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segunda-feira, novembro 01, 2010


Ponte pra lugar algum


Houve um tempo que fui feliz demais. Creio sinceramente que o erro reside justamente no que é demais. O ser humano não é feito para os excessos. Nem de ódio, amor ou felicidade. Deve permanecer ali, justamente onde o equilibrista de arame fica. Facíl ? Porra nenhuma. Todos tentam e se fodem.
Em tais momentos de felicidade suprema, não me reconhecia. Como se não fosse feito para isso. Então a felicidade acabava tornando-se uma espécie de veneno a entrar-me nas veias, um fardo insuportável.
Não tardava muito e a jogava no primeiro lixo que encontrasse por aí. Então sentia-me aliviado. Agarrava-me aquilo que mais prezo em minha vida: eu mesmo. Uma ilha de solidão, sem grandes felicidades ou muitas tristezas, mas de certa forma em paz.
Naturalmente ninguém entendia ou entende minhas atitudes. E não foram poucas vezes que me perguntaram, porque eu fazia isso? As respostas nunca foram as mesmas. Dependia de muitas coisas. Creio que a principal era a que até hoje cultivo. Em termos de uma relação, não acho que exista alguém que valha a pena, para que eu despeje uma fé inabalável. Aquelas sublimes emoções tolas que todos alimentam. Ser feliz pra sempre, confiança plena, sacrifício total. Sacrifício mesmo, que me lembre nunca fiz por ninguém. E fui coerente e lógico. Quem valeria um sacrifício? Talvez pensando assim soe mal. Mas quem teria me tocando ao suficiente para que chegasse a tanto?
Forçando a memória, certa vez fiz algo legal por uma criança, que não considerei sacrifício algum. Talvez a coisa mais importante que fiz em minha vida. Ela voltou a sorrir como sempre, e isso foi bom demais.
Mas pensando em mulheres. Se minha conta bancária fosse medida pelo numero de mulheres que tive, eu teria uma bela grana. Façamos algumas contas por baixo. De relações mais ou menos sérias que tive, duraram todas menos de um ano, foram sete. Antes três casamentos informais, que duraram no máximo três anos o mais longo. Uma eternidade. E aproximadamente duzentas mulheres que tive alguma coisa de qualquer forma, sexo barato, prostitutas, madalenas arrependidas e todo o resto. Bem, é uma bela conta .
Não estou vangloriando-me. Esse é o autentico peso da desgraça. E para minha felicidade a grande maioria me odeia. De tal forma que minhas esperanças são poucas. Não quero felicidade com nenhuma delas. Principalmente porque eu teria que ser o que não sou. Bom moço. Um Tigre domesticado. Uma coisa é certa, nunca se sabe se um tigre está domesticado. Então felicidade assim não me interessa mais. Felicidade de um tigre é a selva.
Minha intocável solidão me cativa. Os personagens que habitam meus pensamentos são mais ricos que pessoas reais. Mais interessantes que conhecer alguém de verdade, é olhar para um aquário. Ainda que venham com uma aparência de nobreza. Ou então emulem alguma inteligência, ou simplesmente me deem uma facada (como já ocorreu) ainda assim não surpreendem. Vejo nelas os motivos que as movem. E o que torna uma pessoa digna ou não, não será a ação oca em sí, mas o que a move. Seja a grandeza das estrelas ou abismos infernais.
Realmente nada disso me incomoda. Eventualmente sentir-me um vomito de cachorro na calçada é bom. Ficar a espera de um mal tempo, uma tempestade que me varra para junto ao esgoto na companhia de coisas que admiro, ainda que sejam ratos.
Mas se tudo isso resultar em um estado grandioso, como o que hora me alimenta, puta que pariu meus camaradas, valeu a pena. Vivemos para isso e por isso. Para que algum momento algo brilhe por um breve instante, e nos catapulte a coisa mais bela da vida. Então é lindo, então se pode morrer com tranquilidade. Agora mesmo.
Talvez você encontre isso por ai, eu espero que sim. Não existe fórmula pronta, você precisa descobri-la dia após dias. Desenterre-las das entranhas. Isso sim. Então você percebe que as coisas a tua volta estão justamente procurando este objetivo.
Fazer que você vire-se do avesso. Perceber o que você é, sem lentes daquilo que deveria ou queria ser.
Tais reflexões vieram a minha mente, enquanto a ponte velha de Rio Grande, majestosa pelo brilho emprestado do entardecer, enchia tudo se silencios. Não sei se estou errado, certezas são probabilidades, mas sei que sentia-me bem, ainda que tivesse completamente errado, a respeito das pessoas, da felicidade, e de mim próprio. Encher-me de silencio ao entardecer apagava-me lentamente, e é muito bom. Minha poesia feita de rabiscos, minha vida feita de pedaços ganha forma.

Luís Fabiano.
A paz é uma espécie de ponte sem o outro lado...

Um comentário:

Anônimo disse...

Não sei se existe um caminho, meu camarada. Acaso exista, muito provavelmente seja através do fio de uma navalha... Pois é... A navalha que fazes a barba, em cujo brilho vês de relance a cara de Mefistófoles... Fico feliz que estejas na trilha... Trilha para pés corajosos, para almas peregrinas que não têm medo de derrotas. Aliás, as derrotas são recepcionadas como vitórias pelos espíritos imperturbáveis. Não sei também se irás acertar a mosca... Nunca tive a porra de uma bola de cristal. Mas estás bem perto disso... Não fica bobo, não, pois essa coisa de ficar bobo é coisa pra quem não tem culhão. Mas devo dizer que teu texto tá bom pra caralho!

Manoel Soares Magalhães