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segunda-feira, setembro 06, 2010


Você que sabe...

Quando saímos do laboratório, o silencio era uma neblina de chumbo entre nós. O papel impresso entre suas mãos, meio amassado como nos sentíamos. Engrenei o carro e fui andando devagar.
Tudo apontava para uma conversa difícil. Para mim pensava em questões praticas. Embora estivesse envolvido até os ossos, não gostaria de decidir nada. O silencio intragável, o ronco do carro era suave, deslizando na estrada do laranjal. Voltando pra casa.
Então Jordana dispara:
-Para o carro agora.
-OK.
Estaciono o carro. Ela chora silenciosamente. Lágrimas exprimidas de emoções fatigadas. Em tais instantes, temos vontade de não estar onde estamos. Sobretudo quando a merda vem á tona, até a garganta e quer nos afogar. Ela desce do carro acende um cigarro. Está tremula. Não podia deixar de pensar no paradoxo de tal situação.
Normalmente um filho é aguardado, esperado com carinho e todas estas coisas que entendemos como normais. Mas não no nosso caso. Jordana não queria aquele filho de jeito nenhum. Para mim foi uma surpresa também. Mas estava disposto a acatar a decisão dela. Afinal não seria no meu ventre que ele iria crescer e sairia para um mundo em delirio.
Nestes assuntos cabe a mulher decidir em termos práticos. Se ela quisesse ter o filho eu ajudaria, era apenas grana. Se ela não quisesse ter o filho eu ajudaria, pois afinal é apenas grana.
Ela olha-me tensamente:
-Então o que vai ser?
-Bem o que você quer ?
-Eu odeio essa criança dentro de mim.
-Então você já a matou...
-Não quero me preocupar com ninguém. Ainda mais alguém que poderá precisar de mim para o resto da vida. Somos muito azarados Fabiano. Que merda.
-Sim Jordana, é possível que seja para o resto da vida.
Ela sorri secamente.
-Pra ti é fácil né filho da puta!
-Eu avisei, eu sempre aviso, mas você disse que estava tudo bem.
-É eu sei. Isso me torna mais culpada.
-Não, isso faz perceber que ambos somos dois idiotas... e que talvez tenham um terceiro...
-Nem pensar, apenas falei para saber o que pensavas...daqui não sai filho.
O nervosismo deu lugar a raiva. Raiva de mim, raiva daquele ainda viria e quiçá de toda a humanidade. Não tenho dramas de consciência. Nunca soube que é isso. Afinal Jordana não era o amor de minha vida. Era uma mulher interessante, que tinha contato intimo e que naquele dia a porra da camisinha rasgou, uma autentica zebra.
Ela sobe no carro novamente e pede para que a deixe em casa, depois ela falaria comigo.
-Jordana, veja lá o que vai fazer, faça de uma forma correta, gostaria de poder ajudar...
-Cala a boca, és parteiro agora?
-Ok, você é grandinha e vacinada, depois dos vinte e seis se você ainda não sabe o que quer, não serei eu que serei sua babá!
-Isso.
Chegamos em sua casa, ela desce do carro e antes de sair diz:
-Não me procura, eu não quero mais te ver.
-Tudo bem.
Realmente ela desapareceu. Não sei se esta viva ou morta ou o que fez. As vezes queremos que as plantas cresçam sem raízes. Que floresçam sem agua, sem sol, sem que ninguém as esteja olhando.

Luís Fabiano.
A paz é uma ave que nunca pousa.

Um comentário:

Dóris disse...

Deliberar sobre a vida de um ser que não pode se defender é apenas grana...Usar um bom preservativo para evitar as famosas DST e a Hepatite, é apenas grana...Para não engravidar ninguém uma boa vasectomia resolve, afinal é apenas grana.
A vida não precisa florescer, nada deve florescer...tudo é apenas grana.


A PAZ está pousada dentro de nós, muitos não a percebem.

Abraço carinhoso.