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domingo, agosto 25, 2013

Pedras, xoxotas, sambão



Pedras, xoxotas, sambão e um pouco de merda

O tempo não estava dos melhores. O frio estava castigando profundamente a cidade. Pelotas não é Europa, com toda certeza...mas o frio é grande, a umidade também. Umidade congelante, que de certa forma tornando a vida das pessoas uma merda. Penso sempre em quem tá realmente fudido da vida... dormindo por ai... sem casa, cama ou banho. Eu disse que penso nisso... mas como você, também não perco minha noite de sono por causa disso. Não sinto culpa, e nem você também. Portanto amigo...somos cúmplices silenciosos do crime. OK a vida segue.

A sexta-feira se arrastou pesadamente, o dia soprando frio roubando qualquer disposição. Mas sou do contra. Um resistente, creio que é isso que precisamos, ser mais resistentes ao que queremos e ao que não queremos. 

Da janela do trabalho, observava a noite caindo, noite sem promessas, pensei comigo: “porra Fabiano, e ai? Que vai ser?”. Mas as respostas não vieram. Um predador precisa caçar, precisa matar, precisa saciar suas vontades. Na maior parte do tempo me sinto um predador. Por outro lado, nunca tenho planos pra nada. Nunca penso previamente em que vou fazer... deixo a vida se desenhar. 

Prefiro assim...faço o contrário. Torno o improviso um plano, torno o eventual um plano... mas nada de linhas perfeitas indicando caminhos “certos”. Não.
Finalmente a hora de sair. Quando cheguei a rua, aquilo era um frio, chuva e pessoas se escondendo. Nada promissor. Foda né? Fazer a cosia acontecer quando tudo conspira a favor é fácil, quero ver você virar o jogo quando esta quase sendo nocauteado pela vida! Respirei profundamente e peguei o kadett. 

No estacionamento os caras pareciam felizes, e logo entendi por que. Uma gostosa, estava lá, com aquele frio todo, ela era um desafio de pernas expostas numa minissaia linda. Fazia o perfil comum, bonita, meio loira e meio morena, vestia preto e as nuas... ela desce do carro e expõe uma calcinha mínima... e isso lhe conferiu a gentileza de todos...até a minha. Ela sorria leve, estava sozinha. Olhei bem pra ela... toquei no meu pau por cima da calça... ela viu mas se fez. As mulheres gostam de olhar estas coisas, mas ficam na delas, discretas mas ali dentro existe uma alma... as vezes uma vadia, as vezes uma puta e outras uma freira tentando silenciar todos estes desejos. É uma pena.

Sorri pra puta e ela se foi. Isso era uma indicio da noite.
Peguei o carro. Liguei o rádio. A vida começa ai. Deixei o rádio tocando barão vermelho... e sai lentamente. Ruas molhadas, luzes dos postes refletindo no asfalto, pareciam estrelas desmaiadas com toda a merda existencial escorrendo. Dia perfeito, noite vazia. Peguei meus caminhos tradicionais. 

Estava disposto a conhecer algo novo. Dei uma pequena volta pela cidade... indo até a zona norte lá no final...depois voltei. Putas em um posto de gasolina vagavam a esperam de caminhoneiros. Eu as conhecia... eram boas meninas... todas viciadas em drogas em crack principalmente. Trepavam para sobreviver e para satisfazer o vício. Parei o carro pra conversar com elas:

-E ai Juju... como tá a noite?
-Uma merda Fabiano... porra...ninguém quer meter com a gente...há,há,há...

Juju não é exatamente bonita... dentes fudidos, jeito de suja, mas as tetas estavam boas. Ela tem uns vinte e seis anos...mas parece ter o dobro.

-Fabiano...tu não quer ser o meu cafetão não?

Por um breve instante a ideia pareceu boa... mas não...o cafetão dela teria que lidar com uns tipos complicados e mais o vício de Juju. To fora.

-Não Juju... eu te agradeço o convite.
-Quer que eu te chupe? To precisando comprar uma pedrinha...
-Não Juju, mas toma aqui...dez pila... isso deve te ajudar...
-Bah cara tu é o meu herói... quando tu precisar...quando tu quiser...pode me comer toda...tu é o cara.

Não sou o cara, eu era uma nota de dez reais pra ela... e uma pedra em seu caminho. Quer dizer mais uma ´pedra em seu caminho.

-Legal Juju, tem uma boa noite se for possível... beijo amor.
-Beijo amor.... Fabiano eu te amo.

Que merda. Você faz ideia de quantas vezes eu já escutei isso na minha vida? Quantas seriam sinceras? Eu seria apenas como Juju, viciadas em alguma coisa? Vá saber. Voltei a minha trajetória. Queria agora um bar... mas não poderia ser um bar comum... queria um boteco. Lembrei de uma que havia ido uma única vez. No carnaval próximo a passarela do samba.  Eu havia comido uma passista num matinho próximo. Boas lembranças.

O boteco era daqueles sórdidos...sujos e nem nome tinha. Cheguei lá mais rápido que um jato de porra em direção ao óvulo. Era isso, eu iria gestar o infinito de merdas...daria luz ao demônio, beberia o néctar do inferno e se tudo desse certo...bem...

Chego ao bar, que fica em uma rua esquiva próximo ao sambódromo. Gostei do que vi...o local parecia o Vesúvio pronto pra explodir. Um sambão improvisado lá dentro, sem aparelhos de som...era um cavaco, um surdo, um violão e um pandeiro. E ali as pessoas que costumo dizer que são de verdade. Trabalhadores, pedreiros, pintores, lixeiros, domesticas, gente que se fode dia a dia pra sobreviver e que na sexta-feira, exorciza os demônios. Boa gente.

Eu era um estranho no ninho...mas eu sou um estranho no ninho onde quer que eu esteja.

Segue...

Luís Fabiano.




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