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terça-feira, março 16, 2010


Corda de André.

Quando não existe mais nenhuma opção possível, tirar a própria vida é a ultima porta, certamente sempre se abre. Isso de certa forma sempre soa como um consolo, se realmente nada funcionar, nada der certo, nada for bom, nada... você tem a chance de encontrar-se com o demônio em algum lugar qualquer do inferno!
Lembro que André sempre tivera um fraco pelo morte. Como algo que o atraia, cresceu em um meio espírita ,entendia da imortalidade da alma, espíritos deixam os corpos na terra e vão ao encontro dos seus próprios valores, bons ou ruins.
Isso invés de estimular-lhe a vida, deu-lhe inspiração as avessas. Morrer é uma saída, seja lá para onde que for, mas é uma saída.
Cresceu um adolescente normal, não fez nada de diferente que fazem os adolescentes, rebeldias,idiotices, namoro e algum esporte, essa era a sua vida.Tornou-se um adulto dentro dos padrões normais, o que se espera de um adulto, previsivelmente, formou-se na faculdade, arrumou trabalho ,casou-se, teve um filho.
A vida estava pronta e resolvida para André.
Mas aquilo na cabeça, ao fundo, pensava: Se um dia tiver algum problema, realmente grave, me mato, rápido e tudo resolvido.
Mais que crer em Deus, ele acreditava na morte para salvá-lo na hora H! Pensando bem, eu até o entendo, é o poder de decisão na tua mão, e não na mão de outrem, seja quem for.
Quando pensava isso,André sorria orgulhoso. Ficava tranquilo e em paz. Mais de uma vez ensaiou como procederia para morrer rápida e eficientemente.
Pensava em comprar algum veneno , ter a mão a dose exata, cogitou em uma arma de fogo de grosso calibre e com silenciador, respirar gases venenosos na garagem.
Porem a técnica que mais o fascinava era forca! Colocava aquela corda numa das armações de madeira da garagem, fazia o nó típico, ficava vendo-a balançar no ar, tinha algo de romântico naquilo.Namorava com a morte. Chegou a sonhar com seu corpo se debatendo no ar, as perninhas agitando-se na convulsão final, os olhos esgazeados e o ultimo suspiro! Acordou assombrado tentando respirar, por fim sentiu satisfação, sorriu.
Estranhamente a família nem imaginava que se passava na cabeça de André, as coisas são mais ou menos assim, nunca imaginamos profundamente o que se passa a razão de cada um, as pessoas são um imenso mistério.
O que irão fazer na hora H ?
Geralmente a pressão muda tudo, as coisas caminham para extremos fatais.
André sentia-se normal, não considerava uma patologia psicológica, era otimista demais para isso, entendia como um coringa do baralho da vida. Talvez não acontecesse nada em sua vida que o levasse a isso, tudo fica num imenso pensamento perdido entre tantos que temos. Quem nunca pensou em algum momento, em dar cabo de si? Normal,relaxe.
Mesmo grandes heróis, tiveram esta titubeada. André sentia-se relaxado, aquilo era um salvo conduto a mão literalmente.
Esta historia teve final feliz, afinal, não aconteceu absolutamente nada na vida de André, que o levasse a este destino trágico, poderia não ser assim. Falamos sobre isso abertamente, me pergunta se acho maluquice.
Não, não acho. Acho normal.
Que ele faz, é uma espécie de jogo para consigo mesmo, jogo digno no meu entender. Lendo a respeito de samurais, bem, um samurai que cai em desonra, precisa reparar tal desonra isso é com a própria vida!
A desonra pode ser muitas coisas, ser vencido pelo inimigo é uma delas.
Aos que entendem a arte da guerra, sabem exatamente que estou falando. Um samurai não cogita em perder nunca, a coisa mais importante que tem, é sua honra, o resto vem tudo abaixo disso.
O Seppuku ou harakiri são práticas dignas, que não condizem com nossa cultura, chamamos isso de covardia por não enfrentar a “realidade”. Falei tudo isso a André, regado a um whisky péssimo, mas o pensamento era bom. Disse no final:
-Não tem diferença, enquanto alguns rezam, tu queres morrer, no final vai dar tudo no mesmo.Vai te fudê Andre.

Luis Fabiano.
A paz, é a quietude de uma katana.

Um comentário:

Dóris disse...

Gostei do seu texto, rs rs rs. Principalmente desta parte:
"as coisas são mais ou menos assim, nunca imaginamos profundamente o que se passa a razão de cada um, as pessoas são um imenso mistério.", e claro, a Katana, sempre será a quietude da PAZ.

Abraço carinhoso.