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domingo, fevereiro 07, 2010




Merda não é tinta...

Quem não conhece poemas que idolatram a merda? Uma delicia. Não deixam de ser uma espécie de arte, gosto de arte, embora não seja um artista. Mas em momentos solitários de majestade quem não quem não esculpe alguma coisa?
Marcelo estava na cidade maravilhosa, veja só como são as coisas. Em plena Copacabana, jamais iríamos pensar em ter um piriri. Que porra, o estomago por vezes tem seus mistérios nojentos.
Sol a pino, um lindo mar a sua frente, nas mãos um exemplar de Nelson Rodrigues, a Vida Como Ela É, então sentiu a primeira contração, e aquele ronco nas tripas anúncio de uma tragédia, uma tempestade furiosa.
Lembrou imediatamente: o pastelzinho no bar do Nogueira. Só podia. Mas agora já era tarde demais, era preciso procurar um banheiro químico, o mais rápido possível. Deu mais alguns passos e achou, a felicidade sorriu na sua face.Adentrou ao minúsculo espaço de paraíso, arriou as calças com convicção e sentou com satisfação.
A satisfação de um rei, o rei da merda!
A parca iluminação, não permitia a leitura, mas tudo bem, já tava bom como tava.
Porem, levou a mão onde deveria estar o papel higiênico, surpresa playboy, nada feito. É nestes momentos que imagino o Criador morrendo de rir de nós humanos, certamente gargalha que estremece céus e Terra.
Marcelo olha as paredes decoradas do pequeno banheiro. Ali artistas inspirados deixaram seu legado, usando a tinta bastante biológica, desenhos abstratos, formas eróticas, pequenos poemas e outros.
Não iria fazer isso, achava a idéia de passar os dedos no próprio cú,deprimente,no dos outros,bem se podia pensar!
Tentava resgatar o pouco de dignidade que lhe faltava.As pessoas estão sempre brigando com os escrúpulos, briga quase sempre inútil, pois no final sempre fazemos o que queremos bom ou mal, certo ou errado. A razão tira férias.
Então, eis a idéia genial.
Nelson estava em suas mãos, ironicamente, a Vida como ela É. Logo esse titulo? É a verdadeira indignidade para um escritor.
Que coloca a alma em seus textos, no final viraria paginas cagadas.
Se bem que existe muita merda sendo escrita, mas é outro assunto.
Olhou o índice carinhosamente, que titulo escolheria para presentear carinhosamente seu rabo com cultura?Cultura até no rabo, as ironias não paravam.
As vezes a vida é generosa, ao final do livro existiam duas paginas brancas, alvas.Não teve dúvida, arranco-as e a obra ficou a salvo.
Se Nelson soubesse do que escapou.
Saiu do banheiro químico com ar vitorioso, e é assim, o homem vangloria-se da vitória sobre seu próprio intestino.É sempre uma luta consigo mesmo.


Luis Fabiano.
A paz é um intestino silencioso.



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