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quarta-feira, agosto 18, 2010

Blue Bird


Blue Bird

Ela adentra o Bar gritando com alguém invisível a plenos pulmões:

-Essa bucetinha é minha, aqui só bucetinha... há há há.

Onde estava sentado permaneci. Conversamos entre três. Cerveja e recordações de infância. Não devemos lembrar de pequenas merdas que fazemos na vida. Devemos nos ocupar das grandes. Essas sim, são capazes de mudar tudo. 

Tem mais culpa, mais argumento e mais dor. Somávamos nossas coleções de nadas existenciais. A grande verdade que a maioria da humanidade, não faz a menor diferença se deixar de existir. E agora, aquela maluca adentra, fazendo seu espetáculo, chamando atenção.

Ali não era nenhuma novidade. Todos são mais ou menos assim. Existem lugares que reúnem tipos assemelhados de pessoas, uma lei de afinidade que a natureza faz muito bem. Voltar ao Blue Bird, sempre é uma experiência única.


Ali se reúnem o bando mais feliz de derrotados. A derrota não é algo tão mal assim. Nos consolávamos abraçados uns aos outros. Entre baldes de merda, cigarro, bebida e drogas e o resto que ninguém fala.
Ao fundo de nossa conversa, aquela mulher visivelmente alterada. Produtos para alterar a mente demais. Falava sozinha sem parar, gritava palavrões as vezes. Bem, eu preciso pouca coisa, realmente muito pouca coisa para que o calhorda em mim desperte. Calhorda sofisticado, com vontade de comer o mundo inteiro. 


Tem algumas mulheres que conseguem fazer isso acontecer, num piscar de olhos. Outras jamais conheceram. Falta algo.
Comecei a olhar a maluca com outros olhos. Longos cabelos negros tingidos, sobrancelhas grossas, que mais lembravam um marandová, a boca rasgada como de um curinga, botas de salto negro, jeans surrada, boas tetas e uma bundinha de mosquito. Ela era horrível, portanto perfeita.
Marcelo que estava comigo me chama:

-Ei cara, acorda, tu desligou? Tá em transe. Ta olhando aquela maluca com cara de tarado...
-Não tenho cara de tarado. Sou completamente tarado. Coisas de química cumpadi, coisas além da imaginação...(disse qualquer coisa)
-Tchê, acho o Bukowski ai tá fritando teu cérebro. Aquela mulher é lésbica meu, o negocio dela é outro, esquece. E outra de graça hein: é transtornada, nóia total, tu vai te dar mal.

Na mesa, o Bukowski encostado na parede, nos olhava. Ultimamente tenho carregado ele para todos os lados. O livro já esta seboso demais de tanto andar por ai. Devo estar ficado maluco também. Então tudo certo. Mas sinceramente a alma de Bukowski, anda junto com este livro. As pessoas o vem onde estou, e o pegam. Ficam olhando, folhando, fazendo caras e bocas, como se a alma do velho Buko tivesse entrando pelos seus cús.

No trabalho, no bar, na casa de amigos onde quer que seja. E sempre dizem algo assim: Puta merda, esse cara era foda...
A maluquice nos acompanha. Naquele momento conversamos sobre lembranças que não tinham mais sentido. Fingi conversar, enquanto olhava a maluca. Em determinado instante ela se desentendeu com uma outra mulher lá.


Mulher maneira de falar, era enorme, cabelos raspados punk, uma imensa barriga, pelos embaixo do braço e debaixo do queixo. Realmente um tipo atraente. Ficaram trocando empurrões, e a gorda deu uma porrada mais forte. Todos riram, a maluca se calou, como se tivesse fechado a tampa de um túmulo. Que cena. Gosto de mulheres brigando, atirando objetos, pegando facas, navalhas estas coisas.


Então ela ergueu-se triste, foi para o balcão. Já estava quase desistindo quando ela me olhou e ficou encarando por alguns segundos. Ela gostava de confusão, queria confusão. Talvez estivesse procurando a morte? Veio na direção de nossa mesa.


-Agora tu tá fodido camarada...querias, agora já era - diz Marcelo cagado, um autentico cagão.
-Fica frio Marcelo, ela é mansa, e tá até desarmada...


Ela chega como um vulcão prestes a explodir. De perto era pior.

-E ai ó, que foi? Tais me encarando aí...que é ? To de devendo alguma coisa?
-Calma, calma. Não quero brigar contigo. Sou da paz. Relaxa ok?
-Mas tu estavas me encarando, que é hein?
-Não. Estava te olhando, como se olha uma pintura, uma arte, você gosta de pintura?
-É sei. Tens cara de tarado, que foi tu gostou do que viu?

Começo a rir. Ela estava realmente invocada.

-Contigo não tem preliminares antes? Beijinhos, carinhos, mãos, essas coisas que fazem o orvalho aparecer...
-Olha aí cara...vou te mostra uma coisa seu filho da puta...

Ela abre o jeans e baixa as calças ali mesmo. Estava sem calcinha. Não tinha muito pudor. Mostrando uma enorme e peluda buceta. O bar em ebulição bate palmas para o strip-tease gratuito. Fiquei olhando, foi algo de surpresa. Então ela pega os grandes lábios olha bem nos meus olhos e diz:

-Aqui ó nunca vais colocar nada, nunca, aqui é só bucetinha...só...viu otário...

Achei uma linda declaração de originalidade. Acho que foi a primeira vez que abriram uma buceta na minha frente, e eu fiquei só olhando. Dono do bar não gostou nada daquilo. Foi empurrando ela pra fora, dizendo para ela não voltar mais lá, entre outras coisas. Ela sai sob protesto e aplausos de um bar em chamas. Como costumo dizer, depois da meia noite pouca coisa pode ser boa mesmo.
Marcelo me olha e diz:


-Que foi isso cara?
-Isso foi um show Marcelo.

Fiquei pensando comigo. Ela poderia ser o que fosse. Mas em outro momento vou conversar com ela. Tanta insanidade e espontaneidade juntas. Ela deve ter algo a dizer. Todos temos.


Luis Fabiano.

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