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quarta-feira, março 14, 2012



Réus humanos – botecos santificados...

Tenho vivido dias mais tranquilos. Fazendo meu ritual sagrado, rum, cerveja, mulheres, algum tabaco(charutos e blacks), afinal são as boas coisas da vida. Tenho maldito os dias de calor que andam fazendo... mas a noite faço as pazes com tudo... desapego.
Estava em boteco no Lindoia, trocando ideias com uns camaradas de copo.

A conversa fica melhor quando todos estamos meio alcoolizados. Gente bêbada fica melhor. É quando o soro da verdade faz efeito, e por momentos breves como um peido do demônio, conseguimos abandonar as culpas... culpas herdadas... culpas criadas... culpas fudidas... culpas cultivadas dia a dia como um freio “Divino”, social etc... para o humano não faça merda... ainda que esta merda esteja entranhada até os ovos em nossa alma... mas nada de mostrar.

Álcool e assemelhados fazem isso muito bem... não defendo nada, não acuso nada, apenas acho que se deve voar com liberdade nos próprios sentimentos. Culpa não faz parte do jogo, e o anti-jogo.

Então vieram as confissões. Gosto disso... em um bar se diz coisas que jamais um padre ouvirá... o confessionário é a mesa, as testemunhas as garrafas que se esvaziam, as risadas do deboche e dos demônios de plantão.

Paulinho é um bom homem... parecia meio transtornado... trabalhador, honesto... nos conhecemos a um bom tempo. Gosta da esposa e de uma amante... mas hoje algo deu errado...

João-Mosca diz:

-Claro que dei um tapa na cara dela... quando cheguei... vagabunda de rua... ficava fudendo por aí... comigo não fica assim...barato...
-Em mulher não se bate brother – disse eu... detesto esse tipo de violência... prefiro outras...
-É? E quando a puta tá te traindo Fabiano? Tu já foi traído? Tá ligado...
-Calma... calma... João, quem nunca foi traído? Relaxe brother... Isso é como consórcio... quando menos espera tu és contemplado...
-Tá, que tu fez?
-Eu não fiz nada... sentei-me na cama onde estavam pelados... fiquei pensando o que deveria fazer... considerei algumas possibilidades... matar a puta... matar o cara...me matar...depois... porra... percebi que não valia a pena nada disso. A coisa não virou trauma... apenas adotei uma filosofia depois disso, que creio ser eterna: não existe uma única vagabunda neste mundo que valha mais que cinquenta pila...

Risadas reverberam no bar apertado.

-Tá mas que tu fez ali na hora cara?
-Me levantei da cama... olhei pra eles cinicamente... disse para continuarem tranquilos... que iria apenas pegar algumas poucas roupas... que me desculpassem a interrupção... inesperada...
-Eles seguiram?
-Não... cara tava assustado... e minha ex-mulher então, passou a me xingar como uma cadela descontrolada... dizendo todo o tipo de merda, que as mulheres passionais dizem e fazem, gente passional fica estupida e grosseira... não gosto disso. Para mim foi tranquilo. Peguei minhas cuecas sujas e camisetas e sai tranquilo com aquela maluca me xigando...

Alguém pergunta:

-Tá e o amor? Tu não gostavas daquela mulher cara...
-Sim... muito... porem gosto mais de mim. Nunca fiquei cego de emoção... as coisas devem estar mais ou menos equilibradas... se tu és arrastado pelas emoções... como um maldito tsunami de merda... porra, isso não vai ser uma coisa legal... a porra do tsunami destrói tudo a sua volta e você vai junto... ser arrastado por emoções... seja qual for, é fazer o vestibular para se fuder... já me fudi bastante...

Risadas... segui:

-Quando nos envolvemos com alguém... é preciso considerar a poção filho da puta que todos carregamos... é genético e hereditário... considere que essa pessoa um dia vai te fuder... e tudo certo... ai você pode amar intensamente... por que jamais tu irás te fuder... a vacina já fez efeito. Acho isso bacana... é preciso se vacinar contra o pior dos outros...

O papo havia ficado filosófico demais... falar aquilo me fez bem.
Paulinho parecia ter entrado em meditação. Lúcia sua mulher... o havia colocado porta a fora de casa... descobriu a amante... agora era consumido pela culpa. Como se convive com as cagadas que fazemos na vida? Não é fácil, mas você precisa assumir a culpa toda... senti-la até o osso até conseguir dar um basta, e quando se livrar dela... é pra nunca mais.

Mais cerveja veio... o bar havia se tornado uma catedral de ouro, impressa nas fissuras de nossas almas. Outros fizeram tantas outras confissões... será que se libertaram da culpa?
Custa-se muito para tornar as coisas da vida simples. Eu fiz essa opção. É preciso estar consciente e evitar tornar-se um réu de si mesmo.

Você se vigia o tempo todo, como se Deus estivesse 24horas em um posto de conveniência... ali próximo de você. Para depois quando você estiver fudido... você possa pedir a Ele alguma coisa... uma ajudinha... qualquer coisa. Qual é brother, barganha com o Criador? Quem aceita barganha é o outro cara...

Tente não se preocupar com isso. Consinta o que você sente... voe sem algemas nas asas... sinta a essência suave do amor e da dor... sem anestesias no meio do hediondo viver, porra, e quando algo ficar pesado demais brother... jogue carga ao mar.
O problema é que muitas vezes não queremos nos livrar...

Luís Fabiano.

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