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domingo, março 08, 2015

Parte 2 -Me bate, porque eu gosto


Me bate, porque eu gosto

Parte 2


O melhor que a vida pode oferecer é sentir-se perdido. Um naufrago urbano bebendo do fluido existencial a espera que o destino te encontre. Destino? Como seria isso, o casual, o impensável de Deus o planejado pelo diabo... destino bom, destino mal. Ruas maravilhosas com o pior que Pelotas pode oferecer. Amo esta cidade com sua aparência limpa e tão cultural...é assim que a maioria vê.  A noite avança como um cavalo louco, estou ficando farto de andar de carro. Meus desejos a flor da pele são um recado. Sou assim puro instinto...desejo uma fêmea ou algo que se pareça com isso.

Pego o caminho do porto vou em direção ao Bar do Sujeira. Meu local predileto, nas ruas dos porto que as coisas acontecem. Tudo bem bom e de mal também. Não levem a mal, é apenas um lugar como qualquer ser humano tem duas ou mais faces. Uma que você vê e outra que ninguém imagina. Eu prefiro esta última.

O Bar do Sujeira é um reduto tradicional, durante a semana é vazio, sujo e frequentado pelo melhor que a sociedade pode produzir: gente que rala de verdade, putas, marginais, bêbados, drogados, sujos, limpos, os verdadeiros mestres, os que sobrevivem Darwin teria orgulho deles. O Sujeira o tipo velho dono de bar. Foi muito malandro quando era mais jovem, agora é um velho com mal humor que tem uma relação informal com uma transex a qual ele tem vergonha. Vergonha porquê? Amor é amor. Rebeca Sharon o seduziu desde o início. Eu assisti isso de longe, Rebeca estava as vias de fazer a operação, estava ansiosa e linda. Tudo em Rebeca lembrava uma mulher, sua sensibilidade, seu ciclo, seu olhar, o corpo feito esculpido lentamente arredondado, seios grande e longo cabelo loiro e o sorriso perfeito. Todos estavam de olho em Rebeca, mas ela é romântica e tudo isso transformava a situação em poesia. Sujeira lutou contra tudo isso, mas a verdade que ele deseja e gostava de Rebeca. Teve um dia que todos havíamos bebido demais e beijei Rebeca...e o Sujeira ficou louco. Dizia que não podia fazer isso dentro do bar dele...e vi no seus olhos o ciúmes aquele que anda perto do amor medíocre, que é o amor que as pessoas preferem, passional repleto daquilo que o amor não é. Mas foda-se viva a vida.

Estaciono o “Olhos de Gato”, vou em direção ao bar que está com a meia porta aberta como sempre. Depois da meia noite o Sujeira sempre deixa assim, questão de segurança diz ele. Para na porta do Bar olhando para dentro e o Sujeira com seu típico mal humor já rosna:

-Ahhh era o que tava faltando pra fechar a minha noite...
-É, boa noite pra ti também Sujeira...

Dentro do bar, Rebeca Sharon lixa as unhas em uma mesa, bebendo uma cerveja, Tonho Cavaquinho fazendo uns acordes soltos e bebendo sua cachaça. O cheiro do bar remete a pecado, bebidas, cigarros, suor de cavalo e o banheiro meio sujo são os aromas mais primitivos que nos levam aos nossos antepassados. Pra que ?
Rebeca Sharon fica feliz ao me ver:

-Fabiano amor... nossa quanto tempo hein?
-É, minha vida ta meio complicada...
-E quando tua vida não está complicada Fabiano?
-É, mas agora os horários ...tudo mudou...
-Mas quem coisa que não muda cara...me dá um beijo aqui e um abraço...

Todos riram no bar o Sujeira ficou parado olhando, enquanto abraçava Sharon. O cheiro dela continuava ótimo.

Sentei a mesa com ela e Sujeira veio com um grande copo de rum. É uma espécie de família que te quer mal. Rum e gelo, o bar estava como sempre e isso faz com que me sinta muito bem. Uma família sem vínculo, uma planta sem raízes desafiando as asperezas do mundo.
O Sujeira fala:

-O Rebeca não dá muito pra pra esse daí...sabes como ele é...
-Que isso amor, relaxa o Fabiano é da família...
-Não da minha...ele bebe e ai quer comer tudo mundo...a mim ele não vai comer não...

Eu olho pro Sujeira:

-Que foi Sujeira, não me conhece não? Eu atualmente estou muito inofensivo...virei um bosta...
-Duvido muito -  diz Rebeca.

Nisso Tonho Cavaquinho magicamente começa a movimentar os dedos em seu instrumento, enchendo aquela noite vazia de vida...e ele puxa o tom: Jurei não amar ninguém, mas você veio chegando e eu fui chegando também...” E noite Ilustrada preenche o ambiente, Rebeca já levanta e fica sambando a volta da mesa e mesmo Sujeira sorri, e a felicidade parece tão simples, fico olhando o vazio...distante dou mais um grande gole de rum. Os traços da vida se tornam borrados e lentos como tudo deve ser... estou em paz, dou uma tocada no meu pau por cima da calça ele está meio duro. Tenho essas ereções furiosas.

Samba, um bar meio vazio e bebida, que mais poderia querer? Então quando se tem impressão que nada vai acontecer, um grupo da entrada no bar. Vestiam preto três mulheres e dois homens, talvez tivesse ali no máximo vinte e cinco anos. Cabelos com gel. Fiquei olhando para as mulheres: duas loiras e uma morena. O samba segue, o Sujeira já vai dizendo:

-Ai pessoal, aqui não vamos a noite inteira dentro de uma hora eu fecho o estabelecimento...

A típica receptividade do Sujeira.

Luis Fabiano
Segue:





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