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segunda-feira, maio 02, 2011



Gritos mórbidos entre jaulas

Admiro com olhos desconfiados as pessoas com ideias de mudar o mundo. Como uma pintura exótica esquecida em uma parede, marcante porem um esforço vão, um grito solitário, um eco sem eco.

O tempo proporciona alguma experiência, com as naturais desexperiencias que a vida nos propõe, com os desesperos que nossas fragilidades, expostas como vísceras abertas a luz do dia. Raramente as expomos assim.

Já pensei muito em termos de mundo e universo, compreendendo enfaticamente na aspereza existencial que nada é tão romântico assim, que a beleza precisa ser cavada com as próprias unhas e que talvez em arroubo de certeza, estejamos em paz apenas por conseguir limpar o próprio rabo sozinho.

Nas mais das vezes tudo gira em torno de nós, nosso pensamento não vai muito além de nossas limitadas percepções de tudo, então fazemos um jogo conosco mesmo. Um jogo perdido o qual tentamos atribuir a culpa a alguém. Vaidades, egoísmos, orgulhos, depois, desejos, emoções em desalinho, ambição, medo e raiva. Então tentamos curar tais chagas com curativos baratos, talvez um pouco de dinheiro, amor vacilante, uma trepada aqui e ali, a mão tremula que aperta a outra mais vacilante ainda, e dizemos que tudo esta bem. Mas nada é capaz de nos catapultar além.

Então fica claro, que não temos interesse em resolver o problema mundial, porque não existe problema fora de nós. Tudo se encontra em um aperto angustiado pelo nosso coração.
Senti raiva do discursante inflamado dando soluções plenas para os problemas do mundo, enquanto bebia seu whisky e a voz ficava pesada e rouca.

Não sei por que me meti naquela festa ontem, com aquelas pessoas, a bem da verdade até sei por que, não tinha nada melhor pra fazer, e felizmente estou aberto a aprender algo de útil ou não, talvez como um oportunista formal, beber boas bebidas, trepar com coroas sorridentes, fazer minhas piadas sem graça, e ser o fantoche de Luís Fabiano. É, isso é diversão boa.

O cara de vastas ideias em questão, era o dono da casa, dono da festa, dono da grana, porem era o clichê da estupidez.

Normalmente não sou deseducado, até aparento uma boa educação, a bebida era boa, então como um parasita fecundo de sonhos eu fiquei ali, acompanhando uma amiga num programa de índio. Clair foi sempre amiga, embora minhas investidas de comê-la foram, são e serão eternas. Tem o perfil de mulher índia, porem com tetas fortes, cabelos negros e encaracolados, uma cor de cuia e um sorriso capaz de cativar estatuas broxadas.

E lá estávamos, como o me anima sempre é nada, não sou destes que de possuem uma expectativa ululante, creio piamente que ninguém pode preencher ninguém, a não se dos seus líquidos corporais.

Senti-me vazio lá, sem perspectivas, com a paixão se esvaindo em uma gozada sem graça, uma festa chata de gente bem comportada e quase morta, fedendo a perfumes cujo objetivo era ocultar o fedor de suas existências. Parecia assim. Disse a Clair:

-Me sinto um selvagem engaiolado, chamam isso de festa? Cadê a animação? Os bêbados, as putas, os gritos? Ficam todos em pequenos grupinhos conversando, e essa musica, que merda é essa? Los Hermanos? Puta que pariu...

Clair riu em seu vestido preto:

-É, Fabiano, o Oscar é meu amigo, fez questão que eu viesse disse pra trazer um amigo e tal... mas eu não imaginei que fosse tão chato.
-É mesmo, esse cara fica falando, resolvendo os problemas do mundo, tu já sentiu o bafo dele? Parece uma latrina aberta e recheada de lembranças de cagadas ancestrais...

Clair ria discretamente, e eu estava com vontade de deixar o pior de mim acordar, sair como um vomito de bílis verde e fedida. Talvez precisasse mais umas bebidas, o whisky me deixa agitado, nervoso, talvez eu não seja normal mesmo, mas a ausência de paixão em fazer qualquer coisa me deixa insano.

Enquanto aquele filho da puta queria resolver problemas do mundo, uma festa estava acontecendo. Como se pode viver sem tesão? É preciso ter uma ereção constante pela vida, é preciso fuder com o mundo no melhor sentido da colocação, é preciso gozar em tudo que se faz, seja comendo arroz com feijão ou alguma iguaria rara, não é normal comportar-se como um morto vivo. Não são as coisas que nos inspiram, mas a inspiração vem de nós, de nossas estranhas balançantes a som da vida, a vontade que vem da alma em querer viver, e tudo que fazemos dia a após dia é matar isso por inúmeras atitudes que tomamos. Terrível tal morte, a morte em vida, sem dor aparente, sem gritos estertorantes, mas um silencio que vai tomando conta, um congelamento a hipotermia existencial.

Minha raiva ganhava sofisticação, como uma indignação fomentando inquietação e retroalimentando mais raiva. Pergunto a Clair indignado:


-Tu vais ficar aqui?
-Eu não posso ir... eu tenho que...
-Tudo bem, eu vou embora... sinto vontade de tirar o meu membro pra fora...
-Tá certo, então é melhor tu ir mesmo... te conheço...
-Clair você é maliciosamente cruel, nem fez uma proposta indecente, uma troca, que espécie de amiga é você que não trepa com o amigo? Porra o amigo é a pessoa de mais confiança pra se trepar e...
-Melhor não... porque ai vai acabar o que temos.
-Tchau.

Sai porta a fora ganhando a rua, sem me despedir de ninguém, sentia necessidade de respirar ar puro ou de infectar-me com os de minha natureza, os que não sonham com pureza ideal embora sejam puros em seus pecados, os que não desejam ocultar suas verminoses, apenas tentar viver uma vida próxima da realidade, sem artificialismos. Acho que vou para o Pássaro Azul pensei em primeiro momento... mas entrei no carro sai devagar, mergulhei na noite como quem salta de um trampolim em busca do infinito ou da morte, mas seja como for, o destino vai me encontrar por inteiro.


Luís Fabiano.

Um comentário:

Unknown disse...

Texto com final digno de um herói às avessas.Muito bom!