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quinta-feira, março 31, 2011



Pecadores alados, Santos de barro


Detesto pessoas convertidas. A não ser que elas se convertam para pior. Tive uma meia dúzia de amigos mulheres e homens que converteram-se, hoje não são mais meus amigos, me consideram o demônio. Gostei da comparação, mas creio que o diabo não vá gostar disso.

Entendo que a vida seja uma constante mutação, gosto disso e dentro de minha natureza algo desgovernada, tento refletir naturalmente sobre isso, como um rio suave que corre sem impedimentos, não crio impedimentos, deixo a merda correr como tem que correr.

Assim como não me interessa o que as pessoas fazem de suas vidas. A espaço para todos, a paz para todos e alguma beleza também se olharmos bem.

Encontrei Ricardo dia destes, senti saudade do velho Ricardo. O velho constumava fumar maconha, beber e trepar com o que lhe aparecesse pela frente, sorria feliz com dentes cariados e possuía uma leveza natural de sua vida louca. Era divertido. Creio que o humor é capaz de nos salvar, ele ria a plenos pulmões das merdas que fazia, ria da gonorreia que pegou e das feridas no seu cacete.

Tivemos bons momentos em botecos ordinários de Pelotas. Agora não, o encontrei e vestia-se com uma roupa que parecia a do próprio funeral. Cumprimentou-me com seriedade demasiada, não me abraçou ou sequer olhou nos meus olhos o filho da puta!

Eu leio as pessoas por dentro, é de minha natureza isso. Ele estendeu uma mão mole quase diluída e apertamos as mãos, estava armado com uma bíblia grande e grossos óculos, dentes limpos, e uma casca frágil ao toque:

-E ai Ricardo, tudo bom cara? Quanto tempo...
-Irmão Fabiano, que prazer em vê-lo, tudo esta bem com você?
-Que porra é essa Ricardo? Irmão o caralho... fala comigo direito, me abraça aqui...
-Estou falando irmão... (esquivou-se do abraço)

Meu estomago ficou embrulhado. Não sei qual o motivo daquela conversão, ele devia ter feito uma merda muito grande. Mas de qualquer forma agora, nossos mundos não se encontravam mais, ele me olhava como a grande parte das pessoas me olha, como se eu fosse um pedaço de merda, um vomito na esquina. Tinha aquele ar da superioridade Divina, e decididamente eu não luto contra isso, alias não luto contra nada. Seguir aquela conversa não seria bom, uma vez que ele queria ir embora, ficar longe do pecador inveterado, o viciado da porra, o merda cagado pelo diabo, eu estava ficando com raiva:

-Tá certo Ricardo, nem sei se te chama de Ricardo, vai em paz cara.

Não gostei de tal encontro, sempre me levam a questionar minha vida, talvez seja a fé inabalável que serpenteia nas entranhas de um coração devasso, o cheiro limpo demais que os não pecadores tem, uma limpeza fétida com incrementos de uma pureza emulada. Não sei.

É preciso mudar às vezes, transformar-se, mas isso se deu em minha vida com naturalidade, nunca tive acessos de conversão instantânea, ou me joguei ao chão de joelhos esperando que Ele viesse me erguer. O ser faz sua vida por si mesmo, a fé um catalizador que reflete a crença em si mesmo, um si mesmo melhor, pior mas em si mesmo.

Na índia vacas são sagradas e ratos também, mesclam-se a Shiva, Vihsnu e Brahman no panteão, pecadores ou pecados não existem, porque nossa natureza é primaria e isso nos leva sentir sede e fome de coisas primaria. Disse apenas como um exemplo, que uma mente se limita naquilo que ela consegue interpretar, então ratos podem te salvar, assim como bucetas, lagrimas ou uma doença, onde esta tua fé cara? O copo de rum, tem-me trazido bons benefícios.

Tentei deixa isso pra trás, mas o que soa em minhas entranhas, ecos de minhas certezas, bailando com minhas duvidas, a procura de vislumbrar belezas, aqui e ali. Ainda bem que estas aí.

Ontem encontrei Monica. Uma das mais putas que já conheci em minha vida. Uma puta de alma quente, era chegar perto dela e sentia-se o bafo do diabo em sua vagina cabeluda. Ela tinha prazer em fazer o que fazia. A roupa que estava usando agora, a entregou imediatamente. Convertida. Tentei cumprimenta-la, mas ela olhou para o outro lado, me ignorando totalmente.

Oh Deus, qual é? Vai ser isso com a porra da humanidade inteira agora? Era o que me faltava, putas virando santas, sendo canonizadas, filhos da puta se salvando virando designatários divinos, minhas vagabundas amadas rezando de joelhos a espera de Jesus. Trocaram de homem. Fui corneado por Jesus.

Aquilo foi um pouco demais pra mim. Em um conhecido bar do calçadão, entrei fugitivo, e me juntei a bebuns baratos, ao cheiro do ranço local, gente de verdade, originais que não se vendem facilmente assim a um deus feito de papel. Bebi uma cerveja rapidamente, e foi como um antiácido, senti-me tranquilo e poderia volta ao mundo.

Talvez eu esteja completamente errado, não sei, as pessoas buscam o que suas almas desejam, e creio como já disse, haver espaço para todos, apenas não venham com ladainhas, porque eu prefiro cagar minha própria merda e come-la novamente feliz, minha alma rejubila-se, e as vezes alguém me abraça afetuosamente, ainda que eu esteja cagado. Isso é bem mais que amor.


Luís Fabiano.

2 comentários:

Anônimo disse...

Eu sei quem te abraça com amor, rsrsrs...tas podendo!!!!

Dóris disse...

Irmão Fabiano...rs rs, conheço pessoas que sempre se referem a crentes como "quentes", muy calientes. De acordo com papai, quem troca de religião, está renegando a família que lhe deu um nome.
Ui...eka, meleca, você está cagado é, vo te abraçar não, rs rs rs.

Beijo cheio de...PAZ né.