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quinta-feira, setembro 01, 2011



Excreções do Silencio

Quando conheci Inês, já era um brinquedo quebrado, jogado ao canto do esquecimento, abandonada a si mesma. As amarguras a levaram a insanidade, a fuga, o desespero de aplacar toda a merda de sua vida. Nos raros instantes de lucidez, queria saber por que tudo tinha acontecido assim?

Creio que é assim mesmo, temos que fazer o possível para não guardar amarguras e dores em nós, porque como lixo atômico, um dia essa merda explode dentro, e viramos um rebotalho de sangue e merda para todos os lados. A dor buscando a sacralidade, imolando-nos lentamente para que nossas asas nasçam.

Quando mais jovem Inês era de uma arrogância suprema. Tinha bons motivos pra isso. Tinha lindos olhos de mel, boas e grandes tetas, um rabo de dar inveja a Vênus de Milo. Deformada e perfeita, a canção errante das belezas que não seguem uma linha incorruptível. A beleza necessita de contrapontos para ser beleza. Seu contraponto denso era a alma.

Lembro que todos os homens a queriam, não queriam ama-la, queriam consumi-la, porque a beleza é assim. Queremos, mas tão logo a tenhamos, somos tomados pelo enfado natural, pois tais coisas pueris por elas mesmas são fúteis. E certezas são as ancoras do tédio, o enfado o espaço preenchido.

Eu mesmo bati dezenas de punhetas para Inês. Ela me olhava, como quem observa um catarro de cachorro acampado no chão, grosso e esverdeado iluminado pelo sol. Naturalmente não me preocupava com isso, nunca me preocupei com que pensam de mim, pensar é democrático, em meus sonhos havia paz e gozo.

Isso foi assim até que Inês se apaixonou. Todos um dia se apaixonam, e por sua vez mudam sem querer mudar. Marcelinho roubara o coração de Inês. Estranhamente ela escolheu o cara que mais a tratava mal. O amor amaldiçoado e batizado pelas farpas do destino. O que sucedeu depois disso, eram favas contadas.

No inicio o paraíso eterno de porra nenhuma, depois as brigas sucessivas, ficando mais e mais violentas. Curiosamente ela casou com ele assim mesmo, em meio a brigas, drogas, bebedeiras e outras coisas. Marcelinho revelava-se dia após dia ser maluco. Passou a morar com Inês. De minha casa podia-se ouvir os gritos, tapas e coisas se quebrando. Como qualquer situação que acontece, no inicio eu achava estranho, mas depois tudo acostuma, os gritos se tornaram comuns.

Marcelinho era barra pesada. Muito brutal mesmo em instantes de amor. Trepava com ela dia após dia, com uma insaciabilidade assustadora de puro sangue. Berrava monstruosamente orgasmos como um bicho, ela gemia de dor e algum prazer. Depois, ele sai pra frente de casa com um copo de cachaça na mão, cigarro na outra, o super macho como a querer colher os louros de seu trabalho. Era uma figura.

Mas tudo que se podia observar, era que Inês já não era mais a mesma. Cheia de hematomas, com o semblante desfigurado, não se queixava de nada, talvez gostasse, como saber? Conheço algumas que gostam, de bons tapas na bunda e faço com gosto.

Um dia tudo chegou ao limite. Marcelinho meio bêbado, meio drogado de maconha foi pra casa e levou seu amigo de farras. Ele e Badico, já chegaram muito agitados, nervosos mesmo, e então Inês explodiu de raiva, mas não foi num bom momento.

A ideia de Marcelinho era fazer uma festa a três. E mesmo com a negativa de Inês, a festa aconteceu. Amarrou seus braços, e eles fizeram a comemoração começar. Comemoravam a tragédia da vida. Badico era um bandido, tinha maldade sobrando, além do mais a mulher não era dele mesmo, então foda-se. Inês virou a Barbie de deles. Inspirados pelo demônio, não demorou para que ambos a penetrassem no cú e na xoxota, ao mesmo tempo, Inês estava seca e com medo, Badico tinha um membro muito grande meteu assim mesmo, agora sangra pelo cu, o cheiro preenche o espaço, incenso de matadouro, e merda e sangue.

Aquilo inflama os desejos e eles não param nunca mais. Estão loucos, descontrolados, apaixonados e querem ver a destruição de Inês, sua alegria bizarra entoa a cantiga dos infernos, ao som de dor e lágrimas de Inês. Não luta mais. Não entende o que esta acontecendo, porque Marcelinho esta fazendo isso? Para... por favor... para por favor...
Mas nada.

Estão surdos e a voz de Inês vai se apagando, uma vela sem forças contra o vento hostil, fica muda recebendo as estocadas e alguns tapas e muita porra. Horas depois que terminam, estão menos loucos, ficam debochando dela. Ela jogada no sofá sujo do próprio sangue e merda, o cú rasgado doía muito, aquele cheiro de porra fresca no ar. Nada ou ninguém interviram.

Eles foram embora, satisfeitos entre risadas. Ninguém entedia nada. Como Marcelinho o esposo fez algo assim? Amor nunca foi exatamente o que existia, essa ilusão brutal de querer o outro cegamente, sem saber exatamente o que realmente se quer. Por vezes queremos apenas o corpo do outro, mas não sua alma, mas como separar o pacote? A arrogância de Inês saiu cara.

Depois deste dia, não foi mais a mesma. Não falava mais, não se arrumava, queria apenas morrer. Tinha pesadelos e sentia Badico lhe rasgando o cú, acordava sobressaltada.

E ali estava eu. Ouvindo isso, não sei exatamente o que senti. Achei uma merda que as pessoas tenham que viver tais situações. Uma revolta profunda disso. Não existe possibilidade de apagar nenhum passado. Mas era preciso seguir a frente, no silencio que fratura as notas mais altas, agarrar-se as teias frágeis da esperança porque assim, mesmo que se torne a cair aceitamos e quando aceitamos nos tornamos mais fortes e não lutamos com a dor, nos tornamos mais que ela.



Luís Fabiano.


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