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domingo, setembro 05, 2010


Dias.

Tem dias que o cano de uma arma, nos sorri com mais simpatia. Dias que o cinza se faz negro. Que a neblina é densa e fétida. Olhamos embasbacados as pessoas, no afã de achar um culpado. Apenas um. Deste vulcão prestes a explodir em nossas entranhas.
Qualquer um serve. Todo o idiota é bem vindo. Os de bom coração também. Os puros de qualquer coisa. Os nascidos e os que nunca irão nascer. Foi exatamente assim que acordei hoje pela manhã.
Normalmente não somatizo nada. Mas dias de chuva que não cessam, talvez estejam transtornando meu parco humor. Não preciso dizer, que encontrando um único filho da puta. Iria vomitar minha bílis negra nele. A paciência estava exígua. Não suportava nem a mim.
Era preciso sair a rua para pagar contas. Filas imensas estavam sem graça. Todas as bundas lindas que amo, pareciam disformes. Nem a xoxota mais encantada faria meu coração bater diferente.
Por um breve instante, entendi a cabeça dos psicopatas. Quando agridem, matam, aparentemente de forma gratuita. Tudo soava repugnante. Sem tom. Até mesmo você.
Uma senhora toca meu braço, eu estava na fila da lotérica:
-O senhor sabe me dizer se eles aceitam este boleto aqui?
-Eles aceitam tudo senhora...tudo, se tem dinheiro, aceitam, até dinheiro de prostitutas idosas, estelionatários ...
Espantosamente ela não percebeu meu mau humor e riu. A minha vontade é cuspir, mas me contive. Eu me contenho das maiores besteiras que tenho vontade de fazer. Quem fosse me ver por dentro, entenderia com obviedade minha delinquência educada. Creio que todos são. Mas se comportam ás vezes bem. Vez por outra alguém faz merda pesada. Mata, se mata, estupra, agride. São maquinas de fazer violência sem arte. Isso não me agrada. Tudo deve ter arte.
Para ser o pior, é preciso ter talento. Não gosto de grosserias sangrentas. Creio ser melhor fazer isso tudo por dentro. Na alma. Onde as marcas não aparecem a olho nu. Onde a dor é mais intensa. Os resultados custam muito para serem apagados, quando são. Onde a tragédia é verdadeira.
Houve tempo em que me dediquei a violência silenciosa. As pessoas estão sempre dispostas a revidar na mesma moeda. Isso não me interessava. Revidava em outro tipo de moeda. Entupia estudadamente as pessoas de mimos, carinhos, e depois sessava isso de forma abrupta. Mas apenas quando tivesse certeza que a pessoa estavam acostumadas e gostando disso.
Aí as coisas começavam a ficar interessantes. Somente pessoas com personalidade muito coesa, de certezas inabaláveis permaneciam tranquilas. Infelizmente a consciência joga contra as pessoas. E tudo que isso faz, é ativar nossa natureza mais limitada. Os sentimentos que não são coisas nítidas para nós.
Eu me afastei de tais praticas. As uso apenas como estratégia eventuais. Raramente se faz necessário. Mas dias sombrios, fazem atiçar o pior em mim. Olho para a senhora na fila do caixa. Não creio que vá durar tanto quanto ela. Eu espero que não. Mas se durasse eu gostaria de não encher o saco de ninguém com perguntas tolas. Possivelmente eu ficarei encerrado em casa saboreando minha própria merda homeopaticamente.
Fila infernal. Não posso desistir, é preciso pagar tudo. Ali pagava com minha consciência mergulhada nas trevas de um dia sombrio. Quando finalmente sou atendido e pago. A moça do caixa sorria para mim. É sempre ela que me atende. Pergunto:
-Porque você tá sorrindo?
-Hã ?
-Você me acha engraçado?
-Não...
-Então não tenho graça?
-Como assim?
-Esquece e tira esse sorriso idiota da cara.
Ela se cala, fica apenas me olhando. Aquilo de certa forma me fez bem. Algo aliviou meu coração. O dia continuava uma merda. Mas agora o problema não era mais meu.

Luís Fabiano.
A paz é um sorriso oco.

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