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segunda-feira, setembro 13, 2010


Pesadelo real.

Como a vida irreal, quase tudo que nos cerca é cenário e efeitos especiais. Dores, felicidades, derrotas e algumas vitórias. O que as define é muito simples. Estreito, extrato. Uma emoção que não se eterniza embora pareça eterna. Que fenece com o passar dos tempos.
Como a validade de tudo a nossa volta. Se esgota dia a dia. E se não for pela grandeza e intensidade do momento em si, já o perdemos.
Leio toneladas de coisas, destes autores que amo e respeito. A procura de uma frase. A frase que salva, e faz brilhar por um instante a verdade. Tudo que se precisa, uma gota.
Um único momento de brilho, a faísca. O restante descrito é cenário oco. É nossa idiotice em sondar vazios. Os preencher com nossa abundante ignorância.


O bar começava a ficar enfadonho. As coisas tem seu ritmo natural. Depois de algumas cervejas, dependendo do momento que estivesse vivendo em minha vida. Poderia descontrolar-me, ou caminhar para minha casa lentamente. Tudo era possível.
Olhava para as fisionomias bisonhas dos que estavam comigo. Todos a um passo do céu e do inferno. Drogavam-se, bebiam e queriam trepar. Tudo fácil e instantâneo e sem preliminares. Notava-lhes a inconsciência original. Era tudo que tinham. E eu estava ali também. Mas por um instante os odiava.
Talvez não fossem eles, e sim a mim mesmo. Odiamos os outros por nós mesmos. Das coisas que compartilhava. Mas haviam abismos entre nós. No instante que quisesse, poderia mudar o rumo de minha vida. Sempre achei fácil me desfazer de tudo a minha volta. Como se em verdade nada existisse, ou fosse de verdade. Coisas boas, coisas ruins acabavam no final tendo o mesmo peso.
Como as ideias em minha mente. Dançam soltas, e ás vezes se encontram. Valéria me olha com alegria tosca. Tinha fumado, tinha bebido e cheirado. Na sua magreza anoréxica, sorria como um João bobo. Suas amiguinhas á volta não estavam muito diferente. Ela frequenta tanto aquele bar, que é conhecida por todos. Cliente especial.
Mas neste dia não estava com saco pra ela também. Fazíamos uma espécie de ritual informal. Encontrávamo-nos sem marcar, naquele mesmo bar da Avenida. Conversamos um pouco, bebíamos um pouco, e estávamos prontos para o amor.
Valéria esta longe de ser meu perfil de mulher. Tinha ossos demais. Mas enlouquecia quando ficava de quatro. Gemia como uma cadela no cio. Lembro que uma vez pedi para que ela latisse alto, uivasse enquanto eu a arrombava. Ela fez com vontade. Adoro cadelas que fazem anal.
O grande problema que Valeria nunca estava normal. Seus neurônios evaporavam dia a dia. Eu pensava nisso ás vezes. Mas tudo que queríamos era nos divertir. Foi assim que nos conhecemos e creio que assim que ficaremos até Deus sabe quando. Por vezes estava tão bêbada que adormecia. Eu precisava terminar o serviço sozinho. Abria as pernas e ficava trabalhando ali. Ela dormia, nem percebia que eu estava ali dentro. Gozava e tentava tirar um sono.
No dia seguinte ela perguntava se tinha gozando nela, e estava bom?
-Sim claro. Você é boa até dormindo. Tua xoxota tem consciência própria.
Ela sorria e pedia desculpas. Eu desculpava. Creio que ninguém poderia entender. Ás vezes me sentia um vampiro. Ela achava que era bom para os dois. Mas no fundo eu sabia que ela não tinha escolha. Que seus dois filhos a ignoravam. Que sua família, a achava uma pedra no sapato. Que seu ex-marido não queria ver aquele rosto vivo. Eu estava ali. Saboreando o resto dos tutanos. Dando e recebendo um pouco de amor. No fundo é que todos querem.
Foda-se a filosofia, a religião e a merda toda. Quando a impotência, a derrota, a solidão e a dor batem, o insondável torna-se ridículo. Deus estará em um copo cheio e bem grande, em algum entorpecente qualquer, que faça efeito rápido. E o amor é das drogas mais fortes.
Naquele dia depois que trepamos, ela adormeceu, eu não. Levantei nu e fiquei olhando-a, de longe. Ela encolhera-se na posição fetal. Parecia ter frio. A pele branca, a magreza, as veias verdes expostas na pele transparente. Por um breve momento senti uma dor em mim. Por um segundo creio que a olhei como realmente era. Uma criança. Não interessava que estivesse velha e destruída fisicamente, quem vê apenas isso não vê nada.
O cigarro se apagou. Fui até ela e a abracei. Deixei que se acomodasse como um bebê nos meus braços. Detestaria sentir pena dela. Mas senti compaixão. Queria ter poderes para tirar toda a merda de dentro dela.
Mas como é possível mudar a intenção dos homens?
O mais terrível de tudo. Em breve ela acordaria e teria que voltar para sua vida, seu pesadelo mais real. Mas por agora nos dê apenas mais um minuto, um beijo de eternidade.

Luís Fabiano.
A paz é o soco justo, que perceberá depois que acordar do nocaute.

Um comentário:

Dóris disse...

Parece que somente nas grandes dores pode a alma humana sentir a grandeza das teorias do amor e da bondade.