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terça-feira, dezembro 08, 2009






Espinhos de Rose.

As vezes as coisas podem terminar muito mal. Mas quando se vive, pode-se ter bom senso, entender algumas verdades, ter algumas certezas, mas nada disso é uma tábua de salvação.
Essa mania de perfeição que as pessoas tem. As vezes me irrita profundamente, não somos seres de perfeição, as vezes nossa própria concepção é um erro,uma falha que dá certo.
Agente faz o melhor, quando as emoções falam mais alto, aí fazemos o queremos, certo ou errado, bonito ou feio. Siga o coração dizem todos, sem entender porra alguma que seja isso.
Eu conheci Rose a muito tempo, eu tinha por volta de trinta anos, ela vinte e três. Foi tesão a primeira vista. Nada de amor, existem momentos que o amor atrapalha tudo.
Além do mais,é contra minhas regras me apaixonar por puta,com todo respeito.
Rose era muito bonita, baixinha, morena, uma cor brasileira, mulata, seios fartos e bumbum empinado, cabelos a altura dos ombros. A conheci em um destes bares decrépitos, noturnos, ambiente carregado de vampiros de todas as naturezas. Rose era uma rosa carnuda, brilhava em meio a tudo aquilo, a luz do ambiente. A putinha mais desejada.
Não gosto do que todos desejam. Sinceramente não me agrada aquilo que é unanime. Cheira a sopa, onde todos tomam na mesma colher.
O ambiente fedia, musica dissonora, às vezes alta outras baixa, algum ritmo lembrando o forró. Terrível. Eu saia do trabalho e ai ali, solteiro, não tinha nada de útil pra fazer em casa a noite, saia ás vinte e duas horas e trinta,e ficava perdido.
Rose dançava seminua em um palquinho improvisado de caixotes de cerveja, era aplaudida pelos bêbados e tarados, uma verdadeira gloria. Honraria de primeira grandeza. Eu não a aplaudia. Ficava tomando uma cerveja de péssima qualidade.
Gostava de observar as pessoas, suas reações.Era um ambiente de miseráveis, a cata de alguma coisa, amor, prazer, bebida, o que fosse para distrair das coisas que são piores na vida. Muita solidão naquele lugar.Sorrisos feitos de plástico.Vícios de todas as naturezas.
Um dia Rose olhou para mim. Ela devia ter algum problema de ego. Não dava bola para seu showzinho, embora fosse uma bela mulher. Ser gostosa não é tudo. Chegou perto, pediu um gole da minha horrível cerveja. Eu dei. Fez um sorriso malandra, e disse:
-Tu ta aqui sempre, bebendo essa cerveja, nunca olhas pra mim, eu danço, viro minha bunda pra ti e nada. Tu não gosta de mim, ou não gosta de mulher?
Um cara com um cigarro feito de palha, estava ao meu lado, começa a rir, debochado. Eu fico em silêncio contemplativo, olhava as tetas dela, realmente eram boas.Mas não tinha plano de chupa-las.Aquelas tetas era algo ideal, só pensamento erótico, a realidade costuma ser decepcionante. Na cabeça, tudo funciona, da certo, tudo é perfeito.
Eu respondo:
-Calma menina. Não precisa me morder, sou um cara tranquilo. Tuas tetas são ótimas!
Ela sorri. Sorriso de uma campeã olímpica. O ego estava agradado.Ela agora mais feliz dispara:
-Hummm, estes elogios me deixam molhadinha, na hora...
Entendi que Rose estava na mão. Essa era a deixa. Não era por sua profissão, ela era mulher de atitude, escolhia, abocanhava e comia. Raras mulheres “certinhas” são assim. São sem ousadia, sem ambição maior em termos de prazer. Não gosto deste tipo. Prefiro a Rose e as outras.
Conversamos mais um papo furado, até a cerveja acabar. Fomos a um motel, horas agradáveis, Rose realmente era um show de boceta. Dançou sensual, fez strip-tease , rebolou, mexeu, fez varias posições, no final não aceitou pagamento. Fez porque estava com vontade, tesão. Eu era o príncipe da noite. O escolhidinho da puta. Adorei.
Saímos mais algumas vezes, nosso destino tomou caminhos diferentes. O bar fechou depois de uma noite de briga, a policia recolheu os donos, nesta noite felizmente eu não estava lá. É preciso ter sorte na vida. Nunca mais vi ninguém que frequentava aquele antro.
Andava na noite e tudo mudou. Minha vida mudou também, conheci alguém e comecei mais um dos desastrosos relacionamentos que tive.
Hoje eu caminhava, ao passar por uma rua, vejo um rosto conhecido. Era ela, Rose, ou melhor o que sobrou de Rose. Era um farrapo humano, estava horrível, muito envelhecida, cabelos desgrenhados, magra, as tetas murchas. Eu e minha maldita memória, lembrava dela muito bem, mas certamente ela me esqueceu, passaram mais de quinze anos.
Enquantos paus ela sentou? É melhor não fazer a conta.
Não atrevi-me falar com ela, a vida foi muito dura com ela. Parecia doente, o rosto muito triste, um espírito arrebentado.
Fiquei tocado ao vê-la assim.Era um fantasma da mulher que foi.Alguns prazeres as vezes saem caros demais.
Queria abraça-la, saber sua historia e todas as merdas que ocorreram, porque estava assim. Seria inútil. Ninguém salva ninguém, carregamos nossas dores, e precisamos cura-las a sós, lamber as próprias feridas. Como fazem os lobos. Afastam-se do bando e lambem as próprias feridas.

A paz é um espinho que não machuca.
Luis Fabiano.

Um comentário:

Dóris disse...

Que idade tu tens?
Se quando conhecestes a Rose, tu tinhas uns 30 anos...hoje em dia tens 38(que eu me lembre), como se passaram uns 15 anos? rs rs rs, tua memória é realmente maldita.