uma secretária deliciosa que também trabalhava no hospital. A ideia principal do encontro era putaria, nada de amorzinho gostoso e carinhos sem ter fim, nada de sexo entre os anjos, mas sim abraços do diabo.

Na saída antes de encontra-la, precisei ir ao banheiro dar uma boa mijada, porem, ela veio acompanhada daquele peidinho curto que insiste em manifestar-se vaidosamente durante o xixi.

Opa... mas será que algo aconteceu? Alguma coisa havia dado errado na nave mãe, ao sentir pela minha perna direita aquela coisa molhada e “cheirosa” a chegar aos meus sapatos lustrados. Era verdade, eu havia me cagado!

Minha primeira preocupação foi: que iria dizer a Eliana? Bem,nestas horas escapar fedendo é a única alternativa viável. Peguei um taxi na esquina, o qual o motorista veio com as janelas abertas, apavorado e mudo com meu aroma.
Maldita alface...

Luís Fabiano.


terça-feira, maio 03, 2011

Poesia Fotográfica



Consolos Brutais

Onde me pedes carinho
Mordo com fúria
Do teu olhar terno e sereno
Minha indiferença plena a procura das tuas sombras
Queres me cativar com teu ópio amoroso
A mim pouco importa
Quero o que em ti não se toca com as mãos
Beber de tua saliva fragmentos da tua alma
E dos teus silêncios a dor mais profunda
Não quero teus abraços macios, quentes e suaves
Quero teu veneno
Teus dentes cravados no meu pau inoculando a tua pior chaga
E ambos nos envenenando mutuamente
Não digas palavras românticas e nem deseje tornar eterno
O que esta fadado a morte
Ela chora um orvalho exprimido das suas entranhas
Não me suporta, não me quer assim
Uma tempestade louca rompeu os véus do mistério
E a verdade é uma doce facada no peito
A trilha sem volta
Quando ardida de decepção
Quando nada mais parece ter sentido
Quando a única saída é fugir
A alma esta entregue
A mim ela se torna perfeita
Escrava, gueixa, puta e mulher
Dou-lhe um abraço contagioso
E ela finalmente entende
A mensagem silenciosa da dor
Ou nos tornando fortes ou somos reduzidos a nada
A fúria se aquieta apaziguada entre teus seios
Minha mão serpenteante percorre teu ventre
A nos pouco interessa o mundo lá fora
Se existe uma convenção de filhos da puta ou não
Estamos mergulhados profundamente
Um no outro
Não sei o quanto dura
Mas que seja febril
Viciante e mortal.

Luís Fabiano.

segunda-feira, maio 02, 2011

Áudio Poema : Outra Cama
Autor: Charles Bukowski
Voz: Fabiano.


Gritos mórbidos entre jaulas

Admiro com olhos desconfiados as pessoas com ideias de mudar o mundo. Como uma pintura exótica esquecida em uma parede, marcante porem um esforço vão, um grito solitário, um eco sem eco.

O tempo proporciona alguma experiência, com as naturais desexperiencias que a vida nos propõe, com os desesperos que nossas fragilidades, expostas como vísceras abertas a luz do dia. Raramente as expomos assim.

Já pensei muito em termos de mundo e universo, compreendendo enfaticamente na aspereza existencial que nada é tão romântico assim, que a beleza precisa ser cavada com as próprias unhas e que talvez em arroubo de certeza, estejamos em paz apenas por conseguir limpar o próprio rabo sozinho.

Nas mais das vezes tudo gira em torno de nós, nosso pensamento não vai muito além de nossas limitadas percepções de tudo, então fazemos um jogo conosco mesmo. Um jogo perdido o qual tentamos atribuir a culpa a alguém. Vaidades, egoísmos, orgulhos, depois, desejos, emoções em desalinho, ambição, medo e raiva. Então tentamos curar tais chagas com curativos baratos, talvez um pouco de dinheiro, amor vacilante, uma trepada aqui e ali, a mão tremula que aperta a outra mais vacilante ainda, e dizemos que tudo esta bem. Mas nada é capaz de nos catapultar além.

Então fica claro, que não temos interesse em resolver o problema mundial, porque não existe problema fora de nós. Tudo se encontra em um aperto angustiado pelo nosso coração.
Senti raiva do discursante inflamado dando soluções plenas para os problemas do mundo, enquanto bebia seu whisky e a voz ficava pesada e rouca.

Não sei por que me meti naquela festa ontem, com aquelas pessoas, a bem da verdade até sei por que, não tinha nada melhor pra fazer, e felizmente estou aberto a aprender algo de útil ou não, talvez como um oportunista formal, beber boas bebidas, trepar com coroas sorridentes, fazer minhas piadas sem graça, e ser o fantoche de Luís Fabiano. É, isso é diversão boa.

O cara de vastas ideias em questão, era o dono da casa, dono da festa, dono da grana, porem era o clichê da estupidez.

Normalmente não sou deseducado, até aparento uma boa educação, a bebida era boa, então como um parasita fecundo de sonhos eu fiquei ali, acompanhando uma amiga num programa de índio. Clair foi sempre amiga, embora minhas investidas de comê-la foram, são e serão eternas. Tem o perfil de mulher índia, porem com tetas fortes, cabelos negros e encaracolados, uma cor de cuia e um sorriso capaz de cativar estatuas broxadas.

E lá estávamos, como o me anima sempre é nada, não sou destes que de possuem uma expectativa ululante, creio piamente que ninguém pode preencher ninguém, a não se dos seus líquidos corporais.

Senti-me vazio lá, sem perspectivas, com a paixão se esvaindo em uma gozada sem graça, uma festa chata de gente bem comportada e quase morta, fedendo a perfumes cujo objetivo era ocultar o fedor de suas existências. Parecia assim. Disse a Clair:

-Me sinto um selvagem engaiolado, chamam isso de festa? Cadê a animação? Os bêbados, as putas, os gritos? Ficam todos em pequenos grupinhos conversando, e essa musica, que merda é essa? Los Hermanos? Puta que pariu...

Clair riu em seu vestido preto:

-É, Fabiano, o Oscar é meu amigo, fez questão que eu viesse disse pra trazer um amigo e tal... mas eu não imaginei que fosse tão chato.
-É mesmo, esse cara fica falando, resolvendo os problemas do mundo, tu já sentiu o bafo dele? Parece uma latrina aberta e recheada de lembranças de cagadas ancestrais...

Clair ria discretamente, e eu estava com vontade de deixar o pior de mim acordar, sair como um vomito de bílis verde e fedida. Talvez precisasse mais umas bebidas, o whisky me deixa agitado, nervoso, talvez eu não seja normal mesmo, mas a ausência de paixão em fazer qualquer coisa me deixa insano.

Enquanto aquele filho da puta queria resolver problemas do mundo, uma festa estava acontecendo. Como se pode viver sem tesão? É preciso ter uma ereção constante pela vida, é preciso fuder com o mundo no melhor sentido da colocação, é preciso gozar em tudo que se faz, seja comendo arroz com feijão ou alguma iguaria rara, não é normal comportar-se como um morto vivo. Não são as coisas que nos inspiram, mas a inspiração vem de nós, de nossas estranhas balançantes a som da vida, a vontade que vem da alma em querer viver, e tudo que fazemos dia a após dia é matar isso por inúmeras atitudes que tomamos. Terrível tal morte, a morte em vida, sem dor aparente, sem gritos estertorantes, mas um silencio que vai tomando conta, um congelamento a hipotermia existencial.

Minha raiva ganhava sofisticação, como uma indignação fomentando inquietação e retroalimentando mais raiva. Pergunto a Clair indignado:


-Tu vais ficar aqui?
-Eu não posso ir... eu tenho que...
-Tudo bem, eu vou embora... sinto vontade de tirar o meu membro pra fora...
-Tá certo, então é melhor tu ir mesmo... te conheço...
-Clair você é maliciosamente cruel, nem fez uma proposta indecente, uma troca, que espécie de amiga é você que não trepa com o amigo? Porra o amigo é a pessoa de mais confiança pra se trepar e...
-Melhor não... porque ai vai acabar o que temos.
-Tchau.

Sai porta a fora ganhando a rua, sem me despedir de ninguém, sentia necessidade de respirar ar puro ou de infectar-me com os de minha natureza, os que não sonham com pureza ideal embora sejam puros em seus pecados, os que não desejam ocultar suas verminoses, apenas tentar viver uma vida próxima da realidade, sem artificialismos. Acho que vou para o Pássaro Azul pensei em primeiro momento... mas entrei no carro sai devagar, mergulhei na noite como quem salta de um trampolim em busca do infinito ou da morte, mas seja como for, o destino vai me encontrar por inteiro.


Luís Fabiano.

domingo, maio 01, 2011


Navalhadas Curtas: O primeiro emprego...

Quando o dia amanheceu, foi como um vento inevitável soprando de dentro de si para fora. Estava cansada das misérias físicas que seus pais proporcionavam, a vida uma merda em todos os sentidos, brigas, falta de comida, desespero, pais viciados, quase o clichê completo de tristezas.

Patrícia olha-se no espelho cansada. Era preciso fazer alguma coisa, tomar uma decisão, tinha que ganhar a vida, no seu pensar, hora de vira gente, dar um basta. Não queria mais ver aquele semblante no espelho, não queria mais olhar para sua vida assim. Espatifa o espelho derrubando-o no chão, e sai.
A decisão estava tomada: iria virar puta. Disse-me ela:

-Não me interessava que tivesse que trepar com os piores tipos, e muitas vezes é assim mesmo. Alguns homens são tarados, e querem fazer suas bizarrices. No inicio tive medo, mas nessa vida ou você pega as manhas ou desiste. Boquete pode se tornar uma arma potente sabes?
-Não sei não Patrícia, mas até que tu tá legal, o rosto tá bom, bom corpo e teu sorriso...
-Qual é Fabiano, quer um programa?
-Não Pati obrigado, já lanchei hoje. Mas me diz uma coisa, tu pretendes sair desta vida algum dia?
-Cara, tô com vinte e cinco anos, consigo me manter, faço o horário que eu quero, não preciso ralar fazendo faxina ou ter que aturar um chefe de merda me controlando... então eu acho que não.
-Não sei Pati, tu és bonita, podia arrumar um cara rico, algo assim...
-Isso é sonho encantado de toda puta, Fabiano já não estou mais nessa de sonho... vida real cara, dura uma hora por cliente a cento e vinte pila... faço tudo que as mulheres deles não fazem, e todos ficam felizes.

Comecei a rir, Pati estava bem, havia levantado trezentos e sessenta naquele dia. Eu não ganho isso por dia.


-Pati, me diz uma coisa, tu tens alguma arma nesta bolsa aí?
-Claro, toda puta que se preza tem uma.

Abriu a bolsa, remexeu daqui e dali, e então puxa uma navalha brilhante, antiga cabo de osso e um fio pronto a partir átomos. Meus olhos brilharam de emoção, ali estava o Fio da Navalha.


Ps: Patrícia me disse depois que ganhou a navalha de uma travesti que havia morrido de AIDS, chamada Nicoly Marie, segundo a narração, ela deu-lhe de presente a navalha dizendo:Patrícia, fica com isso, porque para onde eu vou isso não vai ser mais necessário.


Luís Fabiano.