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quarta-feira, janeiro 16, 2013



Homicida carinhoso e taras descontroladas...

O ser humano é capaz de coisas terríveis, é apenas preciso apertar os botões certos. As grades estavam diante de mim, uma forma inesperada de tudo, num desfecho brutal. Porra e isso agora? Minha perplexidade e assombro só não eram maiores que o fedor daquele lugar. A principio pensei estar sozinho, mas isso rapidamente se revelou um engano. No canto mais escuro, como chacais espreitando a presa, eles sorriam. 

Aquele sorriso eivado de maldade, o sorriso criminoso, dentes sujos, hálito pesado e alma de chumbo.
Então três deles vieram pra cima de mim... Não tinha para onde fugir, tudo me sobrava era morrer passivamente ou... Eu preferi o ou. Como é natural de minha personalidade, em momentos cruciais, me torno frio. Sim, busquei em minhas entranhas o pior que tenho. Minha merda, fúria e atrocidade desmedida. 

Certamente não conseguiria pegar os três, mas um, certamente um eu mataria... Como um animal que cresce dilacerando o espirito... Quando o primeiro cara encostou em mim falando: E então novato... Chega ai... Aqui temos uma lei... O cu mais novo sempre dá... (o cara colocando a mão em meu ombro).

Deixei a coisa naturalmente... ele me trouxe para perto de si...um outro cara segurou meus braços... E esse primeiro seguia me falando coisas que ignorei... o que vi  e o que apenas via era a sua jugular... Ele riu e eu pulei em sua garganta afundando meus dentes na carótida, apertei com toda a força que pude, eu ia arrancar a sua vida e não soltaria jamais, até o que o fim... Senti a pele dele rasgando... os borbotões de sague quente, o cheiro típico de sangue escorrendo... Os outros dois tentaram me tirar de cima dele... Mas nem Deus conseguiria isso... o sangue escorria forte...minha boca inundada dele... A gloria de uma fúria indomada como a sinfonia de Beethoven... eu o Fabiano vampiro, eu louco... Foda-se filho da puta... Aqui poço das piedades secou... queria me fuder... Eu te fodi primeiro... eu sentia orgulho.

Acordei tossindo... engasgado com o sangue...o corpo tenso, coração disparado... Eu estava vivo... e sentia ainda as impressões de ter matado alguém, você já sentiu isso? Aquele cara merecia. Sentei na cama pensando, estava suando e tinha sede. Você sabe quando algo esta dentro de ti... Algo que você é realmente capaz de fazer. Maldito sonho filho da puta. Eu seria capaz disso... Mas espero jamais ter de estar em uma situação destas. Inegavelmente lembrei-me de todas as pessoas que me perturbaram a vida, de todas as vezes pensei em fazer isso, com algumas ex-mulheres. Será que elas sabem do que escaparam? Comecei a rir de mim mesmo.

Agora com mais de quarenta anos, eu iria começar a cultivar pensamentos homicidas? É, foda-se.
Deveria parar de beber? Ou simplesmente beber o dobro? Vou jogar uma moeda para decidir isso. Olho o relógio, três da manhã. O sono já era. Vou até o banheiro dou uma boa mijada de rei. Vou na cozinha bebo um copo d’água gelada. Estou pelado na cozinha, e dou uma olhada para meu pau, ele esta flácido e não creio que iria se animar.
E a rua como estará?

É isso que digo, porque fui deitar cedo? Deitar cedo dá merda. Ter uma vida saudável é uma merda. Boa alimentação, exercícios corretos, nada de álcool, fumo ou drogas, procurar uma vida tranquila... Bem no meu entender estas pessoas já morreram, apenas não se deram conta. Acho que ainda não quero isso, não quero a vida do velho.

Vou ate o quarto abro a janela, a noite tá linda e seu fosse até o Pássaro azul, caminhando? É isso. Coloquei uma bermuda, uma camiseta e um tênis e fui. Sabe quando se esta disposto a tudo? Peguei uns trocados para bebida e o resto é o resto.
À noite esta realmente linda, quente, algumas pessoas circulam na rua, a Pelotas dorme e alguns de nós andamos por aí. Eu dentre os do bem, e os do mal. À noite dinheiro, à noite putas, à noite drogas, a noite ladrões e assassinos... Essa é à noite.

O Pássaro azul aberto. A catedral dos malditos. Que beleza, minha poesia sem final, sorrindo com dentes cariados. A atendente me enxerga e sorri, sorri pra ela também.
-Há essa hora... Rum ou cerveja Fabiano – Ela diz.
-Essa, hora é cerveja... A hora do aquecimento já passou.

Porra a vida é boa.
O bar estava mediamente cheio. Os bons clientes fieis de sempre. Moradores informais do Blue Bird. Me sentei a mesa que fica na rua. São aqueles momentos raros que você realmente não precisa de nada para ser feliz. Estar ali era abismo e céu, glória e desencanto, nada poderia ser melhor.
Nestes horários, vez por outra entra alguém pela porta, atrás de combustível, cerveja, cigarros, vodca essas coisas. Entram pegam suas coisas e saem felizes. Encontrar um bar aberto de madrugada é como ter um PS só pra você.

Fiquei mamando minha gelada e nada precisava acontecer. Resquícios do maldito pesadelo em mim... A cerveja com gosto de sangue. Sorri e lembrei: o maldito filho da puta teve o que mereceu. A atendente coloca um Gonzaguinha em DVD. Porra aquilo coroava o momento... Mas não por muito tempo.
Então um C3 prata para na frente do bar. Estou tranquilo na mesa, entregue a mim mesmo. Vidros escuros, silencioso, a porta se abre e desce uma mulher absolutamente linda. Sozinha... aquela hora... É estranho. 

Talvez não, afinal o gesto nobre pode vir até de lugares onde não esperamos...
Ela passa por mim com aquele vestidinho curto, em um tom floral rosado, salto alto, cabelos negros e passando dos ombros, seios soltos de um tamanho bom, bem maquiada e absolutamente leve. Tenho certeza que muitos dos que estavam lá, sentiram-se como um catarro cuspido a metros de distancia... Ela batia asas entre nós, um anjo voando entres os fudidos existenciais, nós os merdas cagados pelo demônio. 

Olhei bem pra ela... Nos olhos. Ela entrou comprou cigarros e sentou a beira do balcão, olhando Gonzaguinha.

Segue.

Luís Fabiano.



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