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domingo, novembro 21, 2010


Ternas cicatrizes.


Ela estava gravida de sete meses quando saímos. O filho era de outro. Despretensiosamente, queríamos apenas no ver e rir. Resgatar nostalgias de um passado em frangalhos. Onde tudo deu errado de inicio a fim.
Porem, as dores que todos carregamos, não são tão fáceis de desfazer, sepultar. Nos fizemos mal demais um ao outro, agora estávamos com uma espécie de ressaca moral, com sede e fome de carinhos. Quando se esta com fome e sede, precisamos nos alimentar, e as vezes não importa onde. Esse é o risco sempre.
Fui busca-la em casa. A barriga proeminente, em vestido negro pelos joelhos, saltos altos, a deixaram com uma graça diferente. Inês dizia, sentir-se horrível. Mas não achei assim, o seu semblante dizia tudo a mim. Seus olhos estavam serenos, muito diferentes de quando estávamos vivendo juntos. Onde tudo eram gritos, insatisfações, caos e alguma violência. Essa era nossa canção de amor.
Nesta época, eu estava vivendo um dos momentos menos instintivos de minha vida. Sabendo que sou um pendulo erguido entre minhas sombras e meus dias. Ela tentava fazer com que sua vida, se convertesse em um porto seguro. Mas onde ? Aquele filho bastardo, acidente de um sexo descontrolado, agitava-se dentro dela. Eu sorri e disse a ela:
-Bem, eu acho que este teu filho ai dentro, é que esta te gestando, e não tu a ele. Ele vai te salvar de ti mesma...
Ela sorri concordando. Nos dirigimos para Avenida Bento. Palco de nossas maiores confusões, mas hoje não. Estacionei o carro, e por alguns minutos ficamos em silencio. Um silencio que uivava em nossas entranhas. Pergunto:
-E o pai, cadê ?Quem é? Existe?
-Um mecânico que conheci. Éramos companheiros de religião e...
-Macumbeiro ?
-É. Ele foi se chegando, eu estava precisando de alguem, sentia-me sozinha demais, e isso não gosto de sentir, solidão. Então um dia saímos, e depois saímos de novo. E pra variar, fomos parar lá em casa, meio bêbados e então...
-Sei, sei...
-Depois que engravidei dele, ele tornou-se indiferente. Mas não pedi nada a ele, e nem pedirei, eu resolvo sozinha como sempre...
-Sei como é, já passei por isso algumas vezes. Mas por algum motivo, meus filhos não vingaram, acho que não tenho uma boa semente.
-Eu queria que este filho fosse teu, sabes disso! Alias tu sabes, eu tentei de dar um, mas não aconteceu nunca. Nem mesmo um aborto aconteceu ,nada.
-Inês, talvez minha porra não seja boa. Eu nunca me preocupei com isso. Na verdade, uma vez fiz um exame pra ver isso. Bati punheta em um laboratório. Me deram umas revistas pornográficas. Revistas horriveis. Aquelas mulheres não excitavam, eram irreais e limpinhas demais e sem pelos...mas gozei mesmo assim em pequeno pote.
-Goza em mim?
-Claro.
Nos beijamos suavemente. Diferente de tudo que tivemos. A alguns meses atrás parecíamos animais ferozes demais. Nos batíamos muito, tapas na cara, cuspíamos um no outro enquanto gozávamos gostoso, nos mordíamos a ponto de sangrar, trepavamos ate chegar a exaustão. Tudo era brutal. Éramos seguidores de algo sadomaso informal. O sexo sempre acontecia depois de uma briga, então não havia apenas o desejo de satisfazer, mas era uma vingança nas entrelinhas. Violência consentida de ambas as partes.
Quando chegamos no motel, apenas deitamos na cama. Acaricie sua barriga enorme. E na verdade não pensei em transar com ela. Eu estava curtindo sua ternura. Algo diferente de tudo. Então nos beijamos devagar. Um beijo que ela nunca me deu. Inês não parecia Inês. A acariciei com delicadeza. E uma energia no ar, no momento senti que havia uma harmonia tão grande, e por um breve instante éramos melhores que somos ou do que seremos. Achamos uma posição para que ela ficasse confortável e penetrei lentamente. Mas ambos estávamos penetrados um na alma do outro. Lembro, naquele dia ela me deu, o que jamais havia me dado quando estávamos juntos.
Não entendo nada de perdão, e não sei ambos estávamos tentando isso. Na maneira e na forma que nossa natureza nos guia. Não pode haver milagre, corpos se fundem a emoções, e a expressão de um é a extensão do outro.
E mesmo não mais ficando juntos, entendi que chegamos a um ponto deveríamos ter chego. Pra trás, ficou tudo. Nossas lágrimas, nossas cicatrizes.
Depois a deixei em casa novamente. Ela continuava linda. Não quero saber de destino humano. Ela fecha a porta do carro, aquilo parecia um ponto final, e como raramente acontece em minha vida, um ponto final onde as coisas terminaram bem. Sorri pra mim mesmo, porra, afinal nem tudo precisa ser trágico.



Luís Fabiano.

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