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quarta-feira, maio 26, 2010


Esquentando os refugos.

A cada dia que passa, chego a conclusão que não se pode levar a vida a sério. Não me entendam mal, mas não da esquentar a cabeça demais, não quero esquentar a cabeça com nada, venho trabalhando para me desconectar de tudo e todos, tentar interferir o menos possível em minha vida e na vida alheia. Uns chamam de egoísmo, ok. Mas qual o problema?
Uma colega de trabalho chegou a me dizer: ” se todos fossem como tu, o mundo seria um lugar melhor.” Eu respondi: ”que nada, se todos fossem como eu, o mundo iria parar,tudo viraria um caos.” Ela ficou me olhando, não falamos mais no assunto.
Mas, eu me referi á seriedade, porque á muito tempo atrás, acabei me interessando por uma linda colega de trabalho, a Mirna, eu e todos os homens que a conheciam. Isso já fazem uns quinze anos ou mais. Porem na época, ela tinha uma postura arrogante, eu achava natural que fosse. A beleza dava a ela este direito, de achar que o mundo realmente estava abaixo dela, e se pensar sob este prisma, realmente estavam.
Morena, cabelos longos, olhos verdes como esmeraldas, seios generosos e pernas que faziam os homens delirarem. Todos a tratavam com respeito, não por sua postura, mas pela beleza, não parecia uma secretaria, tava mais pra modelo. Nos setores todos comentavam a boca pequena sua beleza. As mulheres tinham raiva dela, afinal ela era uma concorrente desleal.
O que me atraiu nela,foi exatamente o nariz empinado. Freud explica, alguém tão empinado assim, tinha problemas, era certo. Desde muito cedo aprendi a ver as fragilidades das pessoas. Ela atacava demais para ser normal, precisava defender-se.
Naquele período tentei falar com ela qualquer coisa, mas mantinha-se muito seca, nem sequer cumprimentava com um simples oi. Passaram a chamá-la de dama de ferro. Bem toda dama de ferro, tem uma boceta de carne!
Depois de levar alguns cortes e ser ignorado, achei melhor deixar assim, eu entendia sua postura, afinal, porque que a gostosona do momento, iria dar bola pra um chinelo como eu? Não teria porque e nem faria sentido, relaxei, bati algumas punhetas homenageando-a, gozando gostoso e bem molhadinho, a coloquei no esquecimento. Não iria perder meu tempo com ego machucado, que ego afinal?
O ser humano ás vezes é frágil demais, fica sentido por qualquer merda ,e alguns chamam de depressão. Tudo que se precisa fazer, é desligar-se do que é mau, e pronto, a natureza faz o resto.Mas não, gostamos de ficar remoendo a merda toda, revolvendo tudo de cima a baixo, e o fedor vai subindo,subindo até infestar os céus e nossa vida!
Como estava dizendo, passou muito tempo, posso afirmar que o tempo é algo misterioso, ele trata sempre de inverter o jogo de tudo, vi muita gente se dando bem com o tempo e outras se fudendo pesadamente com o tempo, tudo é uma questão de tempo e postura.
Quinze anos mais tarde, esta mesma mulher não mais parecia a mesma. Escolhas erradas ajudam ribanceira abaixo, curiosamente ela foi envelhecendo rapidamente, o rosto ficando marcado e o nariz antes tão elevado, agora não era mais assim,mais humilde.
Fiquei sabendo mais tarde, que um casamento, digamos equivocado, com um cara da pesada, que ficava bêbado e enfiava a porrada nela, trataram que modificar não só a sua fisionomia,mas sua alma também. Fui notando que ela foi se tornando gentil com as pessoas ao longo do tempo, até me cumprimentar ela passou a cumprimentar.
Logicamente quando isso começou a acontecer, ela já estava um bagaço. Sempre digo isso, os feios amam mais e melhor! A pouco tempo saímos, agora que está gorda, rosto envelhecido, expressão cansada e obviamente, ninguém mais a olha daquele jeito admirado de antes. Bem, agora começamos a conversar mais de perto. Ela é mais velha que eu mais ou menos sessenta anos, desde que me conheço por gente, tive preferência por mulheres mais velhas, diga-se de passagem bem mais velhas que eu, numa média de dez anos pra frente.
Mulheres novas não me chamavam atenção, talvez pela inocência, não gosto de gente inocente, gosto de gente calejada, que muito se fudeu na vida, esse é meu time.
Mirna, estava separada, o marido a havia trocado por uma que tinha vinte anos menos, com mais disposição pra apanhar, mais gostosa, com menos gordura e peitos que acenavam para o criador.Hoje Mirna está facinha, quando fomos para aquele bar de esquina, tomar cerveja e ela a me contar a catástrofe de sua vida, puta merda, ela não precisava dizer nada, sei estas historias de cor, qual coroa que não se ferrou na vida? Só se morreu antes.
Afinal era a mesma merda de sempre, aquilo era um imenso pretexto e uma puta sacanagem do tempo. Ela ficou alegre rápido com a bebida, acho que não era forte para bebida, a voz começou a pesar,algo arrastada:
-Fabianoooo, tu é o cara...me disseram...
-Eu? Não sou nada, sou um baita idiota e chinelo,não da bola para o que dizem de mim.
-Não é disso que estou falando Fabianoooo...
Senti aquela aroma de putaria no ar. Pedi outra cerveja, ela botou a mão no meu ombro, depois a cabeça, queria aconchego, carinho talvez, dei-lhe isso em doses homeopáticas, mulheres carentes se apaixonam facilmente,é preciso ter cuidado.
No fim, tudo acabou como deveria acabar, fomos para um motel barato, e dei minha foda de rei! Depois da gozada, ela meio bêbada e adormecida, eu olhava aquele corpo judiado pelo tempo, repleto de estrias, gorduras, marcas e algo flácido, pensei: puta merda, eu comi a Mirna, que tinha nariz empinado! Mas aquela quase não era a Mirna de antes. Sorri sozinho, realmente eu era o cara idiota, eu comia o refugo, o rejeito,o resto do mundo, eu esquentava em banho maria.
Tentei adormecer um pouco, mas Mirna peidou alto. Aquilo coroou a minha noite de glória.

Luis Fabiano.
Paz com o tempo,mas lembre-se, ele sempre ganha.

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