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segunda-feira, julho 25, 2011



Vapores de um Vômito perfumado

Tem dias que a vida é extremamente acelerada, abro os olhos e tenho a impressão de estar a cento e cinquenta e um quilômetros por hora, ou talvez mergulhado em algum pesadelo vivo, repleto de ânsias, medos e dores quase palpáveis. Isso não é uma reclamação, uma constatação, o dialogo maldito comigo mesmo que faço todo dia. Tento resgatar-me da morte em vida, aos poucos para que tudo fique bem, quando dá.

O dia amanhecia depois de uma noite pesada, pesada em todos os sentidos, por momentos não tenho desejo de pisar no freio, deixo-me acelerar a toda, então seja o que o destino quiser.

Boa maneira de começar o dia. Olho para lado, tudo é desconhecido, a cama, o teto, aquela luz que passava pelas cortinas fechadas, o copo abandonado na solidão derradeira do ultimo gole, derramado e ela... oh Deus...quem seria ela?

Tudo que vi em primeiro momento, foi aquela barriga imensa, gelatinosa, os cabelos pretos compridos, depois um som muito estranho... como uma respiração afogada, um ralo entupido, uma espécie de catarro preso na garganta, fazendo aquele barulho denso quando respiramos... isso fez eu voltar a mim no susto, como uma alma que deixa o corpo momentaneamente, e sente saudade dele e volta desesperada tentando abrir os olhos, a vida, a vida... por favor vida.

Ajeitei-me na cama, ambos estávamos nus, então trepamos, Jesus por quê? Não sei. Então fui olhar a cara dela, para começar a clarear a memoria. Quando viro seu rosto pra mim, para dar o beijo matinal, sou assim, gosto de beijos matinais, beijos vaginais pela manha, com todos os cheiros fortes de uma noite, suor,mijo, gosto do bafo matinal que mescla sono, ressaca e preguiça, gosto de meter assim, meio seco meio molhado, e deixar os corpos despertarem suavemente, como ondas do mar... uma coisa eu tenho certeza, depois de alguma experiência... o dia começa excelente quando se trepa pela manha, tudo fica mais tranquilo e sereno... faça isso, trepe pela manha, bata sua punhetinha ,sua siririquinha doce...faça algo.

Quando virei sei rosto pra mim, maldita surpresa, a vagabunda estava com a cara mergulhada numa possa do próprio vomito, de lado... não dei o beijo matinal. Porra ainda bem que ela estava de lado, do contrário se afogaria no vomito. A cena não é das mais bonitas, então me lembrei de tudo, ela não era tão desconhecida, ou quer dizer era, mas a primeira vez havíamos trepado. Estas coisas são como uma espécie de nova droga pra mim. Cada um com seus vícios.

Havíamos bebido um pouco, ela um pouco mais da conta, havia usado algum aditivo a mais, drogas para ver se a vida se tornava algo diferente, creio esta ser a ânsia de todas as pessoas. Fugir desesperadamente da modorra existencial, essa merda que converte um dia de sol, em algo tão comum como um peido hediondo. No fundo sabemos, é escavação a procura da alma, a que todos nos propomos, raspamos o casco da existência com as próprias unhas para achar à alma, o sentindo, o rumo, a certeza inolvidável. Neste aspecto não importa o que façamos, tudo se converte em uma espécie de sacrifício, muitas vezes sem sentido... o sentido é isso, a lagrima de cada dia, o sorriso, o primeiro e o ultimo beijo. As vezes achamos a alma por ai...

Aquela cena era depressiva, Fátima respirava mal, mas estava bem. Então em ergui e afastei a cabeça dela que vomito meio seco e meio molhado, o cheiro indescritivelmente asqueroso, não era o que havia pensado ao amanhecer, mas eu nunca penso nada.

Fui até o banheiro e peguei a toalha de banho dela, ergui sua cabeça adormecida e sequei, limpei ela dormia, creio que nem uma explosão nuclear a acordaria hoje.

Minha ideia era limpa-la e ir embora pra minha vida, mas neste interim, eu segurava sua cabeça carinhosamente, então ela balbucia como criança: pai... pai...não vai embora pai...pai eu te amo pai...que saudade pai...pai...pai...

Com uma voz bem baixinha, um sonho bom, pois seu rosto estava sereno, e mesmo com quarenta e poucos anos, ali parecia uma criança embalada pela saudade, pelas lembranças. Dentro de mim algo acontece, memorias evocativas e lúdicas, pois não tem como a vida nada significar, as ondas da existência reverberam, na intimidade cada um a seu jeito, a sua forma e carinhosamente.
Então disse: fica em paz minha filha... tá tudo bem, eu não vou... ainda não vou.

Fiquei ali com cabeça dela no meu colo, enquanto a luz do dia entrava e o sol banhava seu rosto suavemente... acho que é a vida é assim...é bom ter um colo onde reclinar tudo.


Luís Fabiano

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