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quinta-feira, maio 13, 2010


Quase Nelson Rodrigues em família.

Tenho lido muito, o que me faz muito bem. Uma vida mental quase tão somente ideológica, mas não ideal. Sentir cheiros, gostos, ver paisagens, o toque das outras pessoas são coisas boas, mas se pudesse me tornar tão somente a mente, acho que ficaria mais em paz. Não faço ideia como seria uma vida sem corpo, talvez mais espírito, sem as necessidades materiais?
Já pensou ter todos os prazeres ao poder de pensar? Sem os problemas que geralmente o corpo produz após tais prazeres?Prazer instantâneo e sem conseqüências, a não ser prazer.
Tudo isso é muito ideal. Possivelmente tal pensamento tem alguma conexão com o fato de cada vez mais, querer manter distancia das pessoas. Tenho detestado a todos, mais ainda os que não conheço, e não pretendo conhecer.
Me canso rapidamente, acaba sendo sempre a mesma coisa de sempre.Não que espere, surpreender-me, a cada dia isso vai ficando distante, olho a tudo e a todos como se tudo tivesse pelo menos noventa anos.Aparência atualmente não me diz nada.
Ontem conversava com uma vagabunda amiga minha, ela me disse:
-Tu estas com uma cara de depressão profunda...
-É?
-Sim, estas com a cara da Zuleica, quando estava deprimida,precisou de tratamento...
-Nossa, eu achava que tu só entendia de piroca?
-Não meu filho, sou psicóloga dos homens, do meu jeito...
-Ta não me enche, vai arrumar um pau pra chupar.
-Sai pra lá grosso, só falei na boa...
Detesto gente que só fala: “na boa..na boa...”
Saí mesmo, não tinha saco pra papo furado, de puta metida á psicóloga. Nada contra ambas as profissões. Mas detesto ser importunado com opiniões furadas, ninguém percebe nada, acho que vou ter começar a andar com placas indicativas de emoção, no peito e nas costas. Parece uma boa ideia, já que todo mundo acha que sou bonzinho, que to sempre feliz,em depressão, sempre em paz e essas coisas. Quanta ilusão. Não sou nem uma coisa e nem outra, to limbo, conforme o vento sopra, pode ser brisa ou tornado. Na boa essa.
Quando cheguei em casa, tinha me esquecido do aniversário da minha irmã. Sai mais cedo do trabalho, fui pra casa. As vezes não lembro nem do meu, realmente não acho uma data importante, uma definição gratuita de aniversário? Um ano mais perto da morte.
O salão de festas estava cheio, parentes, amigos dela e outros ilustres desconhecidos. Era preciso exercitar paciência, socializar. Gosto de minha irmã, mas ela definitivamente não é uma pessoa fácil de lidar, por isso não falamos tanto, falamos apenas o necessário, é melhor pra ambos.
Amor é algo muito estranho, gostar de mim não é algo fácil, principalmente porque implica em deixar-me completamente solto,livre, fazer o que quiser, dificilmente as pessoas não estão dispostas a isto. Nos respeitamos e ficamos nisso,sem declarações de amor eterno, porque nunca acreditei muito nisso, hoje menos ainda.
Aquele monte de gente, assim só bebendo pra suportar. E foi o que fiz, a boa cerveja deveria constar como uma espécie de livro de auto-ajuda, religião ou coisa parecida, se estas fodido, beba uma cerveja, veja o mundo mudar diante de teus olhos? A culpa nunca é do mundo, a culpa é sempre sua.
Todos ficaram simpáticos,até brinquei com as pessoas e sorri com todos os dentes. Tive a oportunidade de conhecer um casal que não lembro o nome, que tinha uma criança absolutamente linda. Dei-lhes os parabéns, pois seguramente era a criança mais linda que vi na vida.
No meio de tudo que se passava na minha mente e impaciência, falsa cortesia, eventualmente belezas acontecem. Senti-me meio humano por um momento. Um tipo idiota que pensa como todo mundo. Depois as risadas ficaram mais altas, tudo se perdeu. Sentei-me em um canto, fiquei sozinho, a parte melhor da festa, ou pior.
A bem da verdade ai começou outra festa. Chegaram parentes meus, um deles é casado e vinha com a linda esposa.
Porque a tentação sempre tem que rondar por perto?
A esposa do cara, não sei porque cargas d’água começou a me olhar, eu gostei. Ela fazia o estilo interessante, bem espalhafatosa com um vestido muito curto, preto, meias negras, salto alto, cabelos claros passando dos ombros. Aquilo começava a tomar ares catastróficos de Nelson, em família. Pegar a esposa do parente?
Eu estaria bêbado e vendo coisas? Não, não estava não.
Ficamos trocando olhares de longe, na frente de todos, um verdadeiro prato cheio pra parentes filhos a puta. Em um dado instante ela sorriu, olhou diretamente, veio na minha direção. Falou algo com minha irmã, ficou ao meu lado conversando em pé, era um papo furado, mas a linda bunda dela estava muito próxima de mim. Então ela vira-se e me cumprimenta, amável e sorridente e senta-se.
Começamos um papo besta, o marido dela tomava cerveja e nem nos olhava. Eu começava a sentir cheiro de merda no ar. Logo um parente, que não falo tanto? Mas acabou que o cara ficou meio bêbado e apático. Sorte minha. A bela esposa dele ficou mais a vontade. Porem a cara das pessoas na festa dizia tudo. Nosso assunto ficou intimo, eu disse a Deise:
-Olha, o povo ta só olhando pra nós, talvez depois deste dia, os nossos parentes vão queimar teu filme bonito.
-Já tenho o filme queimado,não importa, a verdade que te achei interessante.
Sorri, eu não esperava por essa direta. Mas a moça não era nenhuma virgem ou imaculada, era uma galinha velha, bem calejada e com os esporões a mostra.
-É, ambos ficamos interessados, mas tu acha que aqui seria um bom momento?
-Não, claro que não, se nos levantarmos agora e sairmos, seremos apedrejados...
-Sim, como ainda fazem na áfrica e em outro países. Mas talvez em outro momento?
-Com toda certeza em outro momento, mas já foi um bom começo tu não achas?
-Sem duvida, vamos vivendo perigosamente.
-Vou, lá dar um jeito no meu marido, adorei te conhecer, acho que conhecerei melhor...
-Já estou esperando, beijo linda.
Levantou-se e foi acudir o bebum, que estava bem devagar. Não sei o que vai acontecer se o parente vier a ficar sabendo desta historia, mas como não temos muita relação, é o típico cara que se morrer, certamente nem vou dar conta.
As pessoas acham detestável a minha maneira de dizer essas coisas,mas é apenas a verdade, não faço drama com nada, alias detesto drama, se por exemplo um parente seu,que mora em outro estado morre, você nunca fala com ele, faz mais de vinte anos que não vê, nunca se interessou pela vida dele, ele morre de-repente, você vai ficar chorando de dor? Não encha o saco.
Não sei qual vai ser o desdobramento desta historia, se é que vai ter algum, mas não existe preocupação alguma com o futuro, vivo conforme a coisas vão acontecendo, sem planos, sem perspectivas, sem querer nada além de mim mesmo.

Luis Fabiano.
Paz as vezes se pode ter doutras apenas suportar...

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