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quinta-feira, dezembro 10, 2009



Quando nada tem haver.

A expectativa é uma vilã cruel. Quanto maior ela for, mais frustrante será o resultado .É como criar uma anaconda dentro de si, você a alimenta com seus desejos, ela cresce demais, e ai quando você acha que ira apreciar o resultado, ela o devora todo.
Sempre é assim, não alimente demais as ilusões, e tudo fica resolvido. Não alimente demais a realidade, e tudo bem. Equilíbrio possível as vezes.
Houve tempo, eu tinha alguma expectativa.Hoje aprendi que sem elas, fico mais tranquilo.
Mas há algum tempo atrás, tempo que a memória fez questão de apagar, mais de vinte anos. Eu nutria expectativas monstruosas. Eram tantas e tão fúteis, hoje acho graça de minha própria imbecilidade. E foi neste instante de vida, que conheci a Lícia.
Na época estudávamos a noite, era bom, sempre depois das aulas, cerveja em algum boteco qualquer. Nos tornamos bons amigos.Sempre quis comer minhas amigas, sempre fui assim.Até hoje sou. As vezes rolava.Lembro que eu andava muito só, e isso começava a me incomodar um pouco.Via todos com suas namoradas, eu tolo estava só.Elegi Lícia.Namorada e vitima.
Que porra, não se elege ninguém assim, não se cria um ideal de amor, era justamente o que eu estava fazendo.Claro que só poderia dar merda.Eu era um romântico irrecuperável e solitário. Esse é o pior tipo.Eu.
Um dia fomos para o bar do Chicão, onde todos os estudantes iam, conversar, tomar uma cerveja, ficar de bobeira, não se tinha nada de muito útil pra fazer.Ali comecei a namorar Lícia. O inicio é sempre bom, gostaria que tudo sempre permanecesse no inicio. Um idílio. Devo admitir, pensando hoje friamente, nada poderia dar certo. Não era uma questão estética. Lícia era muito feia. E eu não ficava muito atrás, mas acho que os feios também amam, ou deveriam amar. Ela era baixinha, gordinha e com uma quantidade de espinhas na cara, algo assustador, a cara cheia de pipoco, os dentes muito amarelos pelo cigarro, e o bafo?Terrível. Tudo se torna desculpável quando se ama?As vezes.
Nesta época ainda havia em mim pudores.Minha relação com Lícia me incomodava um pouco. É claro que eu não a amava, mas eu precisava dela,de alguém. Não queria estar só. Tudo na vida tem preço,Lícia era um preço alto.Arrisquei.
Mas, a partir do instante que ela passou a ser minha namorada, alguma coisa aconteceu na cabeça dela. Perdi a amiga que conhecia, que era educada, gentil e tranquila. E ganhei uma monstra. Com menos de um dia de namoro, colocou as garras afiadas de fora. Revelando um ciúme doentio. Nos primeiros trinta segundos, achei isso bonitinho, porem não era. No dia seguinte repetia a cena.
Tinha ciúme de tudo, de todos. Me puxava o braço, e dizia:
-Fica olhando pra mim, não olha para aquelas gurias do balcão,não.
Falava sério com ar de leoa. Não era sexy.Não era exatamente isso que eu queria.
No terceiro dia de namoro, a fatalidade. Ela começa com mesma cena, minha paciência já esta no limite. Olho para ela muito irritado e digo:
-Cala boca. Deu pra ti, vai namorar o diabo nos quintos dos infernos.
Devo lembrar que estávamos no bar do Chicão. As pessoas ficaram olhando.
Ela sorri sem graça, acha que estou brincando. Me chama de meu amorzinho.
Eu estava impassível. Ela poderia dar a boceta dela pra mim ali mesmo, que nada me demoveria. Começa a pedir desculpas por alguma coisa.Já era tarde demais.
Olhei para ela me levantando da cadeira:
-Acabou Lícia. Alias, nem amizade eu quero. De loucura já basta a minha, que é grande demais.Tchau.
Aquele não seria o primeiro e nem um último adeus que daria na vida, repleto de irritação, frustração e tristeza.Talvez menos tristeza. Foram tantos que perdi as contas. Ali estava escrito meu destino, eternamente.
Assassinei expectativas, matei tantas outras coisas, é preciso as vezes fazer isso.Meu desejo profundo é viver em paz, ou pelo menos não transtornar vidas alheias.

A paz é cultivada em um vasinho.

Luis Fabiano.

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