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quarta-feira, outubro 19, 2011

Parte - 1


Sexo, drogas e rock in roll

Por vezes sinto meus dentes crescerem, dentes que terminam por ferir a mim mesmo, um autoflagelo sem imposição, como mero resultado natural da orquestração de meus instintos. O tigre aquietado e faminto na escuridão. Não invento nada, fluo, desfruto e engulo as manifestações que a vida me propõe.

Uma célula, mesclando-se a outras, sendo infectada e se curando das moléstias da alma, detritos siderais iluminando as noites, ganhando nomes translúcidos, alimentando sonhos, embalando poesias românticas.

O balanço infernal, que se embala em um abismo desconhecido do si. Por vezes sinto-me assim: sórdido, imprestável e orgulhoso de minhas disposições, para ver minhas próprias feridas sem anestesia, e arrancar-lhe a casca, como uma criança, então começar tudo de novo, novas feridas, e uma nova brincadeira e sabe-se Deus o que mais...

O telefone toca, interrompendo minha filosofia barata e masturba tória. Tenho horas para pensar em minhas merdas, de brincar com minha própria bosta. Não lembro, se quando criança comia meu coco, creio que sim, isso produz bons anticorpos.

Lembro que quando tinha sete ou oito anos eu brincava com a bosta de cavalo que ficava na rua. Jogávamos uns nos outros, entre risadas cagadas... penso hoje como as crianças brincarão com tal coisa através de um game !? Foda-se.

O numero que brilha no fone é de Marcela. A problemática Marcela. Conhecemo-nos na noite, em bares malditos onde presas e predadores entoam hinos de desgraça e solidão ao som de estrelas diluídas:

-Diga Marcelinha...
-Fabiano... to precisando conversar... muito...
-Vai falando... então...
-Não, precisa ser ao vivo... e a cores...vem mostrar pra mim estes dentes...

A voz dela estava alterada. Ela é daquelas doidonas que tomam antidepressivo com álcool, que transforma o organismo em uma sanfona louca e desafinada, a peidar e bufar...

-Ok Marcela... tudo bem...chego em treze minutos...

Não pensava em Marcela. Eu não tinha nada de útil para fazer. E às vezes a vida é assim. Temos um tropismo para nosso próprio umbigo. Raramente algo é feito em favor do outro. Damos-nos ao outro, mas com o fito de conseguir algo. Seja o que for, xoxota, piroca, drogas, dinheiro, carinho, bebidas um abraço em silencio... na porra da vida tudo tem um preço. Em nossa ignorância, o preço é caro demais. Nem asas libertas, nem por do sol romântico, nem cometas riscando de esperança o céu....

Chego a casa de Marcela, que me recebe de sutiã branco e jeans rasgada nos joelhos. Os olhos dela pareciam duas bolas de tênis verdes. Não é uma mulher bonita, no sentido estético formal. Meio coroa, tetas flácidas como velhas passas sugadas, um cabelo muito negro, uma boca rasgada com eterno hálito alcoólico:

-Então negão... vieste...finalmente ao meu humilde lar...és uma raridade...

Dentro da casa o cheiro de sujeira, incenso barato e algo azedo que desconhecia.

-É Marcela, mas já que você começou a jogar desde cedo né...

Uma garrafa de whisky, abaixo da metade sobre a mesa, a televisão ligada no silencioso e Pink Floyd tocando Animals de fundo. Ual, aquilo era um hino de amargura e curtição. Sentamos na sala, servi um pouco daquele whisky vinte e quatro anos.

Velhas amizades com putas deixam tudo mais a vontade. O whisky desceu redondo, se ela não tivesse nada e útil a dizer, ao menos eu havia visto uma velha de sutiã, e tomando uma boa bebida. Preço tava pago.

-Eu to muito triste hoje Fabiano...
-Por quê?
-Tava lembrando de umas coisas aí... acho que tais coisas marcaram minha vida eternamente...
-É Marcela, temos dúzias de coisas que marcam a vida, lembra o Zé Ramalho... vida de gado, tu sabes como é, “povo marcado êee, povo feliz..
-É verdade, mas eu não to feliz...
-Puta que pariu, qual é Marcela, abrir velhas feridas, arrancar a casca cicatrizada de um passado é se auto-foder com uma piroca feita de arame farpado...

Ela não rí. Tenho piadas ótimas, mas as vezes nada acontece. Detesto drogadas mal humoradas. Gosto de bêbadas putas, doidonas sem freio e felizes, gosto quando estão dispostas a um strip-tease... mas naquela noite, minha noite estava ferrada.

-Tava lembrando de um estupro que sofri...
-Sei Marcela... mas porque ? Foi recente?
-Não, faz uns dez anos ou mais... eu tinha 46 ou 48 anos...
-E porque se lembra disso agora?
-Nunca contei pra ninguém. Senti vergonha, humilhada, mas uma mulher sozinha você sabe, ninguém iria dar bola mesmo, ainda mais no local que eu estava... então me fodi duas vezes...

Eu olho o relógio. Aquele cheiro azedo, me incomodava um pouco mais, a geladeira talvez algo estivesse podre lá, o era o ralo? Ou Marcela?

Levanto e sirvo mais uma dose forte daquele whisky. Volto para o sofá e Marcela vomita lentamente, um vomito cozido e cremoso de lembranças amargas, parecia usufruir de sua dor... masoquista, as vezes respeito isso:

-Eu tinha saído de uma festa sozinha, as três da manha, uma festa particular, mas ninguém dava atenção a ninguém, sabes como é, aquelas festas de tudo liberado... entende né tudo...
-Sei.
-É, e nas imediações do porto tinha um terreno baldio e escuro. Passei ali na frente mesmo sabendo que algo podia acontecer... e aconteceu. Do nada saíram dois caras, pareciam alucinados os putos. Não me lembro da cara deles, um branco e outro negro... apenas que me pararam e com mãos muito fortes, me empurram para o canto escuro do terreno, segurando meu pescoço quase asfixiando... dirigiram minha mão para o pau deles... aquilo não era um pau... era uma trolha gigante...um canhão. Senti que estava fudida mesmo...

Não preciso dizer que a partir daí comecei a achar a historia digamos curiosa... talvez eu tivesse que usar o banheiro dela depois...

-Fiquei paralisada, fiz o que me pediam. Então os dois tiraram para fora a piroca, e eram realmente muito grandes, se aquilo entrasse em mim, iria me rasgar total, eu sangraria ate a morte, eu tava com medo de morrer... medo da dor...medo que perfurassem meu útero... então fizeram eu bater uma punheta interminável para eles, um deles empurrava a minha cabeça para colocar na boca, mas não entrava... eu me engasgava com a piroca...

Neste instante eu já estava viajando na cena... eu gozaria em seu banheiro, deixaria minha porra ali no chão, talvez sobre alguma calcinha suja dela... era isso que pensava...

-Então, eles meteram a mão por debaixo do meu vestido, tinham mãos geladas, e o cheiro deles...álcool...maconha...e suor forte... meteram dois dedos na minha xoxota, então lembrei que se eu não relaxasse as coisas poderiam pior...( não sei quem foi que disse essa merda, de relaxar no estupro... mas era verdade...) eu tava seca, apavorada, eu queria fugir dali...queria matar esses caras...queria arrancar-lhes os culhões...

Eu sentado no sofá, estava como uma ereção, confesso que Marcela naquele instante começava a tornar-se apetitosa. Os malditos dentes crescendo, meu pau crescendo, minha alma inflamando, o corpo maldito corpo, acordando e mesmo que tudo seja pior, as células não sabem disso, seguem a natureza instintiva, as putas das células repetem isso a milhões de anos... determinando nossa vitória ou desterro.

-Então de-repente um deles goza... um monstro, goza como um cavalo, a porra entra no meu nariz, na minha garganta, nos ouvidos, o cara devia ter litros de porra...o gosto acre de esperma parecia estar dentro de mim...tudo cheirava a porra...e ele não parava de ejacular, parecia um chafariz do inferno, urrava, e gozava mais...




Luís Fabiano

Segue...

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