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segunda-feira, agosto 16, 2010

Decoração sanitária.


Decoração sanitária

Alguns dias são cinzentos. É preciso dar um tom de cor a eles. Naquele sábado a noite, tingi o meu de vinho. Um bom garrafão tomado em doses homeopáticas, com minúsculos pedacinhos de carne e linguiça. A pedida que mais me apetece.

Fiquei nisso por horas. Sentindo o entorpecimento da consciência, como arma pronta pra disparar em qualquer direção. Agosto é o mês mais fodido do ano. Recordações demais, tristezas demais e esperança nenhuma.


Ziguezagueava no apartamento. As paredes macias e frias com a cor gelo. Arrastando-me e enchendo mais uma taça. Última taça, como uma ultima dança, o ultimo beijo e a ultima gozada. Posso morrer agora.

Deito-me e adormeço como um anjo bêbado. Confesso que detesto sonhar. Não sonho de olhos abertos e nem tão pouco de olhos fechados. Tive a grata felicidade de assassinar todos os meus sonhos quando era muito jovem. E gosto deles bem mortos. Não tenho planos de nada, de realizar nada, de encantar-me com nada. Prefiro a objetividade de um céu concreto, cor de cimento. Se algo ocorrer além de disso, ótimo. Se não ocorrer nada, ótimo.

Mal fecho o os olhos começa o maldito sonho, uma sessão de cinema obrigatório. Nele aparece um tal de Luiz Herculano. Quem diabos é Luiz Herculano? Queria conversar, mas eu não queria saber o que ele tinha a dizer. Um cara alto e barbudo, parecia um jogador de basquete americano.

-Ei Fabiano, tenho algo importante pra te dizer amigo.
-Amigo? Que eu me lembre compadre, eu só tenho um amigo. E ele não é você.
-Pra que tanta hostilidade? Calma.
-Não é hostilidade, estou bêbado, e quero dormir tranquilo. Sem sonhar, detesto sonhar. Me da dor de cabeça quando eu acordo.
-Eu sou Herculano, o escritor morto.
-Ok, Hércules, sou papai Noel, coelho pascoa e um gnomo tudo junto.
-Você tá de mau humor hein? Isso é bom. Amigo, vim te falar sobre a escrita transgressiva, isso te interessa ainda ?

No sonho aquilo me deu uma sensação agradável. Foi como se alguém tivesse feito carinhos no meu pau. Um carinho no pau é bom, até quando é ruim.

-Bem Herculano, então diga...
-Não vim te instruir...vim conversar apenas.
-Sei.

Eu me sentia duplo. Um cara com consciência no corpo e aquele cara que era eu conversando com Herculano. Lembro que ele ficou falando um monte coisas, e que em determinado instante me cansei dele.

Acordei ás dez horas da manha com uma forte dor de estomago. Isso era esperado, um garrafão depois, alguma consequência é esperada. Mas não fiz fiasco algum. Não estava com dor de cabeça. Pensei: porra o vinho era bom pra caralho mesmo...he he he.

Então fui para o banheiro tentar me aliviar. Sento no vaso e sinto que algo tomba na agua fria do sanitário, causando um tsunami que molha a minha bunda. Ual. Que estrago. Limpo o rabo e tem muito sangue no papel.
Jesus, será que estou começando a menstruar ? Tudo certo. Me ergo e dou uma boa olhada no troço. Achei no mínimo curioso. Era a maior bola se sangue ou algo parecido que havia saído de mim. Que porra é essa?

Não tinha cheiro de merda fresca. Aproximo bem o meu nariz e cutuco com o dedo, para ver se a coisa fica clara. Quando faço assim, aquela bola abre-se como se fosse uma rosa. Rosas de sangue, tinge a agua do vaso completamente. A forma era bonita, quase artística. Tanto que me esqueci que poderia ser algo grave. Mas não poderia chamar ninguém pra ver. Não tinha cheiro de rosa, não tinha cheiro de merda.

Fiquei olhando aquilo. As vezes as coisas que saem do nosso interior, nem sempre são merdas completas. Dou adeus, puxo a descarga.

Luis Fabiano.

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