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quarta-feira, setembro 29, 2010


Bolinha de sangue

Quando a vejo
Pálida com olheiras negras
Sorria naturalmente
-Ei você tá bem?
-Tudo bem, já resolvi o problema
-Sei, que problema?
-Uma maldita criança achou que iria nascer, mas já era. Tua porra forte.
Engoli seco alguma coisa
Era tudo tão natural
Já tinha feito outras vezes
Como uma máquina de abortar automática
Sem drama
Consciência com asas
Limpo e rápido - disse
Um remédio e tudo virava sangue no vaso
A descarga era o adeus final
Não me impressiono, já vi o filme
Tomávamos a cerveja enquanto falava assim
Dei conta de minha inocência
Não protestei, chorei ou disse algo
Tomei a cerveja em um gole
Brindamos ao sangue depois
O que assombra é o desassombro
Mudamos de assunto
Mas algo ficava em silencio
Um dente cravado em algum lugar
Era minha alma presa no abismo
Nas bolhas de sangue sem alma
Em um nada que sonhava possibilidades
Um cinismo a beira da crueldade
O pesadelo em forma de realidade
Aquilo durou um pouco
Ela me cansou
Fui embora
Dirigindo devagar
Chega.

Luís Fabiano.

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