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terça-feira, março 23, 2010


Telefone ao consolo.

Não gosto de longas conversas por telefone. Aliás, não gosto muito de telefone, talvez por meu espírito prático, falo o que é necessário e fim. Nada de saudades sem fim,dramas intermináveis, noticias repletas de detalhes. O silencio, dizem que é de ouro.
Dia destes telefonou uma amiga minha, destas que não entram em contato por muito tempo. Quando fala, quer externar toda a saudade acumulada em milhões de anos. Sou educado, apenas escuto.Não senti saudade alguma.
Lembro que ela falava comigo a uns dois anos atrás.Lembro tudo,minha memória tem me ajudado nos últimos dias,lembro detalhes de detalhes.Não sei se é bom,mas é útil.Quando conversamos,eu sempre tinha uma entonação ríspida.Não me perguntem por que,mas ela é aquele tipo de pessoa que adora receber uma colocação em tom paternal, com conotação patriarcal!
Sou assim, lei da natureza, quando gritam, falo muito baixo, quando me dão socos, permaneço imóvel, no caso de Monica, quando fica queixando-se interminavelmente, agrido com gosto, ela gosta de pancadas. Chicote na bunda, palmadas e uma jeba grande com amor.
Aprendi que algumas pessoas adoram ser maltratadas, tudo que posso fazer é atendê-las. Percebi que aquela conversa seria interminável e chata:
-Nossa Fabiano, quanto tempo NE?
-É, nem tanto, afinal não considero dois anos muito tempo...
-Mentira, é um monte de tempo. Mas eu sempre lembro de nossos papos bons.
Começo a rir sarcástico.
-Eu esqueci quase todos.
-Porque?
-Pelo que me lembre, tu estavas sempre te queixando, isso é muito chato. Detesto choradeira sem fim.
-É eu sei. Mas agora mudei muito.
-Sim.
-Mas infelizmente, o Tiago foi embora...
-Quem?
-O meu marido/namorado, tava com ele a um bom tempo, mas acabou. To sozinha novamente.Porque acontece isso...
-Antes só que mal acompanhada.
-É, mas não sei ficar sozinha, to me sentindo mal com isso, triste e depressiva, preciso ter alguém.
-Lamento. Quer dizer, não lamento nada, tu és chata pra caralho! O tal de Tiago que não conheço é um herói. E tu burra demais,sempre a mesma merda...
Um silêncio sepulcral no telefone, ouço alguma coisa que parece uma fungada de nariz. Agora estou sem paciência.Que porra. As pessoas cada dia mais, parecem peixes em um aquário.Só consigo pensar isso. Monica queria que alguém sentisse pena dela.
Tem dias que não estou com disposição pra piedade,bondade e estas idéias se super humanidade. Estou mais seco que o Atacama.
-Tu sempre me faz chorar, sempre fala assim, tu não tem sentimentos, nunca teve.
-Tens razão, mas que fazer, tu gosta assim. Um é o sadista, o outro masoquista, uma delicia.
Aquilo não tinha nada haver com nada, mas a idéia parecia gostosa, sensual, erótica. Como um bom canalha profissional, ás vezes gosto de provocar. Pergunto que ela estava vestindo? Do outro lado da linha, Monica funga o muco, parecia sentir uma dor, daquelas que calam fundo.Tinha sensibilidade para entender isso. Logo gostei da idéia. Afinal a dor excita. Eu já havia falado tantas barbaridades para ela, que mais uma não faria diferença.
-Um vestido, pouco acima dos joelhos.
-Hummm
-Eu amo o Tiago.(lagrimas roucas...)
-Acredito, amanhã passa, quantas pessoas já amaste na tua vida?
Tinha que dar um jeito daquela ligação se tornar uma coisa útil.Toco de leve no meu pau.
-Acho que umas três pessoas.
-E ainda não aprendeu? As vezes amor é condução,as vezes é carinho e as vezes é apenas deixar rolar, sem preocupações. Qual a cor da tua calcinha?
-Eu to sofrendo, tu não percebeu?
-Mas imagino que estejas sofrendo, de calcinha? Não ?
Silêncio.
Vi que aquilo não ia para lugar algum.Uma mulher dolorida demais fica assexuada,geralmente emagrece e nunca goza. Pensei tudo isso, achei melhor ir cagar, minha barriga manifestava alguma coisa assim. Disse para Monica que precisava ir ao banheiro.
Ela desliga o telefone, mais triste que quando ligou, enquanto eu me sento no trono, para reinar soberano, no reino da merda.
Porra, porque Monica me liga?É sempre a mesma lenga-lenga.

Luis Fabiano.
A paz é um telefone mudo.

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