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sexta-feira, julho 01, 2011



Agulhas de algodão

Ela me olha nos olhos
Pergunta-me: isso é tudo?
Tudo nela me jogava escada a baixo
Olhos
Silencio
As mãos inquietas
O copo vazio sobre a mesa
Outra vez de outras vezes, eu me sentia relaxado
Como quem amputa um braço ou perna
A vida é assim, vamos perdendo os pedaços enquanto ela escorre...
Dentro de nós
Esperava que eu entrasse em desespero, agonia ou choro convulsivo?
Acho até que tentei um pouco
Como script informal de um desenlace
Mas não é meu perfil
Então se revolta... porque eu não me alterava?
Porque eu não ficava comovido?
Agora a cena é outra
Duvidas feita de orgulho ferido
Incongruência da verdade
Queria que eu fantasiasse para ficar em paz
Mentira que santifica
A verdade lhe parecia limpa demais
De uma assepsia cirúrgica
Mas o amputado não era eu?
Começávamos a descer uma escada de merda
De contradições ,dor em direção ao pior...
Talvez ela quisesse amputar meu saco
Meu insignificante pau?
Algo fez a curva em mim
Gostei de vê-la atônita
Em sua saia curta
Meias de náilon negras
Porra, as vezes a dor pode ser tão bonita né?
Por um instante achei que tudo não passava de cena
Que talvez tirasse a roupa na minha frente
Dançaria a dança da morte
Enquanto era enxotado
Então começa a chorar
Destruindo minhas fantasias como
Uma agulha furando balões no ar
Senti-me um pouco mais filho da puta
Dei passos em direção a porta estreita
Suas lágrimas caiam como navalhas flutuantes
Sulcando seu rosto
Olhei uma vez mais para trás
As meias negras
O cabelo
As lágrimas
Tudo tão bonito e doce
Como um fracasso carinhoso
A lambida de um anjo
Solidão celeste

Luís Fabiano.

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