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sexta-feira, junho 25, 2010


De Amanda a Marcão...

Quem não se equivoca na vida?
Tudo bem, as vezes é banal e terminamos não esquentando a cabeça, porque depois que se errou, já era. Não adianta ficar se punindo para salvar-se. Nada adianta. Se você tiver presença de espírito, vai simplesmente esquecer o erro, e tentar acertar as coisas, ás vezes é possível acertar.
Naquela noite eu estava inquieto. Sentia a leve coceira de fazer alguma besteira,sou assim.As vezes é normal, afinal sexta a noite é dia perfeito para isso. Não titubeie, quando saÍ do trabalho fui conhecer um barzinho alternativo, que abriu na rua General Telles. Gosto de ambientes alternativos, minha solidão encontra amplo espaço, posso beber solitário em uma mesa, ficar olhando as pessoas.E nada pode acontecer.
Todas as tribos, maconheiros, veadinhos, bêbados, putas, emos, punks e metaleiros. Aquele local parecia imaginário. A decoração era horrível. Pinturas a lá anos setenta, apenas não vi os hippies por lá. Sem duvida, olhar gente é a coisa mais interessante do mundo.
Minha idéia inicial não era comer ninguém. Meu plano era ficar meio bêbado e depois, bem depois, seja o que deus quiser. A musica tava boa, alternava entre o Mpb e rock progressivo. Atendia o gosto de umas pessoas na porta, que fumavam um baseado. Fiquei na minha bebida, eles não tinham rum, fui com o uísque barato mesmo,bem barato.
Já estava meio tonto, quando percebi que estavam me olhando. Uma mulher de cabelo compridos, seios fartos e espremidos no decote, magra, alta. Realmente demais pra mim.
Mas os que me conhecem, sabem que não tenho muito aprumo com gosto feminino.Gosto de mulher, gorda,magra, alta,baixa, horrível, com duzentos quilos, sem dentes, bafudas, pentelhudas, meu gosto é vasto, quase tudo encaixa. Dizem uns amigos, que não tenho gosto:tenho um desgosto. Azar.
Ela sorriu, eu levantei o copo com ar cafajestão. Me senti muito macho, estava sentando a uma hora e pouco, aquela solitária estava na minha.Perfeito. O bom das bebidas destiladas é sua eficiência e rapidez. Aquela sexta feira prometia. Ela segui sorrindo e fui até a mesa dela. Quando a olhei, tive a uma certeza: algo estava errado. Com uma voz grave disse-lhe:
-Boa noite.
-Sim, boa noite.
-Posso sentar, ou esperas alguém?
-Pode sentar sim, tudo bem.
-Sozinha, porque?
-Você também está, então não pode falar...(sorriu)
Papos da noite, eu sei e você sabe todos de cor. A idéia toda é fazer alguém abrir as pernas, só isso. O amor não anda a espreita a noite. Mas quem queria amor? Foda-se o amor.
Ficamos falando a respeito do bar. E outros papos furados. Comecei a achar que ela estranha. Mas a voz era feminina, sem aquele sotaque nasalado das travestis, que parecem algo fanhas. Nada contra as fanhas.
Ela não tinha nada que a denunciasse, porra ela tinha que ser mulher. Ela pediu licença e foi ao banheiro. Acompanhei com os olhos atentos, entrou no banheiro feminino. Tudo certo. A duvida é uma coisa engraçada. Fiquei pensando: Porra Fabiano, se tu vai pra cama com ela, e ela é ele? Se essa Amanda é Marcão? Puta merda. Na hora que for mostrar o clitóris, tira uma piroca maior que a tua? E ai? Pense, tente pensar. Uma mulher linda destas,dando sopa neste lugar podre? Tá certo? Ou pior que isso. Quando você acordar pela manha com ela, ela vai olhar pra você e dizer: Queridão, agora é minha vez!
Muitos pensamentos. Ela volta, linda naquele vestido colado e tetas grande e duras como concreto. Começamos o papo novamente.
-Então meu bem, que você faz da vida?
-Sou cabelereira. E você?
-Lido com informática.
-Hum legal...
Aquele papo ficou morno demais. Fiquei com o pé atrás. Mas quando tudo mais conspira para o erro é preciso entender. Perguntei descarado:
-Olhe você me perdoe a indelicadeza,não sou muito educado, mas você é mulher?
-O que?
-É isso aí, és do sexo feminino?
-Isso depende.
-Bingo.
-Sou homem porque tenho um órgão sexual masculino, mas só isso.Minha alma é de mulher. Meu sonho é mudar e vou mudar, já estou em tratamento psicológico e tudo.
-Tudo bem, entendo.
-Mas você tinha certeza que era mulher, e me queria.
-É eu tinha mesmo. E tinha até planejado minha noite contigo, com beijos abraços e tudo mais. Você é muito bonita.
-Obrigada. E agora, você vai embora?
-É, essa é a pratica principal de minha vida, eu sempre vou embora.
-Fica aí, vamos conversar mais, eu te dou outra bebida, quer?
-Claro.
Fiquei ali, com ela-ele. E estranhamente ela realmente parecia uma mulher. Ou eu estava vendo demais. A vida é uma surpresa. Ela tinha carências femininas, e tinha o desejo de ser mãe. Tomei mais duas doses pagas por ela e me despedi:
-Amanda, vou embora, é tarde.
-Não queres ir pra minha casa? Agente pode seguir conversando lá.
-Amanda te agradeço, talvez um outro dia.
-Mas você mal consegue andar, vai dirigir?
-Claro, todo bêbado dirige, alguns até dirigem melhor bêbados.
Ela riu e disse:
-Então me da um abraço?
-Claro.
Dei-lhe um abraço, ela me aperta forte e me agradece.
-De nada.
Que noite estranha, sai pra fazer alguma besteira, e termino as três horas da manha com uma travesti linda, mais linda que muita mulher.Mais linda que algumas namoradas que tive.Não sei o que senti, acho que lamentei o fato de ela não ser realmente ela. Não tenho nada contra a quem dá o rabo ou come o rabo, mas não me sentiria a vontade.
Peguei o carro, as ruas pareciam tortuosas, retorcidas. O Kadett a vinte por hora, um ronco suave percorrendo as ruas abandonadas, frio de rachar, não tinha vontade de acelerar queria chegar em casa, ou talvez ir pra outro lugar?
Chega de noite por hoje. Chega de tudo.

Luis Fabiano.
A paz anda disfarçada, de que mesmo?

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