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domingo, novembro 16, 2014

Material antipoético


Material antipoético

O panorama deste verão é desolador
Abundam as baratas
As moscas e guasasas* da merda
O fedor do lixo podre
E do esgoto derramado nas ruas
Os ratos pequenos / dizem
Que também há ratazanas enormes
Há avisos / vacina grátis
Contra leptospirose
No Malecón um edifício se inclinou
Como a Torre de Pisa
E a gente saiu fugida
Agora uns homens o derrubam
Com muito cuidado / pedra por pedra
Porque pode desabar e enterrar os vizinhos
Enfim o panorama é pavoroso
Sob o sol e o calor
A cidade antipoética
Nicanor Parra teria que visitá-la
Gente cansada e de mau humor Bêbados
Sentados nas calçadas esperando o nada
E os poetas em baixa

Não há nada belo que cantar
Uma desgraça para os poetas
Tudo é merda
Assim é impossível escrever poesia nutritiva
Poesia alimentícia
Poesia que faça exclamar
As damas sensíveis
Oh, que grande poeta estupendo é um clássico!
Não / nada disso
A vida antipoética ganha terreno
E estabelece cabeças de praia
Em cada coraçãozinho que consegue alcançar
E eu desgraçadamente
Não posso olhar sozinho o mar
O mar salvador azul
O eterno belíssimo brilhante mar.


Pedro Juan Gutierrez


*Em Cuba, é uma mosca pequena
 Que vive em enxames

Em lugares úmidos e escuros.


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